{Portada}

Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

© 2010 Barbara Schenck. Todos os direitos reservados.

A FUGA DE UMA PRINCESA, N.º 1324 - Agosto 2011

Título original: The Virgin’s Proposition

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em portugués em 2011

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

I.S.B.N.: 978-84-9000-602-3

Editor responsável: Luis Pugni

ePub: Publidisa

Inhalt

Portada

Créditos

Inhalt

CAPÍTULO 1

CAPÍTULO 2

CAPÍTULO 3

CAPÍTULO 4

CAPÍTULO 5

CAPÍTULO 6

CAPÍTULO 7

CAPÍTULO 8

CAPÍTULO 9

CAPÍTULO 10

CAPÍTULO 11

Promo

Se gostou deste livro, também gostará desta apaixonante história que cativa desde a primeira até à última página.

Clique aqui e descubra um novo romance.

Portada Tentação grega

www.harlequinportugal.com

CAPÍTULO 1

Um dia, o seu príncipe chegaria.

Mas, aparentemente, não seria tão depressa, pensou Anny, olhando para o relógio, uma vez mais.

Mexeu-se na poltrona onde já esperava há quarenta minutos. Depois, endireitou-se e percorreu o hall do hotel Ritz Carlton com o olhar, procurando algum rasto de Gerald.

Havia centenas de pessoas por ali. Parecia uma ca sa de loucos.

Acontecia sempre o mesmo durante o festival de cinema de Cannes. Na primeira semana de Maio, a vila costeira francesa transbordava de génios da indústria cinematográfica, de aspirantes e cinéfilos ávidos.

Naquele momento, três dias depois da inauguração do festival, a zona do bar do hotel, normalmente tranquila, estava a abarrotar de gente, com um ruído ensurdecedor de gargalhadas masculinas e risinhos femininos, agudos e coquetes.

À sua volta, circulavam todo o tipo de conversas: produtores a fecharem acordos, directores a rejeitarem filmes e jornalistas a perseguirem actores famosos. E, por toda a parte, havia admiradores e mirones, que tentavam aparentar que aquele também era o seu mundo.

Mas não havia vestígios do alto e distinto príncipe

Gerald de Val Comesque. Anny obrigou-se a fingir serenidade e a sorrir.

–Em público, deves mostrar-te serena, calma e feliz – tinha-lhe inculcado, desde criança, Sua Alteza o Rei Leopoldo Olivier Narcisse Bertrand de Mont Chamion, a quem ela chamava «papá». – Mantém sempre a serenidade, querida. É o teu dever.

Era isso que devia fazer. As princesas cumpriam o seu dever. Mostravam-se serenas e, quase sempre, eram felizes.

Ser princesa, no entanto, não era apenas festas e diversão, como Anny comprovara nos seus vinte e seis anos de experiência. Embora as princesas, desde o seu nascimento, tivessem tantos privilégios que deviam estar agradecidas pela vida que lhes tocara.

Por isso, Sua Alteza Real a princesa Adriana Anastasia Maria Christina Sophia de Mont Chamion, aliás Anny, esforçou-se por parecer serena, responsável e feliz. E agradecida.

Embora também se sentisse um pouco stressada, impaciente, incomodada e apreensiva.

Não era pânico, nem propriamente medo. Era mais uma impressão no estômago, nervosismo. E uma sensação crescente de fatalismo.

Era uma sensação que sentira com frequência durante o último mês e já lhe era familiar.

«São só nervos», disse a si mesma. Os nervos antes do casamento. Apesar de ainda faltar mais de um ano para se celebrar e nem sequer se ter marcado uma data. E apesar de o príncipe Gerald, sofisticado, atraente,elegante e experiente, fosse tudo o que uma mulher podia pedir.

Anny levantou-se para verificar o hall com o olhar, uma vez mais. Tivera de se apressar para chegar ao hotel às cinco. O pai ligara-lhe essa manhã e dissera que Gerald estaria à sua espera, que queria falar com ela sobre alguma coisa.

– Mas é quinta-feira. Estarei na clínica a essa hora

– tinha protestado Anny.

A clínica Alfonse de Jacques era um estabelecimento privado, dedicado a crianças e adolescentes com problemas cerebrais e da medula. Anny colaborava como voluntária, todas as terças e quintas-feiras à tarde. Começara a fazê-lo quando tinha chegado a Cannes, para trabalhar na sua tese de doutoramento, há já cinco meses.

Ao princípio, começara por ser apenas uma forma de ser útil e fazer alguma coisa, além de escrever sobre pintura pré-histórica todos os dias. Tinha sido uma distracção, uma desculpa para sair de casa. E um serviço à comunidade, algo que as princesas deviam fazer.

