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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Cathy Williams

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Sem futuro, n.º 1066 - maio 2017

Título original: Kept by the Spanish Billionaire

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9824-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Rafael Vives não sabia se devia sentir-se divertido, irritado, aborrecido ou zangado devido à situação em que se encontrava. Para um homem cuja razão de viver era o seu trabalho, estar preso durante dez dias num paraíso a fazer de ama era suficiente para ficar maluco. Nem sequer o seu fiel computador portátil, sem o qual se teria sentido perdido, podia fazê-lo esquecer que não estava na casa da sua mãe, em Hamptons, por escolha.

Felizmente, estava a viver em Nova Iorque, portanto a inconveniência física não fora excessiva. Mas, embora o escritório fosse perto, a sua mãe ordenara-lhe, não pedira, que «ficasse ali e vigiasse o seu irmão». Suspeitava que ela o conhecia o suficiente para saber que ele, se pusesse um pé no escritório, o enorme edifício de vidro em Manhattan, se esqueceria da sua missão por completo.

O seu plano original fora juntar-se à festa de James, uma recompensa para empregados especiais de Londres e de Nova Iorque, para celebrar um ano de lucros substanciais para a empresa.

Rafael não sabia quem gostara menos da ideia, se fora James ou ele.

Para James, a ideia de Rafael «andar pelos cantos a assustar os empregados» era terrível.

Para Rafael, a ideia de se misturar com pessoas dia e noite era insuportável. Na direcção da empresa, James era a imagem de cabelo loiro e de olhos azuis das campanhas publicitárias e ele, Rafael, era o cérebro e o motor que fazia com que tudo funcionasse.

A relação simbiótica funcionava bem e Eva, a sua mãe, não tivera outro remédio senão fazer concessões.

James seria o anfitrião da festa na casa, uma mansão enorme, situada num terreno de mil e duzentos hectares e com vista para a melhor praia de Hamptons.

Rafael, da paz e isolamento da casa de convidados, certificar-se-ia de que a música, a diversão e os jogos não saíssem do seu controlo.

Da última vez que James celebrara uma festa ali, os vizinhos tinham-se queixado. Fora impressionante, considerando que viviam muito longe da casa dos vizinhos.

É claro, tal como Rafael assinalara para que a sua mãe não insistisse na sua presença, isso fora há dois anos e os convidados eram amigos pessoais de James, todos de vinte anos, não empregados da empresa. Mas a sua objecção não servira de nada. Eva Lee ainda se arrepiava ao recordar as desculpas que tivera de apresentar.

Portanto, ali estava, no primeiro dia da sua tarefa de Grande Irmão, já desejava regressar à rotina que conhecia e amava.

Pelo menos, a paisagem era magnífica. Pensou, só por um momento, que não visitava o lugar vezes suficientes. Os dias idílicos de juventude passados na casa que fora o lar da família tinham-se transformado em visitas ocasionais, salpicadas entre os seus estudos universitários e a sua ansiedade de viajar. Depois, iniciara a sua vida profissional, primeiro numa das comissões de bolsa mais importantes do mundo e, depois, na direcção da empresa familiar, quando falecera o seu padrasto e pai de James.

Depois, os anos tinham passado a voar. Enquanto observava o belo pôr-do-sol, perguntou-se se um dia acordaria para descobrir que era um homem de meia-idade casado com uma empresa.

Franziu a testa e bebeu um gole do uísque com cola que preparara. Não costumava dedicar tempo à introspecção. Sempre escolhera objectivos concretos e raramente questionava o rumo inamovível dos seus planos.

E não tencionava começar a fazê-lo.

A brisa trouxe-lhe o som longínquo de mais de quarenta pessoas a divertirem-se.

Não era difícil imaginar a cena. James, é claro, estaria no centro de tudo, enquanto bebiam o aperitivo prévio ao jantar. Com um exército de empregados ao seu dispor, ninguém tinha de se preocupar com o que comer nem com encher o seu copo. O melhor vinho acompanharia a melhor comida, tudo servido pela equipa mais eficiente e de maior confiança que podia contratar-se.

