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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Carole Mortimer

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O fogo da inocência, n.º 2159 - dezembro 2016

Título original: The Innocent Virgin

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9194-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Abby meteu-se na banheira perfumada, sentou-se e deslizou para debaixo das borbulhas. Prendeu o cabelo preto para que não se molhasse. Tinha uma taça de champanhe numa mão e o telemóvel na outra.

Bebeu um gole de champanhe e deixou afundar o telemóvel, sorrindo ao ouvir um «glug» quando o aparelho foi ao fundo.

O telefone fixo estava desligado e o intercomunicador do edifício também. Nada nem ninguém ia perturbar aquele momento.

Bebeu outro gole de champanhe e olhou à volta. A única luz que havia era das doze velas aromáticas que tinha acendido. Sorriu ao ver a opulência do que a rodeava. O chão e as paredes eram de mármore de cor pêssego. O duche tinha todos os acessórios banhados em ouro. As toalhas eram da mesma cor que o chão e as paredes. Monty estava sentado no cesto da roupa suja, todos os seus frascos de perfume estavam alinhados numa prateleira de vidro debaixo do espelho, o balde de gelo que tinha a garrafa de champanhe estava ao lado da sua mão, e…

Monty estava sentado no cesto da roupa suja! Os olhos de Abby dirigiram-se para o gato persa. Fora buscá-lo a um abrigo. Inicialmente pensara que fora ela quem o escolhera. Mas passados poucos dias de o ter em casa fora evidente que fora Monty quem a escolhera a ela. Procurara um ser humano indulgente para que a sua vida fosse o mais confortável possível.

– Mas isso vai mudar a partir de agora, Monty. Receio que o frango cozido e o salmão tenham acabado – avisou o gato. – De agora em diante, podes considerar-te sortudo se puder comprar essa comida de lata que tanto desprezas!

Supostamente, os gatos não eram capazes de olhar com desprezo e cepticismo, no entanto, era assim que Monty a olhava naquele momento.

– Não é culpa minha – disse Abby. – É culpa daquele homem – bebeu um longo gole de champanhe. – Quero dizer, quem ia pensar que faria algo do género?

Não choraria. Não ia chorar!

Mas é claro que chorou. E acompanhou as suas lágrimas com soluços.

Como pudera fazer-lhe aquilo? E na televisão pública, em directo, em frente a milhões de espectadores!

Oh, Deus!

Cada vez que se recordava voltava a sentir a mesma humilhação.

– Semanas e semanas… Sete semanas para ser exacta… – esclareceu, chorosa –… Passei o tempo a tentar convencê-lo amavelmente que viesse ao meu programa. Sim, sei que tu gostavas dele, Monty – levantou a voz, indignada com a atitude do seu gato. – Eu também gostava – admitiu. – Se soubesses…! Se o tivesses ouvido! Eu não fazia ideia, Monty! – Abby tremeu. – Nem a mais remota ideia de que poderia fazer semelhante coisa!

Se tivesse imaginado, não se teria levantado naquela manhã.

De facto, pior ainda. Se tivesse suspeitado como seria aquela noite, teria comprado um bilhete para a Bolívia ou para qualquer outro sítio do outro lado do mundo e teria desaparecido para se poupar a toda aquela dor.

Sempre gostara do som daquele nome: Bolívia. Parecia tão misterioso! Tão romântico! Mas, conhecendo a sorte que tinha, certamente não seria nada disso. Também sempre gostara do nome Triângulo das Bermudas, e sem dúvida era outro mito.

Provavelmente tinha bebido demasiado champanhe…

– Está bem, ok… Estou a divagar… – disse quando o gato pareceu olhar para ela. – Mas se soubesses, Monty! – começou a chorar outra vez. – Se tivesses ouvido o que aquele homem me disse terias ficado em estado de choque! – já nada a surpreenderia depois daquela noite. – Oh, Monty! Nunca mais poderei voltar a sair à rua! Terei de pôr uma barricada atrás da porta. Vou pôr barrotes nas janelas. Nunca mais me atreverei a sair em público!

As suas lágrimas misturavam-se com o champanhe.

– Quando já não tivermos nada para comer, deixar-nos-emos morrer à fome, Monty!

