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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Maureen Child

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Seduzida pelo chefe, n.º 1304 - julho 2017

Título original: Strictly Lonergan’s Business

Publicada originalmente por Silhouette® Books.

Este título foi publicado originalmente em português em 2010

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-218-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

– É muito fácil – disse Kara Sloan a si própria ao mesmo tempo que lançava um rápido olhar ao espelho retrovisor. – Ele abre a porta, e tu dizes: «Deixo o trabalho».

Exacto.

Se fosse tão fácil tinha-o feito há seis meses atrás. Melhor dito, há um ano atrás.

No momento em que percebeu que tinha cometido o tremendo erro de se apaixonar pelo chefe.

O problema era que, cada vez que o chefe, Cooper Lonergan, se aproximava, o seu cérebro deixava de funcionar e era tudo emoção. Desfazia-se só de olhar para ele. Era olhar para os olhos pretos daquele homem e derretia-se.

Ainda não sabia como tinha ocorrido. Não o tinha planificado. Trabalhava há cinco anos como assistente de Cooper Lonergan e tudo correra bem durante os quatro primeiros anos. Tinham sido amigos e sempre se tinham dado bem no trabalho. Até que, de repente, há um ano, ela tinha percebido que o amava.

E desde aquele fatídico dia não fazia mais do que sofrer.

Não podia culpar Cooper por não se ter apercebido da mudança dos seus sentimentos por ele. Como poderia sabê-lo? Para Cooper, ela era uma coisa a que estava tão acostumado como ao sofá de couro vermelho de sua casa. Era igualmente confortável.

Só ela era a culpada da situação na qual se encontrava. Tinha mudado as regras do jogo, mas ele não sabia.

Nada aconselhável.

– É por isso que tens de deixar o trabalho – insistiu Kara, contemplando o reflexo dos seus olhos verdes no espelho retrovisor. – Enche-te de coragem e diz-lhe.

Respirou profundamente, soltou o ar e assentiu. Podia fazê-lo. Ia fazê-lo.

Murmurando para si, saiu do carro, fechou a porta com força e ficou a contemplar a ampla casa vitoriana que Cooper tinha alugado para o Verão. Era uma casa acolhedora que parecia estar à espera dela para lhe dar as boas-vindas.

Era uma estupidez, mas sentia pena por não poder ficar ali. Lamentava ter de se ir embora e voltar para Nova Iorque dentro de duas semanas.

Em frente da casa havia uma clareira com relva e estava rodeada de velhas árvores. As vidraças das janelas brilhavam à luz do sol; o alpendre estava decorado com vasos de flores resplandecentes sob o sol da manhã estival.

Inalou o perfume das flores e da relva acabada de cortar; também lhe chegou o cheiro do mar a poucos quilómetros de distância. Sempre se tinha considerado uma mulher de cidade; feliz em Manhattan, entre a multidão e o ruído do tráfego.

Mas o campo também tinha o seu encanto. A tranquilidade. As cores. O ritmo lento da vida ali. No entanto, não fazia sentido acostumar-se a isso.

Quando os saltos altos se desequilibraram ligeiramente na gravilha do caminho, pensou que era a mesma coisa que lhe passava a ela. Não andava há um ano inteiro a oscilar em companhia de Cooper? Além disso, se não tivesse perdido o juízo, teria feito a viagem com calças de ganga e ténis. Mas não… tinha de estar bonita para ir vê-lo. Embora o mais certo fosse ele não prestar atenção alguma à sua indumentária.

Apertando os dentes, Kara admitiu que, mesmo que fosse nua, Cooper não repararia nela.

E era precisamente por isso que tinha de deixar o trabalho. Era muito duro. Muito doloroso estar apaixonada por um homem que só a via como a assistente mais eficiente do mundo.

– É culpa minha – murmurou ela virando costas à casa e aproximando-se da bagageira do carro.

Pulsou um botão na chave do carro alugado, e a bagageira abriu-se lentamente, como se fosse a tampa de um caixão num velho filme do Drácula.

Trabalhavam bem juntos, riam-se muito, e ela tinha tido a satisfação de saber que fazia bem o seu trabalho e que Cooper não podia amanhar-se sem ela. Mas tinha estragado tudo ao mudar as regras do jogo.

Nem sequer sabia quando tinha ocorrido, quando tinha deixado de ver Cooper como chefe e tinha começado a ter sonhos eróticos com ele à noite. Cooper tinha-a feito apaixonar-se por ele sem sequer ter isso como objectivo, e tinha o descaramento de não dar por nada.

Por isso tinha de deixar o trabalho. Por isso tinha de se ir embora antes que fosse tarde demais. Tal como a sua melhor amiga, Gina, lhe tinha dito na noite anterior, tratava-se de uma emergência.

Gina tinha-a convidado para uns copos e tinha-lhe dado um sermão, que considerava ser o dever de uma amiga.

– Sabes perfeitamente que esse homem não vai mudar.

– Porque deveria mudar? – tinha-lhe perguntado Kara, picando com um palito a azeitona do seu Martini como se fosse um alienígena a ponto de apoderar-se do mundo. – No que a ele respeita, está tudo sobre rodas. Tudo é maravilhoso.

