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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Catherine Schield. Todos os direitos reservados.

UM ASSUNTO INACABADO, N.º 1143 - julho 2013

Título original: Unfinished Business

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Publicado em português em 2013

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™. Harlequin, logotipo Harlequin e Desejo são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-3352-4

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo Um

 

– Tu! – A palavra saiu-lhe dos lábios num tom acusador.

– Olá, Max...

Rachel Lansing tinha passado todo o dia a preparar-se para aquele encontro e rapidamente percebeu que ia ser bem pior do que tinha imaginado. O seu coração parou quando os olhos cinzentos de Max assentaram no seu rosto como uma bofetada. Os seus ombros largos ocultavam a vista do vestíbulo, elegantemente decorado em tons de azul-escuro e verde azeitona e com quadros originais nas paredes.

Era imaginação sua ou Max era mais alto, mais forte e mais autoritário do que o amante doce e apaixonado das suas lembranças?

Talvez lhe parecesse tão imponente por causa do fato cinzento e da gravata prateada, que lhe conferiam uma imagem bem menos acessível do que o homem nu dos seus sonhos e fantasias. Além de que o caráter público daquela reunião a impedia de dar rédea solta aos seus impulsos. Levantou-se do sofá da receção com deliberada parcimónia e manteve o corpo relaxado e uma expressão fria e profissional que lhe exigiu um esforço hercúleo. Tinha os joelhos a tremer e o seu pulso acelerou-se de forma frenética.

«Controla-te. Não vai achar piada nenhuma se te derreteres aos seus pés».

– Obrigada por me receber – estendeu uma mão numa tentativa de recuperar a compostura e não se importou quando Max a ignorou. A palma molhada de suor delatava os seus nervos.

– Que bom que o bebé da Andrea já tenha nascido – disse, visto que ele permanecia calado e o silêncio estava a tornar-se insuportável. – E duas semanas antes de... A Sabrina disse-me que é um rapaz. Trouxe-lhe isto – levantou a mão esquerda para lhe mostrar o saco azul e cor-de-rosa que tinha pendurado num dedo.

Comprara o presente para a secretária de Max semanas antes, e tinha pena de não poder ver a expressão de Andrea quando o abrisse.

– O que estás aqui a fazer?

– Ia encontrar-me com a Andrea...

– Estás a trabalhar para a agência de emprego?

Rachel tirou um cartão de visita e estendeu-lho. Teve de esticar completamente o braço para abarcar o metro que os separava.

– Sou a dona da agência – explicou-lhe, sem a menor vontade de disfarçar o seu orgulho.

Ele passou o polegar pelo cartão antes de o ler.

– Rachel... Lansing?

– Era o meu apelido de solteira – esclareceu, sem saber por que se sentia obrigada a partilhar aquela informação com ele. Não ia mudar a atitude que estava a ter com ela.

– És divorciada?

– Há quatro anos.

– E agora diriges uma agência de emprego aqui, em Houston?

Rachel sabia que percorrera um longo caminho desde que começara a trabalhar num restaurante de praia em Gulf Shores, Alabama, para poder manter-se a ela e à sua irmã à base de gorjetas miseráveis. Mas por mais próspero que fosse o seu negócio atual, continuava a não sentir-se economicamente segura.

– Gosto da liberdade de ser a minha própria chefe – confessou-lhe, afastando a preocupação que a perseguia a toda a hora. – É um negócio pequeno, mas está a crescer.

E ia crescer mais quando se mudasse para um escritório maior e contratasse mais pessoal. Já tinha encontrado o local ideal. Estava localizado num sítio perfeito e iam arrebatar-lho das mãos. De modo que tinha assinado o contrato de arrendamento no dia anterior, confiante que a comissão que obteria por colocar uma secretária na Case Consolidated Holdings lhe permitisse fazer frente às despesas. Talvez aí pudesse começar a fazer planos de futuro a longo prazo.

Infelizmente, o encontro com Max punha em perigo aqueles planos e obrigava-a a repensar toda a situação. Talvez devesse renunciar ao local.

