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© Editora Gato-Bravo 2019


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copyright.


editor Marcel Lopes
coordenação editorial Paula Cajaty

revisão Bárbara Ribeiro

projecto gráfico 54 Design

imagem da capa Shutterstock



Título

A irmandade: ameaça global

Autor

Pedro F. Ribeiro


isbn 978-989-8938-43-5

e-ISBN 978-989-8938-44-2

1a edição: setembro, 2019

Depósito legal: 461511/19



gato
·bravo
rua de Xabregas 12, lote A, 276-289
1900-440 Lisboa, Portugal
tel. [+351] 308 803 682
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editoragatobravo.pt

Por árduos caminhos sangremos,
o sangue que nos alenta.
O topo da justiça alcancemos,
por sofrimentos a nós devido.
Seja aceite a perda,
das lágrimas vive a saudade.

Per Salebrosa Viarum Altiores.

Esta obra é dedicada ao meu avô Joaquim e à minha avó Alice, a ambos injustamente negada a oportunidade de partilhar este momento e outros com os seus.
Que estejam na sua merecida paz.

Agradecido a todos os que me apoiaram e criticaram construtivamente esta obra, especialmente a quem me ajudou
e incentivou na publicação da obra.
Um agradecimento igualmente aos membros da editora Gato-Bravo, editora da obra, pela parceria e oportunidade para contribuir para o mundo literário.

Este livro nasce do desejo do autor em contribuir para a literatura. A intenção desta narrativa ganha vida
na relação com as personagens descritas e na resposta
do leitor perante as suas decisões e formas de estar.

Sumário

prólogo

capítulo i

capítulo ii

capítulo iii

capítulo iv

capítulo v

capítulo vi

capítulo vii

capítulo viii

capítulo ix

capítulo x

capítulo xi

capítulo xii

capítulo xiii

capítulo xiv

capítulo xv

capítulo xvi

capítulo xvii

capítulo xviii

capítulo xix

capítulo xx

capítulo xxi

capítulo xxii

capítulo xxiii

capítulo xxiv

capítulo xxv

capítulo xxvi

capítulo xxvii

capítulo xxviii

capítulo xxix

capítulo xxx

epílogo

prólogo

Previa-se um dia como qualquer outro, o sol nascia no horizonte e iria desaparecer no lado oposto horas mais tarde, os adultos saiam das camas, aprontavam os seus descendentes, os que tivessem, aperaltavam-se e ganhavam asas em direção ao trabalho. Todos se alimentavam, todos se aplicavam, todos brincavam e todos viviam. Um estado utópico no plano geral português, devastado quando examinado ao pormenor. Nem todos trabalhavam, nem todos brincavam e muito menos se aplicavam. Todos viviam, porém fosse por trabalho próprio ou contribuição alheia, necessária ou não. As horas passavam, o mundo girava sobre o seu eixo e a ilusão de tempo estendia-se. O dia ia acabando vagarosamente, semelhante ao dia anterior e ao dia seguinte. Aquele dia, porém, iria mostrar a sua verdadeira face e distinguir-se-ia dos restantes, endurecendo a inocência de uma criança.

O dia era 2 de setembro de 1997 e um céu enublado cobria o topo do mundo até ao término do alcance da vista. Os postes de iluminação encontravam-se já ligados em plena tarde, fruto da escuridão prematura que se avizinhava.

Lucas era um pequeno rapaz, pele morena e cabelos negros, reguila como os há e dono de uma curiosidade imensa. A sua fome pela aprendizagem era a única coisa que lhe pregava a atenção nas aulas, enquanto os seus colegas falavam para o lado, atiravam papéis, colavam chicletes debaixo das mesas e cadeiras, Lucas tentava concentrar-se na melodia vocal da sua professora, assimilando quase toda a informação transmitida. Não era capaz, no entanto de se manter consciente durante a aula completa.

Um mundo de fantasia esvoaçava pela mente de Lucas em momentos do dia, todos os dias. A salvação do mundo, de donzelas em apuros, até mesmo apenas ganhar o torneio de futebol da escola, várias as ideias improváveis que o retiravam da aula e o levavam para o plano do imaginário, perdendo o fio à meada e a obrigá-lo a estudar em casa.

A campainha tocava e resgatava Lucas de volta para a Terra, assinalando o término do dia de aulas.

“Meninos, não se esqueçam de recolher as vossas cadernetas e informar os vossos pais que amanhã é Dia das Profissões!” — dizia a professora — “Nunca se sabe, talvez descubram o que querem ser quando forem grandes!” — continuou com um sorriso no rosto.

Arrumando cuidadosamente o seu material escolar, Lucas colocou tudo no interior da sua mochila e dirigiu-se para o corredor.

“Lucas…” — fez-se ouvir a professora — “Podes chegar aqui um momento?”

Dada meia volta, Lucas caminhava em direção à professora Júlia quando um colega de turma embarrou-lhe, lançando a sua mochila, que ainda se encontrava pendurada apenas num ombro, para o solo.

