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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Paula Roe

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Um homem diferente, n.º 813 - Junho 2016

Título original: Forgotten Marriage

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2008

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises

Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8378-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Capítulo Quinze

Capítulo Dezasseis

Capítulo Dezassete

Capítulo Dezoito

Capítulo Dezanove

Capítulo Vinte

Epílogo

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Capítulo Um

 

Casado.

Finn Sorensen tem uma esposa. E, aparentemente, vive na Austrália.

Um desastre de proporções gigantescas.

Finn remexeu o bourbon com gelo, que não tinha tocado, sem reparar no sorriso sedutor que lhe dirigia a hospedeira.

A sua misteriosa esposa tinha herdado dez por cento do império de jóias do seu pai, Nikolai. Isso se encontrasse o testamento. Se não, a lei dinamarquesa decretava que as acções revertessem a favor da legítima esposa do seu pai.

Marlene, a sua egoísta, egocêntrica e fria madrasta, que se agarraria a essas acções nem que estivesse morta, se pudesse.

Concentrando a atenção na janela do avião, Finn olhou para a negrura do exterior, dois mil metros acima do solo.

A sua vida tinha sido uma revelação surrealista atrás de outra desde o acidente que tinha levado o seu pai para a unidade de cuidados intensivos e apagado parte da memória do próprio Finn.

A partir de várias fotografias e cartas, tinha começado a descobrir certos detalhes: que tinha conhecido a sua esposa no ano anterior, em Sidney. E que foi amor à primeira vista, segundo a sua prima Louisa.

Mas, por cada informação alegre, a sua madrasta mostrava-lhe a outra face da moeda. «Interesseira». «Pobre emigrante irlandesa». «Trapaceira, irada, embusteira».

Finn apertou os lábios. Marlene utilizava insultos mas não dava detalhes. E quando lhos pedia, negava-se a dá-los.

– Deixou-te plantado, Finn. Tu nunca perdeste tempo com o passado, por isso esquece-a e concentra-te na empresa.

Como poderia concentrar-se se era incapaz de se lembrar do que quer que fosse?

Como poderia concentrar-se com este maldito formigueiro, como se milhares de formigas lhe percorressem as costas? A sensação de saber as coisas a meias estava a carcomê-lo por dentro, fazendo com que uma fina capa de suor lhe cobrisse a testa.

Finn encheu os pulmões de ar. Marlene tinha-se portado correctamente… até ao dia em que o seu pai morreu. Então deitou as garras de fora, falando com vários membros do conselho de administração para que votassem nela como nova presidente, convencendo-os de que ele não era capaz de fazer o seu trabalho. Agora exigia que se cumprisse o testamento do seu pai. O primeiro testamento.

E a sua visita ao quartel-general da empresa em Copenhaga só tinha gerado mais perguntas. Apesar da confissão sobre um codicilo, uma nova cláusula no testamento, que Nikolai tinha redigido no seu leito de morte, Finn continuava sem conseguir encontrá-lo. Os advogados da empresa não tinham conhecimento dele nem constava entre os papéis privados do seu pai. E ele não se lembrava de nada.

Só sabia uma coisa: se não fizesse alguma coisa, perderia o legado dos Sorensen, a razão de vida do seu pai.

De modo que levou o caso a julgamento, em que o juiz concordou em dar-lhe dois meses para o encontrar. Por isso se dirigia a Sidney. Por isso ia viajar durante vinte e seis horas de Copenhaga à espera que algo avivasse a sua memória.

As maquinações de Marlene continuavam a queimá-lo interiormente. Até saber mais, até poder confiar em Ally, se é que podia fazê-lo, guardaria para si próprio os detalhes do codicilo. E quando o encontrasse, oferecer-lhe-ia uma boa quantia para mantê-la contente.

Mas algo lhe dizia que deveria ter confiado nela uma vez. Ao fim e ao cabo, tinha-a pedido em casamento. Tinham-se casado. Devia ter havido algo entre os dois

Ou talvez Marlene tivesse razão.

Só havia uma maneira de descobrir. Finn levou uma mão à fronte para tentar controlar a dor que começava a alastrar por trás dos olhos e sussurrou:

– Santo Deus, pai, em que estavas a pensar?

 

 

O telefone.

O som interrompeu o sono de Ally McKnight, que tirou um livro, um saco de rebuçados e um caderno da mesa-de-cabeceira antes de encontrar o auscultador.

