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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Carole Mortimer

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Somente vingança, n.º 886 - Abril 2016

Título original: The Vengeance Affair

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8329-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

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Capítulo 1

 

– Ah! – exclamou ela.

A surpresa fê-la parar de repente, quando viu uma sombra sair da escuridão do terraço, iluminada apenas pela lua. Com o coração ainda acelerado, reconheceu o homem cujos olhos brilhavam na escuridão da noite como os de um gato.

– É o convidado de honra, porque não está lá dentro a divertir-se na festa em vez de estar aqui?

– A desfrutar do silêncio e da paz? – terminou Beau Garrett, interrompendo-a.

Na verdade, escapulira-se da festa à procura do mesmo que ele. E, além disso, esperava conseguir ir-se embora sem que a anfitriã, Madelaine Wilder, se apercebesse. Não contara com a possibilidade de colidir com o convidado especial da noite.

– Andam à sua procura lá dentro – comentou com intenção.

– Sim? – perguntou ele, sem muito interesse.

A luz da lua realçava o seu cabelo, comprido e preto, e deixava o seu rosto na penumbra.

– Nem sequer estou vestido para ser o convidado de honra – comentou, assinalando a sua camisola e acrescentou: – «Porque não entra? Alguns amigos vieram tomar uma bebida», sugeriu-me a nossa anfitriã. Mas está ali metade da vila – disse, apontando para o interior da casa, de onde procedia um ruído abundante de gargalhadas, conversa e o tinido dos copos.

A sua imitação da efusiva Madelaine foi bem conseguida.

Ela afastou-se da casa e aproximou-se do corrimão, onde ele estava apoiado. Dali via-se o jardim todo, submerso na luz misteriosa da lua de Março.

– Lamento dizer-lhe que esta é a terceira festa de boas-vindas que Madelaine celebra em sua honra, mas não assistiu às outras duas – disse ela.

Era mais confortável falar com ele na escuridão. Sem se deixar impressionar pelo seu rosto atraente e pela sua virilidade. Uma imagem que aparecia há dez anos no pequeno ecrã, como apresentador do seu programa televisivo de sucesso.

A sua beleza estava oculta, ao contrário da sua expressão séria.

– Se tivesse conseguido livrar-me desta festa sem ser mal-educado não teria vindo hoje – respondeu ele.

Ela não acreditava que se preocupasse muito em ser educado ou não, a julgar pelo modo como costumava esmagar verbalmente os convidados mais polémicos do seu programa. De facto, fora a incerteza absoluta sobre o que iria acontecer em cada programa o que o transformara num dos mais populares apresentadores da televisão.

– Pobre Madelaine! – compadeceu-se ela.

Sabia que a anfitriã tinha bom coração, embora às vezes se enganasse.

Beau Garrett riu-se dela.

– Vejo que também é daqui. Portanto, vou perguntar-lhe o que perguntei a toda a gente, a única razão da minha presença aqui. O jardim da antiga casa paroquial parece um desastre. Conhece alguém que o possa arranjar? – perguntou-lhe.

– O que lhe responderam os outros?

– «Aconselho-o a ligar a Jaz Logan. Pouco comum, mas excelente» – disse ele, imitando a voz de um dos vizinhos.

– O comandante – adivinhou ela.

– «Jaz conseguiu transformar o meu jardim caótico numa maravilha» – voltou a imitar.

– Essa é Barbara Scott, da mercearia.

– «Jaz é um tesouro».

– Betty Booth, a esposa do reverendo – acertou novamente.

– E, segundo a nossa anfitriã, esse tal Jaz é maravilhoso – concluiu ele com um pouco de antipatia. Desta vez, foi ela quem se riu.

– A bondosa Madelaine...!

– Não, espere – interrompeu Beau. – Acredito que as suas palavras exactas foram «Jaz arranjou maravilhosamente o meu jardinzito».

