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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1997 Jennifer Greene

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Coraçâo partido, n.º 251 - outubro 2017

Título original: Nobody’s Princess

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-614-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Alex Brenna não se considerava um herói, mas acreditava que um homem devia respeitar certos valores inquestionáveis; os fortes deviam proteger os fracos e as pessoas decentes deviam agir de acordo com os seus princípios, assim como salvaguardar a sua honra a todo o custo.

Contudo, desde há duas semanas, em concreto, desde o dia em que a sua noiva o deixara no altar, começara a aperceber-se de que, ao longo da história, houvera muitos heróis com um problema em comum: os tipos bons tinham azar com as raparigas. Bogart, por exemplo, acabava sozinho no filme Casablanca; Clark Gable nunca chegara a conseguir Scarlett e Kevin Costner arriscara a sua vida por Whitney Houston para depois separar-se dela.

O entardecer caía sobre as ténues e sombrias estantes da biblioteca, e uma brisa de magnólias entrava pelas janelas adentro. A biblioteca estava deserta, o que lhe permitia meditar tristemente sem que ninguém o incomodasse. Tirou um lápis do estojo e começou a esboçar algo, sumido nas suas reflexões.

Tudo isso de heróis soava muito bem, mas… Até podiam cortar a cabeça a dragões, levantarem impérios ou salvar a humanidade de tremendas desgraças, porém, serem bons rapazes não parecia assegurar-lhes o êxito com as mulheres. De facto, dava a impressão de que elas se sentiam muito mais atraídas pelos maus da fita; parecia que o cavalheirismo e a bondade aborreciam-nas solenemente.

Um som fê-lo erguer a cabeça. Alguém deixara cair um livro num dos corredores próximos. Depois, ouviu-se uma asneira, bela e contundentemente expressada por uma mulher. Alex ficou surpreendido com aquele incidente que, por sua vez, lhe quebrara a sensação de solidão; mas não lhe prestou grande atenção.

Estava rodeado por um forte de livros. Teoricamente, entrara na biblioteca para preparar a aula do dia seguinte. Sabia que, em geral, os alunos do instituto gostavam tanto de estudar História como ele nos seus tempos de estudante… motivo pelo qual quebrara a tradição dos Brennan e cometera a loucura de se tornar professor.

Na realidade, não lhe restara outra opção, pois Alex pensava que alguém tinha de convencer os jovens de que a História era emocionante, era um registo das façanhas e misérias do espírito humano. Se ninguém conseguisse fazer entender aos alunos as falhas que as gerações anteriores tinham cometido, também eles acabariam por repeti-las. Ensinar História consistia em reviver os heróis de todos os tempos e apresentá-los como modelos de comportamento.

Claro que para isso tinha que despertar o interesse daqueles jovens. Era um enorme desafio tentar captar a sua atenção, falando-lhes da Idade Média, mas Alex decidira amenizar as aulas com alguma aventura como a do Rei Artur. Daí que estivesse fechado num castelo de livros na biblioteca. Os ideais daquele rei, a honra, a lealdade, a justiça e o cavalheirismo, eram os principais responsáveis pelo fim da obscuridão daquele tenebroso período da humanidade, no qual Camelot devia ter sido o país da verdade e da imparcialidade, do amor e da beleza como máxima inspiração do ser humano.

Mas o Rei Artur também ficara sem miúda, pois Lancelot, um cavaleiro mais novo e atraente que ele, arrebatara-lha.

Alex sabia que não era o Rei Artur, mas, contudo, conhecia bem esse sentimento de perda. Demasiado e dolorosamente bem.

Um segundo livro caiu ao chão no corredor ao lado e depois outro, ambos seguidos por um amplo reportório de injuriosas palavras, procedentes da mesma voz feminina de antes.

Alex suspirou. Ninguém, absolutamente ninguém, além dele, jamais passeava pela secção de mitos e lendas. E muito menos em Maio, em plena febre primaveril. Não teria ele direito de estar sozinho e compadecer-se em paz?

