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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Carole Mortimer

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Segredos na família, n.º 1256 - março 2018

Título original: The Deserving Mistress

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-029-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

– Deu-lhe um ataque de coração ou está só a descansar?

May tinha ouvido o carro a aproximar-se da quinta. Inclusive, tinha conseguido abrir um olho e chegar à conclusão de que não conhecia o veículo. O que significava que era um desconhecido que se perdera ou um vendedor de fertilizantes. Nenhum dos dois casos lhe despertava interesse suficiente para se levantar do fardo de palha onde se sentara, à porta do estábulo.

– O que acha?

– Sinceramente, não tenho a certeza – respondeu o homem, surpreendido com a sua própria incerteza, como se não estivesse habituado, nem gostasse de hesitar.

May abriu o olho pela segunda vez. Aquele homem devia ter entre trinta e quarenta anos, era alto, moreno e de cabelo espesso, olhos cinzentos e queixo arrogante e decidido. Não, não parecia o tipo de homem que gostasse de hesitar.

– Bom, então, diga-me quando se tiver decidido – respondeu, May suspirando e fechando o olho.

– Hum… – murmurou ele, pensativo. – Nunca vi ninguém a ter um ataque de coração, mas tenho a certeza de que se sofre mais do que parece estar a sofrer. Embora, por outro lado, dormir aqui fora em cima da palha, quando está um frio de rachar, não pareça muito cómodo.

– Qualquer sítio é confortável quando se passa a noite em branco – respondeu ela.

– Ah…

May abriu os olhos e olhou para ele, antes de explicar:

– Com o veterinário.

– Compreendo.

May gemeu e endireitou-se sobre o monte de feno. Doíam-lhe todos os músculos, ardiam-lhe os olhos. Observou atentamente o desconhecido. A sua forma de estar indicava confiança em si mesmo, os traços do seu rosto eram belos e esculturais.

– Posso ajudá-lo em alguma coisa?

– Depende – respondeu ele.

– De quê? – continuou a perguntar ela, suspirando.

– De se chamar Calendar ou não.

Portanto, não era um turista perdido. Portanto, devia ser um vendedor de fertilizantes, concluiu May.

– Talvez – respondeu ela, levantando-se e descobrindo que era bastante mais alto do que ela.

O homem observou-a com olhos brilhantes, sorridentes e cúmplices. Não era de estranhar, tendo em conta o seu aspecto. May tinha as botas de borracha e as calças de ganga cobertas de lama, não tinha mudado de roupa desde o dia anterior. Nem sequer se tinha deitado, nem tomado um duche. E, provavelmente, teria a cara suja por ter estado deitada no estábulo. Usava um gorro de lã enfiado até às orelhas por causa do frio, mas também para proteger o cabelo comprido da sujidade que a cobria por completo.

– Não parece muito certa disso – disse ele.

– Não estou – suspirou ela. – Ouça, não faço ideia do que vende, mas, provavelmente, não me interessa. Mas, se puder vir amanhã, talvez esteja disposta a ouvi-lo…

– Vender? – repetiu ele. – Eu não… Tenho uma ideia melhor – afirmou ele, vendo-a a bocejar e a cambalear. – Entremos em casa – acrescentou, agarrando-a pelo braço. – Preparar-lhe-ei um café muito forte. Talvez então possamos apresentar-nos correctamente.

May não sabia se queria conhecer aquele homem, mas a promessa de um café muito forte bastou para se deixar arrastar para a cozinha. Provavelmente, ele sabia fazer bom café. Parecia o tipo de homem capaz de fazer tudo bem. E não parecia um perseguidor. De facto, era tão bonito, que, provavelmente, seria ele o perseguido pelas mulheres.

– Combinado! – aceitou May, com voz rouca, sentando-se na cozinha.

Sim, cheirava bem, pensou May, minutos mais tarde. Com uma chávena ou duas, conseguiria inclusive acabar as suas tarefas daquela manhã. A noite fora muito longa, embora tudo tivesse acabado bem. Só de pensar no que ainda tinha para fazer, sentira-se tão cansada que se tinha sentado sobre o fardo de palha. E tinha adormecido. O que, tal como aquele homem tinha assinalado, não era o mais confortável no fim de Janeiro.

