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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Lucy Monroe

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Jogo cruel, n.º 1057 - maio 2017

Título original: Bought: The Greek’s Bride

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9665-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Sentindo a sua mão grande e quente na parte de baixo das costas, Ellie permitiu que Sandor a conduzisse dentro do exclusivo restaurante de Boston. No Verão, Boston era uma cidade húmida e quente e o súbito frio do ar condicionado fez com que tremesse e que os seus mamilos ficassem tensos sob a parte de cima de seda preta do seu vestido.

Mais do que desconforto, sentiu o prazer sensual que sempre a dominava na companhia daquele homem.

Marcara o seu primeiro encontro e não diminuíra depois disso, fazendo-a desejar explorar uma parte da sua personalidade que costumava ignorar: a sua sexualidade feminina. Usava roupa mais sexy do que no passado e desfrutava de cada breve e possessivo toque dos seus dedos sobre a pele.

Nessa noite, tinha um vestido Armani que adorava porque era elegante e sexy ao mesmo tempo. O design sem mangas e a gola descaída deixava os seus braços e uma boa parte do decote e das costas a descoberto, mas a saia chegava discretamente por debaixo dos joelhos. A seda preta ajustava-se às suas curvas e o tecido fino não constituía uma barreira para sentir a mão dele nas suas costas. Esse mínimo contacto fazia com que se perdesse.

Concentrou-se em manter uma fachada de indiferença à frente dele e dos outros clientes, porém, não conseguiu evitar desejar que estivessem num lugar mais privado. Um sítio onde pudesse atrever-se a perguntar-lhe por que razão nunca procurara mais intimidade, quando os seus beijos de boa noite transmitiam uma paixão contida com muita dificuldade. Uma paixão que desejava explorar.

Reconheceu vários rostos enquanto o maître os conduzia para a sua mesa. Nem que fosse uma só vez, gostaria de ir a um restaurante que não fosse frequentado pelas pessoas da sua classe. Mas Sandor Christofides exigia o melhor. Em tudo.

E era por essa razão que, por vezes, se perguntava o que fazia com ela.

Nascera num mundo ao qual ela chegara trabalhando sem descanso, mas era a única coisa que podia oferecer-lhe. Com um metro e setenta e sete de altura, curvas pequenas, traços normais e cabelo loiro-escuro, não era especialmente bela. Não se esforçava por cultivar os contactos que outros se matariam por ter, deixava para trás os padrões próprios da riqueza e normalmente recusava-se a mantê-los. O seu trabalho como assistente social do Estado não era nada atractivo. Os seus utentes nunca estariam em nenhuma lista importante e, na verdade, ela também não. Já não.

O seu pai considerava a sua carreira um desperdício da sua educação exclusiva, mas não lhe importava. Ela também pensava que a obsessão do seu pai pela sua empresa era um desperdício. E odiava que ocupasse o primeiro lugar na sua vida, a empresa acima de tudo.

O maître levou-os até à mesa habitual de Sandor. A sua localização era sinal da importância de Sandor, algo que o seu pai teria dado por garantido, mas que ele ainda não. Os seus olhos castanhos-escuros faiscavam satisfeitos com detalhes como aquele, como se realmente lhe dissessem alguma coisa.

Essa era outra razão pela qual não encaixavam. Para ela, esse tipo de coisas era indiferente. Talvez porque crescera nesse ambiente, contudo, emocionava-a muito mais conseguir um emprego, uma recomendação ou educação complementar para um dos seus utentes.

Aceitava todos os convites de Sandor porque o homem a cativava, mas não entendia porque continuava a convidá-la. Sobretudo se não queria ir para a cama com ela. Não dava a impressão de ser um homem celibatário, mas talvez ela estivesse enganada.

Sandor ajudou-a a sentar-se, embora costumasse ser uma responsabilidade do maître. Ela não sabia se agia assim porque era grego ou devido ao seu instinto de posse, mas sabia que não seria ela a terminar a relação. Aquelas pequenas atenções, como ajudá-la a sentar-se, faziam com que se sentisse especial.

