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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Fiona Harper

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Convidada para o baile, n.º 1217 - Março 2016

Título original: Invitation to the Boss’s Ball

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2010

 

Reservados todosos direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7758-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

O antigo cetim cor de ostra tinha uma textura maravilhosa: suave, não escorregadia como as imitações modernas. Qualquer pessoa que visse o vestido de cocktail ansiaria tocar nele. E foi o que Alice fez, explorando-o com os dedos e acariciando a faixa que formava um laço justo sob a linha do peito. Não era um simples vestido. Era um pedaço de História, uma obra de arte.

Pendurou-o cuidadosamente num cabide com tecido floral e, depois, pô-lo numa das barras laterais da banca. A próxima coisa que tirou da caixa era muito diferente, mas igualmente fabulosa: uma saia preta comprida, dos anos setenta, de veludo suave.

– Nunca acabaremos de montar a banca se não te despachares – queixou-se Coreen.

Alice olhou para a sua melhor amiga e futura sócia. Naquele dia, parecia acabada de sair de um anúncio de máquinas de lavar roupa dos anos cinquenta. Tinha um vestido com bolas vermelhas e brancas, com saia larga e o cabelo escuro ondulado preso num rabo-de-cavalo. O seu cabelo abanava enquanto arrumava luvas, malas de noite bordadas e sapatos na mesa coberta de veludo que servia de expositor da sua banca, a banca de roupa de época por excelência.

Em comparação, Alice tinha um aspecto muito normal. Como muitos outros vendedores, tinha preferido o conforto ao estilo. Tinha umas calças de ganga e uns velhos ténis de desporto. Coreen rira-se do enorme casaco polar que roubara a um dos seus irmãos mais velhos. Sem dúvida, não era o epítome da moda, mas também não chamava a atenção. Era comum em todos os sentidos.

– Olá, Gengibre!

Alice suspirou e levantou a cabeça. O homem que todos chamavam «Dodgy Dave» no mercado de Greenwich sorria.

– Anima-te, querida. Pode nunca acontecer! – gritou ele, com a sua alegria habitual.

Demasiado tarde. Já acontecera. Há exactamente seis semanas e dois dias. Mas não ia falar com Dodgy Dave sobre o seu coração partido. Abanou a mão e sorriu. Dave levantou um polegar e continuou a empurrar o seu carrinho de mão de «antiguidades» para a sua banca.

Era verdade que tinha uma coisa que não era comum: o seu cabelo. Contudo, na verdade, não era nenhuma vantagem. As pessoas amáveis diziam que era ruiva. Os mais imaginativos tinham chegado a chamar-lhe cor de mogno. Porém, era cor de gengibre.

– Não continuarás a pensar em Paul? – Coreen estalou os dedos à frente do seu rosto.

«Obrigada, Coreen», pensou ela. Durante alguns minutos perdera-se na textura e na cor das roupas maravilhosas, porém, o comentário de Coreen devolveu-a ao mundo real.

– Acabámos há pouco mais de um mês. Uma rapariga tem direito a lamber as feridas, não te parece?

– Não sei porque não o deixaste, depois do kebab. Eu tê-lo-ia feito – resmungou Coreen.

Alice suspirou, arrependendo-se de ter falado com Coreen sobre a noite desastrosa. Arranjara-se e até estreara um vestido para ir jantar com Paul, mas ele quisera experimentar um novo jogo de computador e comer um kebab em casa. Enquanto montava a consola com os companheiros de apartamento dela, atirara-lhe o kebab embrulhado em papel. Caíra no seu colo e manchara o seu vestido. Paul nem sequer percebera que passara vinte minutos na casa de banho, zangada.

Disse para si que Paul tentara. Ele não tinha de saber que esperara um jantar romântico, em vez de outra noite em casa com os rapazes. Nunca se queixara antes.

Não esperara que chegasse de limusina e a tratasse como uma princesa. Porém, teria sido bom se a tratasse como uma rapariga para variar.

– Não é de estranhar que tenhas tanto azar com os homens – disse Coreen. – Devias tatuar «Bem-vindo» na barriga, praticamente convidas os tipos a pisarem-te.