“Estás bem domesticado Lucas.” — gozou Lionel — “Dá a patinha também órfão!”

“Lionel, que seja a última vez que te ouça a falar assim para quem seja!” — repreendeu a professora — “E se fosses tu na situação do Lucas?”

“Pff… Como queira.” — ignorou —“Até amanhã, Lucas. Ão ão!”

Estendendo a mão para Lucas, a professora aproximou a criança de si e acarinhou-lhe o ombro.

“Não ligues Lucas, é um miúdo muito amargo, dados os pais que tem.”

“Não me preocupo professora, a minha mãe diz para ignorar quem diz estas coisas e que o meu pai era um grande homem, que devia ter orgulho nele.”

“A dona Helena tem toda a razão Lucas!” — concordou, passando a mão gentilmente no rosto do seu aluno, claramente perturbado pelas palavras do seu colega. Decidiu mudar de assunto, distrair o pequeno — “Bem sei que a tua mãe é uma senhora muito ocupada Lucas, mas se conseguisses que ela viesse amanhã eu agradecia. É uma inspiração para todos e decerto seria maravilhoso que ela pudesse transmitir todo o conhecimento que ela tem da política e de como a sociedade funciona.”

“Sim professora, quando chegar a casa digo à mamã.”

“Obrigado, querido e cabeça erguida, se continuares no bom caminho académico serás alguém, nunca te esqueças disso!”

Acenando afirmativamente e de sorriso forçado, Lucas despediu-se da professora e abandonou a sala, vagueando pelos corredores até ao enorme portão verde que dava acesso ao exterior do perímetro.

Do lado de fora estava Lionel e os seus amigos arruaceiros, corajosos em grupo, fazendo caretas e insultando quem não gostavam, por vezes agredindo até, como pequenos chimpanzés a lutar pela maior banana.

“Ão ão!” — novamente Lionel a provocar Lucas.

Baixando a cabeça e seguindo o seu caminho, o pequeno jovem sabia bem que não podia fazer nada. Por um lado, detestava confrontos físicos, por outro a sua desvantagem numérica aliada a um corpo de franganote tornavam Lucas um alvo fácil, como já experienciara.

Um dia, pensava, vou bater naquele nariz de batata…

Após caminhar durante algum tempo, Lucas chegava a casa e sentiu imediatamente o aroma do cozinhado da mãe. Entrou pela porta da frente e dirigiu-se prontamente para a cozinha, espiar o que seria a refeição para aquela noite.

O aroma a filetes de pescada fritos que emanava no ar era delicioso e, de modo a que o sabor acompanhasse o cheiro, umas gotas de limão espalhadas pelo peixe tornava-o simplesmente divinal. O irmão de Lucas aguardava impacientemente a sua chegada para brincarem antes do jantar.

Roberto era um adolescente cujo interesse no sexo oposto apenas há poucos meses se começara a manifestar. O seu cabelo acastanhado liso e feições quase simétricas, iriam eventualmente atrair a atenção das jovens da sua escola. Os seus olhos azuis, ao contrário aos negros de Lucas, eram apenas outra distração pela qual sofreriam as suas colegas.

“Rapazes saiam lá da cozinha. Ide brincar para outro lado.” — Fez-se ouvir uma voz feminina.

A sua mãe, a muito estimada Helena Cardoso, era uma mulher vibrante e influente na comunidade. Dona de seu próprio nariz e dos narizes dos outros, trabalhava arduamente na reforma da pequena vila de Valbom. Poucos anos haviam passado desde que tomara posse da Junta de Freguesia da terra e expunha já resultados satisfatórios quanto à redução da criminalidade e remodelação de habitações sociais, em comunhão com a Câmara Municipal.

“Roberto e Lucas, não ouviram o que disse? Ide para o quarto então se não querem ir para a sala, mas deem-me espaço para cozinhar, chiça!” — repetiu-se, deixando escapar o seu característico sotaque da terra.

“Mano, podemos jogar às escondidas? Podemos?” — Lucas pediu a Roberto, entusiasmadíssimo com a ideia.

Roberto acenou afirmativamente, vestindo um sorriso rasgado na face. Nenhum se lembrava há quanto tempo passara desde que jogaram pela última vez um jogo tão simples quanto aquele.

Estabeleceu-se que seria Lucas o primeiro a esconder-se e, assim que o seu irmão levou as mãos ao rosto para contar, desatou a correr para o andar superior. Procurava um local para se ocultar, mas, desorientado com o entusiasmo, o seu poder de raciocinar e de decisão estavam virtualmente desligados.

Assim que a contagem atingiu um número crítico rumou imediatamente ao quarto da sua mãe e escondeu-se no seu enorme armário embutido na parede. Um armário de três portas, possíveis de trancar através do exterior, em madeira e uns puxadores, já gastos da erosão temporal, pendurados.