Também exibiam uma parte do seu carácter que a atraía. Ele não se vergava aos ditados do mundo onde vivia, fazia as coisas à sua maneira. Ao seu lado, sentia-se realmente viva pela primeira vez em vinte e quatro anos.

Observou, com uma intensidade voraz que tentou disfarçar, como ele acomodava o seu metro e noventa de altura na cadeira. O cabelo preto e encaracolado emoldurava uns traços cinzelados que poderia admirar toda a noite e o seu corpo musculado preenchia o casaco de forma pouco habitual nos executivos.

Apresentava umas unhas cuidadas e impecáveis, mas as suas mãos eram grandes e marcadas por pequenas cicatrizes que denotavam uma origem muito diferente da dela.

O maître partiu sem lhes deixar a carta, mas Sandor não fez nenhum comentário, pois estava demasiado ocupado a olhar para ela, captando o desejo que ela se esforçava por esconder.

– Eu não estou no menu, pethi mou – os seus dentes brancos resplandeceram e o seu sorriso tornou-se predador. – Mas posso estar.

– Promessas, promessas… – brincou ela com descaramento, apesar de sentir que o rubor tingia as suas faces.

No entanto, o seu corpo não sentia vergonha. Estava demasiado ocupado a reagir à sua brincadeira como se fosse uma carícia. Sentiu calor na barriga e os seus seios ficaram tensos com a necessidade de serem tocados. Os mamilos, já tensos, aumentaram.

Não era precisamente virgem, mas nunca respondera fisicamente a um homem como o fazia com ele.

Ele riu-se, porém, não negou que não tinha planos de cumprir a sua ameaça. Apesar de saírem há já três meses, nunca quisera que chegassem ao acto final e ignorara os subtis comentários dela.

– Como foi a negociação com as lojas? – perguntou ela, contendo a sua desilusão.

O seu pai e ele tinham-se unido para tentar fazer com que um dos maiores empresários do mundo utilizasse os recursos das suas empresas navais e a rede de importação-exportação de Sandor.

– São favas contadas.

Gostava de o ouvir utilizar frases feitas com o seu leve sotaque grego. Ao contrário de outros empresários estrangeiros, Sandor não falava com o perfeito sotaque britânico adquirido à base de estudo. Contara-lhe que aprendera inglês depois de se instalar nos Estados Unidos, quando era criança. A sua mãe ainda tinha um sotaque muito marcado, que por vezes dificultava a compreensão.

– Fico contente e tenho a certeza de que o papá está encantado.

– Sim, mas não estamos aqui para falar de negócios.

– Não?

– Sabes que não.

– Não discutirei – ela riu-se suavemente. – Desde que começámos a sair, sei mais do negócio do meu pai do que nunca, e tudo graças a ti. Não costumo ser a melhor candidata para este tipo de conversas.

– Mas és a melhor candidata para outras coisas.

Ela perguntou-se se brincava novamente sobre o assunto sexual, que tinha a certeza de que não poria em prática, ou se se referia a outra coisa. Olhou para ele confusa, mas ele sorriu enigmaticamente e calou-se.

O empregado aproximou-se da mesa e serviu dois copos do vinho preferido de Sandor. Também gostava daquela bebida e isso não a surpreendeu, porém, surpreendeu-a ao ouvir Sandor dizer que podiam servir o jantar, sem lhe perguntar o que queria. Nunca antes o fizera. Pelos vistos, pedira os pratos antes de chegar ao restaurante.

Essa dedução confirmou-se quando o empregado chegou alguns segundos depois com o aperitivo.

– O meu preferido – disse ela, provando com gosto as gambas acompanhadas de manteiga com alho e três queijos.

– Eu sei – ele pôs uma gamba num bocado de pão, pôs-lhe manteiga, comprovou que tinha a quantidade exacta de queijo fundido e ofereceu-lha. – Conheço-te muito bem, Eleanor.

– Achas?

– Depois de três meses, duvidas?

– Depende do que queres dizer. Acho que sabes muito sobre mim, mas não tenho a certeza de que me conheças – o seu pai teria pedido a mesma entrada para ela, mas isso não implicava que a conhecesse. Do ponto de vista de Ellie, o seu pai não desejava conhecê-la mais do que superficialmente. Desejou que Sandor fosse diferente.

