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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Lindsay Armstrong

© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Órfãos de amor, n.º 829 - Outubro 2015

Título original: The Australian’s Convenient Bride

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2005

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7527-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Steve Kinane saiu da auto-estrada, praguejou entredentes e parou, na berma poeirenta daquela estrada deserta, ao lado da rapariga que pedia boleia. Na Austrália, era uma obrigação ajudar uma pessoa em apuros. Contudo, aquele tinha sido um dia muito longo, por isso, tinha a sensação de que aquilo o obrigaria a desviar-se do seu caminho. Então, apercebeu-se de que ela trazia um guarda-costas: um cão cinzento, com manchas pretas no lombo, que a seguia de perto. Era um cão de tamanho médio, mas estava bem tratado e era de uma raça conhecida pela sua lealdade, portanto não era propriamente uma rapariga em apuros. Steve abriu a porta e o cão ladrou, todavia, bastou uma ordem da sua dona para que se sentasse obedientemente.

– Olá! Para onde vais? – perguntou ele, saindo do carro e aproximando-se.

Era uma rapariga elegante, jovem e loira. Devia ter pouco mais de vinte anos. Tinha o cabelo comprido, encaracolado e preso sob um chapéu azul. Tinha os olhos cinzentos, muito abertos, e a sua figura, com calças de ganga justas e uma t-shirt, era feminina e esbelta.

– Boa tarde – cumprimentou ela. – Obrigada por teres parado. Vou para o rancho Mount Helena. Creio que fica a uns quinze quilómetros daqui.

– Estão à tua espera? – inquiriu ele, franzindo o sobrolho.

– Conheces o rancho Mount Helena? – perguntou ela, educadamente, observando as suas calças de ganga, as botas e as mãos sujas.

– Sim… trabalho lá – respondeu Steve. Em parte, estava a mentir.

Então, perguntou-se por que não lhe dizia a verdade. Era evidente que se deixara levar pelo instinto. Ela, no entanto, pareceu ficar mais descontraída.

– A sério? Então, agradecer-te-ia que me levasses até lá. Não me parece esta estrada seja muito movimentada – comentou ela, olhando à sua volta. – A propósito, o meu nome é Charlotte Winslow – acrescentou, estendendo-lhe a mão.

Steve apertou-a. A sua pele era morena e sedosa. O cão ladrou, como bom guardião.

– Chega, Rich – murmurou ela, retirando a mão.

– Desculpa, mas o teu nome não me diz nada – comentou ele.

– Trata-me por Chattie. Toda a gente me trata assim. Bom, talvez não tenham tido tempo de te avisar que eu chegaria.

– Sim, talvez – assentiu ele, olhando-a de cima a baixo.

Chattie respirou fundo, enquanto suportava aquele olhar escrutinador que a despia.

– Por acaso, vens à procura de Mark Kinane?

– Por que perguntas? – questionou-o ela. Chattie hesitou, durante algum tempo, todavia, por fim, decidiu que o melhor seria admitir a verdade. Independentemente do que ele pensasse. Portanto, acrescentou: – Sim.

– Porquê?

– Bom, eu e ele… Mark falou-me do rancho e convidou-me, portanto, aqui estou.

– E como chegaste até aqui? – perguntou Steve Kinane, incrédulo.

– Um amigo trouxe-me de Brisbane. Ter-me-ia levado ao rancho, todavia não tem um todo-o-terreno, por isso, não quis arriscar a partir a suspensão andando por esta estrada.

– O que terias feito, se não tivesse passado ninguém por aqui?

Ela encolheu os ombros e respondeu:

– Teria esperado um bocado e, depois, teria voltado para a auto-estrada. Não devia ser muito difícil encontrar alguém que me levasse à povoação mais próxima. Amanhã, logo se veria…

– Muito bem! O cão e a bagagem no banco de trás – acedeu ele, agarrando na mala de viagem.

 

 

Cinco minutos mais tarde, já iam a caminho do rancho. O cão ia no banco de trás, em guarda, a respirar quase por cima da nuca de Steve. Chattie ficou impressionada, ao ver como ele conduzia o veículo por aquela estrada cheia de buracos. O empregado de Mount Helena, com braços fortes, era viril e atraente. Até corou, recordando-se da forma como ele olhara para ela. Só podia estar louca para pensar naquelas coisas, pensou, olhando para a paisagem rochosa e arborizada.