Aqui ele não me encontra, pensou ingenuamente.

Ouvira o seu irmão terminar a contagem e iniciar a busca, levando a encolher-se um pouco mais no recanto coberto de edredões e mantas.

Ansioso que Roberto fosse ao quarto e desse meia volta, Lucas esperava impacientemente no esconderijo perfeito, imóvel. No entanto seria contada uma história diferente.

Haviam passado alguns minutos quando sons estranhos se fizeram ouvir no andar inferior. Subitamente houve um estalido na porta do armário, o qual reconheceu como o trancar da fechadura.

Assustado com o ocorrido, pontapeou o pedaço de madeira que o separava da liberdade, berrando pela sua família.

“Por favor não faças barulho” — ouviu Roberto sussurrar do outro lado — “Fica aqui escondido, eles apanharam a mamã, por favor fica calado!”

Roberto saiu velozmente do local em direção à cozinha, deixando para trás apenas o barulho dos seus pés a entrar em contacto com o soalho de madeira.

Seguiram-se apenas barulhos abafados, decifrando apenas a diferença entre uma voz sentenciada e gritos desesperados.

Desejava apenas fugir daquela toca e ir ajudar os seus no que estivesse a acontecer, mas uma porta trancada e as palavras de Roberto confinavam-no àquela prisão.

Além da sua respiração e batimento cardíaco, o silêncio instalara-se e dominava a casa no seu absoluto. A fluidez temporal deixara de ser uma constante e passara a uma incógnita. Questionava-se há quanto tempo estaria no interior do guarda-roupa, desorientado com as várias respostas que concluía.

Subitamente fez-se um estalido e a porta abriu-se. Do outro lado apresentava-se um homem entre os trinta e os quarenta anos, algumas rugas e um cabelo manchado com brancas. Este, no entanto, era pequeno, mas possível de agarrar.

Lucas empurrou o seu pequeno corpo para trás, utilizando as pernas, até ao limite de espaço, compreendendo imediatamente que a fuga não era opção.

O desconhecido baixou-se, quase ficando sentado nas suas próprias pernas, e esticou a mão.

“Olá pequeno, sou Hércules. E tu, qual é o teu nome?” — inquiriu com um sorriso.

“Lucas.” — murmurou.

“Não tenhas medo Lucas.” — disse, tranquilamente — “Agarra a minha mão, estou aqui para te ajudar.”

Apesar do seu ceticismo em acreditar na palavra de um estranho, algo que a sua mãe lhe ensinara desde tenra criança a não fazer, segurou-lhe o pulso e puxou-o para fora do armário.

“Onde está o meu mano e a minha mãe?” — perguntou, timidamente.

O rosto do homem rapidamente se transformou e a expressão de calma desaparecera, trocada por uma imagem dura e rigorosa.

“Anda pequeno, quero-te mostrar algo.”

Dirigiu-se calmamente para a escadaria, levando Lucas a seguir-lhe as pegadas. Como uma sombra, pé à frente do outro, acompanhou-o até pararem na entrada da cozinha, do lado exterior.

“Antes de entrares ali, quero que penses no seguinte. Os culpados foram homens maus, gente que não trabalha de outra forma que não seja em seu próprio proveito!” — proferiu, lançando um olhar intenso.

Deslizou o braço, como que dando autorização a Lucas para entrar na sua própria cozinha.

Incapaz de assimilar as palavras de Hércules, decidiu entrar devagar, não fosse alvo de uma surpresa. Empurrou a porta, tentando espreitar antecipadamente, procurando saber o que havia acontecido.

Uma sensação de paragem cardíaca apoderou-se de Lucas naquele instante, ao entender o que ocorrera.

Numa crueldade incrível, as paredes e o chão da cozinha ganharam uma cor desconcertante. Os azulejos outrora brancos, com desenhos leves de flores, estavam agora salpicados em tons de vermelho rubro, escorrendo pela parede. No chão podia-se ver poças de sangue, estas em tons escurecidos devido à concentração do líquido, nas redondezas de dois cadáveres estendidos. Na porta do frigorífico era possível ler “PECADORA”. Com os sentidos adormecidos devido ao choque, decidiu perguntar à única pessoa viva no local o significado da palavra.

“Senhor Hércules, o que é pecadora?”

“É uma mentira, é o que é. Pecadora é uma pessoa que comete crimes morais, ao contrário da tua mãe, que trabalhava em prol de todos.” — explicou — “Quem cometeu este delito deixou essa mensagem para desviar atenções.”

“Desviar atenções?” — inquiriu, baralhado com a informação.

“Sim. Esta mentira foi deixada aqui de modo a que os investigadores pensem que foi um crime de ódio religioso por a Helena ser mãe solteira, entre outros tantos rumores infundados.” — continuou — “No entanto, ela foi morta devido ao seu novo projeto. Um projeto muito além do mero quotidiano desta vila, até mesmo do país. Um combate global à corrupção que se vive no seio policial e político.”

