Portada

Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

© 2011 Helen Bianchin. Todos os direitos reservados.

O SABOR DA PAIXÃO, N.º 1338 - Outubro 2011

Título original: Alessandro’s Prize

Publicada originalmente Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em portugués em 2011

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® y ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

I.S.B.N.: 978-84-9000-971-0

Editor responsável: Luis Pugni

ePub: Publidisa

Se gostou deste livro, também gostará desta apaixonante história que cativa desde a primeira até à última página.

Clique aqui e descubra um novo romance.

Portada Verano de madreselva

www.harlequinportugal.com

CAPITULO 1

Alessandro de Marco estacionou o desportivo no lugar reservado aos hóspedes, junto da vila magnífica construída àbeira do lago Como.

Propriedade do falecido Giuseppe dalla Silvestri, naquele momento a vila era ocupada pela sua viúva, a elegante Sophia, cujos esforços nas galas de solidariedadea favor das crianças eram lendários.

Fora Giuseppe quem o tinha acolhido quando era umadolescente rebelde, abandonado nas ruas de Milão poruns pais ineficazes e inapropriados, e que por astúcia tinha conseguido fugir do sistema e defender-se dos outros do seu tipo.

Giuseppe tinha conquistado a confiança relutante daquele adolescente, canalizando os seus conhecimentosde electrónica de assuntos obscuros para acordos legais,certificando-se ao mesmo tempo de que completasse asua educação, para depois o contratar e refinar as suashabilidades nos negócios. Depois, quando estava pronto,apoiara-ofinanceiramente para montar a sua própria empresa de electrónica.

Um consórcio conhecido como Indústrias de Marco.Um império bem-sucedido, que permitia a Alessandroter uma vila luxuosa nas colinas que davam para o lagoComo, um apartamento em Milão, casas em várias capitais importantes do mundo, um jacto privado e umapequena frota de carros caros.

Depois, havia as mulheres bonitas e cativantes queprocuravam a sua companhia, a sua cama... em troca doestatuto social associado ao homem em que se transformara.

Nenhuma tinha sucesso em prolongar o que era umarelação temporária que durava apenas semanas ou meses, apesar dos esforços e ardis usados para chamar asua atenção.

Estaria enfastiado? Talvez. Nunca chateado, mas umpouco cansado do sexo feminino que tanto se esforçavapara lhe agradar, desempenhando um papel que imaginavam que ele procurava.

A sua juventude tinha-o endurecido, criando umacautela nascida da necessidade da fealdade de ter de sobreviver nas ruas. De lutar e ganhar a todo o custo e porqualquer meio.

Fora Giuseppe quem lhe dera, com paciência, a suaperspicácia para os negócios, enquanto Sophia lhe ensinava as artes sociais, orientando-o e repreendendo-ocom afecto sincero.

Aquelas pessoas que tinham escolhido protegê-lo tinham banido as dúvidas que pudesse ter de formar parteda alta sociedade.

«És um jovem entre homens, igual a eles em todosos aspectos relevantes», tinha-lhe indicado Giuseppe.«Nunca te esqueças de onde vens... Depois, avalia o sucesso que alcançaste graças aos teus esforços.»

Apesar de sempre o terem negado, estava em dívidacom eles. Giuseppe transformara-se no pai que jamaisconhecera. E Sophia... Bom, por ela faria tudo o que lhepedisse.

Como o jantar daquela noite com alguns convidados,para dar as boas-vindas à sua sobrinha e afilhada, LilyParisi, procedente de Sidney, na Austrália.

Uma rapariga que conhecera em adolescente, numavisita que ela fizera a Sophia e a Giuseppe na companhia dos seus pais.

Uma rapariga de expressão solene, com olhos castanhos e cabelo escuro apanhado numa trança, que era deliciosamente inconsciente da qualidade cativante do seusorriso ou do seu entusiasmo pela vida.

Tinha mudado, é claro. Vira provas fotográficas dasditas mudanças, tinha parte da sua correspondência aolongo dos anos seguintes. Soubera da morte acidentaldos seus pais, do sucesso obtido ao assumir as rédeasdo restaurante familiar dos Parisi, do seu noivado,sendo o receptor da confidência da sua angústia ao descobrir que o casamento iminente tinha sido canceladoapenas umas semanas antes da data em que deveriater-se celebrado.

Sophia, uma mulher cheia de empatia e simpatia, tinha enviado a Lily um convite para que viesse visitá-lapor tempo indefinido, oferta que Lily tinha aceitado comgratidão.