Anny adorava as crianças e passar umas quantas horas com miúdos incapacitados parecera-lhe ser uma boa maneira de investir o tempo. Mas o que começara por ser um entretenimento e uma boa acção, transformou-se na actividade de que mais gostava da semana.

Na clínica, não era uma princesa. As crianças não tinham nem ideia de quem era. E, quando ia vê-los, não o via como uma obrigação. Era um prazer. E onde podia ser apenas Anny, a amiga.

Brincava às escondidas com Paul e jogava videojogos com Madeleine e Charles. Via futebol com Philippe e Gabriel, e costurava as roupinhas das bonecas junto de Marie Claire. Comentava filmes e actores com a entusiasta Elisa e falava de tudo com Frank «o rebelde», uma criança de quinze anos, que aproveitava a menor oportunidade para mostrar o seu inconformismo.

– Estou sempre na clínica até as cinco, pelo menos

–dissera Anny ao pai, nessa manhã. – Posso combinar encontrar-me lá com Gerald.

– Gerald não vai a hospitais.

– É uma clínica.

– Mesmo assim. Não irá – tinha assegurado o pai com firmeza e um certo tom compassivo. – Sabes. Desde que Ofelia...

Ofelia fora a esposa de Gerald, que tinha morrido há quatro anos. E pressupunha-se que Anny devia substituir a bonita, elegante e encantadora Ofelia.

– Claro – respondera ela, em voz baixa. – Tinha-me esquecido.

– Devemos ser compreensivos – aconselhara o pai.

– É difícil para ele, Adriana.

– Eu sei.

Anny compreendia que não tinha nenhuma possibilidade de ocupar o lugar de Ofelia no coração de Gerald. Mas sabia que todos esperavam que ela tentasse. Em parte, essa era a razão pela qual sentia alguma apreensão.

– Encontrar-se-ão no hall, às cinco. Depois, jantarão e falarão – continuara o pai. – Ele deve viajar para Paris. O seu voo para Montreal parte de manhã. Tem uma reunião de negócios.

Gerald possuía várias multinacionais, além de ser príncipe.

– Do que quer falar?

– Tenho a certeza de que te explicará tudo esta noite – dissera o pai. – Não deves fazê-lo esperar, querida.

– Não. E Anny não o tinha feito esperar. Era ele quem chegava tarde.

Embora se supusesse que as princesas não deviam mostrar-se impacientes, Anny voltou a olhar para o relógio, nervosa, olhou à sua volta e tamborilou com o pé no chão.

Eram quase seis menos um quarto. Anny podia ter ficado um pouco mais na clínica e ter acabado a sua discussão com Frank sobre os heróis dos filmes de acção. Mas, como tivera de ir embora, Frank tinha-lhe atirado à cara que estava a fugir dele.

– Não fujo! – respondera. – Combinei encontrar-me com o meu noivo esta tarde.

– Noivo? Vais casar? Quando? – tinha perguntado Frank, franzindo o sobrolho.

– Dentro de um ano. Ou, talvez dois. Não tenho a certeza – respondera Anny. Gerald precisava de um herdeiro e não estava disposto a esperar para sempre.

O príncipe tinha aceitado esperar que ela acabasse a sua tese. Infelizmente, isso aconteceria no ano seguinte.

Demasiado pouco tempo para ela.

Anny tentou tirar aquele pensamento da cabeça.

Gerald não era um monstro com o qual se vira forçada a casar. Bom, era obrigada, mas Gerald não tinha nada de mal. Era amável e atencioso. Um príncipe em todos os sentidos da palavra.

– Um ano? Dois anos? Que diabos esperas? – perguntara Frank, com brusquidão.

–A que te referes? – tinha replicado, sobressaltada com a pergunta.

Frank assinalou as quatro paredes do seu quarto e as suas pernas paralisadas. Depois, olhara-a nos olhos.

–O tempo está a passar. Nunca se sabe o que pode acontecer.

Frank tinha-se magoado na cabeça num jogo de futebol. No dia seguinte, o seu corpo ficara paralisado da cintura para baixo. Há quase três anos que não podia andar.

– Não devias esperar – tinha insistido Frank, sem deixar de olhá-la nos olhos.

O rapaz era especialista em procurar tópicos de discussão.

– O que propões? Que fuja com ele? – replicara Anny, com um sorriso.

Mas os olhos de Frank não tinham brilhado com a emoção de uma nova discussão, como estavam acostumados a fazer. Só tinha abanado a cabeça.