– Há quanto tempo conheces Mark, Chattie Winslow?

– Há alguns meses.

Ele olhou para ela de soslaio. Ela tirara o chapéu, por isso, agora, podia ver com mais facilidade o seu perfil bonito. O nariz era pequeno e recto, os lábios, muito bem perfilados, o queixo, delicadamente esculpido e o pescoço, longo e perfeito. Até as suas orelhas, que seguravam umas madeixas de cabelo loiro, eram bonitas. De repente, Steve percebeu que nunca reparara nas orelhas de uma mulher. Sim, o melhor era Mark tratar dela. Mark sabia lidar com as mulheres, ainda que tivesse a sensação de que aquela era diferente das outras.

– Como conheceste Mark?

– Numa festa – respondeu Chattie sem mentir, porém, tinha consciência de que a sua forma de falar podia induzi-lo em erro.

Explicar as coisas assim, de uma forma tão simplista, podia levá-lo a concluir que era a namorada de Mark e isso só serviria para complicar a situação. Por isso acrescentou:

– Por que tenho a sensação de que estás a submeter-me a um interrogatório?

Ele sorriu, com uma expressão encantadora, e respondeu:

– É só curiosidade. Por estas paragens só há vacas. Às vezes, tanta vaca e tanto isolamento põem-nos doidos.

– Sim, eu compreendo – declarou Chattie, rindo-se. – Penso que se passa o mesmo com Mark.

As gargalhadas dela eram musicais. Então, Chattie calou-se e mordeu o lábio, pensativa. Enquanto não encontrasse Mark Kinane, não queria falar sobre ele com ninguém, sobretudo com um empregado do rancho. Por que, no entanto, não parava de o fazer?

– Sabes? Sou professora.

O veículo desviou-se bruscamente, ao passar por cima de um buraco, todavia, Steve conseguiu controlá-lo.

– Por que ficaste tão surpreendido? – perguntou ela.

– Não pareces uma professora – explicou ele, olhando para ela de soslaio.

Nesse momento, no entanto, os seus olhares encontraram-se. Então, mantiveram-se assim durante algum tempo.

– Obrigada, mas creio que tens uma ideia um pouco antiquada sobre as professoras.

– Talvez – assentiu ele, encolhendo os ombros. – O que ensinas?

– A cozinhar, a costurar… adoro.

Steve Kinane reflectiu. Cada vez sentia mais curiosidade. Mark nunca gostara muito de mulheres caseiras. Ou, pelo menos, até àquele momento. A sua vida amorosa estava repleta de modelos e futuras estrelas de cinema, mulheres belas e vaporosas com poucos talentos práticos. Aquela rapariga, pelo contrário, ainda que também fosse muito bonita, ensinava coisas úteis e parecia, a julgar pelo bom comportamento do cão, uma pessoa prática e com os pés bem assentes na terra.

– Tens alguma coisa contra? – perguntou Chattie, ao ver que ele se mantinha em silêncio.

– Absolutamente nada – negou Steve.

– Também pinto e toco piano – acrescentou ela, muito séria.

Steve teve a impressão de que estava a gozar com ele, por isso, questionou-a:

– O que sabes sobre Mount Helena?

– Bom… pouca coisa.

– Mas Mark contou-te alguma coisa, não contou?

Ele estava com um ar sério e olhava para ela com desconfiança. Talvez fosse um empregado de Mount Helena, contudo, também era um homem capaz de fazer um excelente interrogatório. Além de também ser perfeitamente capaz de parar o veículo ali e deixá-la sozinha naquela estrada.

– Tenho a impressão de que Mark ainda não sabe se quer ou não ser um rancheiro, porém, disse-me que o rancho era impressionante. Eu nunca vi nenhum tão grande.

– Continua – ordenou ele.

– O que é que queres saber mais? Tem um irmão mais velho, que gere o rancho e que anda por lá a dar ordens a toda a gente. Um ditador, digamos assim. Mas penso que isso já deves saber.

