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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Maggie Cox

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Juntos para sempre, n.º 2161 - dezembro 2016

Título original: The Wedlocked Wife

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9196-8

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Sorrel receava há algum tempo que aquele dia chegasse. O quarto formal para onde a conduziram parecia ecoar o seu receio e multiplicar o medo de que nada de bom poderia acontecer entre aquelas paredes.

Apesar de lá fora estar um daqueles dias maravilhosos de Primavera que faziam com que qualquer pessoa se sentisse feliz por estar viva, dentro daquela sala intimidante era impossível sentir algo parecido, não havia lugar para o mínimo raio de esperança. Como podia haver, tendo em conta que Sorrel estava prestes a encontrar-se cara a cara com o homem que a abandonara há três meses e com quem agora teria de falar sobre o divórcio?

Tinha um nó enorme no estômago… embora, na verdade, já há dias que se sentia assim.

A ideia de voltar a ver Reece entristecia-a. Sempre achara que o amor que os unia era inquebrável… que sobreviveria a todas as dificuldades que ameaçavam arruinar a relação. Os últimos meses tinham posto à prova a dita crença.

Na noite em que finalmente decidira abandoná-lo, Reece tratara-a com a frieza de um perfeito desconhecido. Uma pedra não teria podido ser mais insensível. Tinha estado tão imerso nas exigências do seu trabalho e na frenética actividade que isso implicava, que simplesmente não lhe ocorrera pensar que Sorrel pudesse ter algum tipo de necessidade. O seu marido tinha achado que ela era a intolerante, a que estava a criar problemas onde realmente não havia.

No dia seguinte àquilo, depois da pior discussão que tinham tido, Reece saíra muito cedo de manhã para apanhar um comboio para York, onde tinha uma reunião relacionada com um concerto de música clássica que estava a organizar e Sorrel nem sequer o vira. Na sua opinião, se tivesse tido o menor interesse em resolver a situação, não teria apanhado aquele comboio. Teria adiado aquela reunião «urgente e importante» e teria ficado em casa, a tratar de algo que era muito mais importante: o seu casamento. O facto de Reece não ter feito nada disso não deixara outra alternativa a Sorrel a não ser fazer as malas e vir-se embora.

Triste e decepcionada, Sorrel deixara a casa elegante e moderna que partilhavam em Pimlico, Londres, e refugiara-se temporariamente em casa da sua irmã, em Suffolk. Tivera de fugir.

Começara a lembrar-se de tudo… das discussões, da dor, das acusações, da insegurança horrível que sentia por pensar com quem estaria todo o tempo que passava longe de casa e as horas intermináveis em que ele não estava e Sorrel tinha desejos de gritar de desespero, um desespero provocado pela solidão. Era indiferente as coisas que fizesse ou com quantos amigos se reunisse, o vazio profundo que tinha na alma só podia ser preenchido com o amor e com a amizade do seu marido.

Ao casar-se com ele, Sorrel já sabia que, sendo um empresário musical de renome, o seu trabalho exigir-lhe-ia que viajasse constantemente. Como modelo, ela também costumava viajar, mas então chegara o momento em que os voos contínuos para o estrangeiro tinham perdido a emoção e Sorrel só tinha desejado ficar em casa… com Reece. Não sabia como explicar, de repente, sentira necessidade de assentar.

As discussões tinham começado quando ele deixara bem claro que não sentia a mesma necessidade. De facto, precisamente naquele momento, os compromissos laborais de Reece pareciam ter-se intensificado e Sorrel começara a deixar de o ver, a não ser, é claro, que o acompanhasse nas suas viagens. Mas cada vez apetecia-lhe menos fazê-lo.

 

 

– Já lhe sirvo um café, senhora Villiers… só estamos à espera que chegue o senhor Villiers. Encontra-se bem? Parece que tem frio. Quer que feche a janela?

Assim que o advogado se levantou da cadeira que presidia a enorme mesa de reuniões, Sorrel olhou para ele alarmada.

– Não! Não feche a janela, por favor.

Se o fizesse, Sorrel corria o risco de não conseguir respirar, precisava daquela brisa primaveril delicada que entrava pela janela e que contribuía para aliviar a sua ansiedade. Se fechasse aquela janela, a sala, já de si fria e claustrofóbica, parecer-lhe-ia ainda mais um caixão e não seria capaz de enfrentar Reece e aceitar o facto evidente de que já não a amava.

