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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2015 Carole Mortimer

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Domando o amor, n.º 1680 - Junho 2016

Título original: The Taming of Xander Sterne

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin

Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8298-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Epílogo

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Capítulo 1

 

– Compreendo que vais viajar de lua de mel no próximo fim de semana, Darius, mas não é preciso arranjar uma ama para ficar aqui durante as duas semanas que vais ficar fora! – Xander censurou o irmão gémeo, sentado do outro lado da sala.

– Não é uma ama. É apenas alguém para te ajudar nas tarefas mais difíceis, como entrar e sair do banho, limpar-te, vestir-te e conduzir.

– A empresa tem um motorista que pode fazer isso.

– Mas não tem quem te ajude com o resto – argumentou Darius. – Como cozinhar para ti.

– Deixa-te disso, Darius. Há seis semanas que parti a perna.

– Em três partes e foram precisas duas cirurgias. Ainda não consegues ficar mais de dez minutos de pé – era evidente que Darius não ia ceder.

Pensativo, Xander olhou para o irmão, sabendo que ele tinha razão.

– Não se trata realmente do que posso ou não fazer, pois não? – finalmente, suspirou, resignado.

– O que queres dizer?

– Quero dizer que não tenciono matar-me. É verdade que conduzi quando não devia e que acabei por bater num poste e destruir o carro, mas, felizmente, mais ninguém se magoou. Não fiz de propósito, Darius. Já te disse que estava tão perturbado que não me apercebi. Fiquei enfurecido, Darius – repetiu Xander, de uma forma ríspida.

– Todos no enfurecemos, Xander – indicou Darius, com delicadeza.

– A raiva fermentou durante meses em mim.

– Eu sei.

Xander ficou admirado.

– Sabes?

– Há uns meses, trabalhavas e divertias-te, como se tentasses evitar alguma coisa ou alguém.

– E olha qual foi o resultado – se pudesse movimentar-se, Xander estaria a andar com impaciência pela sala.

Há seis semanas, pela primeira vez na vida, Xander apercebera-se da sua própria irritabilidade. Não uma irritação que fervia devagar, como a do irmão, mas uma irritação que escapara ao seu controlo e explodira como um vulcão, levando-o a querer matar um homem à pancada.

Na verdade, fora um homem que se mostrara verbalmente agressivo com a mulher que o acompanhava naquela noite, na discoteca dos irmãos Sterne, em Londres. A situação despertara lembranças da infância de Xander porque se assemelhava à maneira como o pai tratava a mãe.

O desejo que sentira de bater no homem abalara Xander até ao fundo da alma. Deixara de confiar em si próprio e na reação que teria diante de algumas situações. Antes daquela noite, nunca tivera vontade de bater em alguém. Nem mesmo no pai, que costumava espancá-lo quando ele ainda era criança.

Lomax Sterne morrera há vinte anos, quando, completamente embriagado, caíra pelas escadas da casa da família, em Londres. A sua morte não fora lamentada pela esposa ou pelos filhos.

Lomax Sterne fora um homem bruto e abusivo, com um temperamento terrível.

Há seis semanas, Xander ficara profundamente horrorizado ao descobrir, com trinta e três anos, que tinha o mesmo temperamento do pai.

– O que achas que pode ter desencadeado essa tensão? – perguntou Darius, com curiosidade.

Xander franziu a testa.

– Não sei… Sim, sei. Lembras-te de quando estávamos em Toronto, há quatro meses? Lembras-te do presidente da Bank’s Corporation? Fomos jantar com ele e a esposa.

– E ele humilhou-a durante toda a noite – recordou Darius. – Foi por isso que decidimos que não queríamos fazer negócios com ele. Esse foi o motivo da tua raiva reprimida durante os últimos meses?

– Creio que sim – admitiu Xander.

– Mas controlaste-te muito bem em Toronto, Xander. E controlaste-te há seis semanas – insistiu Darius, com impaciência. – Esquece. Já passou.

Xander gostaria de esquecer tão facilmente.

– Agradeço que tenhas passado as últimas quatro semanas aqui, Darius, mas não creio que esteja pronto para ter uma pessoa estranha a morar comigo – na verdade, Xander ansiava voltar a ter o apartamento só para ele. – Não é que seja ingrato, Darius. Só não consigo imaginar-me a passar duas semanas sentado à mesa do pequeno-almoço, cara a cara com o, sem dúvida, musculado Sam Smith, que contrataste para me servir de ama e de cão de guarda.