Não. Acabara de colocar o lápis sobre a mesa de trabalho quando uma mulher apareceu pela esquina a correr até ele com uma torre de livros nos braços.

Por um momento, ficou tão gelado como o iceberg do Titanic. E não porque a mulher em questão fosse grande, mas porque era evidente que não podia com os livros e que estava louca por deixá-los sobre a mesa dele, antes de deixá-los cair todos ao chão.

Alcançou-a e, então, o seu mar de livros começou a cair sobre os dele. Uns acabaram por derrubar-se no chão e outros sobre o colo de Alex.

Os palavrões começaram a surgir uns atrás dos outros. Estar sem alento não parecia impedi-la de recitar o seu vocabulário menos próprio e, de repente, de forma totalmente inexplicável, a desconhecida desatou a rir à gargalhada.

– Desculpa! Nem imaginas o dia que tive hoje – desculpou-se desde o início. – Primeiro uma coisa, depois outra… Tem calma, eu apanho-os. Não é preciso ajudares…

Mas ajudar uma dama em apuros fazia parte do código de valores com que crescera. De todos os modos, a sua delicadeza deveu-se, nesse caso concreto, a uma questão de sobrevivência, pois só Deus sabia o que é que aquela mulher podia fazer se a deixassem.

Ajudou-a a apanhar os livros e quando, por fim, terminaram, ela conseguira misturar as obras que Alex ordenara meticulosamente.

– Ai, desculpa! Desculpa!

– Não tem por que desculpar-se. Estas coisas acontecem de vez em quando.

– Devia ter ido buscá-los por duas vezes, mas tentei poupar tempo ao levá-los todos de uma vez e, claro, como eram tantos e tão grandes…

– Nota-se.

– Deves ter pensado o pior de mim, mas pensei que estava sozinha. Como nunca há ninguém nesta zona… Tenho o ar condicionado de minha casa avariado e precisava de trabalhar algumas horas num sítio fresco… Importas-te que me sente na tua mesa?

Alex preferia estar sozinho. A Biblioteca Pública de Silvertree possuía duas enormes salas vazias para que ela escolhesse outro lugar onde sentar-se e, no entanto, aquela mulher tinha que escolher precisamente a sua mesa, para grande incómodo seu.

– Em absoluto – respondeu, apesar de tudo, com a educação que o caracterizava. Depois, enterrou a cabeça num dos seus livros.

Em seguida, ela deixou de respirar apressadamente e de soprar. Por fim, sentou-se. Acabou de reorganizar os livros e acalmou-se.

No entanto, Alex não conseguira fazê-lo. Aquela mulher era-lhe vagamente familiar. Silvertree era um lugar pequeno. Talvez tivessem estado ao mesmo tempo nalguma bomba de gasolina ou na mercearia. Qualquer homem repararia nela.

Media bastante menos que o metro e oitenta e seis de Alex, mas a sua constituição, por assim dizê-lo, podia provocar bastantes acidentes; não haveria condutor que não se estampasse ao virar a cabeça para a ver passar. O seu cabelo era de um castanho acaramelado, chegava-lhe aos ombros e estava constelado por sedosos caracóis sem qualquer ordem nem controlo. Tal como ela mesma.

Um brinco sob a forma de sol caía-lhe de um lóbulo e uma lua balançava-se na outra orelha. Vestia uma t-shirt vermelha, justa ao ponto de provocar um ataque cardíaco a quem a observasse, e uma saia larga de vivos vermelhos e laranjas. As suas sandálias deixavam ver o encarnado das suas unhas que, por sua vez, condizia com o batom dos lábios. Levava mil pulseiras que batiam umas contra as outras cada vez que fazia um movimento.

Alex não queria olhá-la indiscretamente, mas a desconhecida mexia-se muito. O facto é que cada vez que lhe lançava um olhar, logo de seguida, mais velozes que as más notícias, os grandes olhos femininos surpreendiam-no.