– Exacto – Gina pestanejou, levantando a mão para chamar o empregado para que lhes levasse outra rodada e depois virou a atenção de novo para a amiga. – Há quanto tempo está na Califórnia, três dias?

– Sim.

– E já te telefonou aproximadamente umas cem vezes.

Certo. O telemóvel, sempre ligado para que Cooper pudesse localizá-la no momento em que a necessitasse, tinha estado a tocar com alarmante regularidade. Kara olhou para o relógio. Tinham transcorrido vinte minutos desde a última chamada.

– Trabalho para ele.

– É muito mais do que isso, Kara – disse Gina, inclinando-se sobre a reluzente mesa do bar até as pontas do seu cabelo loiro comprido a tocarem. – A última vez que te telefonou queria que lhe dissesses como fazer café. Tem trinta e tantos anos e não sabe fazer um café sem ajuda?

Kara desatou a rir.

– Tem trinta e um, e sim, sabe fazer café, mas fica horrível.

Gina não via nada engraçado nisso. Abanou a cabeça e recostou-se.

– Minha amiga, és a única responsável daquilo que te passa. Tornaste-te indispensável para ele.

– E isso é assim tão mau? – Kara agarrou o copo que lhe acabavam de trazer e cravou os olhos na azeitona.

– É, quando o Cooper Lonergan te vê como se fosses um robô bem programado – Gina bebeu um golo do Martini e moveu o copo no ar. – Não repara em ti, e nunca o fará.

– Bolas! Animas-me cá de uma forma!

– É a verdade.

– Pode ser.

– Bom, que vais fazer a esse respeito? – perguntou Gina. – Vais prosseguir como estás até seres uma velha solteirona e te perguntes como desperdiçaste a tua vida dessa maneira? Não seria melhor que o deixasses antes de ser demasiado tarde?

Essa era a questão, pensou Kara, voltando ao presente e olhando para o interior da bagageira do carro. Sabia que Gina tinha razão. Ela não tinha futuro com Cooper à margem de como sua assistente. Mas isso não era suficiente.

Não, já não era.

Um vento fresco que arrastava cheiro a mar agitou os galhos das árvores e revolveu-lhe o cabelo. Ela apanhou-o atrás das orelhas, lançou um suspiro e tirou duas malas da bagageira do carro; a mais pequena continha os pãezinhos da loja preferida de Cooper, o excelente café sem o qual ele não podia escrever e cinco sacos de marshmallows.

O homem tinha uns gostos mais apropriados a uma criança de dez anos. Kara sorriu para si mesma, parecia-lhe enternecedor que Cooper necessitasse ter sempre as suas bolachas preferidas.

No entanto, no mesmo segundo, repreendeu-se. Não era enternecedor, mas irritante. Isso mesmo, irritante.

Assentindo para si, rezou para ter o valor de apresentar a sua demissão no momento em que se encontrasse lado a lado com Cooper. Dar-lhe-ia duas semanas para encontrar alguém que a substituísse temporariamente durante o Verão na Califórnia; depois, quando Cooper voltasse a Manhattan, encontraria uma substituta permanente.

E ela… quanto mais rápido voltasse para Nova Iorque, melhor.

Com esta renovada decisão, avançou para a porta da casa. «Trata-se só de um trabalho. Encontrarás outro em breve, um melhor. Não necessitas do Cooper».

Quase se tinha convencido quando a porta se abriu, a velha porta de grades embateu na fachada da casa e Cooper Lonergan apareceu no alpendre.

Alto e esbelto, vestia o uniforme nova-iorquino: calças pretas e camisa preta. Os rasgos faciais eram fortes e angulosos, os cabelos pretos roçavam-lhe os ombros. Os olhos escuros brilharam à luz do sol; quando sorriu, Kara sentiu como se acabasse de levar um murro no ventre. Talvez fosse porque Cooper não sorria com frequência, mas quando o fazia…

O homem era irresistível.

– Kara!

Cooper desceu os cinco degraus do alpendre e, com duas passadas, chegou até ela, oprimida pela força dos sentimentos. Ele abraçou-a com força e depois soltou-a.

– Graças a Deus que já chegaste.

Uma leve esperança embargou-a.

– Tiveste saudades minhas?

– Se tive saudades tuas?! – exclamou ele. – Nem imaginas quantas. Fiz café esta manhã e sabia a água de lavar os pés.

A realidade dissipou aquela leve esperança. Não, Cooper não tivera saudades dela. Quando ela ia de férias, três semanas por ano, Cooper não tinha saudades dela. Ele tinha saudades do que ela fazia por ele. Porque iria agora ser diferente?

– Por favor, diz-me que trouxeste o meu café e as minhas bolachas.

Kara suspirou, aceitando a verdade.

– Sim, Cooper, trouxe o teu café e as tuas bolachas. Ainda que estejas muito crescidinho para quatro anos.

– Excelente! – Cooper ignorou o comentário. Na verdade, também a ignorava a ela, pensou Kara.