Oxalá Devon tivesse podido ir àquele encontro em vez dela. Era o seu braço direito e um negociador hábil, mas a sua mãe tinha sido internada de urgência no dia anterior para tirar a vesícula e Rachel tinha-lhe dito para ficar com ela o tempo que fosse necessário. Para Rachel, a família estava sempre em primeiro lugar.

– Quantas secretárias é que já colocaste cá? – perguntou Max, guardando o cartão no bolso da camisa sem afastar os olhos de Rachel, cuja compostura começava a fraquejar perante aquele olhar penetrante e hostil.

– Cinco – enfiou a mão no bolso do casaco para não mexer nervosamente na gola ou nos botões. – A primeira foi a Missy, a secretária do Sebastian.

– Tu tiveste alguma coisa a ver com isso?

Rachel piscou os olhos, surpreendida com o tom ameaçador dele. Teria Max alguma coisa contra Missy? A rapariga trabalhava para a Case Consolidated Holdings há quatro anos, o seu desempenho era insuperável e fora a sua contratação que catapultara o incipiente negócio de Rachel.

– Ouvi dizer que a promoveram a Diretora de Comunicação há pouco tempo – e que tinha casado com Sebastian, irmão de Max.

– Queres dizer que estás em Houston há quatro anos? – perguntou-lhe no mesmo tom ameaçador.

– Mais ou menos – respondeu ela, cada vez mais nervosa.

– Porquê aqui?

Quando se separaram naquela vilazinha costeira do Alabama, Max deixara bem claro que não queria voltar a vê-la nunca mais. Estaria a perguntar-se se o seu súbito aparecimento na Case Consolidated Holdings se devia a uma volta do destino ou se tudo não passava de uma espécie de assédio da sua parte?

– Mudei-me para cá por causa da minha irmã. Inscreveu-se na Universidade de Houston, fez muitos amigos e, após a sua graduação, pareceu-nos mais sensato instalarmo-nos aqui.

Dava a entender que não tinham amigos onde viviam antes. Os olhos de Max brilharam de curiosidade e Rachel sentiu o olhar dele a queimar-lhe a pele. Tinham passado cinco anos desde que o vira pela última vez e a reação do seu corpo continuava a ser a mesma de antes.

– Tenho três clientes neste prédio – disse ela, tentando recuperar a confiança com um tom firme e seguro. Passara os últimos dez anos a lidar com executivos e sabia exatamente como lidar com eles. – O facto de ter colocado cinco secretárias aqui e de não termos tropeçado um no outro nestes anos todos devia ser prova suficiente de que o meu interesse na tua empresa é puramente profissional.

Ele observou-a como se fosse um polícia.

– Vamos conversar.

– Pensava que já estávamos a conversar – disse ela, e rapidamente mordeu o lábio por estar a ser sabichona. Em tempos, Max achara piada às suas insolências, mas duvidava que continuasse a achar. Cinco anos eram muitos anos para continuar chateado, mas se havia alguém capaz disso... era Max Case.

– No meu escritório.

Virou-se e afastou-se a grandes passos pelo corredor, sem confirmar se ela estava a segui-lo. Era um homem autoritário e esperava sempre que o obedecessem sem protestar. Especialmente na cama... a dizer-lhe onde pôr as mãos, como mexer as ancas, quais as zonas do seu corpo que precisavam de mais atenção...

O desejo fez-lhe ferver o sangue e paralisou-lhe os músculos. Que raio se estava a passar? As lembranças dos quatro dias que passara com Max descansavam num poço fundo junto com os seus sonhos e fantasias de criança. Abdicara temporariamente dos homens e do sexo e, por enquanto, tinha que continuar assim. Recrear-se nas fantasias eróticas que Max lhe provocava seria o cúmulo da estupidez se quisesse manter uma relação profissional com ele.

Max desapareceu ao virar uma esquina. Era a sua oportunidade de fugir, arranjar alguma desculpa e enviar Devon para fazer a entrevista no dia seguinte.

Não. De modo nenhum. Ela era capaz de fazer aquilo. E tinha de fazê-lo. O seu futuro dependia daquela comissão. Cinco anos antes, aprendera uma dura lição ao tentar fugir dos problemas.