– Há diferença entre as duas coisas?

– Sim.

– Se a noite de hoje correr como espero, terei muito tempo para compreender o que queres dizer.

– E como esperas que a noite corra? – perguntou-se se ele finalmente ia fazer amor com ela. E se estava preparada para isso. Riu-se para si. Mais do que preparada, estava desesperada. A possibilidade de finalmente ir para a cama com ele criava-lhe um caos mental que era ridículo. Desejava aquele homem e, embora não tencionasse dizer-lho, também não ia enganar-se.

– Permite-me revelar os meus planos passo a passo.

Ela devia ter adivinhado que tinha algum plano. Era típico dele. Nesse aspecto, lembrava-a do seu pai. Na verdade, preocupava-a um pouco que os seus planos fossem tão frios e calculistas como os do seu pai.

– Claro. Não me atreveria a interpor-me na tua agenda.

– Estás a gozar comigo? – bebeu um gole de vinho e os seus olhos escuros brilharam, ameaçadores.

– Talvez, um pouco. A espontaneidade não é o teu forte.

– Conheces-me bem.

– O normal depois de três meses.

– O suficiente.

– Não vais provar as gambas? – perguntou ela, pensando que havia um significado escondido nas suas palavras, mas sem saber qual era.

– Suponho que sim, mas o verdadeiro prazer é ver-te a comê-las.

– Como queiras – ela acabava de pegar num bocado e fechou os olhos com prazer. Era divinal.

– Garanto-te que estou a desfrutar muito do meu aperitivo.

Só havia gambas na mesa, que ele não comia, portanto demorou um segundo a entendê-lo. Quando o fez, abriu os olhos. Estava a olhar para ela com um brilho predador nos olhos, muito escuro.

Ela respirou fundo, tentando acalmar o batimento acelerado do seu coração. Quando aquele homem tinha um objectivo, não escondia nada. Desejou que o tempo voasse. Naquela noite, não a deixaria com um beijo apaixonado que a enlouqueceria de desejo. Não com aquele olhar nos olhos.

– O chef deve estar a experimentar coisas novas – disse, quando chegou um creme de abóbora e nozes que ela nunca comera naquele restaurante.

– A meu pedido.

– Pediste tudo antes. Porquê?

– Esta noite é especial, quero que cada detalhe seja perfeito.

– Especial?

– Sim.

– Eu gosto da forma como isso soa – provou o creme preparado especialmente para ela. – Está delicioso.

– Não esperava menos.

– Surpreende-me que tenhas convencido o chef a experimentar algo novo para ti.

– O dinheiro movimenta quase tudo.

– Inclusive o chef mais temperamental de Boston?

– Como vês – assinalou as duas tigelas de sopa. – Mas não o fez para mim. Fê-lo para ti.

– A teu pedido.

– Sim.

– Porque esta noite é especial.

– Muito.

Ela não teve tempo de dizer mais nada. Um trio de violinistas parou perto deles e começou a tocar uma peça que sempre considerara estimulante e relaxante ao mesmo tempo.

Em seguida, o maître ofereceu-lhe duas dúzias de rosas vermelhas. Ela aceitou-as e inalou o seu perfume.

– São lindas – olhou para Sandor.

– Tens a certeza de que fui que as enviei?

– Claro – ela riu-se, mas a sua voz soou rouca. Levantou o cartão para o ler. Era pequeno e branco. Dizia Sandor, mais nada. Mas fora assinado por ele, reconhecia a sua letra inclinada.

– Obrigada – disse, com o rosto escondido nas flores. Precisava de se esconder por um momento.

A cena era muito mais romântica do que esperara dele, dada a sua limitada relação física, e perguntou-se se teria sentimentos por ela que não detectara. A ideia fez com que sentisse um aperto no coração de excitação.

– É um prazer.