Lágrimas escorriam pela sua face assim que absorveu totalmente as implicações do ocorrido. A sua única família acabara de ser morta e Lucas ficara paralisado no andar superior enquanto a sua mãe e Roberto eram dilacerados.

Correu em direção aos restos mortais da outrora destemida Helena e caiu de joelhos, abraçando o seu corpo imóvel e cobrindo-se de sangue.

Chamava pelos falecidos, berrando como nunca o fizera antes, fazendo-se ouvir por toda a vizinhança.

Bêbedo de raiva, confrontou Hércules com pensamentos que, até ao momento, nunca haviam percorrido a sua mente.

“Você sabe quem os matou certo? Diga-me, eu próprio vou matá-los!” — gritou, olhando desafiador nos olhos do desconhecido.

“Isso irá trazê-los de volta? Irão retornar à vida através da tua vingança?” — questionou, novamente calmo. — “Não devemos atuar enevoados pela raiva. Devemos ser claros e eficientes na nossa atuação, não turvos e descuidados. Não te darei as ferramentas para os vingares, mas posso dar-te a possibilidade de prevenir situações idênticas, fora do alcance limitado da lei, julgado apenas pela necessidade dos teus atos.”

“Não, não quero saber disso! Quero apenas quem os matou!” — retorquiu, balbuciando.

“Paciência pequeno Lucas. Vem comigo e, quem sabe um dia, os vossos destinos não se cruzam.”

Decidiu, com a fúria a substituir a lógica no complexo plano que é o raciocínio, aceitar a proposta de Hércules.

Desconhecia o que iria fazer, quem iria conhecer e o que poderia estar destinado pois, naquela hora e naquele lugar, apenas a vingança o alimentava.

capítulo i

Duas semanas passaram desde a carnificina no seu antigo lar e a promessa de vingança parecia esquecida. Como uma folha no vento, também as suas palavras de retaliação esvoaçaram longe da mente de Hércules.

Viajavam desde então, visitando várias cidades e aldeias, parques de diversões e centros comerciais. O propósito de tal ação iludia Lucas e o seu guardião parecia não fazer intenção de o explicar.

Admitia, no entanto, que a descontração com que Hércules o tratava e agia, ajudara a sua transtornada mente a alcançar bom porto espiritual, afastando-se da travessia atribulada de vingança com a qual preenchera os pensamentos.

A visita mais recente fora a Coimbra, no rio de Montemor-o-Velho, pequena região no centro do país onde se realizavam os Campeonatos Nacionais de Remo.

Naquele dia, todavia, iriam apenas realizar-se treinos da Briosa, geralmente conhecida como Académica de Coimbra. Sentaram-se na relva da margem, observando as diversas pessoas no local.

Os diversos atletas que ali se encontravam, de todas as idades, estavam trajados com maillots, vestimentas quentes e elásticas, comuns naquele desporto.

“Já alguma vez remaste Lucas?” — Perguntou Hércules.

“Não. Já andei de canoa com o Roberto, mas remo nunca.”

“Eu remei, na minha juventude. Era pouco mais velho que tu quando competi pela primeira vez num campeonato nacional de juvenis. Meu deus como era atrapalhado!” — comentou, largando uma risada — “Treinava há poucos meses e o meu treinador decidiu lançar-me na competição para que ganhasse estaleca, como ele dizia.”

“Conseguiu vencer?”

“Longe disso!” — retorquiu, coçando a cabeça embaraçado — “A prova correu pessimamente. Dei por mim preso por três vezes na margem do rio e demorei onze minutos a completar uma pista que se fazia em aproximadamente seis!”

Sorriram um para o outro, ele revivendo a experiência na sua mente, enquanto Lucas imaginava a cómica situação.

Os atletas preparavam-se para colocar os barcos na água e iniciar o seu treino. Lucas conseguia ver barcos singulares, mas maioritariamente de quatro e oito elementos. Colocavam os enormes barcos no rio, ao longo da prancha, deixando os remos do seu lado direito em cima da mesma. Com um pé no barco e outro em terra firme, empurravam calmamente o seu veículo até os remos beijarem a água. Encolhiam as pernas, submergindo as pás ao atingirem o máximo, e, com um movimento inverso, empurravam o barco na direção desejada.

Apercebeu-se que dois barcos de oito atletas se colocaram lado a lado, preparando-se para dar largada. Com um grito do seu treinador, ambos partiram. A equipa vermelha rapidamente foi ultrapassada, colocando os azuis na rota da vitória.

“Sabes porque o Oito vermelho ficou para trás?” — inquiriu Hércules, ao qual Lucas respondeu negativamente — “Observa os movimentos dos vermelhos. Desorganizados, uns mais lentos que os outros, enquanto três estão a remar, outros ainda vão colocar as pás na água. A equipa azul, no entanto, movimenta-se em sintonia. Todos os seus movimentos estão coordenados pelo primeiro homem em frente ao timoneiro, todos seguem a sua deixa. Esta é a lição do dia.”

