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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Lee Wilkinson

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O Poder da Inocência, n.º 2267 - março 2017

Título original: Wife by Approval

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9585-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Valentina Dunbar estava sentada no seu escritório, situado no primeiro andar da empresa Cartel Wines e, dali, através do vidro açoitado pela chuva, via o estacionamento e, um pouco mais à frente, o rio Tamisa.

Estava a começar a anoitecer, as luzes da rua acabavam de acender e o seu reflexo reverberava nas águas escuras, enquanto o céu se tingia de laranja e de violeta.

A maior parte das pessoas saía cedo às sextas-feiras à tarde e, naquele momento, uma série de carros estava a sair do estacionamento para ir para o trânsito da hora de ponta de Londres.

Tina tivera de ficar a trabalhar um pouco mais, pois a campanha de Natal estava perto e tinha de organizar os eventos sociais e rever os textos que acompanhavam sempre as campanhas da Cartel Wines.

No entanto, por uma vez na sua vida, não tinha toda a sua atenção no trabalho. Aquela sexta-feira treze tinha estado marcada pelo azar. De manhã, torcera o tornozelo ao escorregar a sair do duche.

Cerrando os dentes, enxugara-se, apoiando-se na outra perna e prendera o cabelo loiro num coque.

Quando terminou, a dor tinha diminuído e pôde ir para a sala de jantar para tomar o pequeno-almoço: torradas e café. Na sala já estava Ruth, a sua amiga e companheira de apartamento.

– Porque é que estás a coxear? – perguntara-lhe.

Quando Tina estava a acabar de lhe contar o telefone tocou.

– Oxalá seja Jules – comentou Ruth, apressando-se a pegar no auscultador.

Efectivamente, era ele.

O namorado de Ruth fora destacado seis meses para Paris e ela tinha muitas saudades dele.

– Vem passar o fim-de-semana a Londres – anunciou após desligar o telefone. – Chega esta tarde e vai-se embora na segunda-feira de manhã. Eh… assumiu que vamos ter a casa para nós… – acrescentou.

Isso queria dizer que Tina tinha de encontrar outro sítio onde dormir aquelas três noites. A sua casa, situada num antigo edifício vitoriano, estava em obras e a sua amiga Ruth tinha-se oferecido para a hospedar durante as dez semanas que, aproximadamente, a obra ia durar, por isso não podia estragar-lhe o fim-de-semana com o seu namorado.

– Olha, vê se consegues passar o fim-de-semana em casa de Lexi ou de Jo – sugeriu Ruth.

– Sim – respondeu Tina. – Não te preocupes comigo, eu arranjo-me. Tu diverte-te.

– Obrigada – respondeu Ruth, indo vestir-se.

Tanto Lexi como Jo viviam com os seus namorados e Tina não queria incomodar, portanto decidira passar o fim-de-semana num hotel. Depois de meter numa mala de viagem umas quantas mudas de roupa, algumas calças e o necéssaire, foi-se embora, despedindo-se de Ruth ao longe pois estava no duche.

Ao descer as escadas, vira o correio, encontrara uma carta para ela e metera-a na mala.

Até àquele dia, o Outono estava a ser maravilhoso pois os dias eram quentes e ligeiramente ensolarados e as noites frescas, mas agradáveis. No entanto, aquele dia amanhecera cinzento e frio e estava a começar a chover.

Depois de se agasalhar bem, dirigiu-se para o estacionamento para comprovar, com desespero, que tinha um pneu furado. O mecânico não demorou para lho trocar, mas então já estava atrasada para o emprego.

A manhã passara a voar e, quando chegou o meio-dia, deu-se conta de que, com a pressa, se esquecera de fazer uma sandes para comer.

Ainda bem que havia uma loja de delicatessen ao virar da esquina que fazia comida para levar. Tina decidiu ir o quanto antes para não apanhar muita fila. Ao pendurar a mala ao ombro, viu a carta que guardara ao sair de casa e, ao observá-la de perto, viu que no canto superior esquerdo do envelope havia qualquer coisa escrita a vermelho.

Deixara-a em cima da mesa com a ideia de a ler quando voltasse, vestira o impermeável e saíra pela porta das traseiras. Em poucos minutos, estava de volta com uma sandes de presunto com alface e um iogurte de frutas.

Estava a atravessar o estacionamento, encolhida para se resguardar da chuva quando, ao olhar para cima, reparara que um homem estava a observá-la.

Tratava-se de um homem alto, de cabelo escuro e muito atraente que estava na zona de cargas e descargas e que não lhe tirava os olhos de cima.

Desde que terminara com Kevin, completamente desiludida, mantivera-se longe de todos os homens. Sobretudo, dos bonitos.

Embora aquele homem não fosse bonito como uma estrela de cinema, era muito bonito, mas de uma maneira dura e muito masculina.

Tina sentiu o pulso acelerar e perguntou-se quem seria.

