sab874.jpg

6213.png

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Trish Morey

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O amor não se vende, n.º 874 - Março 2016

Título original: The Italian’s Virgin Bride

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2005

 

Reservados todosos direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7919-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Domenic Silvagni só tinha lido uma terça parte do relatório quando tocou o intercomunicador pela segunda vez, nos últimos cinco minutos. Resmungou, zangado, enquanto batia com a caneta contra a mesa.

Outra vez o seu pai.

Ninguém conseguia escapar à defesa férrea da senhora Hancock, o rottweiler humano que lhe tinham atribuído como secretária durante a sua visita ao hotel que a cadeia Silvers possuía em Sydney. Uma eficiência tão desumana era precisamente o que Domenic precisava se queria terminar de analisar aquele relatório. Entre a enorme montanha de dados, que se desdobrava naquela análise de mercado, encontrava-se a solução para os fracos resultados que a cadeia hoteleira estava a ter na Austrália. E Domenic estava empenhado em encontrá-la antes do voo que o levaria a Roma nessa mesma noite.

No entanto, parecia que não servira de nada ter pedido para não lhe passarem chamadas, porque ali estava o seu pai, a abusar dos seus privilégios. Domenic não estava com paciência para aguentar outro sermão, sobretudo se estivesse relacionado com as malditas fotografias. As duas fotografias que tinham aparecido na revisteca Apanhados em Flagrante. Ele sempre acreditara que a sua vida privada era, unicamente, assunto dele, mas a revista acabava de a transformar em algo público.

Guglielmo Silvagni sabia perfeitamente que a imagem de mulherengo que tinham dado do seu filho era pura invenção, mas, mesmo assim, estava muito aborrecido.

– Podias encontrar algo melhor do que essas modelos e actrizes – repreendera-o o pai. – Procura alguém inteligente, uma mulher com garra, que te faça sofrer um pouco.

Emma e Kristin ter-se-iam ofendido, com razão, se conseguissem ouvir a opinião que o seu pai tinha sobre elas. Ao fim e ao cabo, nem sequer as modelos ou as actrizes conseguiam o que quer que fosse graças à sua beleza, mesmo que fossem muito belas.

Também eram muito ciumentas. Ambas tinham ficado muitíssimo zangadas ao verem as fotografias na revista.

Sem dúvida alguma, aquele assunto fora muito incomodativo para todos, mas não seria por isso que ia fazer o que o pai lhe pedia. Ele não pensava numa esposa ou numa família, por muitas vezes que o seu pai insistisse para que se apressasse.

Demasiado tarde! Mas só tinha trinta e dois anos. Estava no auge da vida.

A luz continuou a piscar no intercomunicador. «Mentiroso», parecia estar a dizer. Domenic voltou a resmungar, de frustração, «será que estou a começar a pensar como o meu pai», e levantou o auscultador.

– Diga ao meu pai que lhe telefonarei mais tarde. Quando tiver terminado este relatório.

– Sinto muito, senhor Silvagni, mas não… não é o seu pai…

Hancock tinha mudado o seu tom de voz cortante e parecia, inclusive, um pouco nervosa.

– É uma mulher…

Domenic cerrou os dentes. Conseguia compreender que Guglielmo Silvagni tivesse atravessado as linhas defensivas. Ao fim e ao cabo, ele era a cadeia Hotéis Silvers. Com o seu pai, o avô de Domenic, tinha convertido uma pequena pensão de Nápoles num êxito internacional de cinco estrelas. Embora vivesse retirado numa villa da Toscana, depois de ganhar uma longa batalha contra o cancro, o seu pai ainda exercia muito poder. Mas, uma mulher?

– Disse-lhe que não me passasse nenhuma chamada.

– Não está ao telefone – interrompeu ela habilmente, antes que tivesse oportunidade de terminar a frase. – Está aqui. Disse que se tratava de algo urgente, que o senhor quereria vê-la.

Domenic recostou-se sobre as costas da poltrona de couro enquanto tamborilava com os dedos no bordo da mesa.

