sab904.jpg

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Elizabeth Power

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Coração traiçoeiro, n.º 904 - Junho 2016

Título original: The Ruthless Marriage Bid

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin

Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8344-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Estava no passeio em frente, esperando para atravessar a rua.

«É ele!», pensou Taylor, observando aquela cabeça escura e orgulhosa, aquela estatura impressionante, aquela presença única.

Como num sonho, ouviu a porta do táxi fechar-se, Craig a dar a direcção ao taxista pela janela… e enquanto o táxi arrancava, virou-se no lugar para olhar para o homem.

Desaparecera.

Talvez tivesse sido imaginação sua ou talvez se tivesse enganado e fosse outra pessoa… como sempre.

A tensão desapareceu, dando lugar a uma desilusão tão fria como aquela tarde de Inverno. Sob o casaco grosso de lã, Taylor sentiu um calafrio que só desapareceu ao ouvir o balbuciar do bebé que estava ao seu lado.

– És um amor – tentou sorrir, olhando para a carinha gordinha sob o gorro de lã azul. No entanto, continuava tensa, nervosa.

Tivera tanta certeza de que era ele… Nem sequer se despedira dela, recordou então.

Passados quinze minutos, o táxi parava em frente da sua casa e, com a mala numa mão e a cadeirinha do bebé na outra, Taylor dirigiu-se para a porta.

Contudo, uma sombra apareceu no seu caminho, altiva e sinistra, e Taylor soltou a mala para agarrar na cadeirinha do bebé com um instinto protector repentino.

– Jared!

– Olá, Taylor!

Jared baixou-se para apanhar a mala. Ao fazê-lo, as abas do seu casaco preto recordaram a Taylor as asas de um corvo que se inclinava para atacar a sua presa…

– Então, eras tu.

Jared Steele era um empresário que tinha êxito em tudo, das finanças à alta tecnologia. Tinha trinta e oito anos, mais doze do que ela. Era rico, poderoso e, conforme ela descobrira demasiado tarde, um homem sem escrúpulos.

Demasiado surpreendida para lhe agradecer, Taylor agarrou na malinha de pele preta que ele tinha apanhado do chão e abriu-a para tirar a chave. No entanto, tinha as mãos a tremer.

– Era eu? O que queres dizer?

– Perto do estúdio de gravação, a atravessar a rua… – começou a dizer ela, calando-se ao compreender que, em vez de atravessar a rua, ele devia ter apanhado um táxi. – Seguiste-me!

– Queria ver-te.

– Porquê?

Jared não respondeu. Estava a olhar para o bebé.

– Vejo que estiveste muito ocupada desde a última vez que nos vimos.

– Quando foi isso? – perguntou Taylor, sem responder à pergunta que ele não pronunciara, mas que estava nos seus olhos.

O bebé.

Nos dezoito meses que tinham decorrido desde a sua última e amarga discussão, Jared Steele não tentara encontrá-la. Taylor perguntou-se porque o teria feito agora.

Ele encolheu os ombros.

– Devo confessar que isto é a última coisa que esperava – murmurou, sem parar de olhar para o menino. Os seus olhos estavam meio escondidos sob as pestanas pretas, uns olhos que podiam fazer com que os joelhos de Taylor tremessem, que podiam evocar os pensamentos mais excitantes.

– O quê?

– Depois de teres insistido tanto em que não querias ter filhos, o que aconteceu? Um acidente?

A sua voz, que tivera sempre o poder de a excitar com a sua rouquidão sensual, continha uma crítica evidente. Uma crítica que Taylor não estava disposta a suportar.

– Jared…

– Ambos sabemos que ser mãe não entrava nos teus planos. Ou talvez não quisesses ter filhos comigo. Essa é uma conclusão que o meu ego terá de suportar, não, Taylor?

– Porquê? – inquiriu ela. O comentário de Jared abrira velhas feridas, feridas demasiado profundas. – Porque fui eu quem quis livrar-se de ti? É isso que queres dizer?

Jared inclinou a cabeça para trás, como se ela lhe tivesse dado uma bofetada. Bom, se não gostava da sua sinceridade, pior para ele. Assim saberia como ela sofrera com as suas palavras cruéis.

– Devo felicitar-te.

– Porquê?

– Estás muito bem na vida. És maquilhadora, tens o teu próprio negócio… – começou a dizer ele. Não estava a ser sincero ao felicitá-la, antes pelo contrário. – Mas tu foste sempre muito ambiciosa, é claro.