– Aqui tem – disse ele, deixando a chávena diante dela e sentando-se à frente, com outra chávena para ele. – Pus-lhe duas colheres de açúcar, precisa de recuperar as forças.

Regra geral, May não colocava açúcar no café, mas aquele desconhecido tinha razão.

– Já me decidi – murmurou ele.

– O quê? – perguntou May, levantando o olhar para ele.

– Estava a dormir – afirmou ele.

– Sim, já lhe disse isso.

– Porque esteve toda a noite acordada com o veterinário – assentiu ele.

Dito daquele modo…

– Com uma ovelha que tinha dificuldades em parir – explicou ela.

O veterinário, John Potter, era um homem de uns cinquenta anos, casado e com filhos. E os rumores na vizinhança não favoreceriam absolutamente a sua reputação. Nem a dela.

– Tanto a mãe como os gémeos estão bem – acrescentou May, observando a forma como ele olhava para ela. – Ouça, agradeço-lhe muito por me ter preparado o café, mas a verdade é que não estou em condições de…

– Meu Deus! – exclamou ele, de repente.

– O que…? – perguntou May, tirando o gorro de lã, enquanto o seu cabelo comprido caía como uma cascata pelos ombros e pelas costas.

Ele pestanejou, franziu o sobrolho, e depois disse:

– É que… por um segundo… me recordou outra pessoa, mas não sei quem. Quem é você? – perguntou, abanando a cabeça e afastando a ideia.

– Não deveria ser eu a perguntar-lhe isso? Afinal de contas, esta é a minha casa.

– Sim, sim, claro – confirmou ele, abanando a cabeça, sem deixar de olhar fixamente para ela.

O que raios tinha visto nela?, perguntou-se May. May tinha o cabelo comprido e escuro, os olhos de um verde profundo e traços clássicos. O seu rosto não era excepcional. De facto, as suas irmãs pareciam-se muito com ela. Além disso, com aquela roupa e coberta de lama, o seu aspecto não podia ser muito atraente. Aquele homem, arrogante e bem vestido, não podia sentir o mínimo interesse por ela.

– Então? – perguntou May, impaciente, enquanto ele continuava a olhar para ela.

– Então, o quê? Ah! – exclamou ele, sem responder, olhando à sua volta para a cozinha.

– O que está a fazer? – continuou a perguntar May.

O homem voltou a olhar para ela, mas parecia ter superado a surpresa.

– Estou a tentar descobrir onde escondeu os corpos, naturalmente – respondeu ele, com secura.

Ainda estaria a dormir? Teria o seu sonho agradável, no qual um desconhecido bonito lhe preparava café, se transformado num pesadelo? Porque tinha perdido o fio à meada. Ou talvez não estivesse a sonhar, talvez ele tivesse fugido de um manicómio.

– Que corpos?

Ele voltou a olhar para ela, a sorrir, como se lhe tivesse lido o pensamento.

– Qual das três é você, May, March ou January?

May assustou-se. Um homem fugido de um manicómio não saberia os nomes dela e das suas irmãs, mas isso não significava que não fosse perigoso.

– Sou May, mas estou à espera de March e de January a qualquer momento – mentiu May, prudentemente.

January continuava nas Caraíbas com o seu noivo e March fora a Londres conhecer a família do dela. Mas enquanto não soubesse quem era aquele homem e o que fazia ali, não queria que descobrisse que estava sozinha.

– Receio que não – respondeu ele, sorrindo sem deixar de olhar para ela. – Portanto, você é May…

– Acabei de lho dizer – confirmou ela, tensa. – E você é…?

– Sou – assentiu ele, sem responder, gostando de ver o desconforto de May.

May levantou-se bruscamente e disse:

– Ouça, eu não lhe pedi que viesse…

– Ah, claro que sim! – interrompeu-a ele em voz muito baixa. – De facto, pelo que soube por duas fontes diferentes e de confiança, desejava ver-me cara a cara.