– Quem é? – perguntou, ao mesmo tempo que a sua mente fazia um rápido resumo do paradeiro das suas últimas conquistas. A última notícia de Emma dava conta de que estava no Texas, a rodar um filme, Kristin estava em Marrocos, a fazer uma reportagem para a Vogue. De qualquer modo, nenhuma das duas lhe dirigia a palavra desde a publicação daquelas malditas fotografias, portanto, nenhuma delas sabia que se encontrava na Austrália.

– O nome dela é Opal Clemenger. Do Clemengers… Os proprietários de três prestigiosos hotéis. Há um aqui perto, em…

– Eu sei o que é o Clemengers e onde ficam os seus hotéis – interrompeu-a bruscamente. – O que quer?

– Diz que tem um negócio para o senhor. Uma oportunidade que não poderá recusar. Mando-a entrar?

 

 

Opal conteve a respiração, apertando com força os documentos que tinha reunido com a esperança de poder falar com ele, sem aviso prévio. Certamente, já tinha conseguido despertar a sua curiosidade; estaria a perguntar-se o que fazia no seu escritório a proprietária do único hotel de seis estrelas de Sydney.

E teria de a deixar entrar. O futuro do Clemengers e dos seus empregados dependia disso.

– Diga-lhe que marque uma reunião – disse a voz do outro lado do intercomunicador. – Estarei de volta daqui a duas semanas. Na verdade, vou ficar a trabalhar aqui. Pode-me trazer um café e algo para comer?

A recepcionista levantou o olhar para Opal, ao mesmo tempo que a voz do seu chefe desaparecia.

– Sinto muito, querida. Não é normal interrompê-lo enquanto trabalha, por isso pensei que se sentiria intrigado por te ver. Receio que tenhas que voltar dentro de duas semanas.

Opal abanou a cabeça sem dizer nada. Dentro de duas semanas seria demasiado tarde. Só dispunha de dois dias para fechar o acordo, apenas dois dias para encontrar alguém que investisse no Clemengers, alguém que compreendesse e continuasse o negócio como se fosse o seu. Alguém completamente diferente de McQuade, um abutre dos negócios, que só procurava um terreno barato para demolir tudo o que lá houvesse, para depois construir apartamentos de luxo muito caros.

O concurso acabaria dentro de dois dias e, a menos que encontrasse um cavaleiro andante que salvasse o Clemengers, a empresa da sua família perderia tudo pelo que tinham trabalhado, e duzentos empregados perderiam os seus empregos.

E, certamente, ela não estava disposta a permitir que o hotel acabasse nas mãos de McQuade.

– Tenho de o ver hoje – afirmou Opal, com seriedade. – Não tenho outra alternativa – afastou-se da mesa da senhora Hancock, enquanto ela fazia o que o chefe lhe pedira. Tinha o olhar perdido no tapete elegante que cobria o chão sob os seus pés.

Precisava de encontrar uma solução. Talvez lhe tivesse escapado algo. Abriu a pasta que ainda tinha na mão e folheou de novo os recortes que reunira ao ter conhecimento da visita de Domenic. Talvez o que necessitava se escondesse no meio daqueles papéis.

Entre os recortes de jornal apareceu uma página muito colorida de uma revista.

Ali, sob o título Playboy de Cinco Estrelas, estavam duas fotografias de Domenic, cada uma com uma mulher diferente, as duas muito jovens, muito loiras e muito belas. Se aquele era o tipo de mulher que lhe interessava, não estranhava que não sentisse a mínima curiosidade pelo talento da recatada mulher que o esperava no hall do seu escritório.

Os olhos de Opal, nesse momento, centraram-se no homem para que ambas as jovens olhavam extasiadas. Era digno da designação de «cinco estrelas». O título ficava-lhe tão bem como o fato feito à medida que exibia numa das fotografias ou a camisa de seda preta que usava na outra. Tinha uns olhos escuros, pelos quais qualquer mulher no seu juízo perfeito estaria disposta a matar. Tinha a franja ligeiramente mais comprida do que o resto do cabelo e uns lábios grossos, que davam à sua boca a expressão interessante de estar a ocultar um segredo importante. O seu queixo bem definido parecia ser um indício do poder e da influência que aquele homem possuía.

