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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Barbara Schenck

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O filho do aristocrata, n.º 1116 - setembro 2017

Título original: One-Night Love-Child

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-265-8

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

A carta apareceu como se tivesse caído do céu.

– Não sei o que é, milorde – a senhora Upham segurou o envelope manchado e meio rasgado com uma expressão de desaprovação. – Está muito… sujo.

Deixara o resto da correspondência na secretária de Flynn, perfeitamente dividida como sempre fazia. Os assuntos da propriedade no monte maior. A correspondência de admiradores e de assuntos editoriais no monte médio. As cartas pessoais da sua mãe ou do seu irmão, pois nenhum dos dois parecia saber o que era um telefone, no terceiro monte.

Tudo muito organizado, como se ele conseguisse fazer o mesmo com a sua vida.

«Boa sorte», pensou.

Como a sua vida naquele momento girava à volta de Dunmorey, um castelo com quinhentos anos, húmido e em mau estado, cheio de retratos de antepassados que olhavam com desdém para os esforços de Flynn para, literalmente, manter um tecto sobre eles, das quintas circundantes, das terras e dos arrendatários, do seu irmão, Dev, fanático por cavalos, com grandes planos para reconstruir os estábulos de Dunmorey e sem dinheiro para o fazer, e da sua mãe, cuja decisão depois do falecimento do seu pai, sete meses antes, fora: «Precisamos de te arranjar uma noiva», Flynn não acreditava que a senhora Upham o achasse divertido.

A única coisa que poderia agradar-lhe seria deitar a carta fora.

O seu pai tê-lo-ia feito.

O oitavo conde de Dunmorey nunca tivera paciência para nada que não fosse apropriado e tradicional. Numa ocasião, até deitara fora uma carta que Flynn rabiscara num saco de papel quando estivera a trabalhar numa zona de guerra.

– Se não te dás ao trabalho de escrever uma carta em condições, eu não posso dar-me ao trabalho de a ler – dissera-lhe o seu pai.

Flynn passava quase todos os dias a tentar enfrentar as exigências de Dunmorey, enquanto no interior da sua cabeça ouvia a ladainha incessante do falecido conde a dizer: «Eu sabia que não ias conseguir».

O seu pai nunca acreditara que fosse capaz de salvar o castelo. Ser um bom conde. Dedicado e responsável. Estar à altura do seu título.

– Milorde? – insistiu a senhora Upham.

Com o queixo tenso, levantou o olhar. Precisava de rever aqueles números outra vez, verificar se, de alguma forma, havia dinheiro suficiente para pôr o telhado novo e reconstruir os estábulos antes de Dev chegar do Dubai com o seu novo garanhão.

Não tinha dinheiro suficiente.

Tinha mais possibilidades de entrar na lista de livros mais vendidos do New York Times com o livro novo que ia ser publicado nos Estados Unidos no mês seguinte. Pelo menos tinha talento para as entrevistas chocantes, para as histórias interessantes, para a palavra escrita.

Fora o seu trabalho, onde se sobressaíra, antes de o título de conde ter mudado a sua vida.

Contudo, não pensava abandonar Dunmorey, apesar de a batalha para evitar que o castelo irlandês caísse aos bocados ser difícil. Era a sua obrigação, não a sua vocação. Algo que, com franqueza, por não ser o primogénito, nunca pensara ter de fazer.

No entanto, como tudo o resto na sua vida naquela altura, herdara o castelo e abdicara da sua vida.

O seu falecido pai teria dito que o merecera.

E talvez fosse verdade.

Não era o que ele teria escolhido, porém, estava decidido a provar ao seu pai, apesar de estar morto, que conseguia fazê-lo.

– Tudo de que precisa está aqui, milorde – disse a senhora Upham. – Então, devo deitar isto fora?

Flynn resmungou e voltou a ler o remetente.

– Quer uma chávena de chá, milorde? O seu pai gostava de beber um chá enquanto lia a correspondência.

Flynn apertou os dentes.

– Não, obrigado, senhora Upham. Não preciso de nada.