– Pela última vez, Tony, é muito tarde – murmurou, meio sonolenta e sem abrir os olhos. – Tenho estado toda a noite a trabalhar e não faz falta que me telefones para me controlar de meia em meia hora porque…

– Ally?

– Hã?

– Fala o Finn.

A surpresa fez com que abrisse imediatamente os olhos. Ia dizer algo, mas os pensamentos amontoavam-se na sua cabeça. Que podia responder?: «Quem? Ah, pois. O marido que não quis o nosso filho». Até mesmo «desculpe, foi engano». Em qualquer caso, frases pronunciadas com uma frialdade árctica. Mas em vez disso…

– Telefona-me a uma hora decente! – exclamou, antes de desligar com as mãos trémulas.

Continuava a olhar para o telefone quando este voltou a tocar.

– O meu telemóvel tem a bateria carregada, assim que posso estar a ligar-te toda a noite – avisou-a Finn.

– O que é que queres?

– Tenho de te ver – a profunda voz masculina, com esse ardente e sensual sotaque escandinavo, provocou-lhe uma dúzia de sensações por todo o corpo.

– Desculpa?

– Tenho de te…

– Ver, pois.

Que tinha sido do tom frio que tantas vezes tinha ensaiado, para o caso de chegar aquele momento? Agora, no entanto, soava tão trémula e tão trôpega como uma adolescente.

Ally deu um pontapé aos lençóis e levantou-se. Por fim ia fazê-lo. Dois meses, três semanas e cinco dias desde que o deixara plantado, o seu marido tinha decidido assinar os papéis do divórcio.

– Ally? Estás aí?

– Sim. Porquê?

– Necessito que me faças um favor.

– Um favor? Que tipo de favor?

– Para começar, estou preso no aeroporto devido à greve de transportes. Não há táxis nem autocarros…

– Estás aqui, em Sidney?

– Sim.

Ally deixou-se cair pesadamente sobre a cama, o colchão protestando sob o seu peso.

– Por que vieste cá?

– Olha, Ally, viajei durante vinte e seis horas e preciso de tomar um duche. Vem buscar-me e então discutiremos sobre isso.

Uma réplica muito típica de Finn: uma ordem. No tom de alguém que se pergunta: «por que se está a fazer tão difícil?». Mas o calor, a intimidade dessa voz invadiu o seu bom senso. E essa sua mente traidora voltou ao aeroporto internacional de Copenhaga…

Era uma fria manhã de Dezembro. O tempo, como ela, triste, nublado, cinzento. Era tão ingénua então, estava tão apaixonada. Por isso partira.

«E agora, depois de tanta dor, agora que tinhas conseguido esconder essas lembranças para sempre, ele volta a bater à tua porta».

– Nós acabámos, Finn – recordou-lhe. – disse – Ally engasgava-se com as palavras, mas o orgulho obrigou-a a prosseguir. – Estás com outra pessoa. Por que te iria eu buscar?

– Pensei que tínhamos ficado amigos…

– Os amigos não aparecem assim, sem avisar, a meio da noite – interrompeu ela. E os amigos não te partem o coração. – Já não somos amigos, Finn. Somos ex-marido e ex-mulher.

– Mas ainda não somos exactamente isso, pois não?

Ally conteve o fôlego.

– Olha…

– Quero que entendas…

– Que entenda o quê? Tu nunca me entendeste a mim. Uma das nossas muitas diferenças.

– Tenho os papéis do divórcio. Queres que os assine, não queres?

– Posso solicitar o divórcio sem a tua assinatura.

Era um suspiro de exasperação que acabava de ouvir no outro lado da linha? Com certeza que sim. Ela sempre o tinha frustrado porque não era previsível, como Finn gostava.

– Ally, não me deixas outra escolha. O teu apartamento…

– Que se passa com ele?

– Eu sou o dono de todo o edifício.

Ally olhou para o telefone, incrédula.

– Como? A que estás a brincar?

– Não estou a brincar a nada. Vem buscar-me e dou-te todas as explicações que quiseres. Espero-te na florista do terminal.

E depois disso, desligou. Ela olhou de novo para o telefone, incrédula. Tinha desligado. Tinha-lhe desligado.

«Seria filho de…»

Ally desligou o telefone com tal força que lhe pareceu ouvir um rangido.

Era uma piada. Tinha de ser.

Apertando os punhos, obrigou-se a si própria a recuperar a calma. Pouco a pouco, enquanto tocava o mal inchado abdómen de doze semanas, recordou a última discussão que mantiveram.