Darius riu-se.

– Se se soubesse que estás a morar com um homem que não é o teu irmão, os vizinhos iriam achar estranho.

Como um dos gémeos milionários Sterne, Xander tinha a fama de ser um playboy conquistador. A sua reputação já fora comentada e discutida pela imprensa, que teria um dia de manchetes sensacionalistas ao saber que ele estava a dividir o apartamento com um homem.

– Felizmente para ti, isso não vai acontecer. Samantha Smith é uma mulher – garantiu Darius, secamente.

Xander ergueu-se na poltrona.

– Sam Smith é uma mulher!

– É bom saber que a tua audição não foi prejudicada pelo acidente – brincou Darius. Tivera imenso prazer em revelar aquele pequeno detalhe!

Xander protestou.

– Não tens de ficar tão feliz por me deixar à mercê dessa mulher durante duas semanas!

– Vou pedir-lhe para ser gentil contigo – troçou Darius.

– Muito engraçado – resmungou Xander. Só de pensar em ficar com uma mulher estranha no apartamento, sentia-se desconfortável. – De onde a conheces?

Darius sorriu.

– Ela é amiga de Miranda. Miranda gosta muito dela. A ponto de ter convidado Sam para trabalhar a tempo parcial no estúdio de dança, assim que voltarmos da lua de mel. Ah… e a filha dela tem aulas de balé com Miranda.

– Espera um pouco! – Xander ergueu a mão para interromper, mostrando-se agitado. – Não me tinhas dito que ela tem uma filha. O que tenciona fazer com a menina enquanto estiver aqui?

– É claro que vai trazer a menina com ela – afirmou Darius, como se não existisse outra possibilidade.

– Enlouqueceste? – explodiu Xander, levantando-se com dificuldade, apoiando-se nas muletas. – Contei-te o que aconteceu comigo na discoteca há seis semanas, Darius. Disse-te como perdi o controlo. E queres trazer uma criança para morar comigo? Quantos anos tem a filha da senhora Smith? – Xander sabia que Miranda dava aulas de balé a crianças dos cinco aos dezasseis anos.

– Cinco, acho eu.

– Queres deixar que essa mulher traga uma criança de cinco anos para morar no meu apartamento? – Xander respirou fundo, tentando acalmar-se. – A ideia foi de Andy, não foi? – era mais uma afirmação do que uma pergunta. – Contaste-lhe o que me aconteceu e…

– Não me pediste para não contar – Darius semicerrou os olhos.

– Não me importo se contaste ou não a Andy o que aconteceu comigo naquela noite – retorquiu Xander, com impaciência. – Afinal, ela vai ser a tua esposa e a minha cunhada. O que me preocupa é que o facto de a senhora Smith e a filha virem morar comigo possa ser uma tentativa de Andy me mostrar que não estou a tornar-me o monstro que penso ser. Que seja uma tentativa simplória de Andy de fazer com que me sinta melhor a respeito de mim próprio.

– Cuidado, Xander – avisou Darius, em voz baixa.

Xander estava demasiado aborrecido para considerar o aviso.

– A vida não é um conto de fadas, Darius. E, se for, eu sou o vilão da história e não o príncipe!

Darius olhou para o irmão, pensativamente, antes de falar com delicadeza:

– Sabes, Xander, como Miranda me disse uma vez, se bem me lembro, sucintamente – refletiu Darius com carinho –, na vida, a questão não é o que queres ou não. Deixando o meu sossego de lado, já pensaste que Samantha Smith é mãe solteira e que pode precisar do dinheiro que vou pagar-lhe para ser a tua ama e cão de guarda?

Mas e se a mulher fizesse alguma coisa para provocar o mau feitio que ele descobrira ter? E se a menina o irritasse? Darius não teria motivos para se rir ou teria? E ele, Xander, nunca se perdoaria por ter perdido a calma com uma das duas. Na verdade, isso provaria que era o monstro que o pai fora.

Darius mostrou-se aborrecido.