Aprendera que, aos olhos da senhora Upham, nunca seria como o seu pai, o que francamente agradecia, pois assim possuía a sua própria versão de «a voz da autoridade».

Sempre que a usava, a senhora Upham entendia-o.

– Muito bem, milorde – assentiu e saiu da divisão.

Bem poderia ter sido o rei da Inglaterra.

Voltou a rever os números. Contudo, continuaram sem lhe dar o total que queria. Suspirou e recostou-se na cadeira. Esfregou os olhos e mexeu os ombros. Dentro de uma hora, tinha uma reunião com um empreiteiro nos estábulos para estudar o que era preciso fazer antes de Dev trazer o garanhão, dentro de quinze dias.

Como o cavalo era um vencedor e, por isso, uma forma de ganhar dinheiro, os estábulos eram uma prioridade absoluta. As rendas e os direitos de autor não eram suficientes para manter Dunmorey.

O castelo pertencia à sua família há mais de trezentos anos. Já vira tempos melhores e, apesar de ser difícil acreditar, também piores. Para Flynn, representava a encarnação física do lema familiar: Eireoidh Linn, que significava mais ou menos: «Triunfaremos apesar da adversidade».

O seu pai sempre dissera aos seus convidados ingleses que queria dizer «Sobreviveremos!».

Até àquele momento, assim fora. No entanto, como o castelo não tinha dívidas, podia ser vendido.

Por enquanto, não tinham sido obrigados a isso e Flynn não pensava desistir.

Assim que o garanhão começasse a ganhar e se o seu livro tivesse sucesso as coisas melhorariam. Entretanto…

Levantou-se e começou a andar de um lado para o outro no escritório. Ia a regressar à secretária quando os seus olhos repararam no envelope no fundo do cesto de papéis.

Estava tão sujo e tão estragado como a senhora Upham dissera. No entanto, ficou intrigado.

Viu que era dirigido a ele meia dúzia de vezes. Uma recordação da sua antiga vida.

Baixou-se e tirou-o do cesto de papéis. O remetente era da revista Incite, de Nova Iorque.

Franziu o sobrolho. Há algum tempo escrevera alguns artigos para aquela revista. Contudo, há anos que não escrevia nada para a Incite.

O seu pai sempre dissera que aqueles artigos eram banalidades e lamentara-se que não tivesse sido suficientemente bom para escrever sobre notícias a sério, sobre assuntos que realmente interessassem.

De facto, fora um bom jornalista. A sucessão de moradas no envelope indicava os locais onde o provara: em África, no Oriente, na Ásia Central, na América do Sul e no Médio Oriente.

Um atrás do outro, cada lugar mais quente do que o anterior.

Olhou para o envelope, surpreendido pelas lembranças que evocava… Memórias do entusiasmo, do desafio, da vida.

Analisou novamente a caligrafia firme, mas feminina, que havia debaixo das outras. Não a reconheceu. Era espantoso que aquela carta tivesse chegado até ele. O único selo nacional dos Estados Unidos fora carimbado pela primeira vez há cinco anos.

Cinco anos?

Nessa altura estava no coração de uma selva sul-americana, a escrever uma «história real» sobre uma guerra entre tribos no século XXI.

Nessa altura, não se preocupava com o perigo. O seu irmão mais velho, Will, a quem o seu pai sempre chamara «o herdeiro», morrera há alguns meses. E, dependendo do ponto de vista, e se olhasse para a situação da mesma forma que o conde, a morte de Will fora culpa sua.

– Ia ao aeroporto buscar-te! – exclamara o conde, sentindo apenas a sua dor, sem nunca reconhecer a de Flynn. – Eras tu quem vinha para casa para recuperar! Eras tu quem tinha levado um tiro!

Porém, não fora ele que morrera.

Fora Will, o firme, sensato e responsável Will, que parara a caminho do aeroporto para ajudar um motorista a mudar um pneu e que fora atropelado por um carro.

Era difícil saber quem ficara mais consternado, Flynn ou o seu pai.

