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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Anne Oliver

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Só uma semana?, n.º 1199 - Julho 2014

Título original: The Morning After the Wedding Before

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises

Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5341-6

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Capítulo Quinze

Volta

Capítulo Um

 

Emma Byrne recusou-se a ceder aos nervos que se agitavam na sua caixa torácica como vespas histéricas. Era uma rapariga urbana e sofisticada de cidade e não tinha medo de entrar naquele clube de striptease de terceira categoria em King’s Cross, o famoso bairro de Sydney de clubes noturnos. Sozinha.

Tinha prometido à sua irmã que entregaria o fato de padrinho a Jake Carmody e iria fazê-lo. Conseguiria fazê-lo.

Eram seis da tarde de uma agradável segunda-feira de outono e o Pink Mango já estava aberto. Subindo ainda mais os óculos de sol, trocou a mala de mão e pôs o porta-fatos ao ombro e entrou. A música retumbava por toda a sala, que cheirava a cerveja e a colónia barata. Respirou com um esgar de desagrado.

Hesitou quando um milhão de olhos pareceram olhar para ela. «Estás só a imaginar», disse-se. «Quem ia olhar para ti num buraco como este?». Em especial com a gabardina vermelha que lhe chegava até aos joelhos e completamente abotoada, botas de cano alto e luvas. Ao pensar nisso, concluiu que talvez fosse por isso que recebia pouco mais que uns quantos olhares...

Sem prestar atenção aos olhares curiosos, centrou a sua atenção na decoração. O interior era até mais foleiro e estridente que o exterior. Predominavam o rosa caramelo, o dourado e o negro. As cadeiras e os cadeirões estavam cobertos de um fúcsia de aspeto sujo com padrões de animais. Uma bola giratória de discoteca projetava luzes multicolores sobre as empregadas em topless que percorriam a sala com sorrisos falsos como os seus seios.

Mas ao menos elas tinham seios.

A maioria dos clientes estava em redor de um palco oval elevado observando com olhos lascivos uma solitária bailarina cuja única vestimenta era uma tanga dourada e que fazia amor com um poste metálico. Numa firme nádega, tinha uma cobra tatuada.

Emma não era capaz de desviar o olhar. «As coisas de que os homens gostam...». Ela nunca teria essa voluptuosidade nem a coragem para a exibir.

Talvez fosse esse o motivo que levara Wayne a acabar com ela.

Desterrou as suas inseguranças, suspirou e virou costas ao espetáculo. Naquele momento, o que menos precisava era de lembrar as suas próprias fraquezas físicas.

«Não me importa que tu e Ryan se casem no próximo fim de semana, ficas-me a dever em grande por fazer isto, irmãzinha».

«Tenho marcação para a manicura», tinha-lhe dito Stella com o típico desespero pré-nupcial na voz. «Ryan está em Melbourne até amanhã por causa de uma conferência e tu não tens nada de especial programado para esta noite, pois não?».

Stella sabia que ela não tinha vida social desde a sua rutura com Wayne. E ainda que não estivesse livre, sendo dama de honor, como poderia recusar o pedido da noiva? Mas uma espelunca de striptease não precisava fazer parte da obrigação.

Um homem com uma camisa aberta e uma grande corrente de ouro sobre uma obscena mata de pelo grisalho no peito observava-a do outro lado de uma mesa próxima. Sentiu umas gotas de suor pelas costas. Estava a arder sob a gabardina.

Mas parecia a pessoa a quem devia dirigir-se, por isso moveu-se com rapidez. Levantou os ombros e obrigou-se a olhá-lo nos olhos, algo complicado quando esses olhos estavam cravados nos seus seios.

Mas antes que pudesse dirigir-lhe a palavra, ele girou um dedo gordo e disse:

– Se vens pelo trabalho, despe essa gabardina e mostra-nos o que tens.

Sentiu os pelos da nuca eriçarem-se.

– Desculpe? Eu não...

– Aqui não precisarás de um disfarce, querida – olhou para o porta-fatos que levava ao ombro. – Esta noite falta-nos uma pessoa, portanto podes começar pelas mesas. Cherry mostra-te. Ei, Cherry! – a sua voz rouca pelo fumo atravessou o ar espesso.

Emma usou um tom de voz mais gélido.

– Vim falar com Jake Carmody. Portanto, diga-me onde posso encontrá-lo para resolver o meu assunto com ele e ir-me embora daqui.

Aqueles olhos pálidos observaram-na mais profundamente enquanto uma mulher se aproximava carregando uma bandeja. Luzia uns shorts dourados estilo anos 80 e uma blusa negra transparente. Sob a maquilhagem, pareceu-lhe cansada e sentiu simpatia por ela. Sabia o que era ter que trabalhar por necessidade fosse no que fosse.