Sophia insistia em que a família tinha prioridade navida, talvez de forma mais do que compreensível quandoGiuseppe e ela não tinham podido ter filhos próprios.

Saiu do carro, fechou-o e inspirou o ar de fins de Fevereiro. Uma época do ano que oscilava de forma imprevisível entre o Inverno e a insinuação suave e elusivada Primavera.

O céu nocturno ameaçava chuva. Levantou a gola docasaco ao dirigir-se para a entrada belamente iluminada,com a sua porta de madeira esculpida.

Porta que se abriu segundos depois de ter tocado àcampainha, revelando Carlo, factótum de Sophia e cujos traços mostraram uma alegria sincera.

– Alessandro, é um prazer ver-te.

Grazie, Carlo.

Os dois homens altos rondavam os trinta e muitosanos e, até certo ponto, partilhavam uma história e umpassado em comum. O suficiente para justificar umaperto de mãos breve, mas sincero.

– E Sophia?

– Está feliz por ter aqui a sua afilhada.

Aquelas palavras transmitiam muito, já que ambospartilhavam um vínculo silencioso para proteger a únicamulher que estivera lá para eles. No seu código, ninguém podia tocar-lhe sequer num cabelo sem sofrerconsequências.

Giuseppe tinha sido um homem de negócios triunfador, cuja casa era uma testemunha discreta da sua riqueza. Um chão bonito de mármore decorava um hallamplo mobilado com aprimoramento, de cujo tectopendia um lustre, cujos prismas cintilantes proporcionavam um ambiente espectacular para a escada duplaque se curvava até ao primeiro andar.

Um lugar ao qual Alessandro tivera o privilégio dechamar «lar» durante os poucos anos de que tinha necessitado para concluir os seus estudos e, depois, durante as férias da universidade. O refúgio que, graças aGiuseppe e a Sophia, lhe brindara a oportunidade de fazer alguma coisa com a sua vida.

– Alessandro.

Virou-se ao ouvir a voz de Sophia e foi cumprimen tá-la, apoiando as mãos nos seus ombros, enquanto lhedava um beijo em ambas as faces, antes de a largar.

– Estás bem? – perguntou, com gentileza.

– É claro, caro. Ainda bem que te juntasses a nós.

– Imaginavas que não o faria? – arqueou um sobro lho, divertido. Ambos sorriram.

– Não – enlaçou o braço no dele. – Vamos ter comos convidados.

Caras familiares e selectas, seis pessoas no total, quecumprimentou enquanto Sophia o conduzia até uma rapariga esbelta e baixa, com o cabelo preto apanhadonum coque de estilo clássico, olhos castanhos profundos e uma pele dourada como o mel.

Atraente, mais do que classicamente bonita, comuma qualidade que a distinguia das restantes mulheres.Projectava uma força serena, uma autoconfiança que reconhecia e admirava.

– Lily – observou-a, pensativo, por alguns segundos,antes de lhe agarrar a mão e reparar na expressão do seurosto ao inclinar-se e dar-lhe um beijo nas faces. Também notou uma tensão momentânea antes de se recompor com celeridade.

– Alessandro – sorriu com cortesia, enquanto retirava a mão.

Apesar de ser afilhada de Sophia e da família, alguma coisa disparou no seu interior e fez com que sentisse a necessidade de descobrir a causa. Intrigava-o atentação de provar aquela boca generosa.

– Estás a apreciar a tua estadia com Sophia? – maisdo que uma pergunta educada, surpreendeu-o descobrirque estava realmente interessado na resposta.

– A minha tia é muito amável.

– É bem conhecida a generosidade de Sophia. A tuavisita proporcionar-lhe-á muita alegria.

Ela esboçou um sorriso e fascinou-o descobrir aquelacovinha numa face.

–Por favor, não te sintas obrigado a oferecer-me umaconversa cortês – comentou, com suavidade.

– É o que achas que estou a fazer? – olhou-a fixamente.

– Não é? – levantou um pouco o queixo.

– Não.

– Pergunto-me porque me é difícil acreditar em ti. Observou-a com um sobrolho arqueado.

– Por falta de confiança no teu encanto pessoal? Seria a desculpa perfeita, mas Lily, como era conhecida afectuosamente, recusava-se a permitir-lha.

Tinha chegado há três dias a Milão, cidade onde osseus falecidos pais tinham crescido, estudado e casado,antes de emigrarem para a Austrália com uma filha deseis meses para começarem uma nova vida em Sidney.