Mesmo que fosse pobre, Domenic Silvagni seria um bom partido. Porém, com o seu dinheiro, bom, certamente que tinha uma corte de mulheres dispostas a fazer tudo por ele.

«Boa sorte para elas», pensou Opal, com certa amargura. Qualquer mulher que se casasse com um mulherengo merecia tudo o que lhe pudesse acontecer. Isso era algo que ela aprendera graças à sua mãe.

Mas, independentemente da sua forma de estar no terreno pessoal, ela precisava dele. Pelo menos, precisava do seu dinheiro, o mais rapidamente possível.

– Vou esperar, se não se importa – decidiu de repente. – Vai ter de sair, de qualquer forma.

A senhora Hancock olhou para ela com o sobrolho franzido. Olhou em seu redor para comprovar se havia alguém que conseguisse ouvi-la. E, apesar de não se ver uma alma no longo corredor que se estendia a partir daquele hall, a recepcionista inclinou-se sobre a mesa e sussurrou-lhe em tom de conspiração:

– Eu tenho de sair por um momento e estão prestes a trazer a comida. Não irás fazer nenhuma tolice, pois não?

Nos lábios de Opal desenhou-se um sorriso sincero, o primeiro desde que, há três meses, se apercebera da perigosa situação em que o Clemengers estava. E aquele sorriso fora provocado por Deirdre Hancock, que tinha sido secretária do seu pai há uns vinte anos.

Assim que entrou, reconheceu Deirdre, e soube que aquilo era um bom sinal. Deirdre levantou-se rapidamente e foi logo dar-lhe um forte abraço, como se ainda fosse a menina com tranças da época em que ela trabalhava para o seu pai.

Não sabia, exactamente, qual era a função de Deirdre no Silvers, mas podia supor que trabalhar para Domenic Silvagni não devia ser fácil. Pelo que ouvira através do intercomunicador, aquele tipo era muito brusco, enquanto Deirdre era um verdadeiro tesouro. Certamente, podia parecer um dragão, mas o seu pai dizia sempre que Deirdre era eficiente, organizada e correcta. E agora estava a fazer tudo o que podia para a ajudar a falar directamente com o seu chefe. Domenic não a merecia.

– É claro que não – respondeu Opal, piscando um olho.

A adrenalina irrompeu nas suas veias, ao mesmo tempo que se dava conta do que a eficiente secretária arriscava.

– Escuta, Deirdre, não quero que te despeçam por minha causa.

A senhora Hancock lançou-lhe um olhar travesso, enquanto se levantava.

– Quem sabe, querida? Talvez me agradeças por isso. Além disso, para a semana reformo-me. O que vai fazer… Despedir-me? Bom, desviei as chamadas para a sala das fotocopiadoras, que é onde vou estar. Desse modo, ninguém os interromperá.

Opal nem conseguiu agradecer-lhe. Um minuto depois, aproximou-se o rapaz que trazia a comida.

– O pedido da senhora Hancock – anunciou o jovem, surpreendido.

– Ela volta já.

O rapaz pareceu ficar satisfeito, portanto deixou ali o carrinho e foi-se embora, deixando Opal sozinha com o seu nervosismo.

Respirou fundo, levantando-se.

Capítulo 2

 

– Quem é você?

Opal ainda não tinha dado sequer dois passos dentro do escritório, quando o homem que estava sentado do outro lado da sumptuosa secretária de mogno levantou os olhos e foi ao encontro dela.

– Onde está a senhora Hancock?

Por uns segundos, Opal acreditou ser incapaz de se mexer, mas tinha que se aproximar um pouco mais dele. Não conseguiria expor o seu caso de tão longe. Sem olhar para ele, no caso de o seu aspecto ser tão imponente como a sua voz, empurrou o carrinho para a mesa.

