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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Jane Porter-Gaskins

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Jogo de corações, n.º 2127 - novembro 2016

Título original: Taken by the Highest Bidder

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9186-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

O marido de Samantha van Bergen tinha desaparecido. Mais uma vez. Mas, felizmente, Sam sabia onde estava.

Sabia onde encontrá-lo, quando não voltava para casa depois de vários dias.

Enquanto subia as escadas do Le Grand Casino de Monte Carlo, pensava que se tratava de uma batalha entre eles, uma batalha que estava a perder.

Johann sempre fora um jogador compulsivo, mas houvera uma altura em que ganhava algum dinheiro. Antes costumava afastar-se das mesas, quando as coisas ficavam com mau aspecto. Mas agora já não o fazia. Ficava ali sentado, a perder.

Quando a porta da sala VIP se abriu, Carlo estava sentado, a beber um copo na sua mesa de jogo preferida. Incomodado pela interrupção, olhou para cima, mas o seu aborrecimento dissipou-se rapidamente quando reconheceu a bela e loira Samantha van Bergen, mais conhecida como a baronesa de Bergen.

Fez uma jogada e olhou para ela. Havia algo naquela jovem inglesa que o fascinava. Não sabia porquê. Só a vira uma vez, mas impressionara-o tanto, naquela noite seis meses antes, que não a esquecera.

A primeira vez que a vira, também fora no casino. Carlo, tal como todos os homens na sala, virou-se para olhar para ela.

A baronesa era baixa, magra e muito bela. Tinha uma cara ovalada, muito delicada, o cabelo loiro e com caracóis longos, o que lhe dava um ar angélico. Havia muitas raparigas bonitas naquele lugar, mas a sua expressão séria dera-lhe que pensar.

Olhou para a jovem baronesa enquanto esta permanecia de pé, sem qualquer indício de nervosismo ou insegurança no seu rosto. Quando se aproximou de Johann van Bergen, a sua expressão era de pura concentração, uma demonstração de preocupação profunda.

Carlo tinha a certeza de que aquela devia ter sido a mesma expressão de Joana d’Arc, antes de entrar numa batalha.

Carlo nunca gostara de Johann e nunca haveria de gostar. Sentara-se naquela mesa de propósito, para jogar contra o barão. Descobrira, há alguns meses, que Johann van Bergen não sabia nem jogar às cartas, nem apostar e que também não era capaz de abandonar uma mesa de jogo, mesmo quando estava a ser depenado. E naquela noite, sem dúvida alguma, estava a depená-lo.

Carlo pegou em algumas fichas e atirou-as para cima da mesa, igualando a aposta de duzentas e cinquenta mil libras. Não era uma aposta pequena, mas também não era das grandes. Naquela noite já tinham estado em jogo mais de cinco milhões de libras. E, mais uma vez, Carlo voltara a ganhar a Johann.

Com os olhos semicerrados, observava-a. Samantha aproximava-se da mesa exactamente quando um dos seus longos caracóis caiu para a frente, sobre o seu peito. Invejou aquele caracol. Sentiu o desejo de o enrolar à volta do dedo e brincar com ele, para depois o deixar cair entre os seios dela.

Então, levantou o copo para beber um gole do seu uísque. Aquele gole permitiu que o desejo fervoroso que sentia por Samantha se dissipasse um pouco. Fazia com que se sentisse curioso, carnal e possessivo.

Inclinou-se sobre as costas de Johann e colocou uma mão sobre a coxa dele.

A mão dela não devia estar sobre a coxa de Johann, mas sobre a sua. Carlo imaginou-se a beijá-la, até os lábios e língua dela se abrandarem debaixo dos seus. Imaginou-a nua na sua cama, os membros suaves dela contra os seus.

Mas a sua Joana d’Arc loira tinha uma missão para cumprir e não ligava a ninguém, excepto a Johann, com quem falava num tom suave. Carlo não conseguia ouvir o que dizia a Johann van Bergen, mas o barão limitou-se a responder-lhe com voz seca e fria:

– Vai-te embora para casa, era lá que devias estar!

Mas ela não se foi embora. Continuou a sussurrar ao ouvido de Johann palavras prementes que apenas o barão conseguia ouvir, palavras que só o enfureciam mais.

– Não preciso de uma mãe – disse secamente. – Já tive uma. E não preciso de ti. Tu não fizeste nada por mim.