Todos estariam contentes e abundariam as indiscrições, sobretudo tendo em conta que os empregados de ambos os lados do Atlântico se viam pela primeira vez, sem a presença incómoda de esposas, maridos e namorados. Haveria muitas ressacas no dia seguinte, Rafael tinha a certeza.

Acabou a sua bebida e suspirou com alívio por se ter livrado da diversão e dos jogos.

Não conhecia os convidados. James dissera-lhe que contabilistas, directores e comerciais, que contavam sempre com reconhecimento e aplausos, receberiam uma prenda especial. Mas os «empregados invisíveis» desfrutariam de uma estadia inesquecível no East End de Long Island. Rafael especulara sobre o que queria James dizer com «empregados invisíveis», mas admitia que era um bom gesto. As recompensas deviam também chegar àqueles que ocupavam lugares menos importantes, mas também importantes.

De pé no alpendre de madeira, olhando para o oceano, Rafael pensou em como era diferente do seu meio-irmão. Se se tivesse em conta o abismo que os separava quanto a gostos pessoais em amigos, mulheres e estilo de vida, podiam ter sido desconhecidos.

Estava a especular sobre como duas pessoas que partilhavam pelo menos parte do seu código genético podiam ser tão diferentes quando viu algo, ou alguém, pelo canto do olho. Um barulho entre a vegetação frondosa e cuidada indicava uma presença.

E uma presença só podia significar uma coisa: um convidado, bêbado, despistara-se.

Rafael pousou a copo e virou-se para o lugar de onde provinha o barulho. Havia pouca luz, mas não estava cego e a bonita jovem que tentava afastar-se em bicos de pés não devia ser muito inteligente se pensava que ele não a via. Loira, é claro. Calças de ganga desbotadas, cortadas e muito apertadas, naturalmente. Vestia uma t-shirt curta e mostrava uma boa parte da barriga. Noutras palavras, exactamente o tipo de mulher que Rafael não achava atraente.

– Eh, tu!

A voz ecoou em seu redor e Amy, com um grito assustado, fez menção de fugir. Bastou dar uma olhadela ao homem para saber que, fosse quem fosse, não gostaria do facto de ela ter invadido a sua propriedade.

Embora não fosse fácil saber onde começava e acabava a propriedade de James Lee. Era enorme!

Ainda a sofrer os efeitos do jet-lag, era impossível não perceber que «a casa familiar» era quase um hotel. E o terreno que a rodeava era tentador. Apesar de o seu corpo a ter avisado de que era hora de ir dormir, os jardins verdes e o seu paisagismo tinham-na levado a explorar um pouco.

Era por isso que se encontrava a correr para evitar um homem gigantesco que se aproximava rapidamente. Sentiu uma mão no ombro, que a obrigou a parar e a virar-se. Olhou para cima e encontrou o rosto mais feroz que alguma vez vira. Os seus olhos pretos estudaram-na e o seu rosto anguloso estava em sombras. A boca era uma linha fina que denotava aborrecimento. Amy sentiu falta de ar e os seus olhos esbugalharam-se enquanto o seu cérebro analisava os possíveis perigos que a ameaçavam.

Por sorte para Amy, o perigo, a escuridão e os desconhecidos gigantescos e ameaçadores não minavam a sua natureza exuberante durante muito tempo.

– Quem diabos és tu?

– O que raios estás a fazer aqui?

Falaram em uníssono, entreolhando-se com ferocidade. Amy, com uma palmada, afastou a mão que tinha no ombro e recuou.

– Eu perguntei primeiro! – Amy decidiu passar ao ataque porque, por uma vez, lhe falhavam as palavras quando mais precisava delas. Esfregou o ombro, cada centímetro do seu metro e sessenta e dois de altura emanava raiva.

Rafael respirou fundo e usou o seu autocontrolo formidável que o transformara num adversário poderoso no mundo das finanças. Virou-se e voltou para a casa, deixando a loira para trás, embora cada fibra do seu ser desejasse prolongar o confronto e pô-la no seu lugar.

– Eh! Onde pensas que vais?

Rafael virou-se e olhou para a figura minúscula que não se mexeu nem um passo. Tinha as mãos nas ancas e o vento estava a despentear-lhe o cabelo. A t-shirt levantou-se um pouco e deixava mais pele à vista.