Alice esticou o pescoço e olhou para uma das entradas do mercado. Eram quase onze horas de uma quinta-feira, não era o dia mais ocupado da semana, mas alguém apareceria mais cedo ou mais tarde e, com sorte, libertá-la-ia da tortura de Coreen.

– Não convido os homens a pisarem-me! – protestou num tom fraco, mas desafiante.

– Claro que o fazes – Coreen inclinou a cabeça.

Não valia a pena discutir. Coreen era vivaz e atrevida: o brilho dos seus olhos e a sua forma de andar paravam o trânsito. Alice sabia porque vira como ela causava um choque entre dois carros. Coreen não entendia o que significava carecer de interesse para os homens.

Embora Coreen não gostasse dele, Paul era um encanto. Demasiado apreciador de jogos de computador e parco em detalhes, mas gostava dele. Pensara que conseguiria apaixonar-se por ele. No entanto, ele sentia a falta da sua ex-namorada e acabara por voltar para ela. Alice dedicara-se a comer chocolate e a sentir-se rejeitada e estúpida.

– Às vezes, numa relação é preciso fazer concessões – disse, desejando que algum dos outros vendedores habituais se aproximasse para conversar.

Alice era realista. Os homens não iam travar ao vê-la a andar pela calçada ou jurar-lhe amor eterno. Porém talvez encontrasse um homem agradável com quem assentar.

Continuava a ter os seus sonhos, mas o príncipe encantado podia ficar no seu castelo. Ela seria feliz com um homem normal que quisesse uma mulher normal.

No entanto, isso era impossível de explicar a Coreen, que esperava e exigia devoção constante dos homens da sua vida.

– Eh! – um braço rodeou os seus ombros e sentiu o perfume de Coreen. – Não esqueças que, embora as relações signifiquem fazer concessões, não és tu que tens de as fazer todas, está bem?

Aquilo parecia bem em teoria, contudo, nenhum homem ia cair aos seus pés ao vê-la. À falta de beleza, era preciso personalidade para dar uma boa primeira impressão. Alice não carecia dela, porém, era um pouco tímida e precisava de tempo para relaxar com pessoas que não conhecia. Não havia muitos tipos dispostos a sentarem-se e a ouvirem uma rapariga se não fosse bonita. Era um círculo vicioso.

No entanto, descobrira que contava com uma arma para interactuar com os membros do sexo oposto. Por volta dos catorze anos, percebera que era invisível para o género masculino. Os rapazes estavam dominados pelas suas hormonas e babavam-se por raparigas que tinham atributos mais óbvios do que ela. Portanto, Alice transformara-se num deles. Ou quase.

Não fora difícil. Nunca dominara as técnicas femininas que deixavam os adolescentes loucos. Portanto, tornara-se amiga deles. E quando as suas divas os deixavam, convidavam-na para sair com eles. Não fora um plano premeditado, porém, tornara-se um padrão que ela não fizera nada para quebrar. Todos os seus ex-namorados elogiavam o seu carácter sereno e directo.

– É muito fácil estar contigo – diziam, rindo-se de como tinham corrido de um lado para o outro para satisfazerem os caprichos das suas anteriores namoradas.

Ela podia ser sua amiga. E a amizade era uma base sólida para uma coisa mais permanente. As raparigas bonitas eram boas a curto prazo, contudo, a longo prazo entravam em jogo outras qualidades. Alice oferecia lealdade, sinceridade e apoio.

Olhou para Coreen. Era verdade que Paul não fora o seu homem. Tinha de olhar para o futuro e concentrar-se no seu trabalho.

– Acredita em mim, Coreen, não estou preocupada com nada senão com esta roupa.

– Assim é que eu gosto! – Coreen deu-lhe uma palmada nas costas. – Porém, não podes sonhar acordada com cada peça. Não é bom apaixonares-te por estas coisas. São fabulosas, sim, mas quando chegar alguém disposto a pagar por elas, vendê-las-ei com um sorriso na cara.

Alice assentiu. Sabia que Coreen tinha razão.

– Temos um negócio para gerir – afirmou Coreen, semicerrando os olhos.

