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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

 

© 2011 Carole Mortimer. Todos os direitos reservados.

RENDIDOS AO PASSADO, N.º 1392 - Junho 2012

Título original: Surrender to the Past

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em portugués em 2012

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®, Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-0315-2

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversion ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

 

– Importa-se que me sente?

– É óbvio que não. De qualquer forma, já me ia embora.

Mia pronunciou aquelas palavras com uma cortesia efusiva antes de levantar o olhar. O seu sorriso cordial congelou assim que reconheceu o homem que estava junto da sua mesa, na cafetaria cheia de gente.

Como podia não reconhecer Ethan Black? Alto. Moreno. Enérgico. Arrogante. De uma beleza magnética. Mas...

Mia respirou fundo enquanto o observava, desafiante. Passara cinco anos sem o ver. O cabelo continuava a ser tão escuro como a noite, embora o usasse mais curto do que antes e cuidadosamente penteado. Continuava a parecer um modelo, com o seu rosto amplo, olhar inteligente, olhos cinzentos penetrantes, maçãs do rosto marcadas e nariz reto. E depois havia a boca, travessa e voluptuosa, e o seu queixo firme, quadrado. Uma boca que não sorria naquele momento...

Embora, essencialmente, continuasse a ser a mesma pessoa, algo mudara nele.

Ethan devia ter trinta e um anos, mais seis do que Mia, e a sua maturidade manifestava-se na profundidade cínica do seu olhar, que naquele momento tinha a cor de um céu invernal e sombrio. Tinha as faces mais afundadas e os olhos e a boca estavam rodeados de rugas finas.

Usava um fato de marca, um casaco de caxemira e sapatos de pele italianos, tudo preto. Media mais trinta centímetros do que Mia que, com o seu metro e sessenta e cinco de estatura, estava a sofrer de torcicolo.

– Ethan – disse, secamente, sabendo que a sua reação inicial fora demasiado óbvia para fingir que não o tinha reconhecido.

A presença dele na cafetaria de Mia não podia ser uma coincidência. Havia uma dureza na atitude de Ethan, em consonância com as mudanças na sua aparência. Uma arrogância que lhe recordava o homem para quem Ethan trabalhava: o seu próprio pai.

Mia elevou as sobrancelhas.

– Devias pedir um café e um bolo ao balcão, antes de te sentares.

Ele encolheu os ombros com indiferença.

– E se não quiser café e bolos?

– Então, penso que te enganaste quando entraste num estabelecimento que se chama «Coffee and Cookies».

– Não me enganei, Mia.

– É óbvio que não – concordou. – O omnipotente Ethan Black nunca se engana.

Ele ignorou friamente o comentário.

– Podemos falar em privado? – perguntou, passeando o olhar pela sala, cheia de gente a rir e a conversar.

– Receio que não – respondeu Mia, ao mesmo tempo que fechava a revista que estivera a folhear antes da chegada de Ethan. – A minha pausa da tarde acabou e, como podes ver, estamos um pouco ocupados.

Ele ficou imóvel, bloqueando-lhe o caminho.

– Tenho a certeza de que a dona pode parar sempre que quiser.

– Então, está claro que não quero.

Mia não se surpreendeu por Ethan saber que era a dona da cafetaria. Se soubera onde localizá-la a uma quinta-feira, às quatro e meia da tarde, também teria descoberto que era a dona do estabelecimento.

– Então, esperarei aqui sentado até acabares de trabalhar.

– Não podes ficar, se não pedires um café e um bolo.

– Vou pedir – replicou ele. – Ou melhor ainda, porque não nos encontramos num outro sítio, quando fechares?

Há muito, muito tempo, noutra vida, Mia teria adorado encontrar-se com Ethan. Em qualquer momento. Em qualquer lugar.

Há muito, muito tempo...

Parecia o começo de um conto de fadas. Provavelmente, o seu amor fora assim. Apenas uma fantasia.

