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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2015 Cathy Williams

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O multimilionário secreto, n.º 1660 - Janeiro 2016

Título original: The Real Romero

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7711-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

– Amelia? Amelia Mayfield?

Milly apertou o telemóvel contra a orelha ao mesmo tempo que lamentava a sua estupidez por ter atendido a chamada.

Quantas mais instruções é que Sandra King ia dar-lhe sobre aquele emprego?

Ia trabalhar para uma família de quatro membros e ia cozinhar para eles durante duas semanas. Qualquer um diria que se tratava de governar o país. Além disso, já fizera um trabalho semelhante há dois anos, durante três meses, antes de começar a trabalhar num hotel de Londres.

– Sim – confirmou, enquanto o seu olhar deambulava pela paisagem que a rodeava.

Fora uma viagem fantástica, exatamente o que precisava para deixar de pensar na sua situação desgraçada. Viajara em primeira classe e, naquele momento, estava no banco traseiro de um carro com motorista, a meia hora do seu destino.

– Não atendeste as minhas chamadas – acusou-a, do outro lado da linha.

Sandra King entrevistara-a três vezes para aquele trabalho. Parecia que não gostava de ter de o dar a uma mulher baixa, gordinha e ruiva, quando havia muitas outras candidatas mais adequadas: loiras de sotaque perfeito e gargalhada fácil.

Mas, como deixara claro com uma satisfação mal dissimulada, aquela família em concreto queria alguém comum, porque a última coisa que a senhora desejava era uma rapariga pouco inteligente que seduzisse o seu rico marido.

Milly que, depois da primeira entrevista, procurara informação no Google sobre a família para a qual ia trabalhar, ficara paralisada, já que o marido em questão não era do tipo que uma rapariga no seu juízo perfeito tentaria seduzir. Era corpulento, com entradas amplas, de quase sessenta anos, mas asquerosamente rico, por isso supunha que devia ser tão atraente como uma estrela de rock.

De todos os modos, não tencionava seduzir ninguém.

– Lamento, Sandra… – e sorriu, pois sabia que Sandra não gostava que a chamassem pelo seu nome próprio, mas por menina King, como faziam na agência, dedicada exclusivamente a procurar emprego temporário para raparigas em casas de famílias ricas e famosas. – O telemóvel não funcionou bem desde que saí de Londres e não posso falar muito tempo porque estou a ficar sem saldo.

Não era verdade, mas não estava disposta a ouvir outra lista do que a família comia e não comia, nem do que os filhos, de quatro e seis anos, gostavam de fazer antes de se deitar, nem do que podia dizer ou não dizer.

Milly não conhecia ninguém que fosse tão exigente. A família para a qual trabalhara há dois anos era alegre, extrovertida e fácil de agradar.

Mas não se queixava. Embora fossem exigentes, o salário era fabuloso e, o mais importante, o emprego afastava-a de Robbie e Emily e da dor.

Conseguira esquecer o ex-noivo, a melhor amiga e o noivado cancelado, mas ameaçavam voltar a apropriar-se dos seus pensamentos.

O tempo curava tudo, tinham-lhe repetido os amigos, que nunca tinham gostado de Robbie e que, já que ela voltava a ser livre, não se tinham privado de lhe dizer tudo o que tinham pensado dele desde que o tinham conhecido.

Por um lado, esses comentários negativos tinham-na encorajado e apoiado, por outro, tinham-lhe demonstrado que carecia de critério para julgar as pessoas.

– Lamento dizer-te, mas a oferta de emprego foi cancelada.

Milly demorou uns segundos a compreender.

– Ouviste o que disse, Amelia?

– É uma brincadeira, não é? Por favor, diz-me que não falas a sério.

– Nunca brinco. A família Ramos mudou de ideias. Ligaram-me há algumas horas e, se tivesses atendido as minhas chamadas, terias evitado a viagem.

– Porque anularam a oferta?

Imaginou-se a voltar para o apartamento que partilhara com Emily e a possibilidade de voltar a vê-la enquanto ia buscar as suas coisas para se ir embora para os Estados Unidos com Robbie. Sentiu-se enjoada.