– E qual é o problema da pessoa que lhe aconselharam? – perguntou ela.

– O meu problema, como você o chama, é que me dá a impressão de que Jaz é um efeminado – anunciou secamente. – A última coisa que quero é o típico jardim de vila inglês, com montes de roseiras e outras flores por todo o lado.

– Diga-me, senhor Garrett, se despreza tanto a vida nas vilas, porque se mudou para aqui?

– Não é óbvio? – respondeu, virando-se para que a lua iluminasse o lado direito da sua cara.

Uma grande cicatriz arroxeada atravessava a sua face desde a sobrancelha até ao queixo. Tratava-se da consequência duradoura de um acidente de carro muito grave sofrido quatro meses antes, um percalço que podia ter acabado com a sua vida.

Ela sentiu-se comovida, pensando em como o acidente teria sido grave para lhe causar uma lesão tão evidente. Apesar dos seus sentimentos, mostrou-se fria e comedida, não queria feri-lo. Ouvindo a amargura que havia por trás de todas as suas palavras, tinha a impressão de que as cicatrizes internas daquele homem eram muito mais profundas e destrutivas do que a que mostrava na sua cara.

– Não, não é óbvio – respondeu ela à sua pergunta. – As cicatrizes desaparecem com o tempo, senhor Garrett.

– Sim, é o que dizem – disse ele asperamente.

– É a primeira vez que vive numa vila?

– Sim, é verdade – respondeu com cautela.

– Bem me parecia. Bom, tem que saber que somos bastante curiosos. Se o que procura é paz e sossego, veio para o lugar errado.

Beau Garrett virou-se e afastou-se dela de repente, refugiando-se novamente na escuridão.

– Não vou permitir que ninguém satisfaça a sua curiosidade às minhas custas – concluiu com o mesmo tom amargo de antes.

– Boa sorte – desejou ela com a voz apagada.

Ele ficou parado e calado durante uns momentos, surpreendido pelas palavras da estranha.

– O que quer dizer? – inquiriu incomodado.

– Não, nada. É que...

– É que o quê? – interrompeu ele.

– O que as pessoas não descobrem por si mesmas, acabam por inventar – respondeu ela com a sabedoria que lhe outorgava a sua própria experiência.

Beau riu-se e dirigiu-se para a porta.

– Então que o façam!

– Vão fazê-lo, vão fazê-lo – sussurrou ela.

Ela ficou no terraço a observar como Beau entrava novamente em casa, certamente para desculpar a sua presença e ir-se embora. Talvez pensasse que não a ia voltar a ver, mas enganava-se.

Capítulo 2

 

– Porque não me disse, quando a conheci na sexta-feira em casa de Madelaine, que trabalhava para Jaz Logan? – inquiriu Beau.

Ela afastou o olhar das contas que invadiam a mesa do escritório do viveiro desordenado. Não a surpreendeu absolutamente que Beau fosse o primeiro cliente da manhã nessa segunda-feira. De facto, estivera à sua espera...

– Não mo perguntou.

– Pois, suponho que não – respondeu zangado. – Mas como lhe perguntei por ele, supus que mo podia ter dito.

Ela sorriu sem se alterar e afastou-se para trás na cadeira.

– Outra coisa que tem que saber sobre nós é que, embora sejamos curiosos e gostemos de saber sobre os outros, não damos informações sem mais nem menos – advertiu ela. – De facto, é ainda pior do que suspeita, porque não trabalho para Jaz Logan. Sou Jaz Logan.

Estendeu a sua mão para apertar a dele.

Mas ele não aceitou a sua saudação. Estudou-a de cima a baixo com os seus olhos cinzentos. Usava botas cheias de lama sobre umas calças de ganga sujas, um casaco azul demasiado grande com as mangas desgastadas e um buraco num cotovelo. Depois observou a sua cara, o seu cabelo comprido e preto como o ébano. Tinha-o um pouco desalinhado. Independentemente do que fizesse acabava sempre assim, por isso já não se esforçava em pentear-se excessivamente.