– Como me encontraste, Ethan? – e suspirou.

– Estranhas que o tenha feito, quando o teu pai não o conseguiu depois de te procurar durante cinco anos?

Os lábios de Mia formaram uma linha fina.

– Se procurou durante todo esse tempo, então sim.

– Devíamos ir para um sítio privado para falar disso, Mia – insistiu, fazendo uma careta.

– Já disse que não. Foi o meu pai que te mandou vir aqui?

– Ninguém me manda ir a lado nenhum, Mia.

– Quer dizer que vieste falar comigo por vontade própria ou que o meu pai nem sequer sabe que estás aqui? – perguntou, cética.

– As duas coisas.

Era óbvio que aquilo o incomodava.

– Se o meu pai não te pediu, porque vieste?

– Já te disse, porque quero falar contigo – murmurou, num tom cortante.

– E se eu não quiser falar contigo?

– Estás a fazê-lo, mesmo que não gostes.

Era verdade. E Mia não tinha intenção de continuar a falar.

– Estou ocupada, Ethan – replicou, levantando-se.

Ele olhou à sua volta. A cafetaria era tão quente e acolhedora como uma sala de estar, com poltronas confortáveis à volta de mesinhas baixas e quadros nas paredes. Havia clientes de todas as idades: uma mulher com o filho, vários estudantes de uma universidade próxima e algumas senhoras idosas a conversar, e a beber café. O negócio tinha sucesso, verificou Ethan.

Virou-se para a mulher de expressão áspera que estava junto dele. Mia tinha vinte anos quando Ethan a vira pela última vez. Na altura, tinha uma cara bonita e luminosa, dominada por uns olhos verdes alegres, um corpo cheio e cabelo comprido e liso, da cor do milho maduro.

Mas aquela suavidade desaparecera. A cara era agora angulosa e o corpo era magro, e tonificado pelo exercício. O cabelo comprido e glorioso que lhe chegava à cintura, e que Ethan se recordava de ver a cair suavemente pela sua pele nua, também mudara. Mas tinha de reconhecer que o cabelo curto favorecia a beleza sóbria do seu rosto e destacava a cor esmeralda dos seus olhos.

Observou com incredulidade as mudanças produzidas nela, enquanto mexia a cabeça de um lado para o outro.

– O que aconteceu, Mia?

– A que te referes? – perguntou, com os olhos semicerrados.

– A tudo. Mudaste tanto que...

– Que nem o meu pai me reconheceria? – completou a frase.

– Imagino que era o que querias.

– É óbvio.

Ethan observou-a com olhar crítico.

– Talvez William não te reconhecesse, mas eu sim. Com roupa ou sem ela – acrescentou.

Mia suspirou.

– Isso não se diz.

– Vejo que não gostas que te recorde que nos vimos nus.

– Vai-te embora, Ethan. Agora!

Olhou para ela.

– Nunca te teria imaginado a trabalhar numa cafetaria e, muito menos, como dona de uma.

– E porquê? – perguntou, secamente. – Pensavas que a filha de Kay Burton não conseguiria trabalhar?

– Nunca te comparei com a tua mãe, Mia.

A mãe de Mia...

Uma anfitriã consumada. Belíssima. Mundana. Até ao acidente que, há nove anos, a privara não só da sua beleza, mas também do uso das pernas.

Mia fixou o olhar em Ethan.

– Se não te fores embora pelo teu próprio pé nos próximos trinta segundos, chamarei a polícia para te tirarem daqui à força.

Ele fez uma careta fingida de horror.

– E que razão tencionas alegar?

– Que estás a incomodar-me em público, por exemplo? Além disso, talvez possa chamar a imprensa. Tenho a certeza de que há mais de um jornalista que adoraria tirar fotografias a Ethan Black, enquanto o expulsam à força de uma cafetaria – provocou.

Ethan cerrou os dentes e semicerrou os olhos.

– Estás a ameaçar-me?

