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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Barbara Hannay

© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Passado e presente, n.º 1500 - Dezembro 2015

Título original: Claiming the Cattleman’s Heart

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7482-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Daniel Renton lançou-se à água fresca e transparente do rio Star. O seu corpo nu afundou-se no silêncio verde, até tocar no fundo. Depois, com a ajuda de um pé, impulsionou-se novamente para cima e viu, acima da sua cabeça, o céu sem nuvens e as folhas verdejantes das árvores.

Veio à superfície e nadou para a outra margem, desfrutando do contacto da água fria nas costas, entre as coxas e os dedos, lavando-o. Purificando-o.

Purificando.

Se isso fosse possível…

Daniel nadou poderosamente, quase de uma forma grosseira, como fazia todos os dias desde que voltara para Ironbark, o seu rancho ganadeiro, em Queensland. No entanto, pedia sempre mais ao rio do que ele lhe podia oferecer.

Sim, a água libertava-o do suor e do pó acumulado durante uma manhã de trabalho em que reparara as cercas, porém, não conseguia libertá-lo da sujidade que havia no seu íntimo.

Na verdade, duvidava que alguma coisa pudesse libertá-lo disso.

Saíra da prisão, contudo, a imundície emocional daqueles vergonhosos meses em cativeiro colava-se a ele com uma tenacidade que nenhum banho de rio conseguiria apagar.

Colocando-se de costas, começou a flutuar, tentando varrer todos os pensamentos da sua mente. A corrente do rio era lenta e as águas mal se agitavam… Sempre gostara da tranquilidade daquele lugar.

Ao meio-dia, as aves não cantavam e as copas das árvores quase não se mexiam. O rio era tranquilo e silencioso como uma igreja e Daniel tentou relaxar, esquecer a dor e a raiva que sentia. Se a escuridão que havia na sua alma pudesse dissipar-se, flutuar…

– Olá! Desculpa…!

Aquele grito no meio do silêncio assustou-o. Daniel virou a cabeça e viu alguém no meio dos arbustos, a abanar os braços loucamente para chamar a sua atenção.

– Desculpa incomodar – era uma rapariga, que usava um chapéu de palha.

Daniel fez uma careta. Quem poderia ser? Quase ninguém sabia que voltara.

A rapariga estava na margem do rio, inclinada para a frente. Para além do chapéu, usava uma t-shirt branca, sem mangas, que deixava o umbigo à mostra, calções e sandálias. Ao ombro, trazia uma mala de ráfia.

Provavelmente, tratava-se de uma turista.

Não gostara que o tivesse incomodado, no entanto, seria mais fácil discutir com ela do que com um vizinho. Alguém da vila devia estar especialmente curioso e Daniel não estava preparado para enfrentar perguntas.

– O que está a fazer na minha propriedade? – perguntou, esquecendo as boas maneiras.

– Bom… O meu carro avariou…

«Incrível», pensou ele, soltando um suspiro.

Há um milhão de anos, uma rapariga com problemas, a precisar de um mecânico, teria sido uma diversão. Contudo, os dias em que tentava impressionar raparigas já tinham acabado. Naquele momento, só queria, ou melhor, precisava de estar sozinho.

Um ano e meio na prisão tinha esse efeito num homem. E também lhe tirara a vontade de fazer favores. De facto, quase lhe levara o desejo de se levantar da cama todas as manhãs.

– Lamento muito, mas… Podes ajudar-me?

Estava tão inclinada para a frente, que parecia estar prestes a atirar-se à água.

– Espera um momento! – gritou ele.

Aquilo era um rancho ganadeiro e não uma oficina de mecânica. Contudo, aproximou-se da margem e, quando estava prestes a chegar, parou de nadar, ficando com água pela cintura.

Não conseguia ver o rosto dela, no entanto, conseguiu ver que tinha cabelo loiro e que, para além de usar calções, tinha o aspeto de uma professora.

No entanto… Estava a observá-lo com visível interesse. De tal forma, que ficou com a boca aberta, enquanto avaliava o seu peito nu.

– Qual é o problema?

Ela engoliu em seco.

– Pois… Receio que… Acho que fiquei sem gasolina. Devia ter tido mais cuidado mas, agora, não sei o que fazer. Telefonei para a única pessoa que conheço por aqui, mas não está ninguém em casa… E era suposto estarem à minha espera. Depois, vi a cerca do teu rancho, uma camioneta…

– Tudo bem. Já percebi. Precisas de gasolina.

– Sim – sorriu, como se ele se tivesse oferecido para a levar para Sidney num jato. – Se pudesses emprestar-me um pouco de gasolina, seria ótimo. Serias muito amável.

