sab1072.jpg

 

HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Julia James

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Comprada por um gredo, n.º 1072 - junho 2017

Título original: Bought for the Greek’s Bed

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9830-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Vicky conseguia ouvir os seus passos no chão de mármore, enquanto atravessava o hall enorme para se dirigir ao balcão da recepção. Tudo transbordava modernidade, algo realmente paradoxal, pensou ela, visto que o homem que dirigia aquela empresa gigantesca era tão antediluviano como um dinossauro. Um dinossauro enorme e desumano, que conseguia destruir sem pestanejar, para depois ir atrás da sua próxima presa.

Entrar no covil daquele dinossauro fazia com que todas as suas lembranças ganhassem vida. Conseguia voltar a ouvir a sua voz profunda com um marcado sotaque estrangeiro, com uma raiva perversa e gélida. Também conseguia ouvir as palavras horríveis que a tinham aniquilado sem que ele se alterasse, com uns olhos carregados de antipatia e, o que era pior, de desprezo. Depois, quando a trucidara verbalmente, limitara-se a desaparecer da sua vida.

Não voltara a vê-lo desde então. No entanto, naquele momento estava a aproximar-se do balcão da recepção para tentar voltar a vê-lo. Sentiu um nó na garganta. Não conseguia fazê-lo. No entanto, os seus pés nervosos seguiram o seu caminho. Tinha de o fazer. Tentara tudo e só lhe restava aquilo. Tinham-lhe devolvido as cartas, não lhe tinham passado os telefonemas e tinham apagado os e-mails sem os lerem. Theo Theakis não tinha a mínima intenção de permitir que lhe pedisse o que queria pedir-lhe. Mesmo assim, sentiu um arrebatamento de fúria. Não tinha de lhe pedir. Ele não podia negar-lho. Era seu. Pertencia-lhe.

No entanto, o advogado não pensava o mesmo. Conforme lhe explicara compreensivamente, o que ela queria não lhe pertencia e muito menos podia dispor disso.

– Precisa do consentimento do senhor Theakis – insistira o advogado.

A sua expressão escureceu ao aproximar-se do balcão. Se não lhe desse o consentimento…

– Deseja algo?

A voz da recepcionista era calma e impessoal, mas olhou para ela de cima a baixo, e Vicky percebeu que a classificara segundo o preço da sua roupa. Pelo menos, a sua roupa conseguia estar à altura daquele ambiente palaciano. O seu fato estava um pouco obsoleto, mas a categoria do estilista era evidente para qualquer um que soubesse algo de moda. Ela não sabia, mas movimentara-se num mundo, embora tivesse sido por muito pouco tempo, que era implacável nesse sentido e aquela única lembrança do enorme guarda-roupa que tivera ia ser-lhe útil. Ia chamar a atenção de alguém que se interpunha no seu caminho.

– Sim, obrigada.

Tentou, por todos os meios, que o seu tom fosse igualmente desenvolto e impessoal. Confiou no fato azul claro com um corte perfeito, no fio fino de prata que lhe pendia do pescoço e nos sapatos de salto alto, e na mala a condizer. Acabara de cortar o cabelo, que estava preso com uma fita da mesma cor do fato. Tinha uma maquilhagem muito leve e pusera um perfume do qual lhe tinham dado a amostra numa loja. Sabia que transmitia um aspecto selecto, clássico, britânico e suficientemente adequado para ultrapassar aquele obstáculo.

– Eu gostava de falar com o senhor Theakis – acrescentou, com um tom refinado.

Teve de fazer um esforço para pôr aquele tom, mas estava em Inglaterra e aquelas coisas eram importantes. Disse o nome como se o fizesse todos os dias, como se não fosse nada excepcional e lhe abrisse sempre a porta.

– Quem devo anunciar? – perguntou a recepcionista.

Vicky reparou que havia a possibilidade de aquela mulher tão bem arranjada poder ser alguém com acesso a ele, que, inclusive, poderia ser alguém que desfrutasse do privilégio de ter uma intimidade pessoal com Theo Theakis. No entanto, Vicky também sabia, com uma pontada de raiva por ter de estar ali, que não era voluptuosa ao ponto de ser uma das suas inúmeras amantes.

– A senhora Theakis – respondeu ela, com um leve sorriso.