Apesar de passar tanto tempo ao ar livre, tinha a tez clara e suave, um queixo pontiagudo, uma boca grande e sorridente e um nariz pequeno e arrebitado. Pestanas pretas como o seu cabelo emolduravam os seus olhos azuis.

– «Pouco comum, mas excelente» – murmurou ele brincalhão. – Suponho que o comandante quis dizer que é pouco comum por ser uma mulher jardineira.

– Sim, é um pouco antiquado – respondeu Jaz sorridente, longe de se sentir ofendida.

– «Conseguiu transformar o meu jardim caótico numa maravilha» – prosseguiu ele sério.

– Se esteve na loja de Barbara apercebeu-se de como gosta muito pouco da desordem e do caos.

– «É um tesouro» – disse Beau, gozando com ela.

– Betty fala bem de toda a gente. Não se esqueça que também sou «maravilhosa».

Não ficou surpreendido por ela também recordar a conversa da sexta-feira anterior. Estava muito aborrecido para pensar nisso e voltou a franzir o sobrolho.

Jaz pensou que talvez lhe devesse ter dito quem era, mas fora agradável saber o que as outras pessoas diziam sobre ela.

A cicatriz da sua cara destacava-se muito mais à plena luz do dia, uma marca vermelha que contrastava com a sua tez branca. Não lhe subtraía beleza, antes pelo contrário, dava mais carácter ao seu rosto. Fazia-o parecer perigoso como um bandido.

A julgar pelo seu olhar desafiante e frio, Jaz supôs que não apreciaria aquele comentário.

Além da cicatriz, era um dos homens mais atraentes do pequeno ecrã. Rondava os quarenta anos, media mais de dois metros de altura e era ágil e extremamente masculino. O seu cabelo, abundante e escuro, já apresentava cabelos brancos na zona das têmporas. Tinha um queixo poderoso e quadrado que emoldurava as suas feições.

Não era de estranhar que Madelaine, de quarenta e cinco anos, viúva há oito, tivesse insistido tanto em que aceitasse o convite para ir a sua casa. Além de ter tido a honra de ser primeira a convidar o vizinho novo e célebre a sua casa, Beau Garrett transformara-se, sem dúvida alguma, no solteiro de ouro da vila. O homem mais atraente de entre os casadoiros da zona.

Jaz não via muita televisão nem lia revistas cor-de-rosa. Facto pelo qual desconhecia tudo o que se mexericava sobre Beau e se era casado ou não. A única coisa que sabia, vendo apenas a dureza das linhas de expressão que rodeavam os seus olhos, era que não parecia que pudesse vir a ser um marido fácil.

Felizmente para ela, Jaz não estava interessada nele.

Os seus serviços de jardinagem e do viveiro roubavam-lhe tanto tempo e esforço que não tinha nem tempo de se mimar a si própria. Por isso, a ideia de um dia ter marido e filhos estava fora do seu alcance.

– Jaz? – conseguiu, finalmente, articular.

– É uma abreviatura de Jasmina – explicou ela, levemente corada e com cara de asco. – Mas nem pense chamar-me assim. O último que o fez ainda tem nódoas negras.

A cara de Beau relaxou-se ao ouvir a ameaça divertida.

– Eu entendo-a. Eu sinto o mesmo por Beauregard. Os pais deveriam acatar a sua responsabilidade por escolher nomes assim para os seus filhos indefesos.

Jaz estava de acordo com ele e, depois de conhecer o verdadeiro nome de Beau, não sabia se continuaria a compadecer-se de si mesma ou dele.

– Se algum dia tiver um filho, chamá-lo-ei Mary se for uma menina ou Mark se for um menino. Nomes simples e sólidos que não admitem diminutivos nem têm que suportar brincadeiras – garantiu Jaz.

– Uma coisa que não entendo é o nome da empresa: «J. Logan e Filhos».