– A dama quer ver o chefe. Sabes onde está?

O chefe?

– Deve haver um erro... – calou-se. A secretária dele tinha-lhe dito que poderia encontrá-lo naquela direção, mas... ele era o chefe daquilo?

A mulher chamada Cherry encolheu os ombros com indiferença.

– Da última vez que o vi, estava no escritório dele.

O homem apontou com um dedo uma escada estreita no fundo da sala.

– Lá em cima, primeira porta à direita.

– Obrigada – com os lábios cerrados e consciente de alguns olhares que seguiam o seu avanço, cruzou o clube.

O chefe?

Apesar do calor, sentiu um calafrio. O estilo de vida que ele levasse não lhe dizia respeito, mas nem num milhão de anos esperaria que o homem que ela conhecia estivesse envolvido com uma espelunca cujo nível ficava até abaixo dos clubes noturnos de duvidosa reputação. Era licenciado em Direito Comercial.

Era evidente que isto lhe dava mais lucro.

Conhecia Jake desde a escola. Era um dos amigos de Ryan e ambos iam com frequência a sua casa para conversarem com a sua irmã, que era mais sociável, e ouvirem música. Quase sempre, ela estava a fazer os trabalhos de casa ou então experiências com a sua produção de sabonetes. Mas, em situações pontuais, Stella convencera-a a juntar-se a eles.

Ele era um íman para as raparigas. Calmo, levemente perigoso e com demasiada experiência para alguém como ela. Talvez por isso, sempre que lhe fora possível, tentara evitá-lo.

Embora isso não a tivesse impedido de apaixonar-se um pouco por ele. Moveu a cabeça e pensou que os seus jovens olhos tinham estado sob uma nuvem de ingenuidade. Além disso, o amor não fazia parte do seu plano de vida. Nunca mais.

Ouviu-o antes de chegar à porta. Aquela voz familiar, profunda e algo parcimoniosa, que parecia fluir sobre os sentidos como caramelo líquido. Falava ao telefone.

A porta estava entreaberta e ela bateu. Ouviu o ruído surdo que fez ao desligar com força ao mesmo tempo que soltava um palavrão e antes de dizer com impaciência:

– Avante!

Não levantou logo os olhos, o que lhe permitiu pôr os óculos sobre a cabeça e analisá-lo.

Sentado a uma secretária a cair aos pedaços e cheia de papéis, escrevia algo. Tinha uma camisa azul com as mangas arregaçadas sobre uns antebraços musculados e bronzeados. Ao contrário do resto da espelunca, a roupa era de primeira qualidade. Olhou-o nos olhos e o coração bateu-lhe com um pouco mais de rapidez.

O cabelo espesso e escuro levantava-se aqui e acolá, como se tivesse estado a passar as mãos por ele. Os seus dedos desejavam baixar-lho...

Santo Deus, estava a desejar um homem que não só usava as mulheres, como as explorava numa desgraçada sala dedicada ao striptease. Desejar tocar-lhe colocava-a num lugar tão baixo como ele e era tão má quanto os pervertidos do piso inferior. Mas, apesar disso, continuou a sentir pequenos calafrios.

– Olá, Jake – sentiu-se impressionada consigo mesma pela saudação distante que conseguiu dizer.

Ele levantou os olhos e o sobrolho franzido foi substituído por uma expressão espantada de surpresa.

– Emma – deixou devagar a caneta sobre a mesa, fechou a pasta e tomou o seu tempo para pôr-se em pé. – Há quanto tempo!

– Sim – concordou ela, admirando de esguelha aquela visão masculina de uns gloriosos metro e oitenta e cinco, com uns ombros largos que enchiam por completo a camisa. – Bom... todos temos vidas ocupadas.

– Sim, hoje em dia é assim, não é? Ao contrário dos tempos da escola.

Contornou a mesa com um sorriso que era como uma carícia lenta que lhe fazia coisas espantosas ao corpo.

Retrocedeu um passo. Tinha de ir-se embora e depressa.

– Vejo que estás ocupado – disse com rapidez, olhando para aqueles olhos negros como café. – Eu...

– Vieste à procura de trabalho?

Ficou boquiaberta e sentiu-se corar. Que imbecil.

– Liguei para o teu escritório... para o teu outro escritório, e a tua secretária disse-me que estavas aqui – fez uma careta e colocou o porta-fatos sobre a mesa, fazendo com que os papéis voassem por todo o lado. – O teu fato para o casamento. Se precisar de algum retoque, o alfaiate disse que precisaria de pelo menos três dias, razão pela qual vim eu trazer-to esta noite. O Ryan está fora do estado e a Stella tinha um compromisso, Portanto, eu...

– Emma. Estava a brincar.

Vislumbrou um brilho no seu olhar e retrocedeu outro passo. Como não brincaria? Ela não estava à altura das criaturas voluptuosas da sala.