– Trago-lhe a comida.

– Isso já eu percebi – resmungou ele. – Mas como entrou aqui?

Opal não fez caso do que ouvia e centrou-se no conteúdo da bandeja: num prato havia massa com alcachofras e bacon e, no outro, escalopes de vitela com espargos.

– Suponho que deseja primeiro a massa – anunciou, colocando o prato na secretária.

Domenic levantou-se e dirigiu-se à porta.

– Senhora Hancock! – gritou furioso. – Senhora Hancock!

– A senhora Hancock está na sala de fotocópias. E eu não queria que a comida arrefecesse.

Por fim, voltou a olhar para ela fixamente.

– Quem é você?

Opal sentiu uma onda de calor que tentou suster, respirando fundo antes de olhar para ele directamente nos olhos. Ali estava, Domenic Silvagni. Aqueles olhos pretos, aquele queixo. Devia estar preparada, mas as fotografias da revista não eram mais do que uma mera cópia do original que se encontrava à frente dela. Aquelas fotografias não mostravam o verdadeiro poder e força masculina que aquele homem projectava.

E o calor!

Sob o fato de seda, sentiu a pele a estremecer. Engoliu em seco e percebeu o sabor do medo, mas imediatamente levantou a cabeça e recordou-se do que fazia ali. Tinha um trabalho para fazer e ele não era mais do que um homem, um mulherengo. O pior tipo de homem.

– Opal Clemenger – disse, por fim, tentando encontrar as palavras que deveriam ter saído com maior facilidade. – Obrigada por me receber, sei que está muito ocupado.

Domenic suspirou.

– Eu não a recebi, disse-lhe que podia voltar dentro de duas semanas. Mas rectifico, será melhor não voltar cá – acrescentou, apontando-lhe a porta. – E agora, se me desculpar, tenho muito trabalho que tem de ser feito.

– Mas ainda não me deu oportunidade de lhe explicar a minha proposta.

– E não lhe ocorreu pensar que, provavelmente, é porque não me interessa minimamente?

Mas Opal não recuou nem um centímetro.

– A massa está a arrefecer.

– Então, vá-se embora, e assim conseguirei comer.

– Podemos falar enquanto come.

– A minha intenção era trabalhar enquanto comia.

– Isso não é bom para a saúde.

– O que não é bom é discutir com alguém que não se dá conta de que não é bem-vinda. Vá-se embora.

– Não até que escute o que lhe quero propor.

– Quer que a ajude a sair? – perguntou com um olhar imperturbável e tão evidentemente zangado que Opal se assustou de verdade. Se se atrevesse a tocar-lhe sequer…

– Tenho uma oportunidade para si – as palavras saíram da sua boca antes de parar e pensar na situação. – A oportunidade de dar aos Hotéis Silvers a posição de vantagem que anda à procura… E de que necessita.

– Vejo que vou ter de a fazer sair – afastou-se da porta e aproximou-se dela, o que a obrigou a recuar de forma instintiva. Não tinha ido preparada para aquela presença animal. Naquele momento, sentiu-se mais como uma presa do que como a proprietária e gerente da mais prestigiada cadeia de hotéis australiana.

Tinha de fazer algo para que ele a levasse a sério, tinha que o impressionar antes de perder aquela oportunidade para sempre.

– Precisa de alguma coisa que tire o Silvers da mediocridade de cinco estrelas…

– De quê? – interrompeu-a ele, parando em seco.

Opal teve a sensação de se levantar sobre o seu imponente metro e oitenta, e os seus olhos verdes azulados acenderam-se com a mesma intensidade dos dele. A comissura dos seus lábios torceu-se de tal forma que deu a entender a Domenic que acabava de perder um ponto.

Aquela mulher tinha garra. Conseguira ultrapassar a sua secretária e penetrar no seu escritório para acusar o seu negócio de mediocridade. Ou era muito valente ou muito estúpida. De qualquer forma, ia ter de se ir embora.