– Bom, o meu pai chamava-se John e esse nome é o resultado do que ele considerava uma brincadeira.

– Fala dele no passado – advertiu Beau.

Jaz inclinou a cabeça. Beau não era da vila, mas parecia. Estava a fazer um bom trabalho a obter informação dos seus vizinhos.

– O meu pai morreu há três anos. Eu tinha vinte e dois anos e acabava de terminar o curso. Deixei a placa da empresa tal como estava. Não sei… sempre esteve ali – concluiu, pouco convincente.

Sabia que não era a verdade, mas preferiu não contar mais nada a Beau. Para ela era um aviso. Não tinha a certeza do que era porém, sempre que olhava para a placa, ganhava novas forças e resoluções para seguir em frente com a empresa e conseguir triunfar com ela.

– E a sua mãe? – continuou a perguntar.

– Bom, acho que também não gostou da brincadeira. Abandonou-nos quando eu tinha dezassete anos – respondeu, arisca.

– Lamento.

– Não o lamente – respondeu ela, enquanto se sentava novamente à mesa do escritório.

Não lhe ia contar que a sua mãe não se tinha ido embora sozinha. Nem que ela e o seu amante tinham morrido num acidente de carro três meses mais tarde no sul de França.

– Sabe, senhor Garrett? – perguntou ela, observando-o. – É muito bom a fazer isto, não é de estranhar que o seu programa tenha tanto êxito se conseguir que os seus convidados falem de si próprios como o fez comigo.

Há muitíssimo tempo que não falava sobre a sua mãe e sobre o que acontecera. Mas Beau Garrett conseguira, em poucos minutos, que lhe contasse metade da sua vida. Por sorte, ele pareceu preferir não aprofundar mais as perguntas sobre a sua vida e o seu rosto recuperou a dureza de antes.

– Bom, é melhor falarmos do que me trouxe até aqui – começou. – Já sabe qual é o meu problema, portanto a única coisa que quero saber é se vai ter tempo para arranjar o meu jardim.

– Claro – respondeu ela com a mesma frieza. – Quer que passe por lá esta tarde e lhe faça um orçamento?

– Não tem que consultar a sua agenda antes ou uma coisa assim? – perguntou ele, admirado.

– Não – respondeu.

– Também não precisa de saber o que quero que faça?

– Bom, podemos falar disso quando lá for hoje.

– Vejo que não há muito trabalho por aqui, pois não? – inquiriu ele, sarcástico.

A verdade era que não havia trabalho em Março. Os seus clientes habituais ainda não precisavam de que tratasse da sua relva nem das suas flores. E as plantas que cresciam nas estufas também já não requeriam muita atenção. Não tinha nenhum projecto paisagístico à vista. Esperava que, se conseguisse o trabalho do senhor Garrett, o adiantamento que lhe desse servisse para pagar algumas das contas que se acumulavam sobre a sua mesa.

– Não, não há muito trabalho – respondeu ela. – Mas é sempre assim em Março. No entanto, agora é o melhor momento para limpar e reorganizar um jardim – acrescentou um pouco na defensiva.

– Acredito que sim – respondeu Beau.

– Não quis acreditar que tinha comprado a velha casa paroquial – disse ela, olhando para ele.

Um mês antes, quando penduraram o cartaz de «Vendida» na propriedade, toda a vila morria de curiosidade por saber quem teria decidido comprar tal monstruosidade. A casa era grande, velha e encontrava-se em muito mau estado. Ninguém a ocupara desde que os últimos inquilinos tinham ido embora, cinco anos antes. Estes decidiram mudar-se para um chalé mais moderno nos subúrbios da vila. Queixavam-se de que a casa era tão grande que era muito difícil mantê-la quente, que havia goteiras e do mal estado das tubagens e da electricidade.

– Porquê? Há alguma razão pela qual não a devesse ter comprado? – perguntou ele.