– Olha, no que me diz respeito, Miranda confia nela e ela precisa do dinheiro que vou pagar-lhe para ficar contigo enquanto eu estiver fora. Isso é tudo.

Xander não concordava.

Sim, o seu apartamento era suficientemente grande para conter uma dezena de pessoas sem terem de se encontrar. Para além dos seis quartos de hóspedes, havia um ginásio completo, uma sala de projeção de filmes, mais duas salas de estar, um escritório e uma biblioteca, uma sala de jantar enorme e uma cozinha ainda maior.

O problema não era aquele, pois não?

A questão era que Xander não queria dividir o seu espaço com uma mulher que nem sequer conhecia e, muito menos, com a filha de cinco anos.

Mas que escolha lhe restava a não ser tentar? Darius ultrapassara em muito qualquer manifestação de amor fraterno ao mudar-se para a casa do irmão e cuidar dele, desde que Xander saíra do hospital, há quatro semanas.

Seria justo causar-lhe preocupações maiores, enquanto Darius e Miranda estivessem em lua de mel?

Infelizmente, Xander já sabia a resposta para essa pergunta.

Capítulo 2

 

– O senhor Sterne é um homem bom, mãe? – perguntou Daisy, baixinho, enquanto as duas estavam sentadas no banco traseiro da limusina que Darius mandara para ir buscá-las.

Xander Sterne era um bom homem?

Sam só o vira uma vez, durante uma entrevista que tivera com os gémeos Sterne há dois dias, enquanto Daisy estava na escola.

Portanto, para ela, a pergunta era difícil de responder. Xander deixara a maior parte da conversa a cargo do irmão. Só no fim da entrevista é que se manifestara, fazendo algumas questões a respeito da escola que Daisy frequentava e do tempo que ela realmente passaria no apartamento. Para Sam, isso deixara claro que o seu novo patrão estava disposto a tolerar a sua presença no apartamento durante as próximas duas semanas, mas que o mesmo não se aplicava à presença da filha.

Uma atitude que não a agradara.

Mas quem não tinha dinheiro, não tinha escolha.

Sam nem sempre tivera problemas financeiros. O ex-marido, Malcolm, não chegava perto de ser rico como os irmãos Sterne, mas era um empresário bem-sucedido que possuía uma mansão em Londres, uma villa no sul da França e outra nas Caraíbas. Tinham-se conhecido quando ela tinha vinte anos e ele, trinta e cinco. Sam trabalhava como secretária júnior na empresa de Malcolm. Ficara imediatamente encantada com o empresário bem-educado, sofisticado e rico, de cabelo negro. Segundo parecia, Malcolm sentia o mesmo por ela e, depois de apenas dois meses de namoro, tinham-se casado.

De início, idealizara-o, totalmente apaixonada pelo marido bonito e bem-sucedido. Sam perdera os pais muito cedo e fora criada numa série de orfanatos. Praticamente não tinha família, a não ser duas tias distantes e solteironas, que nunca vira.

A gravidez de Sam modificara radicalmente o casamento.

Ela e Malcolm nunca tinham conversado a respeito de ter filhos. Ou melhor, no caso dele, de não ter. Só quando lhe contara, animada, que estava grávida de dois meses, é que Sam descobrira que Malcolm não queria crianças a atrapalhar a sua vida.

Naquele momento, Sam convencera-se de que Malcolm se assustara com a perspetiva de ser pai, pela primeira vez, aos trinta e seis anos. Não podia ter falado sério quando sugerira que fizesse um aborto.

Mas enganara-se.

O casamento mudara de imediato. Malcolm deixara o quarto do casal, provavelmente, sentindo repugnância pela ideia de o corpo dela passar por uma transformação ao longo da gravidez. Ainda assim, Sam esperara ingenuamente que tudo se resolvesse porque estava convencida de que o casamento não iria terminar após apenas um ano e de que, em algum momento, Malcolm se habituaria à ideia da paternidade.

E, mais uma vez, enganara-se.

Malcolm permanecera no quarto de hóspedes, ignorara totalmente a gravidez e, depois de Daisy nascer, nem sequer a visitara no hospital. Quando voltara para casa, carregando Daisy orgulhosamente nos braços e levando-a para o quarto que passara horas a decorar e a preparar para a chegada do bebé, ele não estava em casa.