Não era o que se entende por uma beleza, mas a sua cara ovalizada, a sedosa e pálida pele, os pómulos marcantes e aquela boca tão sensual tornavam-na, sem dúvida, numa mulher muito desejável. A saia escondia-lhe as pernas, mas a justa t-shirt revelava com clareza duas voluptuosas e firmes curvas, que não deixavam lugar à imaginação.

Era… Alex deteve-se em busca de um adjectivo adequado. O primeiro que lhe ocorreu foi sexy, mas pareceu-lhe um termo machista e acabou por substitui-lo por perigosa.

Não que tivesse algo contra aqueles cativantes olhos castanhos ou contra a sua forma tão bizarra de se vestir, ou contra os seus vermelhos e hipnotizantes lábios; simplesmente, não era o seu tipo… ao contrário de Gwen.

A sua ex-namorada era pequena, uma dama por dentro e por fora, de falar delicado e modos perfeitos, inclinada a vestir-se com roupas que condiziam sempre com os seus olhos azuis, e o cabelo louro. Ela encarnava tudo quanto Alex sempre desejara numa mulher… até deixá-lo plantado no altar e fugir com Lance, um atraente jovem, dez anos mais novo que ele.

– Pareces triste.

– Desculpa? – perguntou Alex, despertando do seu sonho.

– Não penses que costumo ser indiscreta – avaliou-o com o mesmo olhar que um polícia olha para um suspeito, – mas dá a impressão de que estás muito triste com alguma coisa. Estás bem?

Não, não estava nada bem; mas não tencionava responder àquela mulher tão curiosa. De repente, ela esboçou um lindo sorriso e os seus olhos iluminaram-se. Depois, inclinou-se para a frente sobre a mesa, deixando a descoberto um generoso decote.

– Chamo-me Regan. Regan Stuart. Tenho a certeza de que já nos vimos nalgum lado… Nas aulas da universidade?

– Não. Sou professor de História, mas dou aulas num instituto.

– Eu também sou professora e pensei que te tinha visto na Universidade Whitaker. Bom, como é que te chamas?

– Alex Brannen – respondeu. Não queria apresentar-se, mas não conseguiu negar-se a dar-lhe a mão, pois isso não seria nada cortês da sua parte. A pele feminina era suave, muito suave e mais quente à luz do sol.

Regan retirou a mão logo de seguida, mas aquele leve toque bastou para que o pulso de Alex se acelerasse, em clara resposta ao seu sex-appeal. Não entendia: ele estava apaixonado por Gwen e esta sempre lhe inspirara sentimentos ternos, e carinhosos, que nada tinham a ver com aquela fogosa atracção sexual que acabara de sentir.

Sentiu-se culpado e nervoso; pelo que decidiu enfiar as mãos nos bolsos para dissimular a sua inquietação.

– É um prazer conhecer-te, Alex – comentou Regan num tom amistoso. – Normalmente, sou a única que pára pela secção de mitos e lendas, por isso senti curiosidade ao ver todos os teus livros… Estás a preparar uma aula?

– Estou, e ainda tenho muito que fazer.

Felizmente, ela entendeu a indirecta e calou-se… durante dois segundos.

– Gostas de ensinar?

Alex era incapaz de se concentrar. Gostaria de conseguir não lhe ligar nenhuma, mas aquela mulher era demasiado especial para não reparar nela.

– Sim, adoro dar aulas – retorquiu, com certo tom de obstinação; a obstinação que necessitara para vencer a oposição da família que não entendia o que diabo é que Alex estava a fazer ao dar aulas num instituto. Mas ele não se importava com aquilo que os outros pensavam; já estava habituado a não ser compreendido.

– Eu também. Adoro trabalhar com jovens. Na realidade, nem sei o que é que faria se não fosse professora – comentou Regan, inclinando-se novamente para a frente, oferecendo uma vez mais aquela vista tão prometedora. – Diz-me uma coisa… todos estes livros são sobre o Rei Artur e Camelot, não são? Mas não disseste que davas aulas de História?