Amável? Daniel esteve prestes a soltar uma gargalhada. Há muito tempo que ninguém dizia que Daniel Renton era «amável», especialmente, uma jovem. E passara ainda mais tempo desde a última vez que uma mulher olhara para ele com um interesse tão óbvio.

– Se não te virares, não posso sair da água – referiu, irónico.

– Virar-me? Ah, claro… Estás nu. Desculpa – murmurou. No entanto, não parecia estar particularmente preocupada e demorou algum tempo a fazê-lo. – Já podes sair – disse, um pouco depois, segurando a aba do chapéu com as duas mãos. – Prometo que não olho, até me dizeres que posso.

Surpreendido por ela não ter desatado a correr, Daniel saiu da água e vestiu as calças de ganga a toda a velocidade.

– Já está.

Ela virou-se, sorriu e observou-o, enquanto ele abanava a cabeça para tirar a água do cabelo.

– Desculpa por te ter incomodado.

Daniel encolheu os ombros.

– Estava a relaxar um pouco, mas a verdade é que não tenho muito tempo.

Depois, tirou um relógio do bolso da camisa azul que deixara no chão e viu as horas, antes de a vestir. Era uma da tarde e o estômago começava a protestar.

– Onde está o teu carro?

– Na estrada.

– No meio da estrada?

– Olha, não sou assim tão tola. Consegui empurrá-lo para a berma. Está debaixo de uma árvore, a uns quinhentos metros da cerca que rodeia a tua casa.

– Que tipo de carro?

– Um Toyota Corolla.

– Precisas de gasolina sem chumbo.

– Pois… Sim. Já tinha dito isso. Há algum problema?

– Apenas um. Não tenho gasolina sem chumbo!

– Ah! – e mordeu o lábio inferior.

– Portanto, terei de te levar a Gidgee Springs.

Sabia que o devia ter dito com mais amabilidade, contudo, ter de ir à vila significava ter de suportar o olhar dos vizinhos.

– Não quero que te incomodes por minha causa. Se tiveres uma lista telefónica, posso ligar para uma bomba de gasolina… Tenho a certeza de que podem enviar-me uma lata de gasolina.

– Num domingo? Só podes estar a brincar – Daniel suspirou. – Eu levo-te, mas tens de esperar um pouco. Primeiro, tenho de comer alguma coisa.

– Sim, claro. Quando quiseres.

Daniel dirigiu-se para a camioneta, apertando os botões da camisa. A rapariga seguiu-o, afastando os ramos dos arbustos.

– Bom, o meu nome é Lily Halliday.

– Daniel – murmurou, olhando para ela por cima do ombro.

– Daniel Renton?

– Sim – e parou, surpreendido. – Como sabes o meu nome?

– Vi-o na caixa do correio, na estrada. D. Renton, Rancho Ironbark.

Claro.

Daniel continuou a andar. Saíra da prisão, contudo, estava constantemente alerta. Sempre à defesa. Já não se lembrava de como era estar relaxado e poder confiar nos outros. Coisas banais, como o facto de alguém ficar a saber o seu nome, porque estava escrito na caixa do correio, à entrada do rancho, ou um estranho a sorrir, deixavam-no nervoso e interrogava-se se algum dia conseguiria voltar a comportar-se como o homem que fora.

Chegaram à camioneta, estacionada à sombra de uma árvore. Mas, quando ia abrir a porta, a jovem adiantou-se.

– Não é preciso – disse Lily Halliday, entrando rapidamente.

Quando se sentou ao volante, a rapariga tirou o chapéu.

Tinha cabelo comprido, sedoso, cor de mel. Um cabelo que caía pelos ombros. Contudo, não pôde desfrutar dessa visão durante muito tempo, porque ela tirou um elástico da mala e fez um rabo de cavalo… Deixando a descoberto o pescoço elegante.

Daniel observava-a, perturbado.

Lily apercebeu-se de que estava a olhar para ela e os seus olhos encontraram-se. Ambos sustiveram a respiração.

Algo aconteceu.

Algo nos olhos azuis de Lily Halliday tocou o coração de Daniel, que sentiu uma emoção estranha… Como se fosse uma ligação. Foi algo completamente inesperado.

Lily engoliu em seco.

Oh, não.

Oh, não… Aquela reação era completamente absurda. Já tinha ficado como uma parva, na margem do rio, a olhar para ele de boca aberta enquanto saía da água. Uma reação daquelas, numa rapariga que crescera numa comunidade hippie, onde todos tomavam banho nus…

Por outro lado, como poderia não se sentir impressionada?

Aqueles ombros largos, a barriga lisa, as ancas estreitas… O David de Miguel Ângelo parecia um pirralho ao lado dele.