– Tecnicamente, até arrendarmos uma loja e sermos sócias, tu tens um negócio. Enquanto isso, eu só estou a evitar o meu emprego «sério», como o meu pai lhe chama.

Coreen resmungou com desdém e Alice sorriu. Adorava aquele aspecto da sua amiga. Só ela consideraria que vender roupa em segunda mão nos mercados do sudeste de Londres era um trabalho a sério e que a consultoria informática de Alice era uma perda de tempo.

Na verdade, o seu emprego a sério estava a ser muito útil naquele momento. Permitia-lhe estabelecer o seu próprio horário e estar livre para ajudar Coreen. Além disso, algumas das empresas pagavam muito bem. Ia investir todas as suas economias no seu sonho: a loja de roupa de Coreen, com armazém e escritório. Um lugar em que Gladys e Glynis, os dois manequins que Coreen salvara de um contentor, estariam secos e quentes.

Naquele momento, chegou uma rajada de ar frio. Embora fosse num corredor com telhado e rodeado de lojas, o mercado de Greenwich era ao ar livre e o vento não parava de o açoitar. Alice ajustou o cachecol e Coreen fechou o casaco. Enfrentar os elementos fazia parte da vida das feiras, mesmo que se vendesse peles e cetim. Alice não estava preparada para o que aconteceu depois.

Coreen estivera na liquidação de uma herança no dia anterior e voltara com roupas maravilhosas. Obviamente, os herdeiros não apreciavam o seu valor. Muita gente rejeitava a roupa usada e não via a beleza inerente das roupas, que acabavam no lixo ou transformadas em panos.

O vestido de cocktail de cetim e a saia de veludo eram apenas parte do espólio. Alice levantou uma capa azul e ficou gelada ao ver o que havia por baixo: uns sapatos perfeitos.

Estudara História da Moda e sabia que as sandálias eram de princípios dos anos cinquenta. Eram pretas e mal estavam usadas. Elegantes e simples, excepto por uma pequena fivela de diamantes na lateral. Porém, os saltos eram especiais. Eram transparentes. Não de plástico barato, mas duros e sólidos, e reflectiam a luz como o vidro. Alice levantou um com reverência e mostrou-o a Coreen.

– Fabulosos, não são? Juro que se tivesse o pé mais pequeno, teria ficado com eles.

– Segundo a etiqueta, são trinta e oito, tu calças trinta e nove. De certeza que não os queres?

– É tamanho americano – Coreen abanou cabeça. – Para nós, equivale a um trinta e sete.

Um trinta e sete. Incrível. Era coisa do destino.

Eram exactamente o que uma rapariga de vinte e oito anos devia usar diariamente, não mocassins ou os sapatos de salto que Coreen preferia.

– São meus – sussurrou Alice. – Quanto queres por eles?

– Paguei cinquenta libras pela caixa inteira, venderei o seu conteúdo por cinco vezes mais. São teus.

– A sério?

– A sério – piscou-lhe um olho. – Conheço esse olhar. É o de uma rapariga que se apaixonou até à medula. Vá lá, experimenta-os.

Alice sentou-se na cadeira e tirou os ténis e as meias. Nem sequer sentiu o frio enquanto introduzia o pé no sapato direito, rezando para que Coreen tivesse razão em relação ao tamanho.

Ficava perfeito. Moldava-se ao seu pé como se tivesse sido feito para ela. Quando calçou o outro e levantou as calças de ganga, deu um gritinho. Os sapatos davam aos seus tornozelos magros um aspecto muito sexy.

– De que são feitos os saltos? – perguntou.

– De plexiglas. É um tipo de polímero. Estava muito na moda nos anos cinquenta e não só para sapatos. Acho que tenho uns brincos de plexiglas dourados entre os meus tesouros – apontou para o expositor de madeira e vidro cheio de joalharia. – Mas o mais interessante são as malas.

– Malas? – Alice olhou para ela, atónita. – Disto?

– Sim, são como caixinhas com asas. Há de muitas formas e cores. São artigos de coleccionador, porque poucos sobreviveram. Em boas condições, valem centenas de libras.

– Caramba!