– Na verdade, não entendo pelo que esperas.

–Um ano não é muito. Nem dois. Tenho de acabar o meu doutoramento. E, quando marcar a data, terei de fazer muitos preparativos.

– Isso é o que tu queres?

– Não se trata disso.

– Claro que sim. Não deverias perder tempo. Deverias fazer o que queres!

– Nem sempre se pode fazer o que alguém quer, Frank.

– E dizes isso a mim? Eu não estaria aqui encerrado se pudesse!

– Eu sei.

Frank tinha apertado o queixo. Tinha virado a cabeça para olhar pela janela. Anny não soubera o que dizer.

– Só se vive uma vez – disse, assinalando o momento, com expressão de amargura.

«Como podia discutir isso com ele?», perguntou-se Anny. Era impossível.

Por isso, ela fizera a única coisa que lhe tinha ocorrido. Apertara-lhe a mão com uma expressão doce.

– Tenho de ir – dissera. – Lamento.

– Vai-te embora – tinha replicado Frank, fingindo indiferença.

– Voltarei em breve – prometera Anny.

«Devia ter ficado com ele», pensou, sentada no hotel. Eram seis menos dez e Gerald continuava sem aparecer.

De repente, a sala ficou em silêncio. Anny levantou o olhar. Todos pareciam olhar na mesma direcção.

Ao ver o homem que tinha parado do outro lado do hall, Anny ficou petrificada.

Não era Gerald.

Não se parecia nada com Gerald. Tinha uns traços duros, o cabelo revolto, estava com a barba por fazer, usava umas calças de ganga gastas e uma t-shirt. Poderia ser um homem qualquer. Um carpinteiro, um marinheiro, um vagabundo.

Mas não era um homem qualquer. O seu nome era Demetrios Savas. Anny sabia. Tal como todos na sala.

Durante dez anos, tinha sido o rapaz dourado de Hollywood. De procedência grega, Demetrios começara a sua carreira como actor, sendo pouco mais do que um rosto atraente e um corpo impressionante.

Mas tinha trabalhado muito para cultivar o seu talento, protagonizara uma série de televisão bem-sucedida e meia dúzia de filmes, fizera inclusive os seus trabalhitos como director. E tinha casado com a bonita e excelente actriz Lissa Conroy.

Demetrios e Lissa tinham sido o casal perfeito de Hollywood, bonitos e com talento. Tudo fora perfeito para eles.

Até que, há dois anos, Lissa tinha contraído uma infecção numa rodagem, no estrangeiro, e morrera poucos dias depois. Demetrios apenas conseguira chegar a tempo ao seu leito de morte.

Anny recordou as fotografias da imprensa, que o tinham mostrado a regressar sozinho com o corpo da esposa e no cemitério de Dakota.

Desde aquele dia, Demetrios Savas não tinha voltado a fazer uma aparição em público. Aparentemente, a terra engolira-o.

No Verão anterior, a notícia de que Demetrios tinha escrito um guião e tinha encontrado produtor e actores para rodar um filme de cinema independente, no Brasil, tinha surpreendido todos. Aparentemente, o filme estava entre os favoritos aos Óscares e também ia ser apresentado em Cannes.

Por isso, ele estava ali.

«Anny nunca o tinha visto em pessoa, embora tivesse um póster dele na parede do seu quarto, na residência universitária», recordou-se, envergonhada.

Mas as fotografias não faziam jus à realidade. Tinha desaparecido dos seus olhos a dor que se via na última imagem que saíra dele na imprensa. Ele não sorria. Não precisava de o fazer. Exsudava tanto carisma, que ninguém conseguia desviar o olhar.

Demetrios tinha um poder e uma força que Anny reconheceu imediatamente. Não era o poder suave e contraído de Gerald e do seu pai. Era mais puro e primitivo. Parecia que tinha um campo magnético à sua volta.

Ele continuou a andar com passo firme e decidido e, embora as princesas não devessem olhar fixamente, Anny não foi capaz de afastar ou fechar os olhos.

A maioria das pessoas continuava a observá-lo também. Alguns cumprimentaram-no e ele dedicou-lhesum breve sorriso, uma leve inclinação de cabeça. Mas Demetrios não parou, enquanto observava a sala, como se estivesse à procura de alguém.

Então, pousou a vista nela.

Os seus olhares encontraram-se e Anny perdeu-se nos seus olhos verdes, mágicos.

Ela precisou de toda a sua força de vontade para desviar o olhar. Consultou o relógio, para ter alguma coisa que fazer. Não queria parecer uma adolescente encantada, hipnotizada pelo seu rosto atraente.