Sam lutara durante os próximos dois anos, tentando fazer o casamento funcionar, convencida de que Malcolm não poderia ignorar a existência da filha para sempre. Como poderia não se apaixonar pela menininha adorável?

Mas não se apaixonara.

Ao final de dois anos de batalhas, Sam admitira a derrota. Não só deixara de amar Malcolm, como duvidara que chegasse a gostar dele. Como poderia gostar de um homem que se recusava a reconhecer a esposa e a própria filha?

Os três anos que se tinham passado desde então não tinham sido fáceis. Nem emocional, nem financeiramente.

As emoções e a maneira de lidar com elas eram um problema de Sam, claro. Mas, como é que um milionário igual a Xander Sterne poderia entender como ela precisava de se esforçar para juntar dinheiro, passando a semana inteira sem almoçar para poder pagar algo tão simples como uma aula semanal de balé para Daisy? Assim que começara a falar e a andar, Daisy não parara de expressar o desejo de saber dançar e Sam recusava-se a dececionar a filha.

Quando Sam pedira ajuda, claro que Malcolm se recusara a contribuir com o que fosse necessário para a felicidade de Daisy, para além da pensão mínima obrigatória para a menina, depositada todos os meses na conta que Sam abrira com o seu nome de solteira, Smith, e não com o nome de casada: Samantha Howard.

Sam abrira mão do apelido de casada, dos presentes e das joias que Malcolm lhe dera durante o casamento e de qualquer benefício que esperasse receber como forma de compensação, em troca da custódia integral da sua querida filha. Aquele fora um preço que pagara de bom grado e que pagaria outra vez, se fosse necessário.

Xander, um homem que possuía e administrava negócios de sucesso em todo o mundo, juntamente com o irmão gémeo, nunca conseguiria entender as dificuldades que uma mãe solteira enfrentava para arranjar um emprego, principalmente, um que se adequasse às horas que Daisy passava na escola. Trabalhar como empregada de mesa durante o horário de almoço fora a única opção de Sam desde que Daisy começara a frequentar a escola, em setembro. E, mesmo assim, quando havia feriados escolares, o emprego tornava-se um pesadelo. E eram frequentes.

Esse último problema seria resolvido em duas semanas, quando Sam começaria a trabalhar no estúdio de balé de Andy. Enquanto isso, aqueles quinze dias a cuidar do senhor Sterne permitir-lhe-iam pagar as contas de luz e de gás.

Ainda assim, era puramente por gratidão a Andy que Sam iria passar duas semanas na casa de um homem que só vira uma vez e em cuja presença ficara constrangida. Não fora exatamente indelicado com ela, mas também não fora educado.

Então, o seu novo patrão era um bom homem?

Para ser sincera, não sabia.

Ah, não havia dúvida de que era extremamente viril, com ombros largos e musculados, cintura e ancas estreitas e pernas compridas. O cabelo loiro era comprido e despenteado; os olhos castanho-escuros sobressaíam sobre a pele bronzeada do rosto bem talhado; nariz comprido e reto, entre maçãs do rosto bem marcadas; boca sensual, com o lábio superior mais volumoso do que o inferior, e um queixo firme e determinado. Indicação de um caráter sensual?

Muito bem. Provavelmente não durante as últimas seis semanas, já que o acidente de viação resultara numa perna seriamente fraturada, que o mantivera quase isolado no apartamento.

Mas isso, evidentemente, não teria impedido que as mulheres o visitassem!

Sam não pensara nisso até àquele momento, mas as aventuras românticas do milionário Xander Sterne ocupavam as manchetes dos jornais e das revistas há mais tempo do que ela se dera ao trabalho de pesquisar.

As mulheres que vira de braço dado com ele em festivais de cinema e outros eventos eram realmente lindas, com pernas compridas, sempre solteiras e muito sensuais.

– Mãe? – o tom curioso da voz de Daisy recordou a Sam que não respondera à pergunta da filha.

Virou-se para a menina e sorriu.

– O senhor Sterne é um homem muito bom, querida – Sam evitou olhar na direção do motorista, temendo que esboçasse um sorriso irónico através do espelho retrovisor e corroborasse a sua desconfiança.