Samantha corou e recompôs-se daquela humilhação dolorosa da forma mais digna que conseguiu. Sem dizer nada, tirou a capa que levava posta e entregou-a a um dos homens que estava junto à porta. Depois, aproximou uma cadeira e sentou-se atrás de Johann.

Durante a meia hora seguinte, Carlo observou-a.

Gostava de olhar para ela. Da última vez que a vira, há seis meses, parecera-lhe extremamente bela. Naquela noite, no entanto, parecia-lhe ainda mais deslumbrante. Desejava-a. E tê-la-ia, mais tarde ou mais cedo, embora fosse a esposa de outro homem.

Carlo atirou as cartas para cima da mesa. Em seguida, recostou-se na sua cadeira e observou atentamente aquela mulher. Porque ele já a considerava como se fosse sua. Tinha tudo o que ele desejava numa mulher: era jovem, magra, sexy e casada. O facto de ser casada tornava-a ainda mais sedutora.

A sensação de se sentir provocado agradava-lhe. Era agradável desejar alguém. Fazia com que se sentisse vivo e ele sabia, melhor do que ninguém, que já não sentia nada por ninguém.

Pensou que o barão era estúpido por se ter casado com uma mulher como ela, para depois ignorá-la. Porque havia ali mulheres belas, mas a jovem esposa de Johann não era a típica beleza loira, era algo muito mais refinado.

Decidiu desmascarar o bluff que Johann estava a fazer e obrigou o barão a mostrar as suas cartas. Tal como das outras vezes, não tinha nada.

Era com grande esforço que Carlo tentava disfarçar o seu desprezo. Johann estava a deitar tudo a perder com o jogo. Ele considerava-o um estúpido. Um jogador devia perceber quais eram os riscos e aceitá-los. Mas Johann não era um jogador a sério, não sabia arriscar e também não sabia o que era perder.

Ele, pelo contrário, sim. Sabia o que era ganhar e sabia o que era perder, e da última coisa não gostava nada. Por isso, nunca perdia. Havia tanto tempo que não perdia, que quase se esquecera.

Mas aquela ligeira sensação de amargura, a de perder, ainda lhe queimava a boca e o coração, e levava-o a arriscar-se mais. A arriscar e a ganhar.

Para ele, era uma sensação de conquista.

 

 

Sam estava sentada atrás de Johann, a olhar para o jogo do seu marido. Interrogava-se se ele estaria tão nervoso como ela. Não tinha absolutamente nada e, no entanto, permanecia ali, como se todas as cartas fossem ases.

«Meu Deus, Johann, o que estás a fazer?»

Já tinham perdido a mansão. As contas bancárias estavam com saldo negativo. Já não havia nada para apostar.

Irritado, Johann atirou as suas cartas para cima da mesa, mostrando o que tinha. Nada. Apenas três setes.

Sam tentou disfarçar a sua vergonha. Três setes. Perdera a sua casa com três setes.

Mas onde estava o seu bom-senso? O seu instinto de sobrevivência? Porque fazia tantas coisas estúpidas?

– Vou-me embora – disse Johann.

Johann era um barão austríaco, um playboy que fazia parte da alta sociedade de Monte Carlo e que mantinha o seu bronzeado apanhando banhos de sol, todos os dias, no terraço da piscina, normalmente com um cocktail na mão.

– Não resta nada, Belluci.

Sam agradeceu a Deus que tivesse acabado.

– Johann…

– Cala-te! – exclamou ele.

Ela corou e mordeu a língua. Sabia que aquele homem chamado Belluci estava a olhar para ela e a ouvir tudo. Sabia que Belluci olhara para ela durante a noite, sentira várias vezes os seus olhares, que se haviam tornado cada vez mais longos. Faziam-na sentir-se estranha. Faziam com que se sentisse sozinha. E totalmente vulnerável.

Não queria sentir-se assim. Nem naquele momento, nem nunca.

Belluci sorria preguiçosamente, enquanto colocava as suas cartas em cima da mesa.

– Tinha uma sequência boa.

– Por pouco, ganhava – afirmou Johann, enquanto pedia outra rodada para todos.

As mãos de Sam abateram-se sobre os seus joelhos.

«Por favor, já chega de bebida. Já chega de álcool, por esta noite».

– Por muito pouco! – exclamou Carlo.

De repente, pela primeira vez, Sam apercebeu-se das armadilhas que Belluci montara a Johann ao longo da noite, incitando-o a continuar, e odiou-o por isso. Mas qual era o objectivo que o levava a continuar? Já despojara Johann de tudo. Da sua casa, das suas riquezas e do seu respeito. Que mais queria tirar-lhe?