– Bom, não está em muito boas condições – comentou, tímida.

– O empreiteiro começou a trabalhar nela esta manhã – garantiu Beau, esperando que ela enumerasse mais motivos contra a aquisição da casa.

– Mas fica um pouco longe do seu trabalho. É uma longa viagem até Londres.

O seu programa de televisão era transmitido às dez da noite à sexta-feira durante os últimos dez anos, em horário de máxima audiência. As suas entrevistas constituíam a base do seu êxito, assim como o seu físico. Mas a vila ficava a uns trezentos e cinquenta quilómetros de Londres, onde estava situado o escritório.

– Formidável! – respondeu ele, sem acrescentar mais informação.

– Além disso, a casa é demasiado grande só para uma pessoa. A não ser que também traga a sua família, claro – acrescentou.

– Pois – respondeu novamente, ambiguamente. – Voltamos ao assunto do jardim?

Jaz deu-se por vencida, sempre respeitadora da intimidade das pessoas. Ele não queria falar da sua vida privada com ela. De facto, nem com ela, nem com ninguém.

– Claro. Como lhe dizia, posso passar por sua casa esta tarde e ver o que o jardim necessita. Depois, se estivermos de acordo, posso começar a trabalhar nele na quarta-feira de manhã, se achar bem.

– Está bem – assentiu com um tom seco. – Espero que seja mais profissional do que o empreiteiro, prometeu-me que começaria a obra há uma semana.

– E começou hoje? – perguntou, surpreendida. – Não é mau, vê-se que lhe causou boa impressão.

– Não. Tive que andar em cima dele, ligando-lhe todos os dias para ver quando ia começar.

– Ora! – exclamou Jaz, rindo-se. – Acho que se vai adaptar facilmente à vida aqui, afinal de contas. Vejo que sabe como tratar as pessoas pouco profissionais.

– Não se trata de saber como tratá-las. Eu é que não suporto pessoas assim.

Não o conhecia há muito tempo, mas Jaz já se tinha apercebido da pouca resistência que tinha com as pessoas. O empreiteiro, que, sem dúvida, seria Dennis Davis, era conhecido pela informalidade e pela pouca pontualidade na hora de começar os trabalhos. Jaz recordou como a deixara à espera durante semanas antes de ir reparar o telhado de um dos abrigos.

– Garanto-lhe, senhor Garrett, que estarei em sua casa às duas e meia. Sou muito pontual – disse, com um sorriso compreensivo.

– Chama-me Beau – pediu, de repente.

Jaz corou, não se achava capaz de tratar por tu um homem tão célebre como ele, uma personalidade da televisão nacional. Não sabia se estava preparada para tal familiaridade.

– E tu podes tratar-me por Jaz – respondeu, desconfortável. – Então, às duas e meia.

– Fiquei sem café e vou ter que passar pela mercearia de caminho para casa – comentou, com uma sombra de sarcasmo divertida nos olhos. – Espero conseguir escapar a tempo e estar a essa hora em casa.

Barbara Scott, a dona da mercearia, além de ser uma pessoa extremamente meticulosa e arrumada, era uma das maiores bisbilhoteiras da vila. Portanto, Beau previa que a sua visita à loja se prolongasse além do necessário.

– Vais ter que te habituar à vida numa vila.

– Começo a pensar que não vou conseguir – respondeu ele.

Jaz permaneceu na porta a observar a forma decidida com que Beau se dirigia ao seu todo-o-terreno preto, que permanecia estacionado no meio da lama. Ao afastar-se com o carro, despediu-se com a mão.

O sorriso da sua cara desapareceu ao ver a pilha de contas em cima da mesa do escritório. Isto devolveu-a duramente à realidade, embora ainda continuasse a pensar no último comentário de Beau. Ela também tinha a impressão de que ia ser complicado que ele se adaptasse à vida na vila.

«Então, porque veio viver aqui?», perguntou-se.