– Provavelmente – confirmou ela.

– Não percebes que posso ir embora agora, mas voltarei noutro momento?

Sim, Mia percebia... Agora que a encontrara, não ia desaparecer sem lhe dizer o que queria...

Tinham passado cinco anos. Cinco anos em que Mia mudara ao ponto de ficar irreconhecível, como Ethan dissera. E não se tratava apenas de mudanças físicas.

Há cinco anos, estivera perdidamente apaixonada por Ethan. Um sentimento a que ele tinha correspondido durante um breve período de tempo. A relação acabara de forma brusca, quando a mãe de Mia morrera repentinamente. Mia apercebera-se dos alicerces frágeis em que tinha construído o seu mundo, um lugar que sempre lhe parecera repleto de possibilidades e que lhe parecia de repente um espaço incerto e desolado.

– Faz o que quiseres – replicou ela, secamente.

– É o que costumo fazer.

– Que novidade. Depois de trabalhares para o meu pai durante todos estes anos, não acabaste só por te parecer com ele no aspeto e na forma de vestir. Também falas como ele, como se fosses Deus Todo-poderoso.

– Podes insultar-me à vontade, mas não envolvas o teu pai nisto.

– Parece-me bem. Restam-te dez segundos dos trinta, Ethan – anunciou, impassível.

– Como te disse, voltarei.

As suas palavras eram mais um aviso do que uma promessa. Um aviso que Mia não tencionava tomar em consideração.

– Ainda me lembro de quando morrias por me ver – o seu olhar percorreu-a com lentidão deliberada. – Por me ver ao natural...

Mia corou ao recordar-se de como conhecera Ethan intimamente, no passado.

– Rogo-te que te vás embora, Ethan.

Ele inclinou a cabeça de forma trocista.

– Fá-lo-ei, mas só por enquanto.

Mia viu com frustração como Ethan se virava e se dirigia com segurança para a porta, antes de voltar a lançar-lhe um olhar desafiante. Depois, saiu do estabelecimento e fechou a porta atrás dele.

A valentia desapareceu e Mia começou a respirar agitadamente. Tremiam-lhe os joelhos e teve de apoiar as mãos na mesa para se equilibrar.

– Estás bem, Mia? – perguntou Dee, com preocupação, a jovem empregada de dezanove anos que ajudava Mia na cafetaria.

Se se sentia bem? Não, claro que não se sentia bem. Tinham passado cinco anos! E Ethan aparecia novamente na sua vida como se nada fosse. E o que era ainda pior, parecia que não tinha intenção de desaparecer até lhe ter dito o que tinha tanto interesse em comunicar.

– Acho que tenho de sair para apanhar ar – respondeu, esboçando um sorriso. – Matt e tu podem ficar sozinhos mais um pouco?

– É óbvio – assegurou Dee, de boa vontade.

Mia dirigiu-se para a cozinha, vestiu o casaco de couro e saiu pela porta das traseiras. Respirou o ar fresco de setembro antes de começar a andar apressadamente.

Ethan...

O homem com quem sonhara durante anos e que finalmente a convidara para sair, tornando todas as suas fantasias realidade.

O homem por quem pensara estar profundamente apaixonada.

O mesmo homem que continuava a ser capaz de a perturbar com a sua presença!

Capítulo 2

 

 

– Pensei que tinhas pressa para voltar ao trabalho.

Mia não se apercebera de que a seguiam enquanto andava a passo rápido para o parque. Respirou fundo e fez uma expressão de indiferença antes de se virar para Ethan.

– Podia acusar-te de perseguição – ameaçou, com olhos desafiantes.

Mia parecera muito diferente na cafetaria. Não só no aspeto, mas também na atitude. Mas agora via reminiscências da velha Mia: na profundidade do seu olhar, na curva suave da sua boca, na inclinação vulnerável do seu queixo.

– Não penso que a polícia se interesse por um homem que visita a meia-irmã, que não vê há muito tempo.