Certamente, depois de recuperar do tiro, ao decidir perseguir uma daquelas «notícias a sério, notícias que realmente interessavam», ninguém, muito menos o seu pai, colocara objecção alguma por partir para cobrir a guerra entre tribos na América do Sul.

Nunca ninguém dissera nada sempre que escolhera um trabalho mais perigoso do que o outro depois da morte do seu irmão.

No entanto, sem se importar se era perigoso ou não, sem querer saber dos tiros que podia levar, ele não morrera e acabara por herdar tudo quando o seu pai morrera com um ataque de coração.

Agora era conde. Já não viajava pelo mundo. Estava preso no castelo Dunmorey.

E uma carta com cinco anos, que o perseguira por todo o mundo, encontrara-o finalmente.

Abriu-a. Viu uma folha branca. Desdobrou-a e viu que a carta era breve.

 

Flynn, esta é a terceira carta que te escrevo. Não te preocupes, não vou escrever-te mais. Não espero nada de ti. Não quero nada. Só pensei que tinhas o direito de saber.

O bebé nasceu esta manhã às oito horas. Pesa três quilos e cento e cinquenta gramas. É forte e saudável. Vou pôr-lhe o nome do meu pai. Vou ficar com ele. Sara.

 

Flynn olhou para as palavras, tentou entendê-las, situá-las num contexto em que fizessem sentido.

«Não espero nada… tinhas o direito de saber… o bebé».

Sara.

O papel tremeu nos seus dedos. O seu coração acelerou. Começou a ler outra vez, mas pela assinatura. Sara.

Uma imagem de uns olhos castanhos intensos, de uma pele delicada e suave, de um cabelo curto e de uns lábios doces surgiu na sua mente.

Sara McMaster.

A deslumbrante e deliciosa Sara, do Montana.

«Meu Deus!»

Olhou para a carta como se tivesse compreendido o seu significado.

Sara estivera grávida. Sara tivera um bebé.

Um menino…

O seu filho.

 

 

Era dia de São Valentim.

Sara sabia porque na noite anterior ajudara Liam, de cinco anos, a escrever o seu nome em vinte e um cartões de São Valentim, com desenhos de criaturas mutantes que diziam «Sê minha» e «Sou teu».

Também sabia porque fizera biscoitos de chocolate com açúcar para Liam levar para a festa da sua turma do jardim-de-infância.

Também sabia porque, pela primeira vez desde que Liam nascera, ia ter um encontro a sério.

Adam Benally convidara-a para jantar. Era o administrador no rancho de Lyle Dunlop. Chegara a Elmer há alguns meses, vindo do Arizona. Viúvo, com um passado do qual raramente falava, fora sincero quando dissera «estou a tentar esquecer o passado». Tinham-se conhecido porque ela tratava da contabilidade do rancho onde ele trabalhava.

– Não podes isolar-te para sempre – dissera a sua mãe, Polly, mais de uma vez. – Lá porque tiveste uma má experiência…

Sara deixou que a sua mãe falasse, porque era o que Polly fazia. E muito. Para além disso, provavelmente tinha razão quando dizia que estava isolada.

No entanto, não fora uma má experiência. Pelo menos, não fora má enquanto durara. Tinham sido os três dias mais maravilhosos da sua vida. E então…

Nada.

Aquela era a parte má. Aquela era a parte que fazia com que apertasse os punhos cada vez que pensava nele, a que fazia com que hesitasse em voltar a confiar num homem.

Contudo, por fim, aceitara ir sair com Adam. Decidira voltar a tentar. Um jantar seria o primeiro passo.

– Já estava na hora – dissera Polly quando Sara lhe contara. – Fico contente. Precisas de enterrar alguns fantasmas.

Só um.

Um que via sempre que olhava para o seu filho, pois o menino tinha os mesmos olhos verdes e o cabelo preto do seu pai.

Afastou aquele pensamento. Não era altura para pensar nele.