O cão ladrou. Steve Kinane pareceu ficar zangado, porém, pelo menos, deixou de olhar para ela com desconfiança.

– Não achas mal chegares ao rancho com um cão?

– Treinei Rich para dormir fora de casa, se for preciso. Além disso, não é perigoso. Na verdade, é um cão muito afável com as pessoas.

– Sim, desde que não levantemos a voz ou uma mão.

Os olhares de ambos encontraram-se.

– Encontrei-o abandonado numa lixeira. Não sei como sobreviveu – explicou Chattie com frieza. – Tive que subir por um contentor e andar pelo meio do lixo para o tirar de lá. A partir daí, tornámo-nos inseparáveis.

– Um servo agradecido e dedicado – acrescentou Steve. – Não te zangues, eu teria feito o mesmo.

Steve virou o volante e atravessou uma série de cercas, passando por cima de uma série de grades metálicas instaladas no chão, sobre as quais os animais não conseguiam andar. Sobre os portões, havia letreiros que anunciavam que se tratava do rancho Mount Helena. A partir dali, a estrada melhorava consideravelmente.

– Estamos a chegar, não estamos?

– Sim, falta, mais ou menos, um quilómetro e meio.

O resto do percurso foi feito em silêncio, até que finalmente Steve parou junto ao muro que circundava um jardim. Chattie observou a casa caiada, com o telhado vermelho. Estava rodeada por relva e arbustos, isolada do resto do rancho por aquele muro perfeitamente construído. Estava tudo muito bem tratado e via-se que a casa era antiga. Ao fundo, havia uma série de depósitos de água, disfarçados por buganvílias, e, a partir dali, o terreno subia e descia, formando pequenas colinas cobertas de relva.

«As cores são maravilhosas», pensou Chattie, observando a terra vermelha, o céu, a relva e a casa, e suspirando. Steve Kinane observou-a, inquiridor. Ela sorriu, corada.

– Está tudo muito bem tratado.

– Esperavas outra coisa? – perguntou ele.

– Não sei, na verdade. Mark… Bom, os homens não são muito bons a fazer descrições, não concordas?

Steve não respondeu. Encolheu os ombros, abriu a porta e disse:

– O… o mordomo deve andar por aqui… Sim, está ali. Vou falar com ele.

Chattie pestanejou, confusa. O mordomo era um homem forte, com uns quarenta anos, calvo e com um rabicho. Steve e ele falaram, porém, Chattie não ouviu nada. Fizeram ambos gestos de incredulidade. O mordomo abanou a cabeça, como se estivesse desorientado. Aproximaram-se dela e, então, Chattie apercebeu-se de que ele nem sequer lhe dissera o seu nome.

– Chattie, este é Slim. Ele trata da casa e olhará por ti até… isto tudo se resolver.

– Olá, Slim! Está tudo bem? – cumprimentou-o Chattie, estendendo-lhe a mão.

O cão ladrou.

– Bem, e tu? – respondeu Slim. – Quero dizer, bem-vinda a Mount Helena, menina.

– Obrigada. Mark está por aí?

– Neste momento, não – indicou Slim.

– Oh!

– Mas nós podemos cuidar de si – ofereceu-se Slim. – Irei buscar a sua bagagem. O cão está treinado?

Chattie explicou-lhe que estava muito bem treinado e Slim indicou-lhe que a casa estava rodeada de cães, todavia, não via nenhum problema no facto de Rich poder ir para dentro de casa. Chattie olhou para Steve, que a ignorou, e, minutos depois, estava a subir para o quarto de hóspedes. Slim levou-lhe um chá ao quarto e explicou-lhe que o jantar era servido às sete. Além disso, aconselhou-a a descansar e a arrumar a bagagem noutra altura.

Chattie não voltou a ver o homem que a levara até lá, por isso, nem sequer pôde agradecer-lhe nem saber o seu nome. Quando perguntou a Slim quando poderia ver Mark, o mordomo simplesmente encolheu os ombros.

Sozinha, Chattie sentou-se na cama. Rich sentou-se aos seus pés e apoiou a cabeça nos seus joelhos.