O maître levou as flores e voltou com elas numa bela jarra de cristal. Ela olhou para ele de esguelha várias vezes, enquanto comia, perguntando-se o que significavam. A esperança e o desejo convenceram-na de que, nessa noite, não dormiria a desejar as carícias de Sandor.

Contudo, quando retiraram o prato principal, outro dos seus preferidos, na mesa apareceu uma caixa de veludo preto e ela ficou sem ar. Não podia ser o que estava a pensar. As rosas, os violinistas… De repente, chegou a uma conclusão em que não pensara. Podia ser o prelúdio de uma declaração.

Apesar de lhe ser difícil acreditar, não lhe ocorria outra razão. Um homem não oferecia um anel a uma mulher apenas para iniciar uma aventura.

Ele inclinou-se sobre a mesa e agarrou na sua mão. Ela obrigou-se a olhar para o seu forte queixo, para o nariz recto e para os seus olhos, penetrantes como um raio laser.

– Eleanor Wentworth, dar-me-ias a grande honra de te tornares minha esposa?

Embora quase esperasse a pergunta, a sua calma habitual abandonou-a e olhou para ele boquiaberta. Pedira-lhe que se casasse com ele, mas não sabia o que sentia por ela. Se a amasse, tê-lo-ia dito antes. Ou ela tê-lo-ia percebido.

Ele inclinou a cabeça para um lado e arqueou o sobrolho, incentivando-a a responder.

– Não sei – resmungou ela, com um nó na garganta. As palavras soaram muito fortes nos seus ouvidos. Custava-lhe acreditar que as dissera e daquela forma. E, pela expressão de Sandor, ele também estava com alguma dificuldade em acreditar. Obviamente, esperara uma resposta muito diferente.

– Vá lá, devias estar à espera disto.

– Eh… não. A sério – mordeu o lábio. Talvez tivesse sido ingénua, mas nunca teria pensado que um homem tão dinâmico e sensual como ele propusesse casamento a uma mulher com quem nunca fora para a cama. – Foi uma surpresa.

Parecia mais desajeitada do que em toda a sua vida. Lidava com situações difíceis desde os seis anos, porém, nunca antes ouvira uma declaração de um homem que desejava, mas que não sabia se a desejava a ela. Tivera essa esperança… mas nenhuma certeza.

– Uma surpresa desagradável? – perguntou ele, sem indício de vulnerabilidade. Soou exigente, como se quisesse respostas, e imediatamente.

– Não desagradável – abanou a cabeça. – Só muito inesperada.

– Estamos a sair juntos há três meses.

– Sim – isso já ficara claro.

– Com exclusividade?

– Sim… quer dizer, supunha que tu…

– Para mim foi com exclusividade.

– Para mim também – reconheceu ela, relaxando um pouco ao ouvir a sua resposta.

– Para onde pensavas que se dirigia esta relação, senão para o casamento?

– Pensei que antes talvez… para a cama – respondeu ela honestamente. Nem sequer tinha a certeza de que era uma relação. Saíam juntos, mas…

Ele praguejou em grego. Ela reconheceu o palavrão graças ao Verão que passara a estudar a História de outras civilizações.

– Não posso acreditar que tenhas dito isso.

– Porquê? – olhou para ele atónita. Para ela, era uma conclusão perfeitamente lógica.

– Não combina contigo.

– Talvez não me conheças tão bem como pensas – apesar de não ser apropriado discutir aqueles assuntos em público, ela não dava tanto valor aos costumes como as pessoas achavam. Ou, pelo menos, como o seu pai pensava. Para ela, a sinceridade era muito mais importante.

E era óbvio que ele não a conhecia assim tão bem se se assustava por ela ter a temeridade de falar de sexo. Casar-se com um homem que sabia tão pouco da sua pessoa real não era uma ideia atractiva.

– Sim, conheço-te – insistiu ele.

– Não sexualmente – protestou ela, exasperada.

– O suficiente para saber que somos compatíveis.

– Só porque partilhámos alguns beijos?

– Partilhámos mais do que beijos – o seu olhar ardente recordou-lhe quanto mais.