Porque «bom» não era a palavra mais adequada para descrever Xander Sterne. Dinâmico. Arrogante. Perigosamente atraente. Mas bom? Nem tanto.

– Achas que ele vai gostar de mim? – perguntou Daisy, ansiosa.

A ansiedade da filha levou Sam a cerrar os dentes. Aquilo era o resultado de anos da absoluta falta de interesse de Malcolm pela filha. Uma insegurança que fazia Daisy ficar nervosa na presença de qualquer homem.

– Claro que vai gostar de ti, querida – Sam cortaria Xander em pedacinhos se dissesse ou fizesse alguma coisa que magoasse a filha já vulnerável. – Diz-me, lembraste-te de guardar os teus pijamas na mala? – mudou de assunto. Não havia motivo para deixar Daisy preocupada, porque Sam já estava nervosa pelas duas.

 

 

Xander não andava exatamente pelos corredores do apartamento, arrastava-se de uma forma ruidosa e deselegante, apoiado nas muletas e esperando impacientemente pela chegada de Samantha Smith e da filha.

Tinha de admitir que ficara surpreendido ao ver Sam quando ela chegara ao apartamento na manhã de quarta-feira. Tanto que não fora capaz de pronunciar uma palavra durante a maior parte da entrevista e deixara que Darius falasse.

Por um lado, deveria ter sido mãe ainda adolescente, porque não parecia ter muito mais do que vinte anos e, evidentemente, não parecia ter idade para ser mãe de uma criança de cinco anos. Por outro lado, era pequenina, talvez tivesse pouco mais de um metro e cinquenta e dois, e tão esbelta como a futura cunhada. Mas as sombras de cansaço que vira nos olhos maravilhosos cor de ametista e as faces pálidas e encovadas mostravam que a sua magreza se devia mais à falta de alimento do que às horas de prática de balé que Miranda tanto apreciava.

Os olhos extraordinários cor de ametista não eram a única coisa que chamava a atenção no rosto da senhora Smith. Ela também possuía maçãs do rosto muito altas, um lindo nariz coberto de sardas e uma boca volumosa e sensual. O cabelo, puxado para trás e apanhado no topo da cabeça, era suficientemente comprido para cair sedosamente até ao meio das costas e tinha um tom profundo e cintilante de vermelho. Certamente, indicativo de um temperamento ardente?

Se era isso, Xander não vira sinal de fogo durante a meia hora da entrevista, há dois dias. Pelo contrário, a mulher respondera às perguntas de Darius com tranquilidade e, quando ele lhe fizera perguntas, olhara para ele durante o tempo suficiente para apreciar os olhos cor de ametista e, depois, baixara o olhar.

Talvez fosse tímida ou talvez não aprovasse ou não gostasse de playboys milionários, mas estava disposta a aturá-lo em troca da alta soma de dinheiro que Darius lhe pagaria? Darius preferira atribuir a sua reserva ao nervosismo por estar a ser o foco da atenção dos dois irmãos Sterne.

Era evidente que era possível, admitira Xander. Cada um deles isoladamente era bastante ameaçador e os dois juntos…

Não importava qual era o motivo do retraimento da senhora Smith, Xander só estava disposto a aceitar a sua companhia durante o tempo suficiente para Darius e Miranda terem um casamento e uma lua de mel sossegados.

E, então, onde estava ela? Paul, o motorista, saíra para ir buscá-las há mais de uma hora. Para ele, como patrão, não parecia um bom sinal que não estivesse pronta à hora combinada.

Tinha de falar com a senhora Smith assim que chegasse e deixar bem claro o que iria ou não tolerar que a filha fizesse. Já preparara mentalmente uma lista de regras.

Não podia correr pelos corredores do apartamento.

Não podia falar alto ou gritar.

Não podia ouvir a televisão em volume alto, principalmente de manhã.

Não podia entrar na suíte dele.

E não podia mexer nos objetos de decoração e nas obras de arte.

Na verdade, Xander preferiria não se aperceber da presença de uma criança no seu apartamento. Isso seria possível, com uma criança de cinco anos?

Teria de ser. A senhora Smith e a filha não eram as suas convidadas, eram empregadas, e ele esperava que ambas se comportassem devidamente…

– Olha, mãe. Já viste uma televisão tão grande?