Ao aproximar-se, os seus olhares encontraram-se.

Alguns olhares eram como colisões. O impacto daqueles olhos escuros paralisou-a e Tina sentiu um aperto no coração.

Estava ali, parada a meio do estacionamento, a olhar fixamente para ele quando a parte inferior do saco de papel que levava, que se tinha molhado, cedeu e a sandes e o iogurte que comprara para comer caíram ao chão.

Tina apanhou a comida, completamente estragada e deitou-a fora no lixo mais próximo. Depois de limpar as mãos com um guardanapo de papel, não conseguiu evitar voltar a olhar para onde estava o desconhecido.

Infelizmente, tinha desaparecido.

Tinha a certeza de que não passara ao seu lado e também não ouvira nenhum carro, o que significava que entrara.

Quem seria?

Tina conhecia toda a gente da empresa, mas nunca tinha visto aquele homem. Certamente, não era do pessoal de armazém porque estava demasiado bem vestido.

Em qualquer caso, o facto de que estivesse ali significava que tinha algum tipo de ligação com a Cartel Wines.

Talvez fosse uma visita.

Não, as visitas utilizavam sempre o estacionamento de visitantes e entravam pela porta principal, não utilizavam a saída das traseiras e atravessavam o armazém, que era o que ele devia ter feito…

Ao sentir uma gota de água na nuca, Tina deu-se conta de que estava à chuva como uma idiota e apressou-se a entrar no edifício. Enquanto atravessava o armazém, procurou-o com o olhar, mas não o viu.

Ao subir as escadas, deu-se conta de que deixara a porta do seu escritório aberta com a pressa. Enquanto secava o cabelo com uma toalha, voltou a pensar naquele desconhecido. Apesar de o ter visto somente durante uns segundos, na sua memória tinham ficado gravados a sua altura, a largura dos seus ombros e os seus traços masculinos e firmes.

Embora tivesse tentado deixar de pensar nele, não conseguira esquecê-lo toda a tarde. Naquele momento, enquanto olhava pela janela com os seus lindos olhos violetas, continuava a perguntar-se quem seria, o que faria ali e se voltaria a vê-lo.

Tina disse para si que tinha de parar de pensar nele e concentrar-se em coisas mais práticas. Por exemplo, eram quase cinco da tarde, estava mau tempo e ainda não sabia onde ia dormir.

Certamente, depois de ter convencido Didi, a sua meia-irmã, a aceitar o lugar que lhe ofereciam na prestigiosa Escola de Arte Dramática de Ramón Bonaventure, assegurando-lhe que pagaria os gastos, ia ter de ser um hotel não muito caro.

Tina tinha consciência de que a esperavam dois anos economicamente difíceis, mas valia a pena para ver Didi feliz.

O telefone tirou-a dos seus pensamentos.

– Menina Dunbar, o senhor De Vere quer vê-la – disse Sandra Langton, com a sua característica voz nasal.

– Vou já – respondeu Tina.

Perguntando-se o que quereria o seu chefe de repente, Tina saiu do seu escritório e, com cuidado porque ainda coxeava um pouco, desceu ao andar de baixo, onde se encontrava o armazém de vinhos e o escritório do dono da adega.

– Entra – disse a secretária, olhando para ela de maneira estranha.

Tina franziu o sobrolho e bateu à porta, esperando o habitual «entre». Os franceses tinham fama de serem homens muito educados, mas Maurice De Vere devia ser a excepção que confirmava a regra.

Tratava-se de um homem de estatura baixa, grisalho e enxuto que ia reformar-se em menos de um mês. A verdade era que não era mau chefe, mas não gostava nada da tecnologia moderna e negara-se a instalar computadores e qualquer outro equipamento que tornasse a vida laboral mais fácil.

Além disso, sempre fora rígido, portanto, quem quer que o substituísse, quase de certeza que seria melhor.

O senhor De Vere mandou-a entrar e indicou-lhe que se sentasse.

– Receio que tenha más notícias para si, menina Dunbar… quando decidi reformar-me e vendi esta adega ao grupo Matterhorn, disseram-me que não haveria muitas mudanças. De forma geral, mantiveram a sua palavra, mas esta tarde disseram-me que John Marsden, o homem que chegará segunda-feira para cuidar da Cartel Wines, tem ideias muito claras de como conduzir as campanhas de vendas.

– Não há problema – respondeu Tina. – As sugestões que fiz podem ser mudadas ou adaptadas e…

De Vere abanou a cabeça.

– Receio que Marsden queira trazer a sua equipa, o que significa que você está a mais.

Tina ficou a olhar para ele, arrasada.

– Não imagina o quanto lamento. O seu trabalho sempre foi impecável…

Aquilo, vindo de um homem que nunca fazia elogios, era impressionante, mas do que lhe servia se tinha perdido o seu emprego?