Agora encarava de frente todas as dificuldades que lhe apareciam no caminho. A sua empresa, a Lansing Employement Agency, precisava desesperadamente daquela comissão e para isso devia chegar a um acordo com Max. Só então poderia instalar-se no seu novo escritório e festejar com uma garrafa de champanhe e um longo banho de espuma.

Obrigou os seus pés a mexer-se e, passo a passo, foi ganhando confiança. Durante quatro anos tinha estado a desbravar caminho à base de suor e esforço. Convencer Max de que a Lansing Employment Agency era a agência de emprego certa seria apenas mais um de tantos obstáculos, e quando chegou ao enorme escritório de Max estava outra vez concentrada no seu objetivo.

– Perdeste-te? – perguntou-lhe ele.

– Parei na mesa da Sabrina e pedi-lhe que mandasse o presente do bebé à Andrea.

Percorreu o escritório de Max com o olhar, sentindo grande curiosidade por aquele homem de negócios sobre cuja carreira nada sabia. Nos quatro dias que tinham passado juntos, ele falara-lhe da sua família e da sua paixão pelos carros de corridas, mas recusara-se a falar de trabalho. Só quando conheceu Sebastian e reparou nas parecenças, percebeu que o seu ex-amante era «o» Max Case da Case Consolidated Holdings.

Nas paredes havia fotografias de Max com uma série de carros de corrida, sorridente, com o capacete sob o braço e um fato de macaco azul que se cingia às suas esbeltas ancas e ombros largos. O pulso de Rachel acelerou perante aquela imagem arrebatadora. Numa prateleira havia uns quantos troféus e vários livros sobre carros.

– Cortaste o cabelo – observou Max, fechando a porta.

Rachel tentou ler a sua expressão, mas ele estava a proteger-se atrás de uma máscara impassível e os seus olhos eram como os muros de uma fortaleza inexpugnável. No entanto, o comentário provocou-lhe um arrepio de emoção.

– Nunca gostei de o ter comprido – respondeu. O marido dela, porém, gostava.

Um laivo de sorriso pareceu espreitar dos lábios de Max. Teria reconhecido a tentativa de camuflagem por parte de Rachel? Cabelo curto, tailleur com calças cinzento, sapatos rasos, um relógio simples, nada de joias e a maquilhagem estritamente necessária. No conjunto, sonsa como um pão sem sal, mas impecavelmente profissional. Ela nunca fora a fantasia sexual de homem nenhum. Para a maior parte dos rapazes, era demasiado alta, e para o resto era demasiado magra e lisa como uma tábua. Ao máximo que pudera aspirar no liceu fora a fazer boas amizades com os rapazes, com quem crescera a jogar futebol, basquete e basebol.

Mas ela continuava sem compreender como é que um homem como Maxwell Case, que podia ter qualquer mulher que desejasse, a escolhera a ela uma vez.

Uma enorme mesa de mogno dominava o espaço frente à janela. Parecia um móvel demasiado antiquado para Max, a quem era mais fácil imaginar sentado atrás de uma mesa de design de vidro com os pés cromados. Em vez ir para a secretária, Max sentou-se no sofá que ocupava uma parede do escritório e apontou para um cadeirão. Rachel não gostou daquela atitude informal e acomodou-se na beira do banco. Manteve a pasta no colo, como se fosse um escudo, para se lembrar a si própria que estava numa reunião de negócios.

– Preciso de uma secretária que possa começar amanhã logo de manhã.

Rachel não esperara que Andrea desse à luz duas semanas antes do previsto. Naquele momento, não tinha ninguém disponível para cobrir o lugar no dia seguinte.

– Tenho a pessoa indicada, mas só pode começar na próxima segunda-feira.

– Impossível.

Rachel foi dominada pelo pânico ao ver a sua ansiada comissão a esfumar-se no nada.

– São só dois dias... Certamente, consegues passar sem uma secretária até segunda-feira.