Liam podia reavivar a sua memória, porém, Flynn fazia parte do passado. Normalmente, passava dias inteiros sem pensar nele. Porém, nesse dia, por ser dia de São Valentim, por ter aceitado o convite de Adam, por estar decidida a matar duas lembranças numa noite, aquele pensamento não parava de surgir na sua mente.

O passado era passado. Precisava de se concentrar no futuro… Em Adam.

O que esperaria ele? Fez chá, pensou no que vestir para o jantar, em como ser encantadora e fazer conversa. Um encontro era como falar uma língua estrangeira que não praticara. Era uma coisa que raramente fizera antes de…

Não!

Com determinação, levou a chávena de chá para a mesa e começou a trabalhar. Se conseguisse acabar a contabilidade da loja de ferragens antes de Liam chegar da escola, então poderia descansar, talvez até pudesse sair com ele e fazer um boneco de neve ou uma guerra de bolas de neve. Alguma coisa que a distraísse.

Liam ia passar a noite em casa da sua tia Celie, que vivia na rua acima com Jace, o seu marido, e os seus filhos.

– Porquê a noite toda? – quisera Sara saber quando a sua tia se oferecera para ficar com Liam. – Só vamos jantar. Não vou passar a noite com ele!

– Bom, talvez depois queiras convidá-lo para beber alguma coisa em tua casa – comentara Celie com inocência. – Uma chávena de café – acrescentou com um sorriso.

Sara sabia tão bem como ela que não pensava fazer nada depois do jantar. Ainda não.

Como diabos pudera passar seis anos sem ter um único encontro?

Pensou que não tivera tempo.

Dedicara os primeiros três anos depois do nascimento de Liam ao curso de Contabilidade e depois a estabelecer-se. Entre o seu filho, a universidade e os trabalhos que aceitara para pagar as contas, não tivera tempo para conhecer nenhum homem.

Nem quisera fazê-lo.

Fora demasiado imprudente da primeira vez. Dessa vez, ia ter calma, o que significava um jantar e, talvez, um beijo rápido nos lábios. Sim, conseguiria fazê-lo.

Contudo, primeiro tinha de trabalhar.

Uma das vantagens do seu trabalho como contabilista freelancer era que podia estabelecer os seus horários e trabalhar a partir de casa. Isso permitia-lhe estar com Liam quando este chegava do jardim-de-infância. O inconveniente era que era fácil distrair-se… Como naquele dia. Não havia ninguém para a controlar. Era mais tentador ir ao seu armário para decidir o que ia vestir ou fazer uma chávena de chá e falar com Sid, o gato, em vez de se concentrar no trabalho.

Por isso, obrigou-se a sentar-se à mesa da cozinha, que também servia como secretária, e olhou para as contas da loja de ferragens.

Foi interrompida por alguém a bater à porta da frente e, com o susto, entornou o chá sobre uma folha do livro de contas.

– Bolas!

Foi ao lava-loiça e arrancou um guardanapo de papel para absorver o líquido, amaldiçoando o mensageiro, que era o único que batia à porta da frente. Este costumava levar-lhe material de escritório. Porém, não se lembrava de…

Bang, Bang, Bang!

Não era o mensageiro, que normalmente só batia uma vez, depois regressava à sua carrinha e partia. Nunca batia duas vezes.

Bang, Bang, Bang!

Muito menos três.

– Espere! – gritou. – Já vou!

Foi à porta e abriu-a… ao fantasma que a perseguia.

«Meu Deus!»

Estava a alucinar. Assustada com a ideia de voltar a ter um encontro, invocara um dos cantos mais escuros da sua mente.

Amaldiçoou a sua mente, pois o seu fantasma estava mais atraente do que nunca. Alto, esbelto, com ancas estreitas, mas com os ombros ainda mais largos do que recordava. Até imaginara o seu cabelo preto com uns fios grisalhos. Devia ter suavizado a sua aparência, para que parecesse mais gentil. Mas não. Parecia tão sensual e letal como sempre.

– Sara.

A sua boca esboçou um sorriso devastador.

Ela conhecia aquele sorriso. Lembrava-se demasiado bem dele. Beijara aqueles lábios. Ouvira as suas gargalhadas, as suas palavras, os seus gemidos, a sua paixão.