Onde diabos estaria Gerald?

Depois, Anny levantou a cabeça e encontrou-se frente a frente com Demetrios Savas. Estava tão perto, que podia ver a barba incipiente das suas faces e queixo, e o brilho dos seus olhos.

– Lamento – disse ele, com um sorriso. – Não pretendia fazer-te esperar.

«A mim?», quis perguntar Anny, mas não foi capaz de articular uma palavra. E, antes que pudesse recompor-se, rodeou-lhe a cintura com um braço, atraiu-a para o seu lado e beijou-a nos lábios.

Anny sentiu como lhe tremiam as pernas. E abriu a boca. Por um instante, a língua dele roçou a sua. Depois, abriu os olhos para olhar para ele, atónita.

– Obrigado por esperares – disse ele, com uma voz cheia de calor. Sem lhe tirar o braço da cintura, guiou-a para o outro lado do hall. – Vamos sair daqui.

Demetrios não sabia quem ela era.

E não lhe importava. Era óbvio que ela esperava alguém e tinha o aspecto de ser o tipo de mulher que não montaria uma cena. Além disso, entre a multidão de pessoas curiosas, ela tinha brilhado com luz própria.

O seu aspecto era o de uma mulher serena e de fina compostura. Provavelmente, seria uma das representantes do hotel. Ou uma guia turística, que esperava pelo seu grupo. Ou a mãe de um escuteiro. Noutras palavras, podia ser tudo, menos alguém do mundo do cinema.

E aquela mulher ia ser a sua salvação, quer ela soubesse ou não. Ia ajudá-lo a sair do Ritz, antes que ele tivesse um ataque de nervos e fizesse alguma coisa de que depois se arrependeria. Vestida com uma saia azul escura e um casaco creme, feito à medida, parecia o tipo de mulher estável e profissional de que precisava para conseguir o que queria.

Portanto, caminhou com ela, enquanto a multidão se afastava para deixá-los passar. Olhavam-nos com os olhos muito abertos de espanto. Murmuravam. Ele ignorava-os.

– Sabe como podemos sair daqui? – sussurrou-lhe ele, ao ouvido. Ela virou-se para ele com um breve sorriso.

– É claro.

Depois, ele sorriu também. Era o primeiro sorriso sincero que esboçava em todo o dia.

– Guia-me – pediu ele, enquanto os murmúrios da sala não paravam de crescer. – Ignora-os.

Anny fez isso, sem deixar de sorrir. A sua salvadora parecia saber para onde se dirigia. Conduziu-o por umas portas e por um longo corredor. Depois, passaram por alguns escritórios, atravessaram um armazém e uma zona de recepção de materiais, até que abriu uma porta e saiu para a rua pelas traseiras do hotel.

Demetrios respirou fundo e ouviu como a porta se fechava com um clique atrás deles.

– Agora, não podes voltar a entrar. Lamento muito. Mas obrigado. Salvaste-me a vida – disse ele.

– Duvido – disse ela, sem deixar de sorrir.

– Refiro-me à minha vida profissional – particularizou ele, passando a mão pela cabeça. – Tive um dia horrível. E estava prestes a piorar.

Anny lançou-lhe um olhar especulativo, mas guardou a sua curiosidade.

– Fico contente por ter podido ajudar.

– A sério? – perguntou, surpreendido, pois tinha esperado que ela estivesse mais incomodada do que contente. – Estavas à espera de alguém.

– Por isso mesmo é que me escolheste – assinalou ela, como se fosse o mais normal. Surpreendido pela sua acuidade, Demetrios sorriu.

– Chama-se improvisação. O meu nome é Demetrios.

– Eu sei.

Sim, claro. Nas últimas quarenta e oito horas, Demetrios tinha comprovado que, apesar de ter estado desaparecido durante dois anos, ninguém parecia tê-lo esquecido.

Para a sua profissão, isso era bom. Os distribuidores de filmes não lhe fechavam a porta na cara. Mas os paparazzi eram algo de que ele não precisava. Nem das admiradoras enlouquecidas.

Demetrios soubera que em a Cannes ia ser uma loucura, mas pensara ser capaz de controlar a situação. E não seria nada difícil, se todas as mulheres que conhecia fossem como aquela.

– Demetrios Savas em pessoa – comentou ela com um sorriso, observando-o com curiosidade e um gesto amistoso.

– Pelo menos, não estás louca de excitação por me conhecer – assinalou ele, com um sorriso de amargura.

– Poderia estar – replicou ela e sorriu ainda mais.

– Talvez saiba disfarçar muito bem.

– Continua a disfarçar, por favor.