Cooper agarrou a mala dela e encaminhou-se para a casa.

– Trouxeste também a roupa da lavandaria?

– Sim, está na bagageira.

– E o pão especial que te encomendei? Não me digas que te esqueceste, por favor.

Kara abanou a cabeça e seguiu-o. Dez segundos com ele e já tinha assumido o seu papel. Que tinha ocorrido com a promessa que fizera a si própria? Não teria força de vontade? Porque não o olhava nos olhos e lhe dizia que deixava o trabalho?

Kara respirou profundamente e quase lançou um grunhido. Cooper também cheirava bem.

– Sim, lembrei-me do pão – murmurou ela, zangada consigo mesma e com ele. – Nestes cinco anos, quando é que me esqueci?

– Nunca – respondeu Cooper, piscando-lhe um olho, e a ela tremeram-lhe as pernas. – É por isso que não posso viver sem ti.

Umas palavras pronunciadas com ligeireza e facilidade. Mas ela sabia que, para Cooper, essas palavras não significavam nada. Embora… Oxalá fossem verdade!

Cooper instou-a a entrar na casa, desviando-se para a deixar passar. Os saltos dela bateram no soalho de madeira antes de parar e, deitando o longo cabelo castanho para trás, se voltar para observar o que a rodeava.

Cooper olhou-a com detenção pela primeira vez desde a sua chegada. Ele já estava ali há três dias, mas tinha passado a maioria desses três dias no quarto, sentado a trabalhar.

Bom, a tentar trabalhar. Na verdade, tinha passado a maioria do tempo a fazer solitários, coisa que não ia ajudá-lo a entregar o trabalho a tempo.

– É uma casa linda – disse Kara com os olhos vidrados num candeeiro de bronze dependurado do centro da sala de estar.

Cooper olhou à volta, reparando nas enormes poltronas estofadas com um tecido cor-de-rosa velho. Um enorme tapete cobria a maioria do arranhado chão de madeira, e as paredes amarelas pareceram-lhe animadas inclusive a ele. A empresa encarregada da manutenção da casa, a mesma empresa que lha tinha alugado, tinha feito um grande trabalho.

– Há quem diga que há fantasmas na casa.

Ela olhou-o com fascinação.

– A sério?

Cooper assentiu.

– Quando era pequeno, passava os verões aqui, em Coleville, com o meu avô e os meus primos – as lembranças assaltaram-no, a força das emoções revividas quase o deixaram sem respiração. Suprimiu-as imediatamente, fechando a porta aos sentimentos. – À noite, vínhamos de bicicleta até esta casa, contávamo-nos histórias de medo e vagueávamos por aqui à espera de ver alguma aparição.

Cooper encolheu os ombros, sorriu e acrescentou:

– Nunca vimos nada.

– E nestes três dias?

– Nadinha.

– Que desilusão! – comentou Kara.

Cooper voltou a sorrir. Sempre podia contar que Kara visse as coisas de forma similar a ele. Como escritor de livros de terror, tinha gostado da ideia de alugar a casa encantada que tanta fascinação tinha exercido nele quando pequeno.

Mas deveria ter suspeitado que os únicos fantasmas que iria encontrar ali naquele Verão eram os fantasmas do seu passado. Imediatamente interrompeu o fio dos pensamentos. Não ia tomar esse caminho.

– Enfim, só ficava a três quilómetros da casa do meu avô, portanto era fácil vir aqui – disse Cooper encolhendo os ombros.

– A propósito, como está o teu avô?

– É uma longa história… mas está bem.

– Mas a médica disse que ele estava a morrer…

– Como disse, é uma longa história – interrompeu Cooper. – E agora diz lá, porque demoraste tanto tempo a chegar? Estava à tua espera ontem.

– Já te disse que ia precisar de três dias para fechar a tua casa e tratar de tudo.

– Tens razão. O que acontece é que esses três dias se tornaram eternos para mim. És a melhor, Kara. Dei-te algum aumento de salário ultimamente?

– Não.

– Anota-o na lista. Enfim, o importante é que já estás aqui.

Ela sorriu-lhe, e Cooper acrescentou:

– Contigo em casa, por fim poderei trabalhar. Pode não parecer, mas não fiz uma refeição decente desde que me vim embora.

O sorriso dela desvaneceu-se.

– A loja de comestíveis de Coleville não faz entregas a domicílio, portanto terás de ir até lá fazer as compras – com a mala na mão, Cooper dirigiu-se para as escadas. – Vou deixar as tuas malas. Ficam no quarto em frente ao meu. Tem uma linda vista. Temos de partilhar a casa de banho, mas não será um problema. Poderemos estabelecer um horário e…

– Cooper!

Cooper deteve-se, voltou a cabeça para olhá-la e, de novo, lançou-lhe um dos seus deslumbrantes sorrisos.

– Fico muito contente por te ver, Kara. E não te preocupes, sei o que ias dizer.

– A sério?

– Naturalmente – respondeu ele. – A mim acontece-me o mesmo. É estupendo voltar à normalidade.