Fora ele quem insistira em fazer aquela reunião na presença de um advogado. Quando, há quinze dias, Sorrel recebera a sua carta, chorara até não poder mais. Esperara que aquela carta dissesse uma coisa completamente diferente. Talvez fosse ingénua, mas a verdade era que tivera a esperança de que falasse em perdão… e inclusive até em começar novamente. Mas isso não ia acontecer…

Pelas vozes que se ouviam do outro lado da porta, soube que o seu marido tinha chegado. Tentou preparar-se para o ver, mas não conseguia parar de tremer. Levantou o rosto e prometeu a si própria não permitir que nada no seu aspecto denunciasse a confusão que sentia no seu interior. Para quê dar-lhe mais motivos para que a desprezasse? Durante muito tempo, o seu mundo inteiro girara à volta daquele homem, o mesmo que agora estava a deixar-lhe bem claro que já não queria fazer parte da sua vida. Mal conseguia aguentar pensar nisso, mas não ia deixar que visse que estava destruída.

Assim que entrou pela porta, os seus olhos verdes fixaram-se nela, olhava para ela com hostilidade, uma hostilidade tão intensa como a adoração com que olhara para ela noutro tempo. Agora, no entanto, aquele olhar parecia nunca ter sido tocado pelo amor.

Sorrel não sabia de onde estava a tirar forças para continuar ali sentada em vez de sair a correr.

– Entre, senhor Villiers. Entre e sente-se, enquanto eu peço que nos tragam uns cafés. Já volto.

Edward Carmichael, o advogado de Reece, saiu da sala, deixando-os a sós. Sorrel conseguia sentir a tensão que se reflectia nas rugas da testa do seu marido. Não sabia o que dizer, felizmente, foi ele que falou:

– Vieste de carro? – perguntou-lhe num tom tão formal como o seu fato que usava ou como a sala em que se encontravam.

– Não, decidi vir de comboio caso houvesse muito trânsito – respondeu Sorrel com insegurança. Ia dizer-lhe que há uns dias que andava com problemas de estômago e que tivera medo de enjoar no carro, mas a seguir deu-se conta de que não era boa ideia partilhar com ele tanta informação. Corria o risco de que lhe demonstrasse mais uma vez o pouco que se importava com o que lhe acontecesse. – Mas bom… – acrescentou, encolhendo os ombros e tentando não sentir aquele mal-estar no estômago que, sem dúvida, se devia aos nervos acumulados durante os últimos três meses e ao receio perante o que o futuro lhe aguardava – pelo menos assim consegui ler um pouco.

Reece encostou-se às costas da cadeira e desabotoou os botões do casaco.

– Com um pouco de sorte, terminaremos em breve.

Seria isso que esperava realmente? Se assim fosse, era evidente que tinha o coração de pedra, pensou Sorrel, com uma tristeza profunda. Os seus olhos azuis observaram o rosto e o ar distante do homem que tinha à frente dela, aqueles traços marcados, o queixo e as maçãs do rosto que sempre achara incrivelmente sexys e aqueles olhos verdes inteligentes que complementavam na perfeição o cabelo loiro escuro. Era difícil acreditar que aquele homem alguma vez lhe tivesse dito que era a mulher dos seus sonhos, já que agora olhava para ela como se mal conseguisse suportar estar na mesma sala do que ela.

– Eu… não esperava que me enviasses uma carta como aquela – obrigou-se Sorrel a dizer, pois precisava de estabelecer uma ligação mais pessoal com ele, embora fosse sobre uma coisa que a magoava enormemente.

Precisamente naquele momento, o advogado regressou seguido de uma mulher que lhes levou o café e que saiu em seguida. Edward Carmichael sentou-se novamente junto ao seu cliente e pigarreou.