– Sim, mas estamos a dar a Idade Média e os meus miúdos não parecem nada entusiasmados com a Batalha de Hastings.

– Estou como eles. Vejo que o Rei Artur vai ser-lhes de maior agrado.

– Qualquer coisa é melhor que a Idade Média. E não vejo por que é que não hei-de lhes contar a lenda de Camelot. Boa parte dos conceitos políticos sobre a igualdade e a democracia procedem dos ideais de Artur… – Alex nem podia acreditar que estivesse a convidar Regan para prosseguir aquela conversa.

– Sim, quando era pequena adorava a história de Camelot. Não acredito em heróis, mas o Rei Artur parecia ser um bom tipo. Que pena que fosse tão palerma na vida real.

– Palerma?

– Sim, palerma; os seus ideais eram maravilhosos, mas olha para a gente que o rodeou. Confiou em Lancelot, que lhe roubou a namorada mesmo em frente ao seu nariz, e apaixonou-se por Guinevere, possivelmente uma das mulheres mais parvas de todos os tempos. Se ela tivesse tido um pouco de juízo, ter-se-ia apercebido que Artur era um melhor partido que Lancelot.

– Acho que não entendes a atitude do Artur – respondeu Alex que, a seu pesar, estava cada vez mais interessado naquela conversa. – Ele simplesmente acabou por aceitar que ninguém pode controlar a pessou que se ama. Ele nunca culpou Lancelot nem Guinevere por serem fiéis aos seus sentimentos.

– Acreditas mesmo nessa patetice?

– Patetice?

Regan olhou-o fixamente com um sorriso franco: tinha olhos azuis, cabelo escuro e tinha a barba grande, porque era muito despistado e esquecia-se de se barbear. Alex não entendia o que é que uma mulher tão sensual podia ver nele.

– Bom, nunca dei aulas sobre o Rei Artur, mas não és o único que sabe de mitos e lendas. Este ano estou a preparar três seminários sobre esse tema.

– Mitos e lendas?

– Sim, para adultos. Para mulheres. Por outras palavras, todas essas lamechices em que acreditámos ao longo da história sobre cavaleiros de armaduras brilhantes, heróis e finais felizes.

– Tu achas que os heróis são umas lamechices?

– A verdade é que…

– Não os admiras? – interrompeu-a, completamente indignado. – Não achas que uma parte essencial do nosso trabalho como professores é apresentar modelos de comportamento aos nossos alunos?

– Claro, mas também acho que as mulheres andam há muitos anos à espera que lhes apareça um cavaleiro andante e na vida real não existem príncipes encantados. Guinevere é um exemplo perfeito: ficou aparvalhada por Lancelot, um don Juan que traiu o melhor amigo que andava a fazer de herói… Estás com muito melhor cara.

– De todas as interpretações que já ouvi, essa é sem dúvida… – de repente, assimilou o último comentário da sua interlocutora. – Desculpa, o que é que disseste?

– Que estás com muito melhor aspecto que há bocado – replicou, apoiando o queixo entre as mãos. – Estás com mais cor nas faces e os teus olhos quase que deitam faíscas. Ainda há pouco, estavas tão triste que até parecia que tinhas perdido o teu melhor amigo.

– É que, de facto, estou triste – não compreendia como é que lhe revelara algo tão pessoal.

– Alguma mulher?

– E não uma qualquer; aquela que ia casar comigo até me deixar plantado no altar – comentou, frustrado. Era incrível: até àquele momento esquivara-se a todas as pessoas que tinham tentado aproximar-se dele para o consolar ou falar sobre Gwen. No entanto, Regan possuía algo especial…

– Ora essa! Pensei que fosse algo desse género – respondeu ela, agarrando-lhe prontamente a mão para o reconfortar. – Lamento imenso. De certeza que estás a passar um mau bocado.