Taylor sentiu um calafrio. Também tinham discutido por causa daquilo. Muitas vezes.

– É bom ser ambicioso na vida, não?

– E o homem que te acompanhou ao táxi… devo deduzir que é o pai do bebé?

Vira-a com Craig à porta do estúdio e reparara nos seus gestos de afecto, naturalmente.

– És muito astucioso – replicou Taylor, recordando as discussões que o seu aborto provocara.

– Vivem juntos? – perguntou ele, apontando para a casa.

– Se queres saber se dormimos sob o mesmo tecto… – Taylor tentou acalmar-se enquanto tirava a chave da mala, – a resposta é sim.

Não conseguiu enfiar a chave na fechadura porque Jared agarrou na sua mão. À luz do candeeiro, as suas feições pareciam mais duras, mais perigosas do que nunca.

– Embora continues casada comigo? Não te ocorreu pedir-me o divórcio?

Quase tão alta como ele com as suas botas de salto alto, Taylor podia sentir o calor do seu hálito na testa. Também podia sentir a sua raiva, uma raiva que a enfureceu. Para piorar, Josh começava a mostrar-se impaciente.

– Porquê? Se bem me lembro, tu tinhas uma amante e uma esposa ao mesmo tempo – replicou, puxando a mão para abrir a porta.

O corredor estava cheio de caixas, brinquedos, o carrinho do bebé… Uma desarrumação muito doméstica.

– Não vais convidar-me para entrar?

Como resposta, ela deixou a porta aberta, fazendo uma careta quando o ouviu dizer que a fechava. Entrou na cozinha, tentando não tropeçar nos dois gatos siameses que se enredaram nas suas pernas, exigindo comida.

Com cuidado, pôs a cadeirinha de Josh sobre um sofá, afastando uma almofada, uma mala, uma pilha de roupa engomada e outra por engomar.

– Uma cena muito doméstica.

Taylor voltou-se. Jared estava parado à porta com as mãos nos bolsos, as pernas abertas, as costas muito direitas, olhando com desprezo para a desordem que reinava na cozinha.

Apesar de tudo, ela só conseguia pensar na quantidade de vezes que enterrara as unhas naquelas costas largas enquanto sussurrava o seu nome…

As recordações fizeram-na estremecer e, nervosa, abriu a porta do frigorífico.

– Porque querias ver-me?

– De certeza que tu sabes.

Os seus olhos verdes fixaram-se nos olhos castanhos de Taylor, que afastou o olhar enquanto tirava do frigorífico uma lata de comida para gatos.

O que devia depreender daquela frase? A misteriosa Alicia ter-se-ia cansado de cuidar de um marido a quem não amava? Teria decidido abandoná-lo para estar com Jared?

Aquele pensamento era terrivelmente doloroso, mas cerrou os dentes e continuou com o que estava a fazer.

Os gatos começavam a impacientar-se, principalmente Thai, o macho siamês. Além disso, Josh estava a choramingar no sofá.

Pondo a lata em cima da bancada, Taylor despiu o casaco. Porém, desejou imediatamente não o ter feito porque Jared olhou para ela de cima a baixo, da camisola bege à saia verde que caía, formando pregas, sobre as suas botas de salto alto.

– Estás mais magra – comentou ele.

Taylor atirou o casaco para cima de um dos bancos do bar que Craig construíra num dos seus momentos mais aventureiros.

– Não estávamos a falar do meu peso – murmurou, tirando uma colher da gaveta para servir a comida em dois pratos.

– A verdade é que foste sempre muito magra.

– Se tu o dizes…

Os protestos de Josh tinham substituído os dos gatos, que devoravam a sua comida como se não comessem há uma semana.

Taylor voltou-se para o tirar da cadeirinha.

– Tenho de lhe mudar a fralda e dar-lhe o jantar – declarou, pegando nele ao colo. O seu encontro com Jared, desejado e temido ao mesmo tempo, estava a fazer estragos no seu sistema nervoso.

– Precisas de ajuda?

– Eu sei desenvencilhar-me sozinha, obrigada.

De repente, Taylor perguntou-se o que pensaria Jared do bebé. Que o seu cabelo era do mesmo tom castanho que o dele? Que devia ter herdado os seus caracóis, uma vez que o cabelo dela era completamente liso?

– Sabes fazer isso tão bem como partir o coração de um homem?