 

 

Reece sentira um arrepio no estômago e um aperto no coração assim que viu a sua belíssima e jovem esposa. Tinha consciência de que, durante os dois anos e meio de casamento, passara a maior parte do tempo fora de casa, em viagens de negócios, mas aquelas onze semanas e dois dias que tinham estado separados tinham-lhe parecido uma eternidade. Pelo menos antes, quando estava longe de casa, sabia que Sorrel o esperava. Agora, a casa elegante e moderna, que mandara construir para ela, era como uma prisão de aço e vidro, uma prisão luxuosa cheia de móveis caros e um silêncio ensurdecedor provocado pela sua ausência. Por isso Reece, actualmente, raramente lá ia, porque aquela casa transformara-se na lembrança dolorosa de tudo o que tinha perdido.

Por tudo aquilo, já não conseguia olhar para a perfeição angélica de Sorrel com o prazer de outro tempo. Aquela mulher abandonara-o para lhe demonstrar o desprezo que sentia por ele. Nem sequer tivera a decência de lhe deixar uma carta de despedida: apenas os armários meio vazios e a falta de duas malas tinham revelado a sua partida. Durante três longos meses, Reece não tivera notícias dela para o informar de como estava ou do que pensava fazer em relação à deterioração evidente da sua relação.

Torturou-se várias vezes com a ideia de que talvez tivesse conhecido alguém e que não se tivesse atrevido a confessar-lhe que a aventura era a verdadeira razão pela qual o tinha abandonado.

A pessoa mais próxima de Sorrel, além dele, sempre fora a sua irmã Melody, por isso, Reece não tinha duvidado em nenhum momento de que teria ido para sua casa. Depois de telefonar para confirmar que era assim e de Melody lhe assegurar firmemente que não havia mais ninguém na sua vida, Reece vira-se obrigado a aceitar a ausência da sua mulher. Mas isso não significava que não estivesse furioso por Sorrel lhe ter negado a oportunidade de expressar o que sentia. Provavelmente, fora essa raiva que o impulsionara a deixar de esperar que Sorrel tomasse uma decisão e a chegar à conclusão de que talvez o mais simples fosse optar por um divórcio rápido e simples. Para quê esperar, se a única coisa que tinham feito nos últimos meses fora discutir?

Reece estava farto. Jamais teria imaginado que a rapariga tranquila com quem se casara pudesse complicar-lhe tanto a vida ou a alterá-lo como nunca ninguém o fizera. A tensão que se apoderara da sua relação começara a afectar o seu trabalho, pois fazia com que tivesse a cabeça noutro sítio quando as suas obrigações laborais exigiam concentração total. No entanto, cada vez lhe fora mais difícil afastar a mente de tudo o que estava a acontecer, só conseguia pensar em Sorrel. E voltar a vê-la três meses depois não ia facilitar as coisas…

– O que acham se começarmos? – perguntou Edward Carmichael com um sorriso profissional, com o qual, sem dúvida, pretendia fazê-los ver que era a ele a quem deviam prestar atenção e não um ao outro.

Sorrel reparou que o advogado tinha as mãos pequenas e muito brancas, as unhas perfeitamente cuidadas e uma aliança de ouro grossa que lhe apertava um dedo gordinho. Sorrel desviou o olhar com tristeza, de repente, lamentava ter decidido nessa mesma manhã tirar o delicado anel que Reece lhe colocara no dedo no dia do seu casamento. Só o fizera porque lhe ocorrera a ideia descabida de que talvez lhe pedisse que o devolvesse. Agora percebia que Reece podia interpretá-lo como uma prova de que concordava em pôr fim ao seu casamento.

Tapou a mão, sentindo-se culpada. Ela não desejava aquele divórcio, jamais quisera que as coisas chegassem tão longe. Oxalá tivesse falado com ele quando ligara para casa de Melody, ou pelo menos tivesse entrado em contacto com ele depois de sair de casa para lhe dizer que se deviam encontrar e conversar sobre os seus problemas como pessoas civilizadas… talvez assim tivessem conseguido salvar o seu casamento. No entanto, Sorrel insistira em ficar em silêncio com a esperança estúpida de que fosse ele a ligar-lhe para lhe pedir perdão.

Ao fim e ao cabo, Reece dissera-lhe coisas terríveis naquela noite infeliz em que tiveram a discussão que pusera fim a todas as discussões. As suas palavras foram como punhais que se cravavam no seu coração, fazendo-o em pedaços. Enquanto deixava que as feridas se curassem, Sorrel não deixara de esperar que Reece desse o primeiro passo para a reconciliação. Mas, ao levantar o olhar para o observar em frente a ela, do outro lado da mesa, comprovou, com enorme dor, que parecia tão frio e distante como no momento em que entrara na sala. Era óbvio que desejava cortar para sempre tudo o que o unia a ela.