«Tu nunca te centras em nada», atirara-lhe Finn à cara, com raiva e frustração nos olhos. Não te comprometes com nada. Especialmente com o nosso casamento. Que género de mãe serias?».

Finn quereria que voltasse para ele? Ally abanou a cabeça. Não, isso nunca.

Teria descoberto sobre a criança?

O medo fez o seu coração acelerar. Finn não tinha dito nada sobre isso…

E se não fosse buscá-lo?

Não, então tomá-lo-ia como um desafio. E, sendo um desafio, faria o possível e o impossível por seduzi-la… e consegui-lo-ia, convencê-la-ia a fazer tudo o que ele quisesse.

Foi assim que terminaram na cama. E casados. Com Finn, perdia a cabeça. A sua capacidade de persuasão e o seu poder de atracção europeu eram tão letais como os seus diabólicos olhos verdes.

Mas fosse o que fosse que Finn queria dela, não tinha nada a ver com a criança. Ele sempre tinha deixado claro que a empresa familiar era o único importante na sua vida.

«Esperava que fosse pouco razoável, não esperava?», pensou, vermelha de ira. Pois ia ter uma surpresa. Ouvi-lo-ia, conseguiria os papéis do divórcio e ir-se-ia embora. Sairia da sua vida antes que descobrisse o que se tinha passado.

A vida punha-a à prova outra vez, como dizia a sua avó. Nada de histerias, nada de recriminações, apesar das hormonas que a enlouqueciam. Fria e tranquila. Poderia estar com ele porque todos os sentimentos que alguma vez albergara por Finn Sorensen estavam mortos.

Ally viu-se ao espelho da casa de banho. Claro que estavam mortos. Só restavam as lembranças. E esse filho do qual ele nada sabia.

O mais rapidamente possível, vestiu umas calças de ganga e uma camisola, fez um rabo-de-cavalo e dissimulou as olheiras com um pouco de maquilhagem sem deixar de pensar em Finn.

Na paixão urgente e intensa que tinham sentido um pelo outro. Finn tinha-lhe roubado o coração em menos de um mês. Ela não acreditava no amor à primeira vista até então…

E não voltaria a fazê-lo nunca.

O mundo de Finn Sorensen ter-se-ia virado de pernas para o ar como o seu quando saiu de Copenhaga?

«Duvido», pensou amargamente. «Não é ele que está grávido e sem trabalho».

Depois de calçar os sapatos, pegou nas chaves do carro e saiu para o patamar. Enquanto descia as escadas, não deixava de pensar na ingénua promessa que tinham feito quando se conheceram. «Não importa o que suceda, não importa com quem estejamos, seremos sempre amigos».

Amigos. Grande piada. Os amantes nunca podem ser amigos.

Para manter o juízo, Ally tentava não pensar no seu corpo desnudo, estendido a seu lado na cama. Em como os seus beijos a faziam tremer de desejo. Em como um olhar, um toque, era tudo o que necessitavam para arrancarem a roupa.

Ally entrou no carro, suspirando. Deveria recordar que o sexo era só uma parte do casamento. A confiança, o compromisso, isso era o mais importante. Ser compatíveis, ter os mesmos gostos, os mesmos objectivos.

Tinha de haver uma explicação lógica para a sua repentina aparição. Apesar da sua arrogância, Finn não era uma pessoa ilógica. Estavam em Março, um bom momento para desfrutar do final do Verão na Austrália…

Oh, não, pensou, pisando o travão. E se não tinha ido sozinho?

Ally franziu a testa ao pensar numa loira de longas pernas chamada Dane dependurada do braço de Finn. Não te preocupes, querida, dir-lhe-ia o seu ex-marido. A Ally é só uma boa amiga.

Essa cena dava voltas na sua cabeça até que o condutor de trás começou a tocar a buzina, impaciente.

Muito bem, pensou, pisando o acelerador. A sua avó Lexie sempre lhe dissera que não devia assustar-se com o que a vida lhe reservasse. E neste instante acabava de lhe colocar à frente Finn Sorensen.

 

 

Ally estacionou o diminuto Suzuki no terminal internacional do aeroporto. O ar fresco da noite provocou-lhe um calafrio, as chaves do carro tilintando entre os seus dedos. Caminhava com passo firme, mas à medida que se aproximava das portas de vidro, os nervos e a incerteza fizeram-na vacilar.