Há quatro meses tudo parecera muito prometedor…

O facto de ter conseguido o lugar de rapariga da meteorologia para a hora do pequeno-almoço fora uma jogada interessante, tendo em conta que era incapaz de distinguir uma frente fria de uma isóbara. Tinham-lhe pedido que substituísse a apresentadora, que estava de baixa de parto. Causara impacto, e um conhecido produtor abordou-a para lhe oferecer seis programas de entrevistas de meia hora, que seriam em directo para a próxima Primavera.

Os três meses seguintes foram um sonho tornado realidade para Abby. Escolhera os convidados para cada semana, investigara-os e negociara a presença desses convidados… E tudo tinha corrido bem até chegar ao convidado que queria para o seu último programa.

Max Harding.

A sua intenção fora acabar o programa com uma coisa especial. Há muito tempo que Max Harding não aparecia na televisão britânica; há precisamente dois anos. Deixara o seu próprio programa e passara a ocupar-se das notícias do exterior. Não pisava um estudo de televisão desde que deixara o seu programa e o seu contrato lucrativo, depois de um dos seus convidados, um político, ter tentado suicidar-se em directo.

Mas ela teria de ter imaginado o que faria… fora muito estranho ter aceitado o seu programa depois de se ter negado durante tanto tempo…

– Quis fazer-me mal e humilhar-me, Monty… Como pôde fazer-me isto a mim, a nós, Monty? A nós, que tanto gostávamos dele…? – voltou a chorar. – Mas dei-lhe o seu castigo, Monty… à frente de todos os que o estavam a ver – recordou, com pena. – Milhões de espectadores viram-me bater-lhe! Sim, ouviste bem! Bati em Max Harding… Em directo! Na televisão!

Abby fechou os olhos ao recordar-se. Ela não era uma pessoa violenta. Nunca batera em ninguém, nem tinha desejado bater em ninguém. Mas certamente batera em Max Harding.

– E não lhe bati só, Monty. Eu… Irritou-me tanto! Magoou-me tanto…! Bati-lhe com todas as minhas forças! Em cheio no seu queixo arrogante! – sorriu, satisfeita ao recordar-se. – Devias ter visto como olhou para mim! Depois a cadeira cambaleou, caiu para trás e ele bateu contra o chão até ficar inconsciente!

E Monty devia ter visto a cara de Abby quando a raiva lhe passou e se deu conta do que fizera…

O estúdio ficara em silêncio. O público, mudo. Ninguém se atrevera sequer a respirar. Os câmaras tinham deixado de olhar para ela pelos seus aparelhos e olharam para ela directamente, com as bocas abertas de incredulidade.

O director da sala de controlo fora o primeiro a reagir.

– Abby, o que raios estás a fazer? Diz qualquer coisa! – gritou ao vê-la ali, de pé, muda. – Abby, faz qualquer coisa – ordenara-lhe Gary ao ver que ela continuava imóvel. – É televisão em directo, recordas-te?

Recordara-se então e virara-se para as câmaras, dando-se conta de que ainda estavam a transmitir.

Em pânico, só conseguira fazer uma coisa. Gritou, assustada, e pisou o corpo prostrado de Max Harding antes de sair a correr do estúdio.

Ninguém lhe falara na sua fuga. Ninguém tentara impedi-la. E era normal. Porque tinha feito asneira da grossa. Tinha infringido a regra número um de não perder o controlo em público, e manter a calma, à margem de qualquer provocação.

Tinha arruinado a sua carreira. Não voltaria a aparecer em televisão.

E esse era o motivo pelo qual estava fechada no seu apartamento, isolada do mundo.

– Ok! Aquele último gesto foi excessivo. Sobretudo tendo em conta que fiquei sem trabalho. E que ninguém me dará emprego! Mas sabes o que foi pior, Monty? – a sua voz tremeu com emoção e voltou a deixar escapar umas lágrimas. – Sei que gostavas de Max Harding. E eu achei que estava apaixonada por ele! Agora gostaria de nunca o ter conhecido!

Só o conhecera há sete semanas.

Sete semanas atrás ela estava em alta, eufórica com o sucesso do seu programa, cheia de entusiasmo, enquanto investigava e escolhia os convidados. Feliz com o seu sucesso repentino com apenas vinte e sete anos.

