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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Sandra Myles. Todos os direitos reservados.

A ESPOSA DESAFIANTE DO XEQUE, N.º 1173 - Novembro 2012

Título original: The Sheikh’s Wayward Wife

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2009

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência. ™ ®, Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-1341-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

Ele estava no terraço do Grand Ballroom a observar a praia deserta e o mar. No céu, uma lua crescente contrastava na escuridão. O ruído da música e das conversas atravessava a porta entreaberta. Mas ele estava sozinho e zangado.

A noite era agradável, a vista era maravilhosa, mas Khalil tinha ido a Al Ankhara por motivos de negócios e não à procura de prazer. Até ao momento, os negócios não tinham tido lugar.

Ele conhecia o ambiente. O palácio mourisco. A areia branca. A imensidão do mar. Nascera ali, não só em Al Ankhara, como também no próprio palácio. A lenda dizia que aquela nação era tão antiga como o mar, tão eterna como o deserto. E o que no seu dia fora um país de guerreiros lutava para encontrar um lugar num mundo novo e diferente.

Khalil fazia parte de ambos os mundos. O seu coração pertenceria sempre àquele lugar, um sítio duro e maravilhoso ao mesmo tempo, mas a sua vida decorria em Nova Iorque, a cidade onde vivera durante a última década.

Chegara cedo naquela manhã, porque o seu pai o convocara por causa de um importante assunto de Estado.

Para Khalil não era o momento mais conveniente, mas, ainda que não acreditasse em muitos dos antigos costumes, acreditava que devia mostrar respeito pelo seu pai.

O facto de o seu pai ser o sultão, acrescentava peso à convocatória.

Ele lera a mensagem de e-mail, praguejara em voz baixa e telefonara para que preparassem o seu jacto privado, deixando sobre a mesa um contrato milionário e uma nova amante sozinha na cama. Horas mais tarde, saía do avião preparado para tudo...

No entanto, tinham-no recebido como se a sua presença se devesse a uma visita rotineira.

O xeque Khalil al Kadar, príncipe da coroa de Al Ankhara, protector do seu povo, herdeiro ao trono do Leão e da Espada e possuidor de outra dúzia de títulos antiquados, pôs as mãos nos bolsos das suas calças e suspirou com frustração.

O seu pai, rodeado pela sua corte habitual de secretários, recebera-o de maneira carinhosa.

– Excelente, meu filho! – exclamara o pai. – Não perdeste tempo a chegar até aqui.

– É claro que não, pai – respondera Khalil. – A mensagem parecia urgente.

– É verdade.

Um dos secretários aproximara-se para sussurrar alguma coisa ao sultão, ele assentiu e deu uma palmadinha no ombro de Khalil.

– No entanto, agora tenho de me ocupar de outro assunto.

– Mas e o assunto urgente?

– Dentro de um momento – dissera o sultão, antes de se ir embora.

O momento transformara-se em horas e Khalil começara a zangar-se. O seu humor não melhorara quando o secretário pessoal do seu pai batera à porta dos seus aposentos para o informar de que o sultão o veria durante o jantar oficial que se celebraria naquela noite.

Só de pensar nisso, Khalil cerrava os dentes. Qual poderia ser a urgência do assunto se iam discuti-lo com duzentos convidados à sua volta?

Khalil fizera todos os possíveis para ser amável durante a refeição, mas cada vez se sentia mais zangado. Pedira desculpas e saíra para o terraço, perguntando-se o que raios se passava...

Uma silhueta apareceu entre as sombras do palácio e caminhou depressa pela praia, para o mar. Khalil franziu o sobrolho. Quem podia ser? Era tarde. E, além disso, era uma zona privada que só podia ser usada pelos habitantes do palácio do sultão.

Seria um dos convidados? Não. Aquela pessoa tinha um djellebah com capuz. Uma roupa masculina. E todos os homens que estavam ali naquela noite vestiam fatos escuros.

Khalil aproximou-se do corrimão.

Além disso, não podia ser um homem. A silhueta era demasiado pequena. Um menino, talvez. Um criado... Mas deviam saber que o sultão não aprovaria que um criado passeasse numa zona privada.

O rapaz chegara até à margem. Imaginava uma certa tensão nas costas do rapaz?

O rapaz deu um passo em frente. A água cobria-lhe os tornozelos. As suas pernas. Molhava o tecido do djellebah. O que raios fazia?

Era uma pergunta ridícula. O rapaz estava a entrar no mar, num lugar onde havia muita profundidade e onde, com frequência, se encontravam tubarões famintos, dispostos a devorar homens.

Khalil praguejou, agarrou-se ao corrimão e saltou até à areia.

 

 

Quando Layla saíra do harém, o seu coração estava tão acelerado que estava convencida de que todos conseguiriam ouvi-lo. Estava surpreendida por ter chegado tão longe.

Fugira sem que nenhuma das suas guardiãs percebesse. Ainda que não fossem realmente guardiãs. Segundo o seu pai, as duas mulheres que não desviavam o olhar dela eram criadas e, quando lhe perguntara qual era a função do terceiro criado, respondera que Ahmet estava ali para a proteger.