– Por muito pouco – assentiu Johann.

Então, Johann ficou quieto a olhar para o outro homem.

– Mais um jogo? – propôs, mordendo o isco.

– Johann, por favor!

– Já te disse para estares calada! – exclamou Johann.

O calor abrasava-lhe a cara. Era humilhante estar naquele lugar, a suplicar ao seu marido que parasse e lhe prestasse atenção. Mas estava disposta a fazer tudo o que fosse necessário para o conseguir. Estava disposta a fazer o que fosse necessário pela pequena Gabriela.

– Johann! – suplicou suavemente.

Johann ignorou-a. Mas Belluci olhou para ela, com um olhar calculista que a atravessou. Um olhar que dizia que ele era desumano e orgulhoso, e que estava sedento de sangue.

Ela inclinou-se para a frente e tocou no ombro de Johann.

– Johann, suplico-te…

Johann tirou-lhe a mão do seu ombro com um gesto brusco.

– Vai-te embora para casa, antes que eu peça aos seguranças que te expulsem.

– Não podes continuar – sussurrou ela, com a cara corada.

Estava completamente aterrorizada. O futuro nunca lhe parecera tão escuro.

Johann olhou por cima do ombro e fez um gesto ao segurança, que estava ao pé da porta da sala VIP.

– Importa-se de acompanhar a baronesa à saída? – perguntou com frieza e fez um gesto para que lhe servissem outro cocktail. – Ela deseja ir-se embora.

Toda a gente, menos Johann, estava a olhar para ela, mas ela não se alterou, apesar de o segurança já a ter agarrado pelo braço.

– Isto não se faz! – gritou ela.

Mas ninguém respondeu. Conseguia sentir os olhos de Belluci cravados nela.

O guarda inclinou-se.

– Por favor, madame.

Sam levantou-se totalmente enfurecida.

– Se não te importas comigo, pelo menos pensa em Gabby.

Ele não respondeu. Era como se nem sequer a tivesse ouvido. Em vez de reagir, continuou a beber tranquilamente o cocktail, enquanto o croupier distribuía as cartas.

Um dos seguranças acompanhou Sam por entre os sons das Slot Machines do casino. Ela detestava casinos, odiava aqueles sons, as cores e as luzes, todo aquele falso glamour que seduzia tantas pessoas.

Felizmente, o segurança não lhe tocou, nem se apressou a expulsá-la. Não havia nenhuma pressa. Ela, tal como os seguranças do casino, sabia que o que se estava a passar já estava fora do seu controlo. Ninguém tinha o poder de parar um jogador compulsivo. Monte Carlo fora construído com o dinheiro de jogadores que não sabiam controlar-se.

Sam voltou para a zona antiga, para ir buscar a sua filha, que ficara em casa de vizinhos. A pequena Gabby estava a dormir. Levou-a ao colo para casa e deitou-a. Depois, desceu para a sala, onde se sentou numa das poltronas, enrolada numa manta. A casa estava fria, mas não podia aumentar o aquecimento. Já não podiam dar-se a esses luxos. Não tinham dinheiro para nada.

As lágrimas começaram a correr-lhe pelas faces, mas ela pressionou os olhos com as palmas das mãos para não chorar. Não podia chorar. Apenas as crianças e as pessoas fracas choravam.

Mas algumas lágrimas conseguiram cair na mesma, apesar da barreira das suas mãos.

Tudo aquilo lhe parecia demasiado triste. Fazia tudo o que lhe era possível para dar à sua filha Gabriela uma vida melhor. Por isso casara-se com Johann, por isso suportara tantos desprezos. Sam fazia tudo o que estava ao seu alcance para melhorar a vida da sua filha. Mas não servira de nada. Johann estava decidido a continuar a jogar e a beber, a qualquer preço.

Depois de um longo momento, finalmente adormeceu e só acordou quando ouviu os passos de Gabriela nas escadas.

– Onde está o papá? – perguntou a pequena Gabby.

Gabby já estava com o uniforme da escola vestido, era uma menina de cinco anos realmente bonita. Era raro o dia em que alguém não parava Sam na rua, para lhe dizer como a menina era bonita.

A mãe de Gabby tinha sido uma modelo espanhola.