“Lição do dia?”

“Sim. Se o objetivo for o mesmo, mas os camaradas não estiverem em concordância connosco, o barco não deslizará ao ritmo desejado. Se não agirmos como um, o verdadeiro potencial nunca será atingido e missão será um fracasso!”

Ergueu-se num ápice e, após se arranjar, estendeu a mão.

“Quero que te lembres do que aprendeste hoje. Irás precisar no futuro.”

“E quando será isso?” — perguntou, agarrando a sua mão e levantando-se.

“Assim que chegarmos à Irmandade.”

capítulo ii

“Paragem terminal, Monte Alegre.” — fez-se ouvir uma voz feminina.

Lucas acordou desorientado com aquela informação, procurando por Hércules, apenas para descobrir o já sabido. Encontrava-se no mesmo local antes de adormecer, mantendo um olhar atento e minucioso aos seus arredores.

“Onde estamos?”

“Estamos a chegar a Monte Alegre. Não consegues ler com doze anos?” — retorquiu com um esgar de gozo.

“Claro que sei, quero é saber o que estamos a fazer no fim do mundo!”

“Paciência pequeno. Monte Alegre é dos locais mais belos de Portugal, dono de uma paisagem requintada e de terrenos bastante elevados.” — pigarreou — “Estes montes podem ser utilizados para diversas situações.” — acabou, lançando um olhar, assumindo que Lucas deveria entender o que estava a implícito.

Abandonaram o autocarro assim que chegaram ao destino, para alívio de ambos. O transporte, para além de ter aproximadamente vinte anos, possuía um tom cinzento por todo, sendo que os seus ferros gastos e vermelhos no interior eram os únicos objetos que destoavam do restante ambiente. A estética, no entanto, afetava apenas a absorção visual, enquanto outros fatores deixavam os seus usuários desconfortáveis. O intenso cheiro que emanava no ar, devido à negligência na limpeza do veículo, adicionado a um outro odor de mau hálito e suor, criava uma mistura insuportável, atenuada apenas pela abertura das janelas superiores.

Hércules gesticulou com os dedos, indicando para Lucas o seguir por uma viela estreita paralela à paragem de autocarros.

Apesar do seu pequeno e esguio tronco, tinha dificuldade em caminhar confortavelmente por aquele caminho, enquanto o seu guardião, no seu físico bem constituído, passeava sem problemas, rodando apenas na diagonal o seu tronco.

Monte Alegre, terra pacata que era, possuía um dom já raro no mundo civilizado. Desprovida de poluição sonora, facilitava a audição dos sons naturais, desde pássaros a chilrear, grilos a cantar e mesmo a relva a esbracejar ao querer do vento.

Lucas teria, no entanto, apenas uns momentos mais à frente no tempo para apreciar essa tranquilidade pois, naquele instante, os únicos ruídos que a audição captava eram dos seus passos e da respiração. O homem que o precedia, não parecia existir no plano da realidade. Cada passada era fantasmagórica, qualquer abanar do tronco era mudo, levando-o a questionar a veracidade da situação com a qual se deparava.

Chegaram ao fim da viela, podendo finalmente observar os fenomenais altos e baixos de Monte Alegre, cobertos por uma pradaria deliciosamente esverdeada. A chuva que molhara o país no dia anterior parecia ter atingido também aquela zona, criando um efeito refletor na relva. O modo como o sol incidia, na água reminiscente, dava um brilho natural ao ambiente, como cristais espalhados pelo solo.

“Entendes agora o que te digo pequeno?” — perguntou Hércules — “É uma terra magnífica, coberta pela natureza, fora do olhar curioso das pessoas.”

“Entendo sim. Quanto tempo falta até chegarmos à…”

“À Irmandade?” — interrompeu — “Pouco. Iremos iniciar um exercício preparatório para o que te espera.”

“Preparatório?” — inquiriu, surpreendido.

“Sim. O exercício é simples, seguir-me-ás até ao nosso centro de comando, mas terás restrições. Não poderás usar da palavra. Com isto quero dizer, não fazes perguntas, não falas do tempo, farás tudo o que eu mandar sem hesitar, haverá consequências se quebradas as regras, faz parte do exercício. Estamos entendidos?”

“Mas porque é que não posso falar?”

“Sem perguntas!” — proferiu severamente.

O olhar intenso com que Hércules fitou Lucas causou uma sensação de desconforto que nunca tivera desde que o acolhera.

Pelo menos ele disse que faltava pouco tempo, pensava.

Caminharam pela pradaria fora, subindo e descendo montes, assustando os vários animais inofensivos que se deparavam com ambos, até dia virar noite.

Passaram horas desde que a sua boca deleitara-se com uma simples gota de água. Desidratado e esfomeado, as tripas entoavam a sua música, alarmando para a necessidade de ingerir algo que enganasse o estômago.

Farto da caminhada e da proibição que Hércules colocara, decidiu confrontá-lo.