Uma trabalhadora da biblioteca empurrava um carrinho de livros por um corredor próximo dali e um raio de luz entrava pela janela com fragrâncias de magnólia. Tudo parecia normal… excepto pela perturbadora presença de Regan.

Não podia sentir compaixão por um homem que quase nem conhecia e, no entanto, Alex tinha a sensação de que ela o compreendia. O seu olhar era sincero e empático.

– Aonde é que íamos? – mudou de assunto.

– Sim… eu estava a dizer que não acredito em heróis e é evidente que tu acreditas. Adoro discutir sobre esse assunto, mas não costumo falar com desconhecidos – sorriu picaramente.

– Ninguém diria – respondeu ele, com ironia.

– Bom, adoro este assunto. Além disso, pareceu-me que precisavas de te distrair um pouco. Às vezes, faz bem falar com alguém que nem sequer conhecemos. Ao fim e ao cabo, que mal é que tem?

Era esse o problema: aquela parecia uma conversa inofensiva, mas Regan não deixava de o olhar profunda e suavemente. Finalmente, contou-lhe a sua história: a história de um homem que espera casar até encontrar a sua alma gémea; e também lhe confessou que conhecera a mulher perfeita e que a perdera há muito pouco tempo. Alex já não sabia em que acreditar depois de Gwen o ter abandonado.

Regan ouviu-o durante muito tempo, colocando-lhe novas perguntas cada vez que o silêncio surgia no ar. Hipnotizou-o por completo até já não saber o que dizer e, de repente, ficaram ambos calados, como o entardecer e os seus fracos raios de sol. E, subitamente, o encanto ou feitiço quebrou-se.

– Santo Deus! – exclamou ela, depois de olhar para o relógio. – Não pensei que fosse tão tarde. Tenho que me ir embora.

E rapidamente agarrou na sua mala e em três livros, levantou-se e deu-lhe um beijo. Se Alex imaginasse sequer que ela iria beijá-lo, tentaria fugir a todo o custo para a Patagónia ou tê-la-ia detido a tempo, ou teria reagido de forma selvagem como um homem que perdeu o juízo de repente.

Mas o beijo foi tão fugaz que nem lhe deu tempo para tomar qualquer dessas decisões. Quase não pudera desfrutar da suavidade daqueles lábios sobre o seu rosto e Regan já estava a arrumar o resto dos livros, pegando num deles, vociferando… e desaparecendo velozmente tal como aparecera pela primeira vez.

Alex permaneceu imóvel durante vários minutos. O coração batia-lhe com força e as mãos suavam com grande intensidade. A última vez que tivera aqueles sintomas devera-se a um furacão que assolara toda a costa da Carolina do Norte.

Não podia ser verdade aquilo que acontecera. Ele sempre atraíra mulheres calmas e sossegadas, enquanto que Regan era puro dinamite. Nunca abrira o seu coração daquela maneira a nenhuma outra mulher…

Devia ser um transtorno causado pelo cansaço. Há vários dias que não dormia bem, obcecado com Gwen, tentando compreender em que é que falhara… até que, finalmente, descobrira que ela fugira com outro. Sim, tinha que ser isso: um transtorno causado pelo cansaço acumulado.

Alex começou a colocar os seus livros nas respectivas estantes. Não, aquilo não acontecera: fora apenas uma invenção, uma fantasia, um produto da sua imaginação. Mas, então, por que é que se sentia tão impressionado? Por acaso, uma ilusão podia ser tão sensual e insinuante como aquela mulher? Impossível. Regan era tão real como os sentimentos que despertara nele.

Mas ela não acreditava em heróis. Alex interrogava-se por que é que seria tão céptica. Certamente, também ela sofrera algum desgosto.

Não lhe contara nada sobre a sua vida e Alex não sabia se voltaria a encontrá-la de novo. Mas era provável que sim: numa cidade tão pequena como Silvertree, não demoraria a tropeçar novamente com ela. Claro que um encontro tão estranho como o daquela tarde nunca mais se repetiria.