– A sério? – perguntou May, alarmada e muito quieta, vendo-o com outros olhos.

Aquele homem arrogante, confiante e de boa posição social, a julgar pelo casaco de couro e as calças de ganga de marca, sabia o seu nome antes de chegar. Sim, sabia quem era…

– Jude Marshall – apresentou-se ele, levantando-se e estendendo uma mão.

A julgar pela surpresa de May, não era necessário que dissesse mais nada. Noutras circunstâncias, a sua expressão tê-lo-ia feito sorrir. Provavelmente… embora duvidasse. Não era a reacção habitual da maioria das mulheres, a reacção a que estava habituado. Sobretudo, das bonitas. E May Calendar, apesar do seu aspecto naquele momento, era uma mulher excepcionalmente bela.

Ela continuava a olhar fixamente para ele, sem se incomodar em apertar-lhe a mão.

– Mas… mas… é inglês!

– Ah, isso é discutível! – respondeu ele, voltando a sentar-se, divertido.

– Ou é, ou não é – afirmou May Calendar, tentando recuperar do susto.

Aquele era o homem que andava há algum tempo a tentar comprar a quinta. Ele encolheu os ombros e explicou:

– A minha mãe é americana, mas o meu pai é inglês. Eu nasci na América, mas cresci em Inglaterra. Vou muito à América, tanto por negócios como por prazer, mas a minha empresa é em Londres, portanto… O que pensa que sou?

– Duvido que queira saber o que eu penso! – exclamou ela, com rancor.

– Provavelmente.

May tirou o casaco, revelando um corpo esbelto. Usava uma camisola verde da mesma cor dos olhos e umas calças de ganga justas.

– Diga-me – murmurou Jude. – As suas irmãs parecem-se consigo?

– Exac… Porque quer saber? – perguntou ela, precavida.

– Simples curiosidade.

– Não, não é simples curiosidade – negou May, decidida. – Os corpos que mencionou antes… Não estaria a referir-se, por acaso, ao seu advogado, Max Golding, e ao seu arquitecto, Will Davenport?

Era inteligente, para além de bela, admitiu Jude. As irmãs Calendar ou, pelo menos, aquela não eram as três velhinhas que ele tinha pensado.

– O que lhe parece?

– Adora responder a uma pergunta com outra pergunta, não é? – perguntou May, servindo-se de um segundo café.

Era um mecanismo de defesa que Jude tinha demorado anos a aperfeiçoar. Fazia-o para conseguir mais informação daquela que dava e não era algo de que as pessoas se dessem conta regra geral.

– É evidente que você também – afirmou ele.

– Bom, podíamos continuar assim toda a manhã, mas eu não tenho tempo a perder – respondeu ela, encolhendo os ombros.

– Porque passou a noite acordada com o veterinário – disse ele, provocando-a deliberadamente.

– Já lhe expliquei porquê, portanto, não tenho intenção de voltar a fazê-lo – respondeu May, acalorada. – O que quer, senhor Marshall?

Depois de conhecer a mais velha das irmãs Calendar e descobrir que não eram absolutamente o que ele pensava, Jude já não estava tão certo. E não era uma sensação muito cómoda para ele.

– Bom, poderia começar por me explicar onde estão Will e Max.

– Caso os seus corpos não estejam enterrados por baixo da cozinha, não é?

– Sim – concedeu ele, sorrindo.

– Não estão.

– Então? – insistiu ele, impaciente ao ver que May não respondia.

May olhou para ele, pensativa, franzindo o sobrolho. A sua expressão era indecifrável, apesar de Jude ser um perito na interpretação de expressões.

– Will está em Londres e Max, nas Caraíbas – disse ela, por fim.

– E as suas irmãs?

– March está em Londres e January, nas Caraíbas – informou-o ela, desafiante.

– Que coincidência! – exclamou ele.