– É claro, certificar-me-ei de que você tenha boas referências.

– E quando…? – perguntou Tina com voz trémula.

– Parece que Marsden quer instalar-se imediatamente, portanto você terá de sair hoje mesmo – respondeu o seu chefe, visivelmente incomodado. – Dei ordem à minha secretária para lhe fazer uma transferência para a sua conta do equivalente a seis meses de salário.

Aquilo era muito generoso. No seu contrato, especificava somente um mês.

– É claro, enviar-lhe-emos por correio as referências e qualquer outro documento que precise – disse De Vere, levantando-se e estendendo-lhe a mão. – Que tudo corra bem.

– Obrigada – respondeu Tina, apertando-lhe a mão e saindo do escritório.

Lá fora, a secretária olhou para ela com cara de pena e ela encolheu os ombros e subiu as escadas com as pernas trémulas. Trabalhava naquela empresa há dois anos, desde que acabara a universidade. Adorava aquele trabalho e fazia-o bem, porém, pelos vistos, isso era indiferente.

Estava na rua.

Tina sentiu o pânico apoderar-se dela.

Certamente, quando voltasse para a sua casa, o senhorio teria aumentado a renda depois das obras e, além disso, tinha de pagar a escola da sua irmã.

Certamente, não podiam tê-la despedido num momento pior.

Estava a ser um ano bastante mau e parecia que a demissão era tocar no fundo. Bom, se assim fosse, só restava ir para cima.

Tina respirou fundo, endireitou as costas e começou a arrumar as suas coisas. Foi então quando recordou a carta que deixara em cima da mesa, mas não foi capaz de a encontrar e disse para si que a leria mais tarde.

Depois de arrumar tudo, decidiu deixar as plantas que comprara para alegrar o escritório, vestiu o casaco, pôs a mala ao ombro, agarrou na caixa onde metera os seus pertences, apagou a luz e fechou a porta pela última vez. Não havia nada de valor no escritório, por isso deixou a chave na fechadura.

As únicas luzes que estavam acesas eram as do segurança. Isso queria dizer que os colegas tinham ido para casa e que ela era a única pessoa que ainda estava naquela parte do edifício.

No entanto, enquanto descia as escadas, deu-se conta de que alguém a precedia, alguém que acabava de atravessar as portas do armazém e que também se dirigia para o estacionamento.

No entanto, o armazém estava deserto. Tina olhou, confusa, à sua volta e não viu ninguém. Embora aparentemente estivesse sozinha, o seu sexto sentido dizia-lhe que alguém a observava da escuridão.

Tina arrepiou-se. Olhou para trás.

Nada.

Retomou o passo quando, de repente, ouviu outro barulho e se virou e parou de repente. Pensou que seria George Tomlinson, o segurança nocturno.

– George, és tu? – perguntou, sentindo-se uma idiota.

Não obteve resposta.

Voltou a perguntar.

Nada.

Se não era ele, quem seria? Teria entrado alguém no armazém? Para quê? Qualquer ladrão que se prezasse saberia que, sendo sexta-feira, dia de pagamento, a caixa estaria vazia.

Tina recordou que no armazém havia alguns gatos. Claro que os gatos se moviam sigilosamente e as portas não se moviam quando eles passavam.

Sentiu um calafrio nas costas e disse para si que tinha de usar a lógica. Assim, pensou que tinha encontrado as portas a mover-se porque George teria começado a sua ronda pouco antes de ela descer e, por isso, quando ela tinha chegado, ainda se moviam.

Sim, muito lógico, mas aquela justificação não a acalmava.

Decidiu andar porque estava a começar a doer-lhe o tornozelo outra vez e a caixa pesava. Tinha a sensação de que alguém a observava, esperando a sua reacção, mas Tina decidiu afastar aquele pensamento da sua mente e continuar em direcção ao estacionamento.

Fazendo um grande esforço para não correr, obrigou-se a caminhar calmamente até à porta de saída. Não sentia as pernas e tinha a respiração entrecortada e os músculos tensos e não conseguia parar de olhar para trás.

Quando chegou lá fora, fechou a porta e respirou fundo, tranquila. No entanto, depressa reparou que o estacionamento estava praticamente às escuras. Por se ter atrasado quase uma hora aquela manhã, tivera de estacionar muito longe, perto do rio.

Enquanto avançava para o seu carro, teve novamente a sensação de que alguém a observava e sentiu medo. Viu que num dos edifícios anexos ainda havia luz e pensou em ir até lá porque, obviamente, havia gente. Mas o que lhes diria, que tinha medo de atravessar o estacionamento sozinha? Pensariam que estava louca.

Se calhar, era verdade. Se calhar, ficara paranóica.

Tendo muito cuidado porque não via bem, avançou para o seu pequeno Ford azul-marinho. Depois de pousar a caixa no banco de trás, sentou-se ao volante e respirou fundo.

Sã e salva!