Porém até há sete semanas, Max Harding era para ela uma reputação, várias dúzias de fotografias. Não conhecia o homem em carne e osso.

Não se tinha apaixonado por ele…

Capítulo 2

 

– Sim?

Abby não conseguia fazer outra coisa além de olhar para o homem que estava de pé na entrada do apartamento. Não via um corpo tão despido desde que estivera de férias na praia de Maiorca no ano anterior.

Era um corpo muito masculino…

A toalha enrolada à volta da sua cintura e o seu cabelo escuro molhado explicavam porque é que tivera de bater quatro vezes até ele abrir. Evidentemente estava a tomar banho quando ela chegou.

Sozinho? Ou com alguém?

Aquela imagem de Max Harding tirou-lhe o ar. Embora devesse reconhecer que a sua aparência era um pouco familiar para ela. Vira-o nas notícias montes de vezes durante os últimos dois anos, a fazer reportagens de guerra em guerra. E vira muitas vezes o programa sobre política que tivera até que o deixara.

Mas nunca o tinha visto assim, seminu. E ao natural.

Abby corou. Não era a primeira vez que via um homem seminu, porém há muito tempo que não via um!

Não era fácil olhar para a cara de Max Harding. Ela sempre pensara que a sua expressão séria se devia aos assuntos que tratava nos seus programas. Mas pessoalmente, a sua expressão não era nada tranquilizadora. Dava a impressão de que nunca se ria, nem sorria.

Abby endireitou-se e fez cara séria.

– Não sei se já ouviu falar de mim, mas sou Abby Freeman…

Não conseguiu dizer mais nada. A porta fechou-se na sua cara.

Ele ouvira falar dela. No entanto, a sua reacção era um pouco drástica. Especialmente porque devia ter recebido pelo menos duas cartas a pedir-lhe que fosse ao seu programa, uma do pessoal que fazia as investigações para o seu programa e uma sua pessoalmente. Mas ele não respondera a nenhuma das duas. Pelo menos…

Ela ficou espantada quando, de repente, a porta se abriu novamente. Uma mão estendeu-se para agarrar a gola do seu casaco e puxou-a para dentro.

– Senhor Harding…

– Como diabos chegou aqui? – olhou para ela fixamente.

Apesar de estar seminu e de ter o cabelo comprido despenteado, o homem continuava a ter um aspecto imponente.

Abby pestanejou, totalmente aturdida ao ver-se outra vez dentro do apartamento em vez de lá fora.

Abby demorou a responder, enquanto compunha a t-shirt branca que usava por baixo do seu casaco preto. Tinha o cabelo preto solto por cima dos ombros e pôs-se a olhar para ele, fixando-o com os seus olhos azuis.

– Perguntei…

– O homem do andar de baixo deixou-me entrar…

– Depois de lhe ter contado o quê? – perguntou Max Harding com desprezo, com as mãos à cintura.

Tinha as ancas à mostra. A toalha começara a escorregar-lhe.

– Estou à espera de uma explicação, menina Freeman – continuou a olhar fixamente para ela.

Max Harding falava como se fosse um professor a repreender uma aluna.

– Talvez devesse vestir qualquer coisa, não? Tenho a certeza de que… estará mais confortável.

Ela também estaria, pensou Abby.

– Não estou desconfortável, menina Freeman – afirmou ele. A sua voz tornou-se mais bruta quando voltou a falar: – Que história contou a Henry para que a deixasse entrar sem me telefonar antes?

O seu olhar, frio como o aço, impressionava, pensou Abby. Era o tipo de olhar que poderia fazer com que alguém confessasse qualquer coisa.

– Disse-lhe que era a sua irmã mais nova, que era o seu aniversário e que queria surpreendê-lo – respondeu ela com sinceridade.

– Não está mal para uma principiante – replicou ele, fazendo uma careta.

Ela corou.

– Olhe…

– Quando sair… – disse ele como se ela não tivesse falado. – Pode dizer-lhe que conseguiu – abriu a porta. – Mais tarde falo com Harry!

Abby não se moveu. Depois de ter chegado até ali, não pensava ir-se embora tão facilmente.