– Uma das crianças está doente, tem varíola.

– Mas só me falta meia hora para chegar ao chalé – Milly gemeu.

Tinham deixado para trás a vila de Courchevel e o carro subia por uma estrada ladeada de mansões com vistas espetaculares, heliporto, piscina climatizada, sauna…

– Terás de dizer ao motorista para dar a volta. Como é natural, serás compensada pelo tempo e pelos incómodos.

– Não posso passar lá a noite? Está a anoitecer e estou cansada. Tenho a chave da casa. Deixarei tudo como encontrei. Tenho de dormir, Sandra.

Não conseguia acreditar que a única coisa que correra bem nas duas semanas anteriores horríveis se derrubara como um castelo de cartas.

– Isso seria muito irregular.

– Ter ficado sem emprego no último momento também, especialmente quando estou prestes a chegar à casa e depois de ter passado oito horas a viajar.

Viu a mansão num monte à frente dela e, durante uns segundos, todos os seus pensamentos negativos desapareceram diante da sua estrutura magnífica e enorme, que dominava o horizonte.

– Suponho que não há outro remédio! – exclamou Sandra. – Mas, por favor, Amelia, atende as chamadas quando o telemóvel tocar. E não toques em nada nem comeces a bisbilhotar. Limita-te a comer e a dormir e certifica-te de que, quando te fores embora, ninguém saiba que estiveste lá.

Milly fez uma careta quando Sandra desligou a chamada bruscamente. Inclinou-se para a frente para ver melhor a mansão à medida que se aproximavam, até o veículo virar à esquerda e seguir o caminho particular que levava até ela.

– Isto… – pigarreou e esperou que o motorista, que a cumprimentara no aeroporto de Chambery num inglês muito pobre e que não abrira a boca desde então, entendesse a essência do que ia dizer.

Oui, mademoiselle?

– Parece que houve uma mudança de planos.

– O que se passou?

Milly respirou fundo. Pelo menos, não teria de lhe explicar a situação no seu francês limitado. Explicou-lhe sucintamente o que acontecera. Ele teria de passar a noite em algum lugar e levá-la de volta ao aeroporto no dia seguinte. Lamentava os incómodos, mas podia ligar…

Procurou na sua mochila ampla e tirou a carteira e, dela, o cartão da agência que não pensara que usaria nas duas semanas seguintes.

Questionou-se se ficaria na mansão, já que tinha espaço para alojar quinhentos motoristas, mas teria de se desenrascar sozinho, embora temesse que a escassa amabilidade de Sandra já se tivesse esgotado depois de deixar que ela dormisse lá.

A vida era terrível. Fora enganada pelo noivo, que conhecia desde a infância e, se para o caso de não bastar, enganara-a com a melhor amiga e companheira de apartamento.

Para cúmulo, dissera-lhe que ficara noivo dela porque os pais estavam fartos de o ver a esbanjar dinheiro e a ser um mulherengo e que lhe tinham feito um ultimato: ou procurava uma rapariga decente, com quem assentar, ou podia esquecer liderar o negócio familiar próspero.

Privado da fortuna familiar e de um trabalho feito à medida, Milly supôs que Robbie teria tido de enfrentar a perspetiva terrível de encontrar um emprego sem a ajuda do papá e da mamã, por isso escolhera a opção menos aterradora de a fazer acreditar que realmente tinham uma boa relação e de a pedir em casamento enquanto media o terreno com a sua companheira de apartamento, mais alta, mais magra e mais bonita.

Os pais dele tinham gostado de Milly. Passara a prova de fogo. E, para ele, era o passaporte para a sua herança.

A única coisa pior do que tê-los apanhado juntos na cama teria sido ter-se casado com aquele canalha e descobrir depois que não estava interessado nela.

Olhou com tristeza para o dedo anelar onde, há algumas semanas, tinha um anel com um grande diamante.