Na verdade, Jude sabia exactamente onde e com quem estavam Max e Will. Simplesmente, queria confirmar se May Calendar estaria disposta a dizer-lhe a verdade. E assim era.

– Pois, é natural que March e January queiram estar com os seus respectivos noivos – acrescentou ela, com satisfação.

Jude tinha chegado a essa conclusão depois da chamada de Max, uma semana antes. Max tinha-lhe dito que se comprometera com January Calendar e, alguns dias mais tarde, Will tinha-lhe telefonado para lhe dizer que se comprometera com March Calendar. Como é claro, a notícia de os seus dois melhores amigos se terem comprometido surpreendera-o, mas tinha-o surpreendido ainda mais o facto de se terem comprometido com duas das irmãs Calendar.

Os três tinham sido colegas de escola e tinham trabalhado juntos durante anos, apesar de terem saído com muitas mulheres, Jude sempre tinha achado que nenhum deles se apaixonaria. E menos ainda que se casariam. Mas era evidente que se enganara e Jude não era daquelas pessoas dispostas a admitir um erro.

– Acabaste de me perguntar o que quero – disse ele, levantando-se bruscamente. – Quero o mesmo que Max veio cá fazer, comprar a quinta.

– De certeza que Max lhe disse que não está à venda – respondeu ela, inclinando a cabeça.

– Sim, disse-me.

– E?

A voz de May era indubitavelmente desafiante, mas também estava cheia de rancor. E nenhum daqueles sentimentos o levaria a lado nenhum, compreendeu Jude, tentando relaxar e sorrir.

– Mas, May, sem dúvida, depois destes dias aqui sozinha, deste-te conta de que não consegues gerir a quinta sozinha, não foi?

– O que eu consigo ou não fazer não lhe diz respeito, senhor Marshall. Além disso, não recordo ter-lhe dado permissão para me chamar pelo meu primeiro nome.

Jude reprimiu-se para não responder de mau humor, maravilhando-se, ao mesmo tempo, por aquela mulher conseguir zangá-lo. Regra geral, sabia controlar os seus sentimentos e inclusive tinha descoberto que isso lhe dava uma certa vantagem sobre o seu adversário… O seu adversário? Era isso que May Calendar era para ele?

Observando-a atentamente, com aquele rosto cansado muito belo, pálido e excessivamente magro, era difícil qualificá-la assim. De facto, Jude começava a sentir-se culpado por lhe causar mais problemas do que os que já tinha. O que era estranho nele, para além de ser perigoso.

– Escuta, talvez este não seja o melhor momento para conversarmos – disse ele. – É evidente que estás muito cansada e…

– Voltar amanhã não lhe servirá de nada. Não vou mudar de ideias – garantiu May. – Dir-lhe-ei o mesmo que disse a Max e a Will: a quinta não está à venda.

Jude franziu o sobrolho, com frustração. Aquela era a mulher mais teimosa, intransigente…

– Certamente, não a venderei a alguém como você – continuou May, num tom insultante. – Não precisamos de nenhum clube de campo em Hanworth Estate, senhor Marshall. Nem precisamos do campo de golfe que pretende construir nesta quinta.

Pelo menos, já sabia, reconheceu Jude, admirado. Porque aquilo era exactamente o que pretendia fazer naquelas terras assim que fossem dele. A menos, é claro, que Max ou Will… Mas, não, Jude estava convencido de que nem Max nem Will seriam capazes de trair a sua confiança. Por muito que se tivessem comprometido com as irmãs Calendar… De facto, sabia que não o tinham feito, porque tinha rejeitado a carta de demissão de Max, que se justificava argumentando um conflito de interesses, e tinha examinado os dois projectos de Will, o primeiro incluindo a quinta Calendar e o segundo excluindo-a.

– Essa é apenas a sua opinião… menina Calendar – disse ele, colocando ênfase no nome e encolhendo os ombros.

– Se se incomodasse em perguntar, veria que é a opinião generalizada – contradisse-o ela.