Coreen voltou a concentrar-se na banca e Alice olhou para os seus pés e virou os tornozelos. Não era uma rapariga que costumava emocionar-se com coisas tão femininas e frívolas como uns sapatos, mas quase lhe doeu voltar a calçar as meias e os ténis.

 

 

Cameron Hunter estava à frente da janela que ocupava um dos lados do seu escritório. A cerca de duzentos e vinte metros sobre o nível do mar, tinha à sua frente uma das vistas mais espectaculares de Londres. Era como se a cidade se tivesse prostrado aos seus pés. Olhou para a água prateada que brilhava nos molhes, sob um céu nebuloso.

Devia sentir-se como um rei.

E era assim na maioria dos dias. Geria a sua própria empresa de software antes de fazer trinta e cinco anos. Uma empresa que criara com apenas um empréstimo que não podia pagar e uma ideia que o acordara a meio da noite.

E ali estava. As pessoas que o tinham maltratado e gozado com ele na escola podiam ver diariamente a prova do erro que tinham cometido ao desprezá-lo.

Melhor ainda, quando iam trabalhar e ligavam o seu computador, provavelmente usavam o seu software inovador. Quando mudara a Soluções Orion para aqueles escritórios, sorrira cada vez que olhava pela janela.

No entanto, ultimamente… Às vezes, sentia… Abanou a cabeça, eram tolices.

– Senhor Hunter? – ouviu-se pelo intercomunicador.

– Sim? – não mexeu a cabeça. Falava sempre baixo, porém, sabia que Stephanie o ouvia.

– Sei que pediu para não o incomodarem, senhor Hunter, mas surgiu uma coisa urgente.

– Entra para ma contares – pediu ele, virando a cabeça para o intercomunicador.

Ficou quieto, a olhar para a porta. Não estava habituado a esperar. Não era impaciente, porém, as pessoas estavam dispostas a fazer tudo por Cameron Hunter.

Depois de bater à porta, Stephanie espreitou. Fez-lhe um gesto para que entrasse e ela parou tão perto da soleira como pôde. Custara-lhe encontrar uma nova assistente pessoal desde que Aimee o deixara para ter filhos e concentrar-se em ser mãe. Oferecera-se para lhe duplicar o salário, porém, Aimee rejeitara a oferta.

Aimee não tivera medo dele. Porém, Stephanie, assim como as suas três predecessoras, saltava cada vez que ele abria a boca. Não o incomodava que os seus empregados o respeitassem. Não era o tipo de chefe que falava de crianças e animais de estimação e não esperavam isso dele. Esperavam que estivesse no comando e que pagasse os seus salários e bónus. Sabiam que estava entregue à empresa, que trabalhava arduamente e que recompensava a lealdade. A sua vida pessoal era privada. Ele não se envolvia na vida dos seus empregados e eles retribuíam o favor.

Stephanie retorceu as mãos, nervosa. Cameron suspirou.

– Os japoneses telefonaram porque tiveram um atraso no aeroporto. Perguntaram se poderíamos adiar a reunião até às três.

– Está bem. Organiza-o, por favor.

Ela assentiu e saiu rapidamente.

Ele voltou para a sua secretária. Antes de se sentar acariciou a caixa de jóias, quadrada, plana e vazia, que havia junto do telefone. Até há muito pouco tempo houvera uma mulher na sua vida que não tremia de medo ao vê-lo.

Jessica Fernly-Jones. Uma favorita da alta sociedade.

A mulher que qualquer homem de Londres ansiava ter nos seus braços. Durante algum tempo fora dele. O seu triunfo, a sua conquista.

Fizera-o suplicar antes de aceder a sair com ele regularmente. Não se importara porque fazia parte do jogo, do sacrifício para ganhar o prémio. Tudo o que valia a pena exigia um sacrifício. Quando finalmente acedera a jantar com ele, adorara os olhares de inveja do resto dos homens enquanto atravessavam o restaurante.

Porém, dois meses depois, as exigências e os jogos continuavam. Começara a perguntar-se se valia a pena tanto esforço por uma mulher.