– Hoje não tenho tempo para brincadeiras. Nem para mais nada. Bem... já tens o fato. Vou-me embora.

Sob a dura luz fluorescente, Emma viu as olheiras e as linhas marcadas sob os seus olhos, como se não dormisse há semanas. Disse-se que merecia essa tensão por fazer com que se sentisse uma tonta. Como se a sua autoestima não tivesse sofrido o suficiente depois de Wayne ter posto fim à relação...

– Portanto, a nós os dois calhou-nos E Tudo o Vento Levou, hein? Espero poder fazer justiça a Rhett Butler – olhou para o porta-fatos e depois dirigiu-lhe um sorriso sexy. – E tu serás a minha Scarlett por um dia.

Ficou tensa mas o sangue fluiu a maior velocidade pelas suas veias.

– Não serei tua coisíssima nenhuma. Não consigo perceber por que terão escolhido o tema de casais famosos para o casamento.

Ele encolheu os ombros.

– Queriam algo original e descaradamente romântico... por que não? Bem precisam de divertir-se nesse grande dia. A partir daí, é sempre a descer – voltou a dirigir-lhe aquele sorriso demolidor. – Obrigado por trazeres-me o fato. Posso oferecer-te um copo antes de te ires embora?

– Não. Obrigada.

 

 

Jake cruzou os braços e apoiou-se contra a secretária, inalando a fragância fresca e desconhecida que entrara com ela. Era uma visão revitalizadora para os seus olhos cansados.

Alta e esbelta como uma papoila de olhos azuis. Mesmo irritada, parecia-lhe fantástica, com aquele olhar gelado de safira e o modo como franzia os lábios. Brilhantes, carnudos...

Conteve o louco impulso súbito de aproximar-se e prová-los. Provavelmente, não deveria ter feito a piada sobre se procurava trabalho. Mas não tinha conseguido conter-se. Nas poucas ocasiões em que a tinham conseguido convencer a juntar-se a eles, estava sempre tão séria. Era evidente que isso não tinha mudado.

Esfregou o queixo por barbear.

– Se soubesse que vinhas, teria arranjado as coisas para que deixasses o fato no meu outro escritório.

Ela dirigiu-lhe um olhar gelado e, estranhamente, ele sentiu como se lhe tivesse dado um murro.

– Tenho de ir-me embora – anunciou com aspereza.

– Acompanho-te – afastou-se da mesa.

– Não. Preferia que não o fizesses.

Conhecia aquele tom o suficiente para saber que era melhor não contrariá-la. Cruzou os braços.

– De acordo. Obrigado por trazeres-me o fato. É algo que aprecio.

– Fico contente por ouvir isso, porque foi uma exceção.

– Vemo-nos amanhã ao jantar.

– Sete e meia – acomodou a mala. – Não chegues tarde.

– Emma... – ela voltou a cabeça e ele voltou a pensar num campo de papoilas num dia de verão. Estendido entre elas com Emma. – Fico feliz por voltar a ver-te.

Não respondeu, mas hesitou, olhando-o com aqueles olhos fabulosos. Depois Emma assentiu uma vez e voltou a andar para a porta.

Observou-a ir-se embora, admirando como se movia, reta, sexy e com classe. Por um momento perguntou-se por que não tinha tentado nada com ela no passado. Tinha dado por ela a olhar para ele em várias ocasiões, quando ela presumia que ele não estava a vê-la.

Parou de sorrir e soube porquê. Emma Byrne desconhecia o significado do que era divertir-se e, desde logo, não sabia como relaxar-se. Era como se tivesse tatuada na cara a palavra «séria».

Jake, pelo contrário, não procurava nada sério. Não se comprometia. Desfrutava das mulheres... nos seus termos. Com mulheres que conheciam as regras. E quando acabava, acabava, sem mal-entendidos nem olhar para trás. Mas não podia negar que esta Emma mais bela, mais madura e mais feminina o excitava. E muito.

A porta fechou-se e ouviu os seus passos desaparecerem. Voltou a pensar que deveria tê-la acompanhado até lá abaixo. Mas tanto ela como a sua linguagem corporal tinham irradiado uma rotunda negativa.

Desterrando os pensamentos luxuriosos, desceu as mangas da camisa. Amaldiçoou o condenado Earl, o pai que o tinha engendrado, por ter-lhe deixado aquele caos que tinha de destrinçar. Ninguém estava a par da sua ligação àquele clube, com a exceção de Ry e dos seus pais, e mais recentemente da sua secretária.

E agora tinha que acrescentar Emma Byrne a esta lista.

– Maldição.

Olhou para o relógio e guardou o telemóvel no bolso. Não tinha tempo naquele momento para esta complicação em particular... tinha de ir a uma importante reunião de negócios.