Em todos os sentidos, aquela mulher coincidia com o que o seu irmão considerava a mulher ideal, desde a sua roupa até ao cabelo loiro e despenteado. A única diferença era que não tinha uns seios enormes.

– Desculpa? – perguntou Rafael com frieza, sem saber se ouvira bem.

– Ouviste-me! – Amy avançou dois passos. – Quem és e o que fazes na propriedade de James Lee?

– Oh, meu Deus! Uma louca. Suponho que és uma das convidadas e já estás descontrolada – Rafael olhou para o seu relógio. – Não está mau, tendo em conta que não estás aqui há muito tempo – deu uma gargalhada irónica que fez com que o sangue subisse à cabeça de Amy.

– Como te atreves? – aproximou-se mais.

À luz do alpendre, Rafael viu que a figura pequena, sem grandes seios, tinha um rosto que podia ter sido bonito, se não fosse pela sua expressão vivaz. Soube que aquela mulher não se moderava na hora de se expressar. Com desagrado, assumiu que era ordinária.

– James sabe que estás aqui? Pois! Aposto que não. Sei que não usa este lugar com frequência e não lhe agradará saber que há um intruso aqui!

– Intruso? – Rafael deu uma gargalhada.

– Já me ouviste. Um intruso! – não parecia, mas não era do tipo de pessoas com quem James se relacionava. Ela também não era, mas costumava vê-lo no restaurante para directores, onde preparava comida de qualidade para os executivos. E, fora de horário, às vezes atendia os amigos pessoais de James, mulheres bonitas e playboys, antes de saírem para a noite londrina.

É claro, os outros directores não sabiam que James usava o serviço de catering de Amy. Fora o seu segredo durante um ano e meio. Típico de James, um conquistador nato, e da sua forma encantadora de infringir as regras quando lhe apetecia.

Fora por isso que começara a sonhar com ele dia e noite. Era muito mais do que um homem rico e bonito.

Amy voltou para a realidade. O homem, recuperado do seu ataque de riso, olhava para ela com frieza.

– Não sou nenhum intruso. Na verdade, nunca ouvi uma sugestão tão ridícula em toda a minha vida.

– Então, quem és?

– Alguém que não está disposto a manter uma discussão sem sentido com uma mulher descontrolada.

– Eu não estou descontrolada!

– Mas comportaste-te como se estivesses! – o tom de voz de Rafael estava cheio de desdém. Alguns homens gostavam de mulheres barulhentas, mas ele não. Gostava de mulheres refinadas, elegantes e compostas. – Não tenho nenhum desejo de conversar com uma lavadeira.

Amy não conseguiu conter uma exclamação. A sua falta de cortesia era terrível, sobretudo tendo em conta que falava com uma convidada do homem em cuja propriedade acampara. Quer fosse legal ou ilegalmente.

Ele voltara a virar-lhe as costas e encaminhava-se para a casa. Tinha de ter consciência da sua presença, porque ela não se calou, mas não parecia disposto a continuar a discutir.

Subiu para o alpendre ao mesmo tempo que ele abria a porta, entrava e a fechava na cara dela.

Tal como Rafael receava, a mulher não demorou a esmurrar a porta. Ao ritmo que iam, entre os seus gritos e as suas pancadas na porta, os vizinhos queixar-se-iam dele. Aproximou-se da porta para não ter de levantar o tom de voz.

– Vai-te embora! Estás a ser idiota. Tanto me faz se estás bêbada ou não, mas não tenho tempo para mulheres que acham que podem levar a sua avante à base de gritos. Volta para a festa, bebe um pouco mais e deita-te, como todos, na cama.

– Se não me disseres quem és, informarei James disto – Amy baixou o tom de voz. Queria parecer fria e ameaçadora, não como uma menina petulante e delatora que se vingava por não ter levado a sua avante. – Estou suficientemente sóbria para saber que talvez não tenhas permissão para estar aqui.

Na verdade, não bebera nada, apesar da abundância de álcool. Tinham programado todo o tipo de visitas turísticas para eles e não queria perder nenhuma por culpa de uma ressaca. Também não ia desperdiçar nem um segundo que pudesse passar na companhia de James.

Para seu espanto, a estratégia funcionou. O homem abriu a porta e convidou-a a entrar.