Inclusivamente, trabalhara em alguns filmes em Espanha. Sempre tivera a esperança de ir para Hollywood, para tentar a sua sorte, mas morrera de forma trágica, um ano depois de Gabby nascer. Havia certos pormenores sobre a morte da mãe de Gabby que ainda não tinham sido esclarecidos. No entanto, Gabby herdara a beleza espanhola da sua mãe.

– Linda menina! Já estás pronta – disse Sam, pondo-se de pé e dobrando a manta. – O teu papá saiu e volta já.

– Há dias que não vem a casa – disse Gabby em tom queixoso. – E tu ainda tens vestido o mesmo fato de ontem à noite.

– Ontem à noite adormeci na poltrona. Vamos tomar o pequeno-almoço e depois ajudo-te a penteares-te.

Sam continuou a falar e a distrair a menina até chegarem à escola, que ficava a quinhentos metros da casa, mas, depois de se despedir dela, sentiu que as suas defesas se iam abaixo.

O que iriam fazer a partir daquele momento? Como iriam desenrascar-se? Como iriam pagar a escola da menina? Não tinham casa, nem dinheiro, nem comida…

Sam não tinha nada próprio, nem sequer uma conta bancária. Quando se casara com Johann, ele deixara de lhe dar dinheiro para os seus gastos e o pouco dinheiro que Sam poupara, ao longo daqueles últimos anos, já o gastara com Gabriela. Johann não compreendia que as meninas cresciam e que era necessário comprar-lhes roupa e brinquedos novos.

Enquanto regressava a pé para casa, Sam enfrentou a realidade da sua vida. Durante os quatro anos que estivera com van Bergen, a sua vida só piorara. Se tivesse família, teria ido com Gabby viver com eles. Mas não lhe restava família e passara a maior parte da sua infância e adolescência num orfanato em Chester. Acabara o liceu aos dezassete anos e, com a ajuda de uma bolsa da paróquia, entrara na universidade em Manchester, mas, mesmo com a bolsa, tivera de trabalhar a tempo parcial para pagar as despesas.

Subiu os quatro degraus da sua casa e entrou. No momento em que estava prestes a desabotoar o casaco, ouviu a voz de Johann a chamá-la.

– Baronesa, se tiveres um minuto, gostava de falar contigo.

Ela apresentou-se diante dele com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco.

– Sim?

– Por favor, tira o casaco. Ver-te assim encasacada deixa-me nervoso.

Sam desabotoou lentamente os botões do casaco e colocou-o sobre uma poltrona.

– Do que queres falar?

Johann tinha um copo na mão.

– Resolvi a minha dívida com Belluci.

A nuvem escura que pairava sobre a sua cabeça, de repente, dissipou-se. Com o alívio até se sentiu nauseada e não conseguiu esconder um sorriso.

– A sério? É maravilhoso! Fico tão contente!

– Chega dentro de uma hora para te vir buscar.

Sam suspirou fortemente e depois voltou a respirar.

– O quê?

Mas Johann não lhe respondeu. Em vez disso, um silêncio tenso instalou-se na sala de estar. Sam conteve a respiração, era incapaz de pensar, não percebia nada. Tinha a certeza de que Johann esclareceria aquele mal-entendido.

Mas ele não disse nada.

– Diz qualquer coisa – disse ela em voz baixa.

– Já disse.

Sam só via pequenas luzes diante dos olhos.

Aquilo não podia estar a acontecer com ela. Com certeza percebera mal.

– Então repete isso.

– Entendeste-me perfeitamente da primeira vez.

Sam não conseguia acreditar que ele tivesse feito aquilo. Era um jogador compulsivo desde que o conhecia, mas aquilo era impensável.

Assustada, Sam deu um passo na direcção dele, antes de parar e dar outro.

– Tu não podes ter-me trocado por…

Os olhos de Johann abriram-se fugazmente e ele olhou para ela com desprezo, antes de se recostar na poltrona.

– Apostei-te e perdi-te.

– Perdeste-me? Como pudeste perder-me?

– Estas coisas acontecem.

– Explica-me tudo.

Ele abriu um olho e olhou para ela, inspeccionando-a.

– Tens um vestido novo?

– Não. Não podemos dar-nos ao luxo de ter roupa nova, lembras-te?

Johann resmungou e mudou o copo de mão.

Mein Gott, fazes-me lembrar a minha mãe. Ela também era uma resmungona.

Sam não se alterou. Johann podia achincalhá-la, se quisesse. O seu casamento fora de conveniência, de qualquer forma. Nada mais e nada menos do que isso. Não lhe importava o que ele pudesse pensar, como também não lhe importara a sua opinião acerca dela, quando se casara com ele. A única razão pela qual se casara com ele fora para proteger a menina. Uma menina que ele rejeitava e descuidava.