– Óptimo – disse ele, respondendo à pergunta do advogado. – Tenho de apanhar um comboio para Edimburgo daqui a algumas horas, por isso preferiria não me demorar muito.

Foi então que Sorrel sentiu o cheiro do café. O cheiro deu-lhe volta ao estômago e obrigou-a a pôr-se de pé e sair a correr antes que Reece ou Edward Carmichael tivessem oportunidade de dizer alguma coisa.

Depois de perguntar à secretária onde era a casa de banho mais próxima, Sorrel percorreu um longo corredor de ladrilhos brancos e pretos que, curiosamente, a recordou do estranho jogo de xadrez de Alice no País das Maravilhas. Quase não chegava a tempo à casa de banho quando começou a vomitar com espasmos terríveis.

Passaram vários minutos antes que o estômago voltasse a assentar e conseguisse regressar ao escritório do advogado. Quando finalmente o fez, estava tão pálida como a cal da parede e as pernas tremiam-lhe como varas verdes.

Reece esperava-a de pé e com um ar preocupado.

– Estás bem? O que aconteceu?

Dirigiu-se para ela e pôs-lhe a mão na cintura para a acompanhar até à cadeira. Sorrel sabia que se se atrevesse a responder naquele momento, arriscava-se a não conseguir controlar as lágrimas, coisa que a faria parecer ridícula mais uma vez à frente do seu marido e do advogado. A única coisa que desejava naquele momento era que Reece a apertasse nos seus braços e lhe dissesse que ia levá-la para casa.

Mas Reece e ela já nem sequer viviam juntos, recordou-se com tristeza… e certamente não voltariam a fazê-lo depois do que acordassem naquela reunião. Portanto, o melhor seria suprimir aquele desejo.

– Foi uma tolice… o cheiro do café, mais nada. Nunca me tinha acontecido. Lamento muito.

Sorrel não viu Reece ficar pálido também. Voltou para o seu lugar, mas não se sentou, preferiu ficar de pé e ela olhou para ele, desconcertada.

– O que aconteceu?

– Não te ocorreu pensar que podes estar grávida, Sorrel? – perguntou-lhe, com os olhos brilhantes.

Aquelas palavras caíram como uma bomba sobre ela. A sensação estranha que tinha no estômago há dias, o formigueiro nos seios, a necessidade de ter sempre as janelas abertas porque sentia falta de ar… Como nunca tinha estado grávida, Sorrel atribuíra todos aqueles sintomas ao nervosismo e à tristeza provocados pelo fracasso da sua relação. Estava sensível e desesperada porque, apesar de tudo, das discussões, da tensão e dos momentos de infelicidade, a verdade era que amava Reece quase mais do que à sua própria vida.

Além disso, nunca tivera uma menstruação muito regular, podiam passar dois ou três meses sem ter período e sem se preocupar com isso. Mas na noite antes da grande discussão, Reece e ela tinham feito amor durante horas. Depois de quase um mês sem se verem, sentiram tanta necessidade um do outro, tanto desespero por se entregarem à paixão, que, apesar das dificuldades, não tinham parado para pensar que não tinham usado protecção…

– Não estou…! Não pode ser!

Olhou para Edward Carmichael, que a observava com o sobrolho franzido e uma mão em cima da outra, como um juiz num julgamento medieval prestes a mandá-la para a fogueira.

– Só estou mal do estômago, mais nada!

– Foste ao médico?

A sua voz continuava a ser fria e distante, como se nada pudesse fazer com que voltasse a falar com ela com carinho.

– Não. Porque é que haveria de o fazer? Só estava… triste com isto tudo… com a nossa situação. Não pensei que houvesse outro motivo.

Estava aturdida. A magnitude da possibilidade de estar grávida começava a formar-se na sua cabeça.

– Acho que, dadas as circunstâncias, será melhor deixá-los conversar a sós, senhor Villiers – anunciou o advogado, levantando-se e olhando para eles com ar de reprovação. – Demorem o tempo que precisarem, só têm de avisar a minha secretária quando quiserem continuar.