– Por que tenho esta sensação tão estranha? – perguntou Chattie em voz alta, acariciando o animal. – E não me digas, depois de chegar até aqui, que a perseguição foi inútil e que Mark não está cá.

Chattie olhou à sua volta. Ainda que antiquado, o quarto era grande e confortável. Tinha uma casa de banho própria e um terraço. Na verdade, tudo no quarto era grandioso: a cama, o armário de mogno, com um espelho na porta central, a cómoda, as cortinas com flores e a colcha vermelha de seda. A casa de banho fora modernizada recentemente e, no terraço, havia móveis de jardim muito bonitos.

Chattie serviu uma chávena de chá e começou a bebê-lo calmamente, enquanto pensava na confusão em que se metera. Era evidente que pensavam que era a namorada de Mark. A forma como chegara até ali tinha contornos trágicos, porém, na verdade, a tragédia afectava a sua irmã Bridget.

Chattie suspirou. Quando ficaram órfãs, passaram a fazer parte das responsabilidades de uma tia, que as considerava um peso. Então, Bridget começara a envolver-se em confusões. Mesmo com dezanove anos e prestes a ser uma modelo, a sua irmã continuava a ser uma pessoa encantadora, porém, vulnerável. Será que o seu destino era continuar assim para o resto da sua vida? Será que seria para sempre afectuosa, generosa, insensata, despistada e, às vezes, surpreendentemente tola, enquanto não tivesse alguém que a orientasse? E estaria ela destinada a ser responsável pela sua irmã para toda a vida? A sentir-se como se fosse uma velha de cem anos, apesar de só ter vinte e um anos?

Chattie voltou a suspirar e pousou a chávena em cima da bandeja. Quando conheceram Mark numa festa, Chattie compreendera que a sua irmã ficara fascinada por ele. Então, tentara, de todas as formas, fazê-la assentar os pés na terra e continuara a fazer o mesmo, depois de terem acabado com a relação deles. Nessa altura, Chattie tivera de apanhar os pedaços do coração de Bridget. Só se descontrolara uma vez: quando Bridget lhe mostrou o resultado do teste de gravidez e lhe garantiu que o bebé era de Mark e que nunca voltaria a amar nenhum outro homem.

– Ele sabe? – perguntara Chattie, aos berros. – Como é que isso aconteceu?

Mark não sabia de nada, claro. Naquela altura, nem sequer Bridget sabia. E à pergunta «como acontecera», a sua irmã respondera-lhe ao seu estilo: misturando datas, esquecendo-se de tomar a pílula um dia… Talvez ambos se tivessem deixado levar pela paixão, uma ou outra vez, perdendo a cabeça. Pela primeira vez, Chattie zangara-se a sério com a sua irmã e obrigara-a a contar-lhe tudo.

Mark Kinane, que tinha vinte e um anos, tal como ela, era um jovem sem um rumo definido na vida. Quisera casar-se uma vez, porém, terminara com a relação e acabara por não saber o que fazer com a sua vida. O seu irmão mais velho, sempre disposto a recriminá-lo, ordenara-lhe que voltasse para casa, para o enorme rancho.

Bridget garantiu-lhe que o irmão mais velho de Mark, o ditador, era o responsável por todas as desgraças de Mark: a sua insegurança, as suas dificuldades… Segundo ela, o filho mais velho sempre fora o preferido do pai. Obrigava Mark a ser uma coisa que não queria e destruía, constantemente, a sua confiança em si próprio. Todavia, com Bridget ao seu lado e com as responsabilidades que ter uma família implicava, tudo mudaria.

No entanto, Chattie não estava tão certa disso. Mark era um sedutor, era verdade. Irresistível, tinha de admitir, todavia, também era imaturo. Como reagiria à notícia? Uma coisa era certa: Mark tinha direito, ou melhor, o bebé tinha direito a exigir-lhe responsabilidades.