– Espero que não pense repreender Harry… Posso ser muito persuasiva quando quero… – sorriu.

Ele não lhe devolveu o sorriso, embora olhasse para ela com um brilho fugaz nos olhos. Mas que desapareceu imediatamente.

– Escrevi-lhe várias vezes, senhor Harding…

– Duas vezes, para ser exacto – interrompeu-a. – Duas cartas que li antes de as deitar fora!

Era evidente que desfrutava ao dizer-lhe aquilo.

Ela tentou não mostrar a sua irritação.

Garantira a Gary Holmes, director do programa O show de Abby Freeman, que conseguiria que Max Harding fosse ao programa. Tinha aspirado a muito. Mas precisava de qualquer coisa, alguém realmente impressionante para acabar o seu programa em grande se queria que lhe oferecessem outro contrato.

Agora desejava ter falado com Max Harding antes de ter prometido aquilo a Gary.

Abby sorriu.

– Então deve saber que a meia hora será dedicada a si…

– Não.

– Oh! Tenho a certeza de que mencionei isso nas minhas cartas – Abby franziu o sobrolho. – Não ofereceria menos a um homem do seu nível profissional.

– Pare com a graxa, menina Freeman. Os elogios, neste caso, sejam do tipo profissional ou outro qualquer, não a levarão a lado nenhum! Não tenho intenção de aparecer no Show de Abby Freeman – disse aquilo como se se tratasse de algo obsceno.

No entanto Abby insistiu. Aquilo era demasiado importante para deixar que os insultos a aborrecessem.

– Mas você é um homem tão interessante, senhor Harding… Viu tantas coisas… Fez tantas coisas… que acho que o público ficará fascinado ao saber que…

– O que fiz e o que vi interessa tanto ao público como a si. A única coisa sobre a qual querem que fale é da noite em que Rory Mayhew tentou suicidar-se no meu programa de televisão – olhou para ela furioso. – E acontece que jamais falarei sobre isso em público. Ficou claro, menina Freeman?

Perfeitamente claro. E tinha razão sobre o incidente de Rory Mayhew. Fora algo tão impressionante, que ela não poderia deixar de perguntar por ele. Mas não era a única coisa que lhe interessava em Max Harding. Não iam estar a falar de uma tentativa de suicídio durante a meia hora do programa!, pensou.

– Eu tinha pensado falar sobre isso no início do programa, evidentemente. Mas depois pensei que podíamos falar sobre outras coisas, como os seus últimos dois anos como correspondente no exterior…

– Disse que não, menina Freeman.

– Oh, por favor, chame-me Abby! – exclamou ela com uma simpatia que não sentia.

– E você pode chamar-me senhor Harding. Mas primeiro… – aproximou-se da porta novamente.

– Tenho algumas perguntas para lhe fazer.

O seu tom suave era mais ameaçador que o seu sarcasmo e frieza anteriores e fez com que Abby se desse conta de que estava sozinha naquele apartamento com aquele homem, um homem muito zangado e forte!

Abby voltou a sorrir, embora por dentro estivesse preocupada. Aquele encontro com Max Harding não estava a ser absolutamente como ela pensara.

– Pergunte, senhor Harding. Fico contente por poder responder a qualquer pergunta que tenha sobre o programa. De facto, acho que é algo muito positivo p…

– A minha pergunta não tem nada a ver com o programa, menina Freeman. Tem mais a ver com a forma como conseguiu a minha morada, em primeiro lugar – disse ele com dureza. – E não me diga que a encontrou na lista telefónica – avisou. – Porque não estou na lista.

Abby começou a suar das mãos.

– O modo não é realmente importante – ela sorriu novamente.

– Para mim é – pôs-se em frente à porta. A sua única via para fugir.

O seu corpo musculado era como um muro.

E, além disso, gostava de a ver a sentir-se incomodada com a presença tão masculina.

Aquele homem irradiava um certo magnetismo sexual, que não tinha nada a ver com o facto de estar despido. Tinha uma rudeza, um autocontrolo que devia ter conquistado a pulso ao longo dos seus trinta e nove anos.

Max Harding fez um movimento repentino para ela com um gesto brincalhão. Abby recuou instintivamente.