Pela primeira vez, viu-o à luz. Era alto e tinha o cabelo preto como o ébano. Além disso, era inegavelmente sexy. Não do tipo de capa de revista, mas sexy de uma maneira poderosa e rude. Quase sem ar, olhou em seu redor com curiosidade.

A casa era pequena, mas nada desmazelada. O chão de madeira brilhava, havia uma zona acolhedora de estar em frente de uma lareira de estilo moderno e, um pouco mais à frente, uma cozinha de vanguarda. Depois, havia degraus que deviam levar aos quartos.

– Não está mal para um intruso – gozou. – Olha, desculpa se feri o teu orgulho ao chamar-te intruso, mas surpreendeu-me encontrar alguém aqui, refugiado a quilómetros da casa principal.

Rafael olhou para ela, fascinado, para sua tristeza. Não só parecia incapaz de controlar as palavras que saíam da sua boca, como também estava a percorrer a casa como se fosse uma convidada, em vez de uma intrusa que forçara a sua entrada mediante uma ameaça.

A verdade era que Rafael não queria que se conhecesse a sua presença ali. Não queria limitar a diversão nem ver-se obrigado a participar nela. A sua ideia de diversão era jantar com amigos e ir a clubes de jazz com mulheres que pensavam como ele. Não gostava de beber até ao amanhecer junto da piscina, com imensas pessoas que não conhecia e que duvidava de que gostasse. Tal como não gostava daquela mulher.

– Se não és um intruso, o que és?

«O dono da empresa para a qual trabalhas», sentiu-se tentado a dizer. Não o surpreendia que a mulher não o tivesse reconhecido. Era parte do «pessoal invisível» e suspeitava que ocupava um lugar de perfil baixo. A julgar pelo seu toque, era londrina a cem por cento. E ele quase nunca visitava Londres, preferia gerir de Nova Iorque.

– Sou o… jardineiro – improvisou Rafael.

– E vives aqui?

– Onde esperavas que vivesse?

– Numa casa pequena e normal, perto daqui… como qualquer jardineiro normal…

– No caso de não teres reparado, isto não é um jardim pequeno nem normal. É um trabalho a tempo inteiro, por isso vivo na propriedade.

– E a tua equipa vem todos os dias para cortar a relva – isso fazia sentido, não o imaginava a fazê-lo, embora não lhe faltasse musculatura. Mas tinha aspecto de dar ordens e, mais ainda, de gostar de as dar. Compadeceu-se dos seus empregados.

– Cortar a relva… manter os jardins limpos… fazer tudo o que for necessário…

– E tu diriges o chicote – disse-o com ligeireza, mas ele não sorriu. Perguntou-se se a carência de sentido de humor era um requisito do seu emprego.

Amy gostava de pessoas com sentido de humor. Na sua família eram seis irmãos e o conceito de privacidade era bastante estranho. Gostava de partilhar. Ria-se com facilidade. Gostava de se divertir. Essa era uma das muitas coisas que a atraía em James. O seu perverso sentido de humor.

O homem que tinha à sua frente, pelo contrário, era a personificação da seriedade.

– És sempre tão… sério? – perguntou, olhando para ele. Não olhou para ele durante muito tempo porque era muito sexy, embora não gostasse de homens pensativos.

Rafael ficou momentaneamente sem palavras, pois não costumavam falar assim com ele.

– Quero dizer… o que é que te amargura? Vives num sítio fantástico, que o teu chefe paga. E aposto que tens muitos extras juntamente com a casa.

– Extras?

– Claro – começou a contar pelos dedos. – Carro, que estará em alguma garagem e não será uma sucata. Plano de pensões. Bónus anuais. Correcto?

O cansaço que a levara a passear e a respirar ar puro parecia ter desaparecido por completo.

– O teu silêncio diz-me que tenho razão! – exclamou, triunfante. – Tens muita sorte.

Rafael não queria conversar com uma loira louca. Abriu a boca para lhe dizer, com educação e firmeza, que era hora de se ir embora.

– Porque dizes isso? – ouviu-se perguntar, pelo contrário. Ela ofereceu um sorriso deslumbrante.

– Porque eu faço algo parecido e não tenho as vantagens que tu tens.

– És… jardineira?

– Cozinheira. Catering.