– Al Ankhara pode parecer um país de contos de fadas – dissera ele, – mas não é.

Isso, pelo menos, era verdade. Al Ankhara podia parecer um lugar tirado das Mil e Uma Noites, com os seus arcos mouriscos, mas não era. O que acontecera com ela durante os dias anteriores demonstrava-o.

Mas não queria pensar nisso naquela noite e concentrou-se em fugir.

Ela e os seus empregados viviam num lugar separado do palácio. Devia ter sido um lugar bonito. No entanto, o chão de mármore estava desgastado pelos anos, os tapetes de seda estavam puídos e as paredes estavam imundas. As janelas, com vista para um pedaço de praia, tinham barrotes de ferro. A porta que dava para o palácio estava fechada à chave e a fechadura da porta que dava acesso à praia parecia não ter sido aberta no último século.

Noutras palavras, Layla estava presa. Contudo, antes do entardecer, mudara a sua sorte.

Aparecera um barco. Um iate que ancorara na praia.

E como poderia chegar a ele? Vinte minutos mais tarde, tinha a resposta.

Encontrara uma pá. Era enorme e era feita de cobre ou de latão. E podia usá-la como alavanca para abrir a porta que dava para a rua, assim que as suas guardiãs se deitassem à noite. Talvez, ver todos aqueles filmes a respeito de heroínas que transformavam alfinetes em todo o tipo de ferramentas, tivesse sido o melhor que alguma vez fizera.

Escondera a pá numa greta da parede e esperara. As mulheres tinham trazido o jantar e, depois, tinham-se reunido com Ahmet. Layla brincara com a comida, mas não a comera. Depois, as mulheres tinham regressado. Ela permitiu que lhe dessem um banho e que a secassem, mas quando tentaram vestir-lhe uma camisa de dormir, ela abanara a cabeça e gesticulara para lhes indicar que tinha frio.

As mulheres deram uma gargalhada. Bom, e porque não? Estavam espantadas com ela. Com o seu cabelo loiro. Com os seus olhos azuis. Com a sua pele pálida e o seu corpo magro. O facto de ela ter frio quando estava tanto calor era mais uma razão para estarem surpreendidas.

Em vez de uma camisa de dormir, deram-lhe um djellebah.

– Agora é hora de dormir – dissera uma delas e Layla retirara-se para o quarto.

Esperara para ouvir um coro de roncos e aproximara-se da porta em bicos de pés.

Minutos mais tarde, depois de forçar a fechadura com a pá, Layla era livre.

Desejava correr até ao mar, mas e se alguém estivesse a olhar pelas janelas do palácio? Tinha de parecer calma, portanto caminhou devagar sobre a areia. Quando chegou à água, pensou em tirar o djellebah, mas recordou que não sabia quem podia estar no barco, que ainda estava ancorado na praia. Acabara de entrar na água quando...

Alguém chocou com ela. Alguém grande. Alguém poderoso. Um homem.

Uns braços fortes rodearam-na por trás e levantaram-na do chão. Ela gritou, com fúria e receio ao mesmo tempo. Como era possível que Ahmet a tivesse descoberto tão depressa? Mas não era Ahmet.

O corpo do homem era magro e musculado e não estava coberto de gordura. E o cheiro não era o de Ahmet. O seu guardião horrível cheirava a suor. O homem que a segurava no ar cheirava a brisa marinha e a perfume caro.

Layla pensou com incredulidade que, no final, não iam entregá-la como esposa a um homem gordo que desejava casar-se, mas ia ser violada por um homem limpo e musculado.

Então, parou de pensar e gritou.

O grito era tão agudo que quase perfurou o tímpano de Khalil.

Uma mulher? A pessoa que resistia entre os seus braços como uma besta selvagem não era um menino, mas uma mulher.

Caíra-lhe o capuz e o seu cabelo sedoso ficara a descoberto, tocando-lhe no rosto, sentia o seu rabo contra o sexo e os seus seios... Os seus seios estavam muito perto das suas mãos.

O que raios se passava?

Ele só tinha a certeza de uma coisa. Não era o momento de o descobrir. Ela tentava libertar-se e não parava de lhe dar cotoveladas e pontapés na tíbia.

E o seu rabo... Firme. Pequeno. Elegante. Não parava de o mexer contra o seu membro e o seu corpo começava a reagir.

Bass! – gritou ele. – Chega!

Khalil apertou-a com mais força e disse-lhe ao ouvido:

Shismak?

Ela não respondeu, mas não importava qual era o seu nome. O que importava era que ele tentava acalmá-la, ao mesmo tempo que tentava não reagir face ao toque do seu rabo e dos seus seios.

Ficara louco? Quem se importava com tudo isso? A mulher era uma intrusa. O que fazia ali? Como conseguira atravessar os portões e evadir a vigilância dos guardas? Teria ido tomar um banho de meia-noite? Tentava suicidar-se?

Ouviram-se passos na areia. Khalil olhou para trás e viu que se aproximavam duas mulheres e um homem enorme. O homem tinha uma espada na mão.