Quando a porta se fechou, Reece percebeu que não sabia o que fazer com a corrente de emoções que lhe corria pelas veias. Sorrel estava grávida.

Precisava de tempo para assimilar a notícia. Ia ter um filho. Sentia-se como se uma poderosa corrente o arrastasse para os rápidos de um rio. Mas, de repente, ocorreu-lhe algo que tornaria aquelas águas ainda mais perigosas:

– É meu? – inquiriu com voz furiosa.

No seu olhar não houve um instante de fraqueza, mas Sorrel sentiu-se tremendamente magoada pela reacção cruel do seu marido.

– Não posso acreditar que tenhas de me perguntar isso. Claro que é teu! Por acaso achas que te traí? O que pretendes? Ridicularizar o nosso casamento, a nossa relação?

– Neste momento, não sei o que pensar. Achava que te conhecia, Sorrel, mas estava enganado. Soube isso quando me abandonaste há três meses.

Sorrel abanou a cabeça, tentando afastar a amargura da sua voz e do seu olhar.

– E não te passou pela cabeça que talvez tivesse alguma coisa a ver com o teu egoísmo e a tua falta de bom-senso? Era mais fácil para ti pensar que te tinha deixado por outro homem do que pensares na hipótese de também seres culpado. Reece, deixei-te porque estava farta de que me fizesses sentir que não era suficientemente importante. Os psicólogos dizem que é preciso o esforço de duas pessoas para conseguir que uma relação funcione e têm razão. Mas a ti, a única coisa que sempre te importou foi fazer o que querias, o que eu quisesse ou desejasse não importava minimamente!

– Isso é mentira e sabes disso! – exclamou ele, passando as mãos pelo cabelo. – Do que raios te queixas? Qualquer pessoa pensaria que viveste em condições difíceis. Vives rodeada de luxo, Sorrel. Podes viajar pelo mundo sempre que desejas. Eu não peço que te feches em casa, enquanto eu ando a trabalhar… a única coisa que te pedi foi que de vez em quando me acompanhasses para poder estar contigo. Isso parece-te assim tão insensato?

– E não podias ficar tu umas vezes em casa para estar comigo? Com tantas viagens não se pode formar um verdadeiro lar e sabes que isso é exactamente o que eu preciso, preciso de criar raízes e não sentir-me inútil.

– Sabias qual era o meu trabalho quando nos conhecemos. Na altura, parecia-te emocionante e sofisticado. Também sabias que tinha longas jornadas de trabalho e não encontraste nenhum inconveniente. Quanto à tua carreira, foste tu que disseste que já não te atraía e não te culpo por isso… mas devias ter percebido que não sou o tipo de homem que ficaria em casa e brincaria à família feliz contigo. Portanto, Sorrel, não te armes em ofendida como se não soubesses qual era a situação.

Nada mudara. Três meses separados e Reece continuava sem ter a menor intenção de parar para pensar no que ela desejava. A única solução era seguir em frente com o divórcio. Ele tinha razão.

Por um momento, Sorrel esquecera-se do novo dilema que enfrentava… a possibilidade de estar grávida de um filho dele. Nada estava a correr como ela esperara. As vezes que se permitira fantasiar sobre ter filhos, sempre sonhara que o seu marido receberia a notícia da gravidez com alegria. Mas a realidade não podia estar mais longe daquela fantasia.

Sorrel ficava com o coração partido só de pensar no seu bebé. Seria filho de pais divorciados, de duas pessoas incapazes de resolver as suas diferenças. Ficou com um nó na garganta que mal a deixava respirar. Os seus olhos azuis não conseguiam esconder a dor que sentia.

– E o bebé?

Suplicou em silêncio que não lhe sugerisse o mais inconcebível. Se o fizesse, Reece transformar-se-ia para ela num perfeito desconhecido. Fosse qual fosse a sua opinião, Sorrel tinha intenção de ter aquele bebé e criá-lo sozinha.

Reece virou-lhe as costas e afastou-se dela com as mãos nos bolsos. Depois parou, como se precisasse de ter a certeza do que ia dizer antes de dar meia volta novamente. Quando, finalmente, o fez, olhou para ela com um ar decidido.

– O bebé muda tudo – afirmou rotundamente.