– Eu não vou com ele – disse ela. – Vais ter de arranjar outra forma de saldar a tua dívida.

– Oh?! Agora armas-te em dura? Interrogo-me se serias tão dura agora, se eu lhe tivesse oferecido a minha filha em vez de ti. Gabriela, a minha linda filhinha!

Riu-se e mexeu os cubos de gelo dentro do copo.

– Eu também pensei nisso. E porque não? Mas Belluci queria-te a ti. Não sei porquê. Não tens dinheiro, nem educação, nem contactos, nem família. És britânica. És chata. E se me permites acrescentar mais uma coisa, és frígida.

– Não importa que eu seja frígida, já que não terás a oportunidade de o confirmar.

– Eu, de certeza que não. Mas não creio que ele te queira para outra coisa.

– E o que vou fazer agora?

– Carlo virá buscar-te. Agora tu és problema dele e desejo-lhe toda a sorte do mundo.

– Johann!

– Tens de gritar? Dói-me a cabeça.

Ela inclinou-se para ele.

– Isto não tem graça!

– Eu sei. Mas perdi tudo. Os meus carros, as minhas propriedades. E agora, a minha mansão. Perdi tudo.

– Porque apostaste isso tudo?

– Meu Deus, Sam! Também não é que tenha matado alguém. Foi tudo um erro!

Sam ficou petrificada a olhar para o homem que fora o seu marido durante quatrocentos e sessenta e cinco dias, e o seu chefe durante dois anos. Era alcoólico, jogador compulsivo, mulherengo e o pai de uma das meninas mais bonitas do mundo.

– E o que será de Gabby?

– Não sei. Não chegámos a falar dela.

– Não vou permitir que fique aqui contigo. Se eu me for embora, Gabby virá comigo.

Johann bebeu outro gole, deixando o copo praticamente vazio.

– Isso não depende de ti. Não depende de ninguém. Ele decide. Ele é o teu dono, agora.

O seu dono? Como se se tratasse de um pedaço de carne. De uma propriedade?

A sua garganta começou a inchar de dor. Sempre soubera que Johann nunca a amara e que só se casara com ela para impedir que a família de Gabby a levasse, mas por que razão se mostrava tão cruel e frio com ela?

– Vais usar Gabby para que vá para a cama com um homem?

Sam afundou-se no canto do sofá.

– A mim, nunca me serviste de nada.

Sam sentia-se presa do pânico. Tinha vinte e oito anos e sabia perfeitamente quem era, e Johann tinha razão. Não era uma mulher provocante, nem tão pouco sensual. Apesar da aliança de casamento que tinha no dedo, não sabia nada dos homens, do sexo, nem do desejo. Sempre achara que uma mulher não precisava de um homem, que não era importante ser sexy. Estivera sozinha durante tanto tempo que não precisava de ninguém, excepto de Gabby. Ela amava Gabby como se fosse sua filha.

– Estou disposta a aceitar, mas com uma condição. Que me deixes adoptar Gabby.

– Não tenho esse poder de decisão.

Comportava-se como se Gabby fosse uma bola de ténis. Estava disposto a atirá-la em qualquer direcção, para onde mais lhe conviesse.

– Mentira! Tu és o seu pai, o seu representante legal.

– Já te disse, Sam. Porque não me ouves? Carlo vem por causa de ti. Ele quer-te a ti. Só a ti. Percebes?

Ouvia-o, mas não percebia.

A ideia de que um homem a quisesse era incompreensível para ela e ficou a olhar para Johann durante tanto tempo, que começaram a doer-lhe os olhos, a mente e o coração.

O barão van Bergen era arrogante e decidido. Egoísta, impulsivo e imaturo. E o pai da menina mais bonita do mundo, que ela amava com toda a sua alma. Sam trabalhara como ama para algumas das famílias mais ricas do mundo e nunca conhecera uma menina como Gabriela.

– Quero vê-lo – disse ela. – Quero vê-lo agora mesmo.

– Virá mais tarde, Sam.

– Não vou esperar. Quero vê-lo agora mesmo. Tenho de falar com ele…

– E o que tem para me dizer?

Ouviu-se uma voz da entrada e, sem olhar para ele, Sam reconheceu a sua voz. Carlo Belluci. O diabo tinha chegado.