– Da mediocridade, senhor Silvagni. As cinco estrelas davam a entender que havia algo especial, mas não tem nada de especial. E não é isso o que as pessoas querem, querem antes uma experiência diferente, querem sentir-se especiais.

– Obrigado pela sua sagacidade, menina Clemenger, mas se necessitar que analisem o meu negócio, tenho a certeza de que há gente muito mais capacitada para o fazer do que você.

– Ah, sim? Se é assim tão fácil, o que veio fazer a Sydney? Tem ao seu dispor toda uma equipa de assessores que podem elaborar a estratégia de que Silvers necessita. E você tem, certamente, coisas mais interessantes para fazer.

Domenic ficou tenso ao admitir, pelo menos perante si mesmo, que fracassara na sua tentativa de a fazer perder confiança. A menina Clemenger começava a suscitar nele uma certa curiosidade. Ao fim e ao cabo, era certo que Silvers tinha um problema. Que mal lhe poderia fazer ouvir o que ela tinha para lhe dizer? Portanto, cruzou os braços e apoiou-se na beira da mesa.

– Tem cinco minutos – concedeu por fim. – Pode começar a falar.

Por um momento, Domenic teve a sensação de que a sua adversária ficara sem palavras e sentiu-se mais tranquilo. Pela primeira vez, não teve que se concentrar no que dizia e podia fixar-se no seu aspecto.

Olhar para ela não era tão desafiante como ouvi-la. Cabelo castanho, lábios carnudos, pele clara, quase translúcida, e uns olhos que reflectiam inteligência e emoção. Reparou como se tinham aberto totalmente quando, por fim, a olhou nos olhos. Neles vira algo que não sabia se era surpresa ou medo. Certamente, se tinha sentido medo, não se deixara amedrontar. Ele gostava disso.

O seu olhar continuou a explorá-la.

Usava um fato azul-cobalto que deixava adivinhar, sem chegar a mostrar claramente, as suas curvas. Talvez se se sentasse, pudesse comprovar se o resto das suas longas pernas eram tão bem formadas como sugeriam os seus gémeos da perna.

Mas continuou de pé.

– Senhor Silvagni.

A sua atenção abandonou as pernas e voltou-se para a sua boca… aqueles lábios.

– Chame-me Domenic.

Ela olhou para ele e, por uma décima de segundo, ele chegou a pensar que também ia discutir sobre isso com ele. Depois, assentiu levemente.

– Domenic – disse, com suavidade, como se estivesse a praticar. Gostou de como soava o seu nome naqueles lábios. Tinha uma voz quente, com um ligeiro sotaque australiano que suavizava o ritmo das sílabas. Tinha o tipo de voz que não incomodaria ninguém ao acordar… Agora sim… agora o desespero desaparecera. – Como o resto das cadeias hoteleiras australianas e, inclusive, as internacionais, os hotéis Silvers estão a sofrer uma queda nas taxas de ocupação. Parece que simplesmente não há turistas suficientes para encher os hotéis. Talvez o Marketing consiga fazer com que os lucros de uma cadeia subam ligeiramente por cima das outras, mas isso não é mais do que uma vantagem a curto prazo, que desaparece no momento em que qualquer outra cadeia hoteleira realiza uma campanha publicitária.

Domenic mexeu-se, incómodo, e deixou cair os braços. Nada do que lhe dissera era novo, era exactamente o mesmo que lera no relatório que continuava sobre a sua mesa.

– E, caso o que acabou de dizer seja correcto, imagino que terá a solução – acrescentou, com descrença.

Ela apertou as mãos, o que fez com que ele se fixasse nos seus longos dedos e nas unhas pintadas só com verniz brilhante. Nenhum anel à vista.

– Tenho uma oportunidade para os Hotéis Silvers, se tiver a perspicácia suficiente para a apreciar.

– Pois – disse ele, sem dar importância à sua repreensão subtil. – E do que se trata essa «oportunidade»?