 

 

Theo Theakis estava sentado na sua poltrona de couro e sentiu que lhe subia a pressão sanguínea. Desligou o telefone como se estivesse contaminado. Ela estava ali, na sua sede central de Londres. Tivera a ousadia de entrar no seu território. Semicerrou os olhos. Ficara louca? Voltava a aproximar-se dele quando a descartara. Devia estar louca para se aproximar dele. Seria uma descarada? Franzia o sobrolho. Ela não sabia o que era a vergonha, a honra ou o remorso. Alardeara o que fizera, inclusive atirou-lho à cara sem se alterar.

Mesmo assim, tinha a insolência de se apresentar ali para o ver, como se tivesse o direito de o fazer. Aquela mulher não tinha direito a nada e, muito menos, ao que ele sabia que queria. Também não tinha o direito, disse para si com um brilho de raiva nos olhos, de se chamar como se chamava. A sua esposa.

 

 

Vicky sentou-se numa das poltronas de couro que havia à volta de uma mesa de vidro fumado. Sobre ela, perfeitamente ordenados, estavam os jornais mais importantes em meia dúzia de línguas, entre outras o grego. Começou a ler os títulos. Há algum tempo que não lia em grego, mas, pelo menos, tinha a cabeça ocupada com algo que não fosse dar voltas ao mesmo. Pensar que tinha de partir, sem lhe importar que ele não quisesse recebê-la. Não ficar ali especada, com a ideia desesperada de o abordar quando partisse. Ele poderia não partir, tinha um apartamento no topo do edifício. Além disso, o elevador levá-lo-ia até ao estacionamento, onde um motorista estaria à sua espera numa limusina. Não havia nenhum motivo para que ele passasse diante dela. Tinha de partir. Tinha um nó no estômago e doíam-lhe os pés por causa dos saltos. No entanto, queria o que fora lá buscar e não se iria embora de mãos vazias, sem ter tentado. Endureceu o semblante. O que queria pertencia-lhe justamente e tinham-lho negado. Tinham-lhe negado o que lhe tinham prometido, o que precisava. Naquele momento, dois anos mais tarde, precisava imperiosamente dele. Já não podia esperar mais. Precisava daquele dinheiro.

Aquilo mantinha-a colada à poltrona de couro cinzento. Apercebia-se de que não fazia sentido, mas a raiva profunda que sentia mantinha-a ali.

Estava à espera há duas horas quando compreendeu que teria de desistir. Resignada, e face à sensação de ter feito uma figura ridícula, teria de se levantar e partir. As pessoas tinham passado diante dela e sabia que mais de uma pessoa olhara para ela com perplexidade ou receio, entre outras, a recepcionista. Pegou no último jornal e deixou-o na mesa. Teria de pensar noutra forma de atingir o seu objectivo. Embora não soubesse como. Tentara tudo, inclusive indagara a possibilidade de iniciar acções judiciais, mas o advogado dissuadira-a imediatamente. O confronto directo com o seu marido fora o último recurso, o que não era de estranhar porque era a última pessoa à face da terra que queria ver.

Por isso, sobressaltou-se quando agarrou na mala para se levantar. Precisamente à frente dela, um grupo de homens de fato saía do elevador para atravessar o hall da Theakis Corporation. Era ele. Os seus olhos cravaram-se nele com a excitação que fora uma fatalidade para ela desde que o conhecera. Era bem mais alto do que os seus acompanhantes e avançava a um passo que lhes custava acompanhar. Um dos homens falava com ele e Theo olhava para ele com atenção.

Vicky ficou gelada. Voltou a sentir o estremecimento que Theo lhe produzia cada vez que olhava para ele. Era como se ficasse pasmada.

Esquecera aquela sensação, a sua pura atracção física. Não era só a sua altura, nem a largura dos seus ombros, nem a elegância das suas ancas. Não era o fato feito à medida que deveria ter-lhe custado milhares de libras, nem o cabelo preto primorosamente cortado, nem a cara que parecia esculpida no mármore mais delicado. Era algo mais, eram os seus olhos, pretos e insondáveis, que conseguiam olhar para ela com tal frieza, com tal raiva e com outra expressão tão intensa que não queria recordar. Inclusive naquele momento, quando ele estava concentrado e impaciente devido ao que estavam a dizer-lhe. Viu que ele assentia com a cabeça e voltava a olhar para a frente.

Então, viu-a. Ela reparou no preciso instante em que percebeu a sua presença. Reparou no brilho de incredulidade que deu lugar à raiva.

Então, desapareceu. Ela desapareceu da sua vista. Desapareceu daquele instante em que chamara a sua atenção. Limitou-se a ignorá-la como se nunca tivesse existido. Como se não estivesse à sua espera há duas horas.