No entanto, ele sempre parara. Excepto uma vez. Da primeira que se tinham beijado, as coisas quase tinham fugido ao seu controlo. Assustada com uma emoção que não estava habituada a sentir, fora ela quem parara. Desde esse dia, fizera mais do que beijá-la, mas nunca deixara que a paixão se descontrolasse tanto e nunca tinham feito amor.

– É verdade, mas o facto de não termos chegado até ao final faz-me perguntar-me se somos tão compatíveis nesse sentido como achas.

– Porque te perguntas isso? É óbvio que me desejas – o sotaque grego intensificava-se quando estava incomodado. Ela reparara nesse pormenor quando o ouvira discutir sobre negócios, mas nunca acontecera entre ambos.

Na verdade, gostou de saber que conseguia aborrecê-lo. Precisava de saber que podia afectá-lo, porque ele sem dúvida a afectava. No entanto, teria preferido que reagisse com outro tipo de emoção.

– Sim – admitiu. – Desejo-te, mas não tenho a certeza de que tu me desejas. E não viverei com um homem que acalme as suas paixões fora do leito matrimonial.

– Quem diz que eu faria isso? – exigiu saber ele, com um sotaque tão marcado que ela teve de se concentrar para o entender.

– Quem diz que não o farias?

– Eu.

– Quero acreditar em ti, mas…

– Não há «mas». A minha honra não se questiona.

– Não estava a falar de honra. Estava a falar de fazer amor.

– Sugeriste a possibilidade de eu violar os votos matrimoniais… Isso é uma questão de honra pessoal que eu não encaro de forma leviana.

Ficou contente ao ouvir aquelas palavras, mas não resolvia a dúvida que a perturbava. Ele era sócio do seu pai em alguns negócios e perguntou-se se esse facto pesara na proposta de casamento. Não acreditava que Sandor não lhe confessasse o seu amor por timidez. Era um homem demasiado seguro de si mesmo… Se sentisse alguma coisa por ela, tê-lo-ia dito. Decidiu que a única forma de saber se a declaração fazia parte de um acordo empresarial ou se era estritamente pessoal era perguntar sem disfarces. Sandor não era um homem que respondesse a subtilezas.

– Desejas-me por mim mesma e não porque sou a filha do meu pai?

– Eu diria que isso é óbvio – ele enrugou a testa.

Talvez fosse para ele, mas não para ela. Quando a beijava não escondia a paixão que sentia, contudo, nunca se deixava levar, o que a confundia imenso.

– Se fosse óbvio, não o perguntaria.

– Claro que te desejo – a sua voz desceu uma oitava, tornando-se um gemido sexual. – Muito.

– Isso… isso está bem – ela passou a língua pelos lábios.

– Mas para mim o compromisso vem antes… Só depois, o sexo.

Ela duvidava que ele fosse virgem, mas pelos vistos seguia o padrão de alguns homens em relação à mulher que queriam que fosse sua esposa.

– Tens umas ideias muito antiquadas.

– Sim. Não me envergonho delas. Nasci numa vila grega tradicional. Talvez não aceite todas as regras do meu avô, mas a sua influência persiste.

– Sandor – disse ela, procurando um assunto menos volátil para as suas emoções. – Nunca falas do teu passado. Não sei se o teu pai morreu ou se os teus pais se divorciaram, nem porque nunca falas dele, mas o teu avô surge em algumas conversas. Sei que faleceu…– balbuciou – mas não sei porque é que a tua mãe e tu vivem na América. Não sei muito sobre ti.

– E, sobretudo, não sabes como sou na cama.

– Sandor! – protestou ela, corando.

– Posso ser vulgar, sim. Herança desse passado acerca do qual não sabes nada. Mas desse passado também recebi a convicção de que um homem não vai para a cama com uma virgem a não ser que esteja comprometido e, preferivelmente, casado com ela.

– Foi o teu avô que te ensinou isso?

– Repetiu-mo todos os dias enquanto viveu. Só um homem com falta de honra faria algo do género.

– Entendo – teve a sensação de que havia muito mais que deveria explorar, porém, antes era fundamental deixar algo muito claro: – No entanto, entre nós isso não tem valor, porque eu não sou virgem.

– Claro que és.