– Já estamos atolados até ao pescoço por causa da baixa da Andrea. É preciso preparar os orçamentos do próximo ano e preciso de alguém com capacidade de organização para trabalhar a contrarrelógio – cravou o seu olhar nela. – Alguém como tu... Tu és exatamente a pessoa que eu preciso.

O brilhozinho nos olhos de Max ateou uma chama no interior de Rachel. Cinco anos antes, um fogo similar calcinara o seu instinto de proteção e reduzira a sua sensatez a cinzas.

Lançara-se nos braços de Max sem pensar nas consequências e o resultado fora que ele acabara a odiá-la. Olhou-o nos olhos e descobriu que a sua fúria não se tinha mitigado minimamente com o passar dos anos. Ao que parecia, o tempo não curava tudo. No caso de Max, apenas tinha aprofundado o seu ressentimento, até o transformar numa perigosa arma com que pretendia cobrar a sua ansiada vingança.

Cerrou os dentes e tentou conter a onda de pânico que ameaçava a sua tranquila existência.

– A mim não me podes ter.

 

 

Aquela declaração ficou a pairar no ar. Mas Max podia tê-la. A escolha era dele, não dela.

A tensão vibrava entre eles e a fragrância do perfume de Rachel despertava as memórias de um desejo esquecido.

– Estás mesmo disposta a arriscar desiludir um cliente?

– Não – as maçãs do rosto de Rachel cobriram-se de rubor. – Mas não posso abandonar o meu negócio para ser a tua secretária.

– Contrata alguém para te substituir – mostrou os dentes num frio sorriso. – Seria irónico, não é?

Podia ver como o profissionalismo de Rachel começava a quebrar-se.

– Não estás a ser razoável.

– Claro que estou. De certeza que se ligar para outra agência têm o que preciso – os olhos de Rachel abriram-se reveladoramente, dando-lhe a entender quão desesperada estava por conseguir aquele contrato.

– A Lansing Employement tem o que precisas – assegurou-lhe entre dentes.

Ele guardou silêncio enquanto ela o observava fixamente. O instinto dizia-lhe para a mandar dar uma curva, como faria com qualquer outra fornecedora que não lhe oferecesse exatamente aquilo que ele precisava.

Mas havia assuntos inacabados entre eles. A certa altura naqueles últimos cinco minutos, Max decidira que precisava de acabar de uma vez por todas o que iniciara com ela. O breve romance que tinham partilhado não fora suficiente para sufocar a paixão, e por mais que o chateasse reconhecê-lo, continuava a desejá-la. Por quanto tempo? Isso era um mistério, embora por experiência soubesse que o seu interesse raramente durava mais de dois meses.

E quando se cansasse dela, acabaria tudo de uma vez por todas.

– Muito bem – aceitou ela, com cara de poucos amigos. – Eu sou a tua secretária durante dois dias.

– Ótimo.

Rachel levantou-se e preparou-se para sair, mas qualquer coisa a reteve ali.

– Porque é que estás a fazer isto?

– A fazer o quê? – perguntou ele.

– A exigir-me que seja a tua secretária até encontrar uma substituta.

– Tu estás aqui. Parece-me a solução mais oportuna.

O volume atual de trabalho estava a sufocá-lo. Os seus encarregados tinham acabado as previsões e tinham-lhe enviado os números para o orçamento do próximo ano. Em plena recessão económica, o controlo das despesas e o aumento das vendas eram mais importantes do que nunca. A Case Consolidated Holdings tinha mais de uma dúzia de empresas, cada uma dedicada a um mercado diferente. Era um grande desafio reunir e analisar os dados das várias fontes, visto que cada entidade operava de forma independente, com os seus próprios parâmetros e planos estratégicos.

Andrea conhecia os meandros do negócio tão bem como ele, e a sua ausência podia causar estragos irreparáveis.

– De certeza que é só por isso? – perguntou Rachel.

Max parou de preocupar-se com os prazos de tempo e lembrou-se que a sua grave carência de pessoal era apenas parte da razão pela qual insistira para que Rachel fosse a sua secretária temporária.

– Porque é que havia de ser?

– Se calhar para te vingares da forma como acabámos...