“Estou cheio de fome e preciso de beber água! Quando chegamos?”

Numa meia volta veloz, Hércules voltou-se para Lucas e puxou do seu braço atrás.

Lucas caiu estrondosamente no chão, sentindo em crescente a dor da estalada. Os olhos encheram-se de lágrimas e, na sua fúria, ergueu-se e gritou com o seu agressor, num choro sufocado.

“Odeio-te! Porque é que fizeste isso?”

Hércules levou novamente a sua pesada mão atrás e desferiu outro golpe, arremessando Lucas mais uma vez para o chão.

“O que te falei sobre usares da palavra?” — perguntou, agressivamente — “Quando fores capturado pelo inimigo vais berrar com eles também? Vais esquentar a mente e despejar tudo o que sabes?”

“És um mentiroso! Disseste que me irias treinar para vingar a minha família!” — retorquiu, balbuciando — “Não sei o que queres, mas não são os mesmo que os meus! Quero ir embora!”

“Vingarás a tua família ajudando os outros!” — novamente uma estalada — “Nunca poderás vingar-te pessoalmente, só com atos altruístas poderás fazer jus à memória dos teus entes queridos! Precisarás de uma mente forte, superior à minha! No entanto és dono de ti, queres ir embora?”

Fitou-o em silêncio, absorvendo o que Hércules transmitia. Apesar de considerar as múltiplas agressões algo exagerado, entendia a lição que tentava passar.

“Bom. Aprendes-te a saber quando falar, isso é bom.” — disse, sinalizando para continuar.

O caminho ficara mais turvo depois daquilo, fruto das restantes lágrimas nas pálpebras. Removeu-as com o braço, limpando os olhos repletos de raiva pelo homem à sua frente, sentindo o rasgar da traição, lâmina essa bem afiada.

Um dia teria a sua oportunidade de devolver a dor que Hércules acabara de infligir e infligiria nos tempos seguintes.

Um dia…

capítulo iii

Nascia já o sol no horizonte quando chegaram ao seu destino. Os tons alaranjados desvaneciam-se à medida que se aproximavam da incidência no monte.

Na entrada para uma gruta, ali colocou, cuidadosamente, os pés de modo a não escorregar no piso húmido. A cada passo em frente, desaparecia qualquer luminosidade, aparentando nada mais que escuridão eterna.

Caminhavam entre estalagmites e estalactites envolvidas no negrume da caverna, até que um click se fez ouvir e umas lâmpadas iluminaram levemente o local. Podia-se ver duas portas cinzentas no fundo, assemelhando-se à entrada dum elevador.

Hércules, ao aproximar-se do elevador, ergueu a mão com dois dedos levantados. Apesar de aparentar um gesto vulgar, os restantes dedos estavam encolhidos para trás.

Com um bip as portas abriram e entraram. Sem qualquer comando ou ordem por Hércules, o elevador fechou-se e iniciou o seu percurso descendente.

“Irás conhecer os restantes elementos.” — disse — “Podes falar, já agora.”

Permaneceu em silêncio, desafiando o seu guardião.

“Tens atitude, isso admito.” — continuou — “Se agarrares o teu lugar na Irmandade, serás o quarto elemento da equipa. Serei o teu comandante e farás, sem hesitar, o que te ordenar.”

“Quarto? Porque são tão poucos?” — perguntou, surpreendido com a informação.

“Falecidos.” — proferiu, lamentavelmente — “Mas isso é uma história para outro dia, para outro lugar.”

O elevador parou bruscamente, abrindo assim os dois pedaços de metal que os separava do mundo exterior. Ou o que se pudesse chamar aquilo.

Num panorama muito diferente do andar superior, a sala na qual se encontravam era limpa, iluminada e devidamente organizada. Numa das paredes encontravam-se dois computadores ligados a uma tela enorme, a meio da sala uma mesa oval, grande o suficiente para vinte elementos no mínimo e por fim, mas não menos importante, uma zona de restauração, de modo a que a Irmandade pudesse cozinhar à vontade. Peculiarmente, as paredes não foram construídas em betão, mas sim lapidadas e polidas a partir da parede existente da gruta.

À mesa de vidro, sentados nas cadeiras negras com pernas de metal cinzentas, estavam dois jovens, notavelmente mais velhos, a conversar. Quebraram subitamente a discussão quando Hércules e Lucas se aproximaram deles.

“Bom dia, Prometeu. Bom dia, Atlas. Há novidades?”

“Bem-vindo, Hércules. Não aconteceu nada desde o incidente na China. Correu bem a viagem?” — respondeu Atlas.

“Foi deveras tranquila sim.” — colocou a mão no ombro de Lucas e empurrou-o para a frente — “Este é o Lucas. Será o nosso elemento mais moderno caso se mostre capaz de ingressar na Irmandade.”

Ambos esticaram as suas mãos para o cumprimentar, ao qual, envergonhadamente, acedeu.