Os seus amigos tinham-lhe dito que fora um erro ter-lho devolvido, que devia ter ficado com ele e tê-lo vendido à primeira oportunidade. Ao fim e ao cabo, merecia-o, depois de tudo o que ele a fizera sofrer.

O dinheiro teria dado jeito, já que deixara o trabalho no hotel para se dedicar a ser uma boa esposa e mãe de família.

Tal como estavam as coisas, encontrava-se sem trabalho, sem poder entrar em sua casa até Emily se ir embora e com muito pouco dinheiro poupado.

E não tinha a quem recorrer. A avó, o seu único parente vivo, que vivia na Escócia, teria vendido a casa se soubesse do estado de penúria da neta, mas Milly não tinha intenção de lhe contar. Já lhe bastava ter de superar o facto de o seu casamento de conto de fadas ter desaparecido.

Dissera à avó que ia trabalhar como ama por uns dias com uma família em Courchevel, onde poderia esquiar, algo que adorava. Tirara importância ao trauma do fim da relação, dizendo que lhe passaria em poucas semanas.

Para que a idosa não se inquietasse, contara-lhe que a família era virtualmente amiga dela e que a ajudaria a recuperar. Além disso, adornara ainda mais o assunto anunciando que, quando regressasse a Londres, havia outro trabalho à espera e que era muito melhor do que o que deixara.

Não queria, sob nenhum pretexto, que a avó se preocupasse.

– Eu… Quer que ligue à agência para saber se pode passar a noite no chalé?

Resignou-se a outra conversa embaraçosa com Sandra em que lhe diria que a situação em que se encontrava era culpa dela por não atender o telemóvel e que o motorista não podia dormir na casa.

Mas o homem, Pierre, era cliente habitual de um hotel de Courchevel onde um familiar trabalhava, por isso alojar-se-ia lá.

Pierre ajudou-a a tirar a bagagem, que continha roupa que não usaria, e foi-se embora quando ela entrou no edifício.

O interior era moderno e minimalista: um espaço aberto com dois salões separados por uma parede em que havia uma lareira moderna. Mais à frente, Milly divisou uma cozinha ampla e outros quartos, mas ficou a olhar pelas janelas, que tinham vistas espetaculares do vale.

A neve estava intacta. A temporada de esqui estava a ser muito boa porque nevara muito.

Milly decidiu explorar o edifício. Não ia ficar muito tempo, portanto, porque não haveria de desfrutar da aventura da descoberta? O seu apartamento era diminuto. Porque não havia de fingir que a mansão lhe pertencia?

Examinou cada divisão de forma exaustiva, admirando o mobiliário caro. Nunca vira tanto cromo, vidro e couro na sua vida.

A cozinha era uma maravilha: bancadas de mármore preto, uma mesa de metal e uma série de utensílios de cozinha que fizeram com que sentisse vontade de cozinhar.

Estava contente por ter deixado de trabalhar no hotel. Tinha três estrelas, mas todos pensavam que alguém fora subornado para fazer vista grossa e dar-lhe essa categoria. Os quartos eram muito básicos e o restaurante passara anos a pedir uma reforma, tal como as duas cafetarias.

Além disso, durante o ano e meio que trabalhara lá, Julian, o chefe, não lhe permitira fazer nada sozinha e estava sempre a observá-la para encontrar defeitos na sua forma de cozinhar.

Passou a mão por uma das bancadas brilhantes e tocou em alguns dos utensílios maravilhosos, nenhum dos quais parecia ter sido usado. Ao abrir o frigorífico, verificou que estava cheio, tal como os armários. Os vinhos eram caros.

Absorta na inspeção da cozinha e a sonhar com o que sentiria ao possuir tal fortuna que permitisse ter uma casa como aquela como segunda moradia, não se apercebeu de que alguém se aproximava.

– Quem é?

A voz profunda e fria devolveu-a à realidade. Virou-se com o coração acelerado.

Havia um desconhecido na casa, por isso devia procurar algo com que se defender.

Aquele homem podia ser perigoso.