– Isto são negócios – respondeu ele. O facto de ela suspeitar dos seus motivos apenas acrescentava emoção ao jogo.

– Então, já não estás chateado comigo?

Claro que estava. E muito.

– Cinco anos depois? – perguntou ele, abanando a cabeça.

– Tens a certeza?

– Duvidas da minha palavra? – disparou ele, mas a sua irritação não pareceu causar o mínimo efeito nela.

– Há cinco anos deixaste muito claro que não querias voltar a ver-me nunca mais.

– Isso foi porque tu não me disseste que eras uma mulher casada – tentou manter um tom suave e calmo, mas não foi suficiente para disfarçar a sua ira. – Apesar de te ter dito o que pensava sobre a infidelidade e de te ter contado como acabaram os meus pais... envolveste-me numa aventura extraconjugal sem o meu conhecimento.

– Eu já tinha deixado o meu marido.

Max respirou fundo para aliviar a dor súbita que lhe atravessou o peito.

– Não hesitaste em voltar para ele quando apareceu de repente.

– As coisas complicaram-se...

– Eu não vi qualquer complicação. Só vi mentiras.

– Estava a passar uma fase muito dura. Conhecer-te permitiu-me esquecer os meus problemas por um bocadinho.

– Usaste-me.

Ela inclinou a cabeça e olhou para ele através das suas longas pestanas.

– Usámo-nos um ao outro.

Max olhou-a de cima a baixo. Não era a mulher mais bonita que tinha conhecido. Tinha o nariz demasiado fino e o queixo demasiado pontiagudo. Escondia a sua testa ampla com uma franja e o seu corpo carecia das curvas que ele tanto gostava nas mulheres. Mas havia qualquer coisa irresistivelmente exótica e sensual nos seus lábios carnudos. E adorava mordiscar o seu pescoço longo e esbelto.

Não ficou surpreendido por sentir uma descarga de desejo, tão intensa que chegava a ser dolorosa. Desde o primeiro momento, ardera entre eles uma química que arrasava tudo, e ao vê-la no vestíbulo soube logo que nada tinha mudado.

As dúvidas assaltaram-no por um instante. Se passasse tempo com ela voltariam a abrir-se as velhas feridas? Perdê-la da vez anterior fora um golpe tão duro que demorara meses a recuperar-se. Claro que, na altura, ele ainda acreditava no amor e no casamento, apesar das dolorosas lições sobre infidelidade que aprendera com o seu pai.

Graças a Rachel, o seu coração fechara-se e ficara selado contra qualquer intromissão.

– A que horas devo chegar amanhã?

– Às oito.

Rachel dirigiu-se à porta e ele percorreu o prático fato cinzento com o olhar. Uma palavra rondava-lhe cabeça:

Divorciada...

Ela hesitou um momento na porta e virou-se de novo.

– Dois dias – disse-lhe num tom firme e sereno, olhando-o por cima do ombro. – Nem mais um.

Tendo dito isto, desapareceu sem olhar para trás. Tão sensual e inacessível como ele lembrava, rodeada daquela aura de impenetrabilidade que a envolvia mesmo quando estava dentro dela.

Mas era um homem habituado a ter qualquer mulher que desejasse e a essência evasiva daquela criatura inatingível que nunca chegara a ser realmente sua fascinava-o. Tinham passado quatro dias juntos sem separar-se nem por um segundo, dando asas a uma paixão voraz e a um desejo insaciável. Mas por mais prazer que lhe proporcionasse, por mais orgasmos que ela tivesse nos seus braços, em momento algum conseguira chegar ao fundo da sua alma.

E ele só percebera a razão quando ela o abandonara para voltar para o seu marido.

Rachel não era dona da sua alma e portanto não podia entregá-la. Pertencia ao homem com que se comprometera e que amara.

A ira catapultou-o do sofá e levou-o até à porta para a fechar de um golpe, sem se preocupar com o que as pessoas no escritório pudessem pensar daquele ímpeto. Ainda tinha a mão a tremer quando a apoiou na parede.

Malfadada Rachel por ter reaparecido na sua vida.

E malfadado ele por ficar contente com isso.