E, naquele momento, fechada com ele na camioneta, a meros centímetros do seu rosto… Daqueles olhos azuis, das sobrancelhas escuras, da barba incipiente… Estava sem fôlego.

Nunca conhecera um homem tão atraente, tão cativante, tão…

Masculino.

Daniel Renton exsudava masculinidade. E tinha um ar ligeiramente perigoso. Era tão tenso, tão reservado. Quase perspicaz. Lily sentiu que um calafrio lhe percorria as costas. Por que razão olhava para ela daquela forma… Como se fosse uma ameaça, como se ele escondesse alguma coisa?

Cometera uma loucura ao entrar na camioneta daquele desconhecido? Estava desesperada por encontrar gasolina mas… Talvez tivesse sido um erro. Talvez devesse sair daquela camioneta e procurar ajuda noutro lugar.

Ou estaria a exagerar? O facto de Daniel ser tão reservado era uma característica normal, num homem que vivia num rancho, afastado da civilização.

Lily abraçou-se, tapando o umbigo nu. Contudo, não era para o umbigo que Daniel estava a olhar. Estava a olhar para o seu rosto… Embora não entendesse porquê. Tinha um rosto extremamente normal, redondo, com sardas, e olhos num azul bastante vulgar. Há poucos segundos, olhara para o seu cabelo como se nunca tivesse visto uma cabeleira longa. Mas, era um exagero… Ou não?

Daniel levantou a mão e Lily assustou-se. Por um segundo, pensou que lhe ia tocar no cabelo e sentiu medo. Contudo, quase imediatamente, sentiu outra emoção que a surpreendeu… Um arrepio de excitação.

Como reagiria, se aquele homem lhe tocasse?

Felizmente, ele pareceu recuperar o bom senso naquele momento e pôs a mão no volante.

Lily respirou fundo e viu que Daniel engolia em seco, incomodado. Parecia descontente, tal como ela. Nada daquilo teria acontecido, se tivesse parado na última bomba de gasolina pela qual passara, há duas horas. No entanto, naquele momento, estava a cantar Hit the Road Jack a plenos pulmões, sem se lembrar de que não ia encontrar outra bomba de gasolina antes de chegar a Gidgee Springs.

Lily fez uma careta, ao pensar na mãe. No brilho de dor nos olhos de Fern, quando se despedira dela naquela manhã. Faria tudo o que pudesse para que a mãe pudesse voltar a andar. E era essa a razão pela qual estava a fazer aquela viagem. O seu plano era encontrar-se com Audrey Halliday, a viúva do pai, a mulher com quem Marcus Halliday se casara depois de abandonar Fern, e pedir-lhe o dinheiro de que precisava para a operação da mãe. Uma operação que iria evitar que acabasse numa cadeira de rodas.

Contudo, agora, a sua missão estava em perigo. A não ser que aquele homem estranho e taciturno quisesse ajudá-la.

Enquanto estava perdida nos seus pensamentos, Daniel arrancou com a carrinha e percorreu o caminho a tal velocidade que Lily, que não tivera tempo de apertar o cinto de segurança, lhe bateu no ombro. Quando tentou agarrar-se a alguma coisa, a única coisa que encontrou foi a coxa dele.

Sob o tecido, ainda molhado, conseguira sentir uns músculos de ferro.

– Desculpa – disse, envergonhada.

Ele murmurou algo incompreensível, mas Lily não respondeu. O coração batia a toda a velocidade e, com mais dignidade do que seria necessário, voltou para o seu lugar e apertou o cinto.

O caminho estava coberto de pedras, que roçavam na parte de baixo da carrinha.

– O terreno está um pouco descuidado, não está?

– Nem sempre foi assim. Mas… Estive fora – respondeu ele.

– Em viagem?

Daniel encolheu os ombros.

– Estava… A trabalhar noutro sítio.

– Eu também. Estive a trabalhar no Sri Lanka e foi uma experiência incrível. Passei um ano a trabalhar como voluntária, numa vila costeira.

Olhou para ele, expetante, à espera que lhe perguntasse o que fizera no Sri Lanka. Porém, ele continuava a olhar em frente.

– Quando voltei, já não estava habituada à minha antiga vida, em Sidney. Ir a festas com os meus amigos já não me agradava, portanto, voltei para Sugar Bay, com a minha mãe.

– Sugar Bay? É onde há uma comunidade hippie, não é verdade?

– Sim – confirmou.

No entanto, Daniel não parecia muito interessado, portanto, decidiu não lhe contar o que descobrira quando voltara para a Austrália. Que a mãe estava doente, que mal conseguia andar e que precisava urgentemente de se submeter a uma operação.

Fern não quisera contar-lhe a verdade por carta, para que não voltasse do Sri Lanka assim que soubesse. Pobrezinha.