Atlas era um jovem de 16 anos, com traços característicos latinos. Cabelo e olhos castanhos e até o seu tom de pele era moreno. O seu queixo quase reto, maxilares largos e um nariz quase em forma de batata, transmitiam uma imagem de um guerreiro dos tempos antigos. Estranhamente encorpado para a sua idade, possuía uma estrutura semelhante à de Hércules, apesar de ser consideravelmente mais baixo.

Prometeu era, no entanto, uns anos mais velho que Atlas. Com os seus 20 anos, demonstrava uma postura rigorosa, como Hércules, ao contrário de Atlas que surgiu mais descontraído na sua abordagem. Dotado da mesma cor no cabelo e olhos de Atlas, Prometeu diferenciava na sua face, aparentemente mais delicado, com um rosto fino e comprido. Apenas a cicatriz diagonal, que atravessava os lábios no seu lado esquerdo, contrastava com o panorama geral.

“Caminha comigo, mostrar-te-ei os cantos da casa.” — disse Hércules.

Lucas desviou o olhar dos jovens à sua frente, adotando a mesma rota que Hércules, saindo daquela divisão em direção ao alojamento.

Percorreram um corredor enorme e iluminado, na mesma estética da Sala de Controlo, repleto de portas brancas, adornadas com placas nominais em vidro vazias. Apenas no fim do estreito pode observar três quartos com nomes expostos. Apenas três em dezenas de alojamentos estavam ocupados.

Hércules rodou a maçaneta do segundo quarto da ala direita, abrindo a porta, apresentando uma divisão extensa. Dois armários, pretos com dois metros de altura e a mesma medida de largura, encontravam-se encostados à parede. Junto ao centro da parede perpendicular aos armários, podia-se ver uma cama de casal por fazer, com cobertores e lençóis dobrados no seu fundo. Em ambos os lados da cama estavam duas cómodas beges, constituídas com vértices pontiagudos em metal e gavetas para armazenar roupa interior. Para além de todas estas comodidades, no recanto mais longínquo estava embutida uma casa de banho individual equipada com lavatório, sanita, banheira clássica, um poliban e uma banheira de hidromassagem.

“Este é o teu quarto a partir de agora Lucas.” — disse Hércules — “Poderás observar que foi dotado de algumas extravagâncias. Generosidades provenientes de tempos infortúnios.”

“Porque diz isso?”

“Porque…” — murmurou, suspirando — “Foram obras levadas a cabo pelo nosso antigo líder, antes de…”

“Antes de?” — questionou, procurando uma resposta concreta.

“Não penses nisso pequeno. Como te disse, é uma história para outra altura, para outro lugar.” — continuou — “Vai descansar, amanhã inicias a recruta e, acredita quando te digo isto, será devastadora. O uniforme será constituído por calças e t-shirt pretas e botas. Tem uma boa noite.”

Proferidas tais palavras, Hércules virou costas e caminhou de volta à Sala de Controlo.

Abriu o guarda-roupa e, para espanto seu, deu de caras com várias vestes e ferramentas táticas. Desde coletes a facas e luvas táticas, tudo organizado quase geometricamente, demonstrando uma arrumação virtualmente perfeita.

Depois de muito procurar, concluiu que não teria acesso a pijamas, apesar das baixas temperaturas das instalações. Decidiu tratar da sua higiene pessoal, algo pela qual ansiava há horas.

Passado alguns momentos, chegara o momento de recarregar as baterias, estendendo-se na enorme cama que fora providenciada. Teria, no entanto, que completar uma tarefa que nunca realizara na vida. Colocar os lençóis na própria cama.

Apesar da enorme mulher que Helena fora em vida, sempre pecara na educação dos filhos, levando a uma criação pouco autónoma da sua prole.

Num remendo atabalhoado, atirou os lençóis para o topo da cama, considerando estar bom o suficiente para se envolver naquele vale.

Pousou a cabeça na almofada, tentando adormecer apesar da ansiedade que o assombrava a mente.

Tempos duros se avizinhavam.

capítulo iv

Drrrrriiiiiiiiiiiiiiimmmmm.

Uma repetitiva e tumultuosa campainha ecoava por todo o aquartelamento. Lucas ergueu-se sobressaltado, rodando a cabeça em todas as direções à procura duma resposta nas proximidades.

Adormecido e lento, empenhou-se em vestir a roupa que fora indicada, desconhecendo o que se passava no local. Colocou o traje, abandonando o quarto e rumando à Sala de Controlo.

A correr que nem um desvairado, galopando incessantemente, apenas para dar de caras com Hércules, Prometeu e Atlas, respetivamente, com os braços por trás das costas.

Hércules levantou o seu braço, mirando o relógio que se encontrava no pulso e, após uma inspeção minuciosa, expô-lo aos seus acompanhantes.

“Camaradas, quero ouvir, em uníssono, que horas são!” — proferiu Hércules, altivamente.