Obtivera a resposta na noite em que lhe dera a caixa. Outras mulheres teriam exclamado e ter-se-iam entusiasmado ao verem o logótipo exclusivo da caixinha. Jessica arqueara uma sobrancelha e esboçara um sorriso sexy. Um sorriso que dizia que sabia que valia cada quilate que a caixa continha e mais.

Levantara a tampa e vira o seu conteúdo. Era um pendente de diamante.

– É lindo, Cameron – dissera, com uma careta. – Mas, não te lembras? Queria o diamante cor-de-rosa, não um branco e aborrecido. Não te importas de o trocar, pois não?

Naquele momento, Cameron soubera, com certeza, que não voltaria a estar com Jessica. Não fizera nenhuma cena. Tinham ido jantar e explicara-lhe a sua posição antes de Jessica se ir embora.

Finalmente, tinha o seu pequeno império e pensava que precisava de uma mulher ao seu lado, alguém com quem partilhar a sua riqueza. Enquanto criava o negócio sempre pensara que seria alguém como Jessica. No entanto…

Dirigiu-se para a janela. A vista começava a aborrecê-lo. Por sorte, isso mudaria em breve.

 

 

– Alice? Alice Morton?

Alice não ouvia aquela voz há muitos anos. Levantou o olhar para a mulher loira, vestida com elegância, que sorria.

– Jennie? Não consigo acreditar!

A mulher que tinha à sua frente era pura sofisticação. Mas o seu sorriso resplandecente e a sua aura de excitação continuavam presentes. Alice abraçou-a.

Uma tosse discreta à sua esquerda recordou Alice o que estivera a fazer há segundos.

– Desculpe! Aqui tem – deu o troco à cliente que acabara de atender.

cocktail

– É fantástico – murmurou.

– Experimenta – sugeriu Coreen. – Tenho um acordo com Annabel, a dona da loja de roupa de crianças. Deixa que os meus clientes usem os seus provadores e eu dou-lhe a primeira opção de compra de tudo o que tiver em lamé dourado.

– Vá lá, sabes que te apetece – disse Alice. – O vestido é lindo, mas precisas de ver se fica bem. Às vezes, uma coisa parece perfeita no cabide, mas não fica bem quando a vestes.

– E outras – interpôs Coreen, – encontras uma coisa que se supera. Como se o vestido se fundisse contigo para criar… uma visão.

Alice sorriu. Alegrou-a ver que Coreen também se rendia à magia. Jennie foi com o vestido para a loja de Annabel.

– Vais ver! – Coreen bateu no braço de Alice. – Um dia vestirás um vestido e acontecer-te-á!

– Sim, claro… Isso nunca acontecerá.

– Vais ver.

A única forma de lidar com Coreen quando ficava assim era dar-lhe a razão e mudar de assunto.

– Tens razão, alguns vestidos parecem mágicos.

Conseguiu desviar a conversa para os desfiles de moda que os vendedores de roupa de época organizavam todos os anos para anunciarem as suas colecções de Primavera e Outono. Eram sempre um sucesso e Coreen tinha muitas histórias para contar.

Jennie saiu da loja de Annabel e olhou-se ao espelho que Coreen tinha ao lado da banca.

– Ena! – exclamaram Alice e Coreen.

Ficava impressionante. A cor pálida complementava perfeitamente o tom da sua pele e o corte acentuava as suas curvas. O vestido fazia com que parecesse quase translúcida.

– Eu bem disse – afirmou Coreen. – É o vestido dela.

Talvez Coreen tivesse razão, porém, não era difícil estar fabulosa quando se tinha o estilo de Jennie. Era alta e esbelta, com curvas. Encontrar um vestido equivalente para uma mulher mais angulosa do que curvilínea e sem quase sem peito seria um milagre.

– Não importa o preço – disse Jennie, virando-se à frente do espelho. – Tem de ser meu.

Coreen sorriu para Alice. Jennie foi mudar de roupa. Regressou com uma expressão pensativa.

– Antes ouvi-vos falar dos desfiles – olhou para elas. – Tenho uma proposta para vos fazer. Se não me engano, a minha ideia ajudar-vos-á a conseguir essa loja que procuram.