– Solta-a! – ordenou Khalil, em árabe.

O homem parou, olhou para ele, ficou pálido e ajoelhou-se. As mulheres fizeram o mesmo.

Durante um instante, ninguém se mexeu. Nem sequer a mulher que tinha entre os braços. «Ainda bem», pensou Khalil, e virou-a para ele antes de a deixar no chão.

Com as mãos nas ancas, disse várias palavras que Layla não conseguia compreender. Não compreendia nada daquilo. Porque é que os seus captores estavam deitados de barriga para baixo no chão, em frente do homem que a atacara?

Tentando acalmar-se, afastou o cabelo molhado da cara e pronunciou os dois ou três insultos que conhecia.

Inta khaywan!

Uma das mulheres resmungou alguma coisa. Ahmet pôs-se de joelhos, mas o homem que a atacara levantou uma mão.

Com a outra, agarrou no pulso de Layla e torceu-lhe o braço atrás das costas.

Shismak – disse ele, inclinando o rosto para olhar para ela fixamente nos olhos.

O que significava aquilo? Ela mal sabia árabe. A única coisa que conseguiu fazer foi erguer o queixo e dizer o último insulto que conhecia.

Shismak? – perguntou.

Fosse qual fosse o significado das suas palavras, fizeram efeito.

Ele olhou para ela como se estivesse louca. As mulheres taparam o rosto com as mãos. Ahmet levantou-se e aproximou-se dela.

O homem resmungou e ele chegou-se para trás.

Depois, agarrou Layla com mais força e levantou o braço um pouco mais.

«Talvez não vá violar-me», pensou Layla com tranquilidade. «Se calhar só vai matar-me».

Vivera cheia de medo durante os últimos dias e não estava disposta a continuar assim. Ergueu o queixo e repetiu as suas palavras mais uma vez. Devagar, para que tivessem mais efeito.

Depois, mostrou um sorriso enorme e o homem semicerrou os olhos.

Kelbeh – respondeu. E pôs a mão no meio do peito de Layla e empurrou-a.

Layla gritou de dor e caiu de costas sobre a espuma das ondas.

Os outros riram-se às gargalhadas, mas ele não. Continuou a olhar para ela, inexpressivo. Ela tentou levantar-se, tremendo de raiva, de medo, mas sem parar de olhar para ele.

O homem disse alguma coisa que parecia uma ordem. Cessaram as gargalhadas. Ele falou novamente. As mulheres e Ahmet levantaram-se. Entreolharam-se e, depois, uma mulher apontou para Layla e começou a falar em voz baixa. O homem interrompeu-a e a mulher assentiu.

Quando acabaram de falar, o homem virou-se, cruzou os braços e olhou para ela.

Ela reparou no seu aspecto pela primeira vez. Era alto. De costas largas e pernas compridas. Vestia um fato preto. Tinha o cabelo escuro e espesso. Não conseguia ver a cor dos seus olhos, mas via o seu rosto duro e severo... E atraente. Tremendamente atraente.

Ele olhou para ela de cima a baixo, devagar. O seu rosto, os seus seios, o seu corpo. Ela sabia que o tecido encharcado se colava ao seu corpo.

O que é que ele conseguia ver? Tudo. A forma dos seus seios. Os seus mamilos erectos. As suas pernas esbeltas.

Layla conteve um pequeno gemido. Ele olhou para ela nos olhos. Para seu horror, ela corou ao ver o que viu no seu rosto atraente.

O som do mar, o sussurro da brisa... Tudo desvaneceu. Ele sorriu, de um modo que as mulheres compreendiam sempre. No seu país, ela teria sabido exactamente como lidar com sorrisos assim.

Ali, só conseguia pensar em recuar. Mas não importava.

Ele agarrou-a pelos ombros e puxou-a. Ela tropeçou e caiu contra ele, contra o seu corpo, de forma que os seus seios tocaram no seu peito musculado. Ele acariciou-lhe as costas, segurou-a pelo rabo e apertou-a contra o seu corpo, para que ela conseguisse sentir o poder do seu membro erecto no sexo.

Ela ficou boquiaberta.

Ele disse alguma coisa em voz baixa. Ela não compreendeu as suas palavras, mas o significado estava claro, sobretudo, quando ele inclinou a cabeça, introduziu os dedos entre o seu cabelo e lhe deitou a cabeça para trás.

– Não – ela tentou falar alto, mas saiu um sussurro. A maneira que tinha de olhar para ela, o toque dos seus dedos no seu cabelo, o seu cheiro misturado com o da brisa do mar...

Layla sentiu que o seu coração acelerava.

Olharam-se nos olhos durante o que parecia uma eternidade. Então, ele cerrou os dentes e soltou-a. Tirou o casaco e tapou Layla. Ela aceitou-o sem pensar e sentiu o seu calor. Ele segurou-a pelos ombros mais uma vez e empurrou-a para uma das mulheres.

Depois, virou-se e caminhou devagar pela praia, até desaparecer na escuridão.