– Não és o meu meio-irmão, Ethan. Afastei-me do que restava da minha família, antes de a tua mãe se casar com o meu pai há quatro anos e meio.

Ethan calculou que precisaria de mais de uma conversa para acalmar o ressentimento que Mia sentia pelo seu passado.

– Podemos começar outra vez?

– E por onde queres fazê-lo? Pela altura em que era aluna do colégio interno de que a tua mãe era diretora? Por quando a tua mãe saiu com o meu pai? Ou, possivelmente, pelo dia em que começaste a trabalhar para a Burton Industries, a empresa do meu pai, assim que acabaste o doutoramento na London School of Economics?

– Vou dizer-te isto só mais uma vez, Mia. A minha mãe não conhecia o teu pai antes de te mandarem para a Southlands School. E a amizade que criaram não teve nada a ver com o facto de eu ter conseguido trabalho na Burton Industries. Quando acabei a universidade, fui contactado por caçadores de talentos de várias empresas. A do teu pai teve a sorte de me contratar.

Mia teve de reconhecer que tinha razão. Ethan era muito qualificado e era ambicioso. Há cinco anos, interrogara-se como podia ter tido a sorte de atrair a atenção de alguém como Ethan Black, o típico homem bonito, alto e moreno, que podia ter a mulher que quisesse.

Mia era a única filha do multimilionário William Burton e da sua bela esposa, Kay. Mas, por baixo da roupa de marca que a mãe insistia em comprar, havia uma Mia terrivelmente tímida, muito diferente das mulheres por quem Ethan costumava sentir-se atraído.

Quando Mia descobrira que a mãe de Ethan tinha uma aventura com o seu pai, compreendera a razão da atração de Ethan. Grace estava a tentar caçar o pai e Ethan tentava caçar a filha. Um dos dois tinha de levar a sua avante.

– Deixa de qualificar como «amizade» a relação suja que os nossos pais tiveram. Foi horrível perceber que a única razão por que o meu pai escolheu aquele colégio, foi porque lhe proporcionava a desculpa perfeita para visitar a amante.

– Deixa de falar assim, Mia! – Ethan segurou-a pelos braços e sacudiu-a.

– Solta-me, Ethan! Estás a magoar-me!

A pressão dos seus dedos aumentou através do casaco de couro.

– Estou a magoar-te? – perguntou, olhando para ela com desprezo. – Tens ideia da dor que causaste ao teu pai quando desapareceste há cinco anos?

– Tenho a certeza de que não te afetou da mesma maneira, pois não, Ethan? – murmurou, depreciativamente.

– Acreditarias se dissesse que sim?

– Não. Meu Deus, eu era tão ingénua, tão tola... – e gemeu.

– Porque te sentias atraída por mim?

– Porque fui suficientemente estúpida para pensar que estavas interessado em mim!

Ele franziu o sobrolho sombriamente.

– E estava.

– Por favor, Ethan. O que te interessava era a conta bancária e a empresa do meu pai. A ti e à tua mãe!

– Eu teria cuidado com o que dizes, Mia – avisou, com frieza.

– Pelo menos, eu tive o bom senso de me afastar, enquanto o meu pai...

– Disse-te para não falares assim, Mia.

– Em qualquer caso, agora nada disso importa – continuou, encolhendo os ombros. – Cinco anos mais tarde, conseguiu o que queria. A tua mãe está casada com o meu pai e tu geres a Burton Industries.

– Achas mesmo que era isso que queria?

– É óbvio, sempre fizeste o que te interessava. E deixemos uma coisa clara: eu não desapareci há cinco anos, simplesmente, fui-me embora. Tinha vinte anos e, se não me engano, neste país, com essa idade somos considerados adultos e capazes de tomar as nossas próprias decisões. Além disso, deixei um bilhete ao meu pai.

– «Não te incomodes em procurar-me, porque não me encontrarás» – citou Ethan, com indignação. – Parece-te bonito deixar um bilhete ao homem que te amou e cuidou de ti desde que nasceste?