Com uma infância idílica e uma boa educação, tinhasobressaído em cada área da sua vida, até alcançar a categoria de chefe de cozinha e tornar-se sócia do restaurante dos seus pais. Mas, ao falecerem três anos antesnum acidente de trânsito, de repente, tinha ficado a cargodo restaurante e de uma herança invejável, o que conseguira enfrentar com sucesso graças à ajuda de algunsamigos incondicionais.

Um ano antes, apaixonara-se, aceitara o anel de James e começara a planear o grande dia. Só para regressar a casa duas semanas antes do casamento e surpreender James na cama com uma loira, com a qual, depoisde o pressionar um pouco, reconhecera ter uma aventura há meses.

Expulsara-o de casa e mandara-lhe a roupa e o anelatravés de um estafeta. Depois, telefonara a Sophia, airmã da sua falecida mãe, para lhe comunicar que o casamento fora cancelado. Então, tinha recebido o convitepara ir visitá-la e só tinha necessitado de algumas semanas para deixar um empregado de confiança a cargodo restaurante, arrendar a casa familiar, guardar o seucarro numa garagem e apanhar um avião para Milão, deonde fora conduzida até à bonita vila que Sophia tinhano lago Como. Um refúgio maravilhoso que ofereciatranquilidade e a atenção maravilhosa de uma tia profundamente carinhosa.

Depois de estar ali há três dias, Sophia tinha organizado um jantar para alguns amigos íntimos, alguns dosquais recordava de uma visita anterior com os seus pais.

Incluindo Alessandro de Marco.

Tinham passado anos desde a última vez que o virapessoalmente. Anos que tinham mudado ambos. Porqueela já não era uma adolescente vulnerável, deslumbradacom o jovem alto de cabelo escuro, cujos olhos quasepretos exibiam uma mistura de manifesta sensualidadee implacabilidade primária nascida de sobreviver nasruas durante grande parte da juventude.

Sob aquele manto de sofisticação havia algo inquebrável, quase primitivo, apenas perceptível a alguns.

Tinha-a fascinado, avivando a sua imaginação aofantasiar como seria se aquela boca a ensinasse a beijar.E mais ainda.

Esperava que Alessandro nunca se tivesse dado conta.

– Tens algum plano imediato?

Reconduziu com rapidez os seus pensamentos, enquanto olhava para os olhos escuros dele.

– Para além de desfrutar da hospitalidade de Sophia?

– Sim – esboçou um sorriso cheio de humor.

– Eu gostaria de arrendar um apartamento pequeno e de ficar uma temporada – respondeu, após pensar durante alguns segundos. – Até penso trabalhar num restaurante.

Observou-a, pensativo.

– Estás a falar a sério sobre isso?

– Sim – tinha trazido as suas pastas, justamente comesse pensamento na cabeça.

Alguns meses, inclusive um ano, dar-lhe-iam umanova perspectiva. Mudança. Certificara-se de que osseus bens e activos estivessem bem protegidos na Austrália. Quem sabia o que podia proporcionar a vida?Não um casamento. Tinha banido a ideia de voltar aconfiar num homem.

Alessandro assinalou o seu copo vazio.

– O que estás a beber?
Lily abanou a cabeça.

– Esperarei e beberei vinho branco ao jantar.

– Respeito pelo álcool ou desejo de manter o controlo?

Ofereceu-lhe um sorriso e viu que os olhos de Alessandro obscureciam mais.

– Ambas as coisas.

Ele questionou-se sobre o que faria falta para quebaixasse a guarda e se risse um pouco com sinceridade.E analisou porque parecia tão importante que o fizesse.

Sophia queria ajudar a sarar o coração partido deLily. Só por esse motivo, faria o que ela considerassenecessário para garantir que a estadia de Lily em Milãofosse o mais agradável possível.

O jantar consistiu em pratos impecavelmente apresentados e acompanhados de um vinho adequado. A distribuição da mesa sentou-a à frente dele, fazendo comque olhasse para ele cada vez que levantava o olhar.

Era uma distracção de que não precisava e durante oprimeiro prato pareceu-lhe que ele estava a divertir-se,como se soubesse que a sua proximidade a afectava.

O que era verdade, já que havia alguma coisa emAlessandro que tinha o efeito de apurar os seus sentidose de despertar uma percepção que não desejava.

– Na próxima semana, acompanharás Sophia.

Lily dedicou a sua atenção à mulher sentada ao ladode Alessandro.

– Obrigada – conseguiu responder, com um sorrisocortês. – Será um prazer – embora se perguntasse o queacabava de aceitar.

– A Semana da Moda – revelou Alessandro, comose conseguisse ler os pensamentos de Lily. – Sophiaconseguiu lugares excelentes.