Corou. De repente, sentiu o calor que tentara esquecer.

– Ficaste muda?

A sua voz, com um leve sotaque irlandês, fez com que se arrepiasse. Era como se um fantasma lhe tivesse tocado.

– Vai-te embora – disse, fechando os olhos, rejeitando a alucinação, as lembranças… o homem. Disse para si que era tudo por ter aceitado sair com Adam. Reavivara as lembranças que guardara no fundo da sua mente.

Fechou os olhos com força e contou até dez, no entanto, quando os abriu, ele continuava ali.

Tinha umas calças de ganga, uma camisola preta e um casaco verde. Não fazia a barba há um ou dois dias. Tinha os olhos avermelhados. Porém, estava a olhar para ela com uma expressão divertida. Quando sorriu perante o seu desconcerto, viu que tinha um dente partido. Não acreditava que a sua alucinação tivesse criado aquele dente.

Por isso, só podia ser real.

O que era pior. Seis anos antes, Sara sonhara com aquele momento. Agarrara-se à esperança de que regressaria a Elmer, a ela. Durante nove meses, fizera planos, tivera esperanças. E ele nunca aparecera. Nunca telefonara. Nunca escrevera.

Naquele instante, como se tivesse caído do céu, estava à sua porta.

Sentiu um aperto no coração. Sentiu uma fúria e uma dor tão intensas que teve de engolir em seco várias vezes até encontrar a sua voz.

Quando finalmente conseguiu falar, rezou para que parecesse calma e desinteressada.

– Flynn.

Flynn Murray. O homem que levara o seu amor, que lhe dera um filho e que a deixara sem olhar uma única vez para trás.

A culpa era dela. Ela sabia. Nunca lhe prometera ficar. Nunca lhe prometera nada… excepto que a magoaria.

E magoara-a.

Certamente, naquela época não pensara que conseguisse fazê-lo. Tinha dezanove anos, era ingénua e estava mais apaixonada do que pensara ser possível. Conhecera Flynn de forma inesperada, quando este fora à sua pequena cidade para fazer uma reportagem sobre um cowboy famoso. Fora estranho, casual, quase como se tivesse encontrado a sua cara-metade.

Sempre fora pragmática e sensata. Tivera objectivos desde que se tornara suficientemente crescida para saber soletrar a palavra. Conhecer Flynn e apaixonar-se por ele mudara tudo. Chegara à sua pequena cidade e virara o seu mundo do avesso.

Fizera com que desejasse coisas que nunca sonhara desejar e, durante algumas semanas, pensara que seria possível.

No entanto, descobrira o que era a dor e ultrapassara-a. Sabia que não podia permitir que voltasse a acontecer o mesmo. Nunca mais.

– Estás muito bonita – disse. – Mais bonita do que eu me lembrava.

Ela apertou o queixo.

– Tu estás mais velho – replicou.

E mais sério. Continuava atraente, claro. Talvez ainda mais, de uma forma mais rústica. Com vinte e seis anos, Flynn Murray fora só alegria, sensualidade e encanto irlandês. Com trinta e dois anos parecia um sobrevivente, um homem que acabava de chegar da guerra.

Tinha imensos cabelos grisalhos e uma cicatriz na testa que desaparecia entre o cabelo.

Levar uma vida como a dele devia ter sido mais difícil do que ela imaginara. Com ironia, pensou que devia ter sido muito difícil perseguir celebridades por todo o mundo.

Flynn encolheu os ombros.

– Sabes o que dizem… Não são os anos, são os quilómetros.

– Não tenho dúvidas de que percorreste uns quantos – comentou num tom sarcástico. Não precisava dele. Não precisava que agitasse a sua vida, as suas esperanças, o seu filho. – O que fazes aqui? – perguntou.

Como se conseguisse ler-lhe os pensamentos, da mesma forma que destabilizara a sua vida de todas as formas imagináveis, Flynn respondeu:

– Vim conhecer o meu filho.