Mia semicerrou os olhos.

– Foi mais do aquilo que merecia. E só o fiz para evitar que denunciasse o meu desaparecimento à polícia.

– E eu, Mia? O que merecia? Saíamos juntos e íamos para a cama juntos, quando decidiste desaparecer daquela maneira.

– Não ias para a cama comigo, Ethan, mas com a filha do teu patrão.

– Isso não é verdade.

– Independentemente disso, já não tem importância. Saber que és o filho da mulher que gozou com a minha mãe, é razão suficiente para não querer voltar a ver-te.

– Está bem, vamos esquecer a nossa relação, se preferires. Mas William é o teu pai...

– Algo que passei muito tempo a tentar esquecer.

Mia virou-se e dirigiu-se para um banco de madeira do parque, onde se sentou. Desejou que Ethan não a seguisse, mas não se surpreendeu ao verificar que ele percorria a mesma distância e se sentava no outro extremo do banco.

Permaneceram num silêncio incómodo durante vários minutos.

– Não denunciou o teu desaparecimento, mas procurou-te. Bom, procurámos – disse Ethan, com suavidade, quebrando o silêncio.

– Não fales no plural, Ethan – interrompeu, secamente. – Sei perfeitamente que não te convinha que me encontrassem. Comigo fora de jogo, a tua mãe e tu podiam bajular o meu pai.

– Está bem. Vejo que é inútil tentar raciocinar contigo a respeito da minha mãe e de mim. Mas e o teu pai? Como pudeste virar-lhe as costas daquela maneira? – perguntou Ethan, sacudindo a cabeça com impaciência. – William procurou-te durante meses. Durante anos. Seguiu todas as pistas que podiam conduzi-lo a ti, até as mais insignificantes.

– E pensar que nunca saí de Londres... – comentou Mia, sem olhar para ele.

– Como? – perguntou Ethan, incrédulo. – Estiveste sempre aqui?

– Sim – respondeu, com um sorriso carente de humor. – Não faças esse ar de espanto, Ethan. Não sabias que a melhor maneira de evitar que o inimigo nos descubra é ficar à frente do seu nariz?

– Nenhum de nós era teu inimigo – olhou para ela com frustração. – E onde, exatamente, em Londres?

– Alojei-me em casa de uns amigos nos dois primeiros meses.

– Mas nós... William entrou em contacto com todos os teus amigos, para lhes perguntar se te tinham visto ou se sabiam alguma coisa de ti.

Ela elevou as sobrancelhas.

– Eram meus amigos, Ethan, não dele.

– Grandes amigos! E para onde foste depois?

– Comprei um apartamento, fiz uns cursos e, há alguns anos, abri a cafetaria.

– Cursos de quê? William verificava todos os anos as listas de estudantes de todas as universidades, para ver se estavas em alguma delas – explicou, com o sobrolho franzido.

– Inscrevi-me numa conhecida escola de hotelaria aqui em Londres – anunciou, com satisfação.

– Uma escola de hotelaria? És tu que fazes os bolos no «Coffee and Cookies»?

Quase se riu com a incredulidade de Ethan, mas não o fez. Embora adorasse a ideia de ter deixado o arrogante Ethan Black estupefacto, não tinha vontade de rir. Nem de lhe dizer que não só fazia os bolos que servia na sua cafetaria, como também os vendia para duas lojas seletas de Londres.

– A minha avó materna não me deixou só em herança um fideicomisso que o meu pai me cedeu quando fiz dezoito anos. Também me ensinou a fazer bolos. E faço-os bem – acrescentou, num tom defensivo, ao ver que Ethan não desviava o olhar dela.

– Não tenho a menor dúvida – assentiu ele, lentamente. – Mas não tem nada a ver com o curso de Economia que começaste antes de te ires embora.

– Isso foi decisão do meu pai, não minha.