Não lhe custou nada mostrar verdadeiro prazer, jáque adorava moda.

– Que amável!

Era um acontecimento de grande prestígio, ao qualassistiam os melhores estilistas do mundo.

– Ouvi dizer que tens o teu próprio restaurante.

Questionou-se se seria uma pergunta amável paramanter a conversa ou simples cortesia. Possivelmente,ambas as coisas.

–Era dos meus pais e passei muito tempo na cozinhaem criança, a ajudar e a aprender, e foi assim que soubedesde cedo que queria ser chefe de cozinha.

Anos maravilhosos, quando o conhecimento da comida, das ervas e das especiarias dançava na sua línguae podia recitar os ingredientes de quase todas as especialidades da casa. Adorava experimentar e ler receitastornara-se num prazer.

– Estudaste no estrangeiro?

– De início, em Paris, depois, em Roma.

Uma altura em que a vida tinha ajudado a modelar amulher em que se transformara. Uma conhecedora decomida, com a destreza de a preparar na perfeição. Eque, além disso, falava fluentemente tanto o francêscomo o italiano, já que durante os seus estudos se hospedara com famílias de ambos os países.

– No entanto, regressaste à Austrália – disse um con vidado. Lily concentrou a sua atenção no presente.

– A minha família estava lá – respondeu, com simplicidade. – Os amigos. Era onde queria estar.

E o Parisi, o restaurante italiano que os seus pais,com tanto esforço, tinham conseguido que desfrutassedo sucesso que tanto merecia.

Causava-lhe orgulho manter o padrão elevado dequalidade e o serviço excelente, ao mesmo tempo quegarantia uma atmosfera relaxada e alegre, onde os clientes habituais eram recebidos pelo seu nome e sempreque era possível lhes era oferecida a sua mesa preferida.

Tinha pensado que a sua vida já estava traçada: umnegócio brilhante numa área pela qual sentia verdadeiradevoção, um homem que pensara que a amava, um casamento para planear.

Só que James tinha mostrado ser infiel, não merecedor de confiança e absolutamente o homem que tinhaconsiderado que era.

Às vezes, ainda tremia ao pensar que estivera prestesa comprometer-se num casamento cujo único futuro teria sido um coração partido e a desgraça.

Tinha sorte por se ter livrado daquilo, mas ainda lhedoía pensar que a sua confiança tinha sido traída. Equase toda a sua raiva era dirigida contra si mesma, porter sido incapaz de reconhecer o verdadeiro James pordetrás da fachada falsa.

– E, agora, estás aqui – concluiu uma voz feminina.

– Sophia adorará que te juntes a ela nos seus passeiosde compras e garanto-te que apreciarás Milão.

– Estou impaciente por começar a apreciá-la – ofereceu um sorriso a todos os convidados que tinha emfrente e sentiu um leve sobressalto ao ver o olhar firmede Alessandro.

Ser tão consciente dele era perturbador, já que faziacom que se sentisse desconfortável, quase vulnerável,por isso, obrigou-se a afastá-lo da sua mente enquantoconversava com as outras pessoas.

Depois de James, desejava paz na sua vida e um homem do calibre de Alessandro de Marco era a antíteseda calma.

Mas o mais provável era que qualquer convite quefizesse a Sophia a incluísse a ela, o que pôde confirmarno fim da noite.

Alessandro foi o último convidado a partir.

Grazie, Sophia – murmurou, enquanto se inclinavae lhe beijava com ligeireza as faces, antes de se virar ededicar a Lily um cumprimento semelhante.

Salvo que, num afã de procurar mais formalidade, elase mexeu e, para seu embaraço, os lábios tocaram-se...fugazmente, mas o suficiente para lhe acelerar o coração.

Pior ainda, sentiu vontade de não se afastar, de sentirmais...

Deu um passo atrás, calculou mal o ângulo dos saltos enormes que usava e agarrou-se ao braço dele numatentativa de manter o equilíbrio.

– Desculpa – questionou-se se dissera aquelas palavras em voz alta e esperou que não.

– Querida – disse Sophia, com preocupação na voz.

– Estás bem?

– Estou bem – mentiu.
Não queria as sensações que palpitavam no seu in
terior, nem reagir emocionalmente a nenhum homem. E menos ainda a Alessandro de Marco. Nem sequer gostava dele. «Enganas-te», disse-lhe uma voz interior, com tom divertido. «Tens medo de como consegue fazer-te sen tir.» Só uma tola seguiria aquele caminho. «Não vai acontecer!», garantiu a si mesma.