Taylor colocou um biberão no microondas e olhou para ele nos olhos.

– O que queres dizer?

– Quanto tempo demoraste, Taylor?

– Quanto tempo demorei a fazer o quê?

– A meteres-te na cama de outro homem depois de saíres da minha.

– Como te atreves a perguntar-me isso quando…? – Taylor deixou a frase em suspenso ao ouvir passos no hall. Sabia que Jared deduzira o pior e não quisera dar-lhe explicações. Porém, podia imaginar a cara que ele faria quando se apercebesse de que estava a fazer figura de parvo.

– Olá, Tay… – a rapariga que entrou na cozinha parou ao ver quem estava ali. – O que fazes tu aqui?

– Charity? – perguntou Jared, surpreendido.

Embora fosse mais baixa do que Taylor, a personalidade alegre de Charity pareceu encher imediatamente a cozinha.

– Vocês conhecem-se? – perguntou ela, olhando de um para o outro.

– É claro que sim! – exclamou Jared. – E vejo que vocês também se conhecem.

– Eu sou a senhoria de Taylor – Charity sorriu. – Arrendei-lhe o apartamento do andar de cima – explicou, pegando no menino ao colo. – Como está o meu tesouro?

– Bem – respondeu Taylor. – Antes que me esqueça, Craig chegará mais tarde hoje.

Sabia que Jared estava atento a cada palavra, que olhava para Charity e para o bebé com uma expressão surpreendida.

– Não me tinhas dito que conhecias Jared – disse a sua amiga.

– Não – murmurou Taylor, agarrando no seu casaco.

– Parece que decidiu não contar a ninguém – disse ele. Tinha os olhos brilhantes, quase com uma expressão de triunfo.

– De onde se conhecem vocês? – quis saber Charity. – Ou é uma pergunta indiscreta?

Jared olhou para Taylor, surpreendido. Era curioso, pensou ela, que fosse Jared quem se tivesse enganado redondamente e que fosse ela quem se sentia como uma parva.

Contudo, não sabia o que dizer. Não contara a Charity que era casada e não queria contar-lho naquele momento, obrigada por ele.

– Digamos que nos conhecemos há muito tempo – respondeu finalmente.

– Ah, sim? O meu pai e Jared eram sócios. Conhecemo-nos há muito tempo, quando eu estava na universidade… e admito que naquela época eu gostava dele – Charity riu-se. A felicidade do seu casamento permitia-lhe falar com sinceridade daquele tipo de coisas. – Bom, vou fazer um pouco de chá… ou querem falar em privado?

– Eu acho que aceito um chá… mais tarde – disse Jared. – Eu e Taylor temos de conversar.

«Ah, sim? Sobre o quê?», perguntou-se ela.

– Está bem, mas não te vás embora sem te despedires de mim.

– Não irei.

Taylor saiu para o corredor e começou a subir as escadas, hesitante. Não podia pedir a Jared para se ir embora em frente à sua amiga.

– Então, os gatos não são teus, o bebé não é teu e o amante também não – comentou Jared quando chegaram ao andar de cima.

– Eu nunca disse que tinha um amante. Ao contrário de ti, eu respeito os sentimentos dos outros – replicou ela. – Eu e Craig trabalhamos juntos, daí que nos tivesses visto à porta do estúdio. E voltei para casa com Josh porque Craig tinha trabalho esta noite e Charity estava a cuidar da sua mãe, que teve um pequeno acidente doméstico. Viste-nos juntos e pensaste o que quiseste. Também decidiste pensar que Josh era meu filho.

– Uma dedução natural, nestas circunstâncias – murmurou ele. – Não achas?

Ele estava de pé no meio da sala bem mobilada, mas nem sequer as suas proporções generosas conseguiam diminuí-lo ou anular o ar autoritário tão inerente a ele quanto a sua própria sombra.

– Não, não acho – retorquiu Taylor.

– Devia ter imaginado… – resmungou ele, olhando em redor. – A cena doméstica que vi na cozinha não correspondia à recordação da mulher que eu conhecia.

Jared não parava de olhar para os seus pertences: os enfeites e quadros, os tapetes, os sofás, as estantes de madeira brilhante.

– Isto parece-se mais contigo.

Taylor perguntou-se o que quereria dizer. Sim, porque depois da desordem doméstica do andar de baixo, aquele apartamento só mostrava a solidão terrível da sua existência.

– Porquê?