Passou ao longe, rodeado pela sua comitiva. Em breve, sairia pela porta que um dos homens já lhe abrira. Em breve, estaria longe do edifício que lhe pertencia, da empresa que lhe pertencia e dos homens que lhe pertenciam.

Levantou-se para o seguir. Theo virou a cabeça por um instante. Não a virou para ela. Fez um movimento de cabeça quase imperceptível a um dos seus acompanhantes. Ele, com uma ligeireza admirável, afastou-se do grupo e pôs-se diante dela quando ia atingir o seu objectivo.

– Afaste-se! – exclamou Vicky, com fúria.

O homem não se moveu.

– Lamento, menina.

Não olhou para ela nos olhos, nem lhe tocou. Limitou-se a barrar-lhe o caminho. Theo Theakis afastou-se, levando com ele algo que lhe pertencia.

Estava prestes a perder o autocontrolo. Agarrou na alça da mala, levantou-a e atirou-a, com todas as suas forças, contra o homem que se afastava.

– Fala comigo, canalha! Fala comigo!

A mala foi contra o ombro de um dos homens de fato e caiu no chão. O guarda-costas que estava diante dela agarrou-a pelo braço, demasiado tarde para evitar que atirasse a mala, mas a tempo de o baixar com a firmeza que lhe exigia a sua profissão.

– Não faça isso, por favor! – pediu-lhe ele, com uma expressão de certa surpresa.

Também não lhe servira de nada. O grupo continuou a andar, inclusive mais depressa. Até o homem que protegiam se meter numa limusina, que o esperava junto do passeio.

Vicky, que tremia da cabeça aos pés, pensou que era desprezível. Nunca o odiara tanto como naquele momento.

 

 

Theo, impassível e em silêncio, olhou para o jornal que tinha diante de si. Estava a tomar o pequeno-almoço na sua casa de Londres e, do outro lado da mesa, de pé, estava o seu secretário pessoal, que esperava com nervosismo a reacção do seu chefe. Demetrious sabia que não seria boa. Theo Theakis detestava que se falasse da sua vida privada na imprensa. Embora a vida que levava interessasse muito à imprensa, que nunca conseguia muita informação sobre ele. Theo preservava, implacavelmente, a sua intimidade. Não perdia a calma, embora a imprensa conseguisse intuir algo verdadeiramente interessante sob a superfície faustosa da sua vida de magnata. Dezoito meses antes, quando tinham começado a circular os rumores sobre o motivo pelo qual o seu casamento, aparentemente vulgar, fora tão curto, a imprensa envenenara-o. No entanto, como de costume, só conseguira o comunicado directo que se tornara público segundo as instruções de Theo. Por isso, Demetrious soubera, com certa angústia, que a imprensa se agarrara àquilo com unhas e dentes. Também sabia que a máscara de aprumo do seu chefe era só aquilo, uma máscara. Ele agradecia-lhe. Sem aquela máscara, certamente já o teria fulminado.

O silêncio durou alguns segundos. Felizmente, pensou Demetrious, o artigo não vinha acompanhado de nenhuma fotografia. Qualquer paparazzi teria dado qualquer coisa para presenciar a cena do dia anterior, na sede central da Theakis Corporation. Na verdade, eram apenas alguns parágrafos moderados e cheios de conjecturas, sobre por que razão a ex-senhora Theakis lhe atirara a mala e o insultara. O jornalista incluíra uma fotografia de arquivo de Theo Theakis, vestido de smoking e acompanhado de uma loira muito bem vestida, à entrada de um hotel de luxo em Atenas. A expressão dela era tão impassível como a do seu chefe naquele momento.

No entanto, ela não fora tão impassível no dia anterior. Além disso, nada disfarçava o regozijo com que o artigo de mexerico estava escrito.

– Descobre quem falou com estes parasitas e despede-o! – ordenou Theo, antes de continuar a tomar o pequeno-almoço.

Efectivamente, era implacável. Demetrious compadecia-se de qualquer pessoa que se enganasse com Theo. Como a sua ex-mulher. Perguntou-se porque teria feito aquilo. Já deveria saber que era uma perda de tempo. Andava a persegui-lo há semanas e ele não cedera nem um milímetro. Podia esquecer aquilo que tanto queria. Ela já não existia para Theo Theakis.

Demetrious virou-se para partir. Tinham-no incumbido de fazer algo, que não lhe agradava, mas, de qualquer forma, tinha de o fazer.

– Outra coisa…

Demetrious parou. Aqueles olhos pretos tinham um olhar gélido.

– Diz à senhora Theakis que venha cá esta noite, às oito e meia.