Ficou paralisada. Esqueceu que devia sentir-se assustada, até aterrorizada. Estava numa mansão cheia de objetos valiosos e os donos não estavam presentes. Provavelmente, o homem que estava à frente dela, de mais de um metro e oitenta de estatura, teria entrado para roubar e ela interrompera-o. Todos sabiam o que acontecia a um inocente quando interrompia um roubo.

Mas, meu Deus, alguma vez vira alguém tão bonito?

O cabelo preto, um pouco mais comprido do que o convencional, emoldurava um rosto perfeito: boca grande e sensual, feições cinzeladas, olhos tão pretos como a noite. Usava uma t-shirt e umas calças de ganga e estava descalço.

Não era muito habitual que um ladrão se descalçasse, mas ela pensou que o teria feito para que não o ouvisse a aproximar-se.

– Poderia fazer a mesma pergunta.

Tentou fazer com que a voz parecesse calma, como se controlasse a situação, como se não fosse fácil intimidá-la.

– E não se atreva a dar nem mais um passo!

Como uma idiota, deixara o telemóvel na mochila, que estava na bancada da cozinha. Mas como podia imaginar que lhe aconteceria algo parecido?

Sem fazer caso das suas palavras, o homem deu dois passos para ela, que recuou até chocar contra a bancada. Virou-se para agarrar o que estivesse mais à mão, que foi o fervedor, um utensílio de vidro que não mataria uma mosca e muito menos aquele homem musculado, que estava a apenas um metro dela e que, imperturbável, cruzou os braços.

– E o que vai fazer? Não estará a pensar em bater-me com isso…

– Diga-me o que faz aqui ou… Chamarei a polícia. Falo a sério.

Lucas não previra que a noite se desenvolvesse assim. De facto, nem sequer pensava que estaria ali. Emprestara a casa a uns amigos da mãe, que tinham decidido não ir no último momento. E fora então que decidira ir lá passar uns dias.

Assim, afastar-se-ia da mãe, que todos os dias insistia mais que tinha de se casar e assentar. Há três meses, a mulher sofrera um pequeno derrame cerebral que não lhe deixara sequelas, mas, ao pensar que vira a morte de perto, a única coisa que desejava era abraçar um neto antes de morrer. Era pedir demasiado ao seu querido filho?

Sinceramente, Lucas pensava que sim, mas não lho dissera.

Se a isso se acrescentasse a existência de uma ex-namorada que se recusava a aceitar que a relação acabara, uns dias a esquiar tinham-lhe parecido uma ideia excelente.

Mas parecia que a paz e a tranquilidade tinham desaparecido, por isso não estava de bom humor enquanto observava aquela louca que esgrimia o fervedor contra ele e ameaçava chamar a polícia.

Uma louca baixa e ruiva que pensava que estava a roubar a sua própria casa.

Era divertido.

– Não acreditará que pode enfrentar-me, pois não? – com grande rapidez de reflexos, Lucas tirou-lhe a arma perigosa e guardou-a no sítio. – Agora, antes de ser eu a chamar a polícia para a mandar embora, diga-me o que faz aqui.

Milly olhou para ele, desafiante.

– Se o que quer é assustar-me, não conseguirá.

– Nunca tento assustar uma mulher.

Aquele homem era muito sensual. Como podia pensar com clareza quando olhava para ela com aqueles olhos escuros de maneira insolente e intransigente ao mesmo tempo?

– Trabalho aqui – declarou, finalmente, incapaz de deixar de olhar para ele.

Ele arqueou uma sobrancelha e ela fulminou-o com o olhar, já que, ao contrário dele, tinha todo o direito de estar ali.

Milly interrogou-se o que mais podia correr mal. Estava ali para recuperar, para fazer uma pausa e para recobrar forças para voltar para Londres. Devia estar a usar a cozinha para fazer a comida da família Ramos em vez de estar a olhar para alguém que parecia um adónis, mas que se comportava como um homem das cavernas.

– Ah, sim?

– Sim, embora não seja um assunto seu. Sou a pessoa que a família Ramos contratou para trabalhar para eles durante as duas próximas semanas. Chegarão de um momento para o outro.