– E o catering é parecido com a jardinagem?

– Bom, ambos trabalhamos com as mãos e somos criativos com elas… sim… são parecidos, não achas?

– Não posso dizer que a jardinagem seja criativa.

Amy olhou para ele com surpresa. Voltou a sentir o impacto da sua presença física e riu-se de si própria.

– Então, porque te dedicas a isso?

Rafael encolheu os ombros com impaciência.

– Olha. Deixei-te entrar e já sabes porque estou aqui. Portanto, é hora de te ires embora. E agradeceria que não falasses da minha presença aqui.

– Porquê?

– Porque não quero que os convidados de James me incomodem enquanto tento fazer o meu trabalho.

– Chamas o teu chefe pelo seu nome próprio? Oh! – pensou durante alguns instantes e a sua expressão suavizou-se. – Na verdade, não me surpreende.

– O que é que não te surpreende? – Rafael franziu o sobrolho. – Não. Esquece a pergunta. Desfruta da tua estadia. É um lugar muito bonito. Há muito para fazer e explorar – encaminhou-se para a porta para a abrir.

– Percebeste que nem sequer nos apresentámos – Amy ofereceu-lhe a mão. – Sou Amy.

– Porque havíamos de nos apresentar? – abriu a porta e pôs a mão no bolso das suas bermudas.

Para Rafael, que passava grande parte da sua vida vestido com fatos feitos à medida, o facto de usar calções e t-shirt era um luxo.

– Isso é muito grosseiro – Amy afastou a mão e ficou em bicos de pés para olhar para ele nos olhos com frieza.

– O que é que é muito grosseiro? Olha, esquece, não me interessa – declarou ele. Já na rua, uma brisa suave brincou com os caracóis loiros da rapariga.

cocktails

– Não me preocupo com as malditas flores!

– Então, não levas o teu trabalho a sério – gozou Amy. – Além disso, porque te importas com o facto de James ter uma festa ou não? Não te diz respeito, pois não?

– Vês aquelas luzes? A casa é ali.

– Não vais fazer algo cavalheiresco e acompanhar-me até à porta? Antes de resmungares, é uma brincadeira. Nunca te sentes sozinho?

– Desculpa?

– Nunca te sentes sozinho? Tu sabes… aqui sozinho desde o amanhecer até ao pôr-do-sol…

– O que te faz pensar que estou sozinho? – perguntou Rafael. Viu que ela corava. – Achas que não há mulheres dispostas a acompanhar-me em alguma dessas noites solitárias?

– Bom, pela tua forma de reagir à festa, pensei que talvez… – Amy sentiu que as suas faces ardiam. Pigarreou, – talvez tu…

– Sou um aborrecido que só se diverte a podar roseiras e a destruir a diversão dos outros?

– Não, claro que não!

– Sei como me divertir, pequena Amy.

A sua forma de o dizer provocou-lhe um calafrio. Amy visualizou a imagem do James sorridente e loiro, de olhos azuis e brincalhões, para apagar a de Rafael, o jardineiro arrogante, na cama com uma mulher.

– Simplesmente, não gosto de festas. Beber até perder a consciência nunca me atraiu.

– Já imaginava – embora a linguagem corporal dele indicasse que se importava pouco com o que ela pensava, Amy continuou. Arrogante ou não, algo nele a fascinava. – Certamente, nunca foste a uma boa festa – consolou-o. – Não se trata de beber sem limite. Mas de boa companhia, boa música e dança – ela sorriu, ao ver a sua expressão de desagrado. – Que parte disso é que te desagrada tanto?

– A parte que implica excesso – respondeu Rafael, com frieza. – Tenho a certeza de que, se gostas tanto de festas, não dás importância à intimidade, mas eu sim e agradeceria que o respeitasses e te afastasses do meu terreno. És capaz de entender isso?

– Lamento – desculpou-se Amy, num tom de voz fraco. As lágrimas queimavam-lhe os olhos.

Rafael, sentindo-se como um bruto, virou-se. Já era suficientemente mau estar ali quando tinha um milhão de coisas urgentes para fazer e não precisava de convidados desencaminhados que lhe roubassem mais tempo.

Quando se virou para verificar se ia na direcção correcta, ela já desaparecera.