Não tinha tempo para discutir, decidiu Jude, abotoando o casaco, finalmente capaz de apreciar o muro contra o qual Max e Will tinham chocado. May Calendar, no entanto, descobriria que ele era muito mais duro do que os seus colegas. E que não estava disposto a deixar-se distrair por uma mulher indefesa. Nem sequer por três.

– Falaremos disto depois, menina Calendar – respondeu Jude, alcançando a porta. – Por enquanto, já nos apresentámos.

Capítulo 2

 

A visita de Jude Marshall fora uma surpresa, pensou May, deixando-se cair na cadeira da cozinha quando ele se foi embora. Era a última pessoa que esperava ver.

Jude Marshall transformara-se num fantasma odiado para as três irmãs durante os últimos meses. Exactamente, ao receberem a primeira carta da Marshall Corporation a oferecer-lhes uma quantia exagerada pela quinta. Uma quinta que, de resto, nunca tinha estado à venda.

A carta tinha chegado da América, razão pela qual as três irmãs tinham suposto que Jude Marshall era americano. E razão pela qual, também, May não se tinha apercebido de quem ele era ao ouvir o sotaque inglês.

Sim, a visita dele era uma surpresa em mais de um sentido, disse para si. Para começar, May não esperava que ele fosse tão bonito e arrogante. Nem que soubesse preparar café. Além disso, tinha razão quanto a como era cansativo gerir a quinta sozinha. March tinha ido a Londres conhecer os pais de Will apenas há poucos dias e a sua irmã mais nova tinha-lhe telefonado das Caraíbas para lhe dizer que ela e Max tinham decidido passar mais uma semana lá. January parecia tão feliz, que May tinha preferido não lhe contar que estava sozinha. Em vez disso, tinha-lhe assegurado que estava tudo bem. Mas, durante aqueles poucos dias, May pudera vislumbrar o que seria viver sozinha na quinta quando as suas irmãs se casassem e a experiência não era absolutamente animadora.

No entanto, não era razão para se render à pressão e vender, decidiu May. E menos ainda depois de conhecer Jude Marshall e ver como era arrogante.

Naquela noite, no entanto, ao entrar finalmente em casa depois de acabar o trabalho, May já não estava tão certa disso. Não lhe restavam forças nem para preparar o jantar. Sobrara um pouco de café da manhã. Era melhor do que nada.

Não, não era melhor, disse para si, bebendo um gole e apoiando a cabeça nos braços, sobre a mesa. Estava exausta, mas recompor-se-ia em seguida, assim que tivesse descansado alguns minutos…

– Vá, May, acorda – disse uma voz amável e desconhecida. – May?

Alguém a abanou a meio de um sonho maravilhoso. Estava deitada numa praia dourada, sob um sol brilhante. As ondas de um mar tropical roçavam a areia aos seus pés. No entanto, ao acordar, a tensão dos braços e a dor de costas recordou-lhe que era só um sonho.

– May, se não acordares, terei de supor que, desta vez, sofreste um ataque de coração. E far-te-ei respiração boca a boca! – exclamou a voz, na brincadeira.

Era a voz de Jude Marshall. May reconheceu-a em seguida e levantou a cabeça, de mau humor, consciente de que o seu aspecto seria ainda pior do que de manhã. Continuava suja e com a mesma roupa. Ele sorriu e acrescentou:

– Sabia que isso te ressuscitaria!

– O que quer, senhor Marshall?

– Gostas muito de me fazer essa pergunta – respondeu ele, brincalhão. – Que modo de me tratares, depois de te ter trazido o jantar! – acrescentou, com um tom de recriminação, levantando um saco. – Comida chinesa. Ao ver como estavas esta manhã, pensei que não terias vontade de cozinhar.

May franziu o sobrolho, sonolenta, consciente da sua amabilidade, mas também perspicaz. Era lógico que tivesse chegado a essa conclusão, mas não tinha de fazer nada por ela.

– E porque se incomodou, senhor Marshall?

– Deixa de fazer perguntas e diz-me onde estão os pratos, mulher, antes que arrefeça.

– No segundo armário, à direita.