“Sete horas e vinte minutos, senhor!” — gritaram simultaneamente.

“São quinze flexões para si!” — disse, apontando o dedo a Lucas — “Já!”

Chocado com as suas ordens, paralisou ao mesmo tempo que encarava Hércules estupefacto.

“Mas você é surdo? Agora são vinte!”

Lançou-se para o solo, apoiando-se de imediato nas suas pequenas mãos, mantendo os braços esticados. Ao iniciar o exercício sentiu a falta de ritmo pois, ao fazer a terceira flexão, tremia como uma vara verde.

Aproximando-se de Lucas, num ritmo acelerado, Hércules berrava comigo, transmitindo uma fúria indescritível.

“Você diz que quer vingança. Acha que consegue isso sem fazer uma única flexão?”

Continuou arduamente o teste, abanando com o vento inexistente da sala, até que as forças sumiram e o seu queixo abraçou o chão. Enraivecido e triste, desatou num choro sufocado, o qual Hércules tomou atenção.

“Está a chorar? Faça-se homem!” — continuou, já mais baixo — “Chorar vem de uma emoção e os nossos inimigos não podem saber que sentimos. Nós temos de ser como os demónios que os atormentam, os fantasmas que os mantêm acordados na escuridão, as sombras que os perseguem dia e noite!”

Fúria. Todas as possíveis e indescritíveis emoções foram arremessadas para o abismo mais profundo do ser de Lucas, alimentado apenas por fúria.

Hércules demonstrara uma personalidade diferente nos últimos dias da que mostrara nas semanas anteriores e isso desequilibrara o jovem. Onde pensava ter encontrado um porto seguro, encontrara sim um mar enraivecido a abanar o barco minúsculo que era.

Seria, no entanto, ódio a mantê-lo focado. Ódio faria atravessar aquele tormento e ódio iria libertá-lo.

“Levante-se. Qual é o seu nome?” — inquiriu Hércules.

“Lucas.” — disse, balbuciando.

Prometeu, que se encontrava nas proximidades, lançou a mão aberta à sua face, virando-a.

“Qual é o seu nome?” — voltou a perguntar.

Hesitou — “Lucas, senhor.” — respondeu, sendo golpeado novamente.

“Se o estou a interrogar, a primeira coisa que faz é aceder às minhas perguntas?” — Perguntou furioso, uma vez mais — “Qual é o seu nome?”

“Vai-te lixar!” — retorquiu no mesmo tom.

Prometeu deu outra estalada e Hércules voltou à carga.

“É a última vez que pergunto. Como é que se chama?”

Eu vou-te matar, pensou ao imaginar a situação na sua mente, mantendo o silêncio.

“Não me responde? Qual é o seu nome?” — repetiu-se, obtendo igual resposta — “Muito bem. Já aprendeu algo hoje. Passarei então à teoria.”

Dirigindo-se à mesa oval, Hércules fez sinal para que Prometeu e Atlas o acompanhassem. Assim que os três se sentaram, o instrutor chamou Lucas, apontando em simultâneo para a cadeira.

Obedecendo hesitantemente às suas ordens, caminhou na sua direção e sentou-se, ajustando o rabo de forma a ficar o mais à vontade possível, supondo o longo período de tempo que se avizinhava caso aquelas teorias se assemelhassem à escola.

“Agora que completou o exercício, vou-lho explicar para poder treinar os seus futuros pupilos, se chegar a isso.” — continuou — “O objetivo de interrogar alguém é, como deve saber, obter informações sobre a pessoa e a sua missão. Apesar de quem está a “interrogar” — gesticulou com os dedos indicadores e do meio, num movimento dobrado — “ter vantagem devido à sua posição, também pode ser fragilizada.”

“Fragilizada?” — perguntou, suspeito — “Como é que alguém que está a maltratar outra pessoa pode ser contra-atacada?”

“Simples. Precisa apenas de aguentar. Não lhe podem tirar a vida pois perdem informações possivelmente vitais para a sua sobrevivência. Se demonstrar frieza, apesar de reconhecer a dificuldade de tal tarefa, os interrogadores perderão as estribeiras e, ou o matam ou são retirados da ação.” — continuou — “Nada afeta a moral de um ativo como fracassar em missões nas quais se tem superioridade.”

“Então e se os torturadores forem tão insensíveis quanto eu?”

“Uma raridade, mas sim, é possível que encontre alguns. Nesse caso, sempre aconselhei a questioná-lo de volta e providenciar informações falsas. Isto fará, na maioria das vezes, com que ele se torne instável. Apesar de tudo, somos apenas humanos.”

Hércules colocou a vista em Prometeu e acenou a cabeça, permitindo-lhe apresentar-se.

“Como já deve saber, o meu nome é Prometeu e serei o instrutor de Armamento e Equipamento, Táticas de Combate e Sobrevivência. Ao meu lado encontra-se Atlas, que será nada mais que o seu oponente em todos os exercícios.”