Assim que Bridget lhe disse que queria ser ela própria a dar a notícia a Mark, Chattie resolvera fazer as coisas à sua maneira. Bridget era demasiado frágil, por isso, não podia permitir que o perseguisse por todo o país. Ela procurá-lo-ia. A gratidão de Bridget fora comovedora, todavia, Chattie tomara as suas precauções. Ligara para o rancho, porém, ele não estava. Além disso, pedira a uma amiga que passasse uns dias com Bridget, enquanto ela estava fora.

– Bom, Mark não andará longe – comentou Chattie, em voz baixa, sem deixar de acariciar Rich.

O cão abriu um olho.

– Não sei o que fazer. Acham que sou a namorada dele – acrescentou Chattie, a sorrir.

O cão lambeu uma orelha.

– Sim, eu sei, é o velho problema de sempre. Bom, logo se vê. A julgar pelo homem que nos deu boleia, aqui ninguém fala mais do que o necessário.

Chattie começou, então, a pensar nele. Era imaginação sua ou havia qualquer coisa nele que…? Era incapaz de o definir com palavras, todavia, parecia mais do que um simples e bronzeado empregado de um rancho, ainda que o seu aspecto combinasse com o remoto oeste de Queensland. Chattie rememorou na sua mente a imagem dele, para tentar compreender mais qualquer coisa, no entanto, não conseguiu chegar a nenhuma conclusão. Por muito sujo e empoeirado que estivesse, era muito atraente com aquele cabelo preto e forte, com aqueles olhos escuros e com aquele corpo musculado.

Era difícil afastá-lo dos seus pensamentos. Na verdade, era difícil pensar nele sem imaginar as suas mãos, a sua estatura, a sua força, bem como o facto de a ter despido com o olhar. Isso incomodara-a, todavia, não a deixara fria…

Era melhor esquecê-lo, disse para si, bocejando. Aquele fora um dia difícil. Não pretendia seguir o conselho de Slim e arrumar a bagagem noutra altura, no entanto, durante alguns segundos, a vontade de se deitar e fechar os olhos tornou-se muito forte.

Duas horas mais tarde, Chattie acordou, no meio da escuridão. Durante algum tempo, sentiu-se desorientada, mas, depressa, se recordou de tudo. Esticou a mão para a mesa-de-cabeceira e acendeu a luz. Eram seis e meia da tarde. Aguçou o ouvido, porém, não ouviu nada.

– Bom, rapaz, já chega de dormir – declarou, levantando-se.

Rich espreguiçou-se e, juntos, foram até ao jardim para esticarem as pernas.

– Não é um grande exercício, mas é o que se arranja – murmurou Chattie, voltando para o quarto para tomar um duche.

Acabara de se vestir, quando alguém bateu à porta. Era Slim.

– O jantar está pronto, menina. O senhor Kinane quer que vá ter com ele para beberem um aperitivo.

– Quem, Mark?

Slim negou com a cabeça e acrescentou:

– A propósito, fiz comida para o cão. Será que vem comigo?

Chattie agradeceu-lhe. Estava prestes a dar-lhe a trela do cão, quando se lembrou de perguntar:

– Quantos senhores Kinane há nesta casa? Que eu saiba, o pai de Mark morreu e ele só tem um irmão.

– Sim, o que está à sua espera – indicou Slim. – Vou mostrar-lhe onde é.

– Obrigada – agradeceu Chattie, engolindo em seco.

 

 

Steve Kinane tinha um copo de uísque escocês nos lábios, quando ouviu Slim anunciar:

– É aqui, menina.

Steve virou-se e viu dois olhos cinzentos, atónitos.

Charlotte Winslow mudara-se para o jantar. Ele também, todavia, só vestira umas calças de ganga limpas e uma camisa. Chattie, pelo contrário, estava fantástica. Trazia o cabelo solto, que lhe chegava aos ombros. À luz do candeeiro, o seu loiro era quase platina. Estava vestida com simplicidade, mas com elegância: umas calças e uma blusa de seda, de cor de caramelo, ambas muito justas. Aquela mulher ficaria bonita de qualquer maneira, mesmo boquiaberta como estava.

– Entra, Chattie. O que queres beber?

Ela fechou a boca e perguntou:

– És quem eu penso que és?

– Sou Steve Kinane, o irmão mais velho de Mark… O ditador.