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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Lucy Monroe. Todos os direitos reservados.

O CORAÇÃO DO GUERREIRO, N.º 1434 - Janeiro 2013.

Título original: Heart of a Desert Warrior.

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2013.

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®,Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2500-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

– Parece que vais enfrentar um pelotão de fuzilamento – as palavras de Russell, o seu assistente, pararam Iris quando ia a descer as grandes escadas do palácio.

Tentando esconder uma careta perante o comentário acertado, Iris olhou para o estudante que tinha ganho uma bolsa de estudo, com um sorriso forçado.

– E tu pareces ter fome.

– A sério, é apenas um jantar, não é?

– Sim, claro.

Apenas um jantar.

Onde iriam conhecer a pessoa que seria o seu contacto enquanto estivessem em Kadar: Asad, o segundo primo, ou algo parecido, do xeque Hakim, o xeque de uma tribo beduína local, os Sha’b al-Najid. Asad é um nome árabe comum, que significa «leão».

Um nome muito apropriado para um homem destinado a ser xeque, não é verdade? Não havia nenhuma razão para pensar que aquele homem seria o seu Asad.

Nenhuma razão, além da pressão que sentia no peito desde que o xeque Hakim mencionara o nome do seu contacto. Desde que aceitara aquele trabalho no Médio Oriente, Iris tivera uma premonição que tentava esquecer.

Mas era impossível.

– Não tenho assim tanta certeza – disse Russell. – Jantar não será um eufemismo para «sequestro e tráfico de pessoas», pois não?

Aquele comentário fez com que Iris se risse.

– És tonto!

Mas as suas pernas recusavam-se a mexer-se.

– Um tonto encantador, deves admitir. E quem não quereria sequestrar-me? – perguntou Russell, piscando-lhe o olho.

Com o cabelo vermelho e pele pálida, poderia ter sido o seu irmão mais novo. «Oxalá o fosse», pensou. A sua infância teria sido menos solitária com um irmão.

Os pais não eram más pessoas, mas não estavam interessados nela. Sentiam-se completos um com o outro. Trabalhavam juntos, divertiam-se juntos, viajavam juntos e nenhum desses planos a incluía.

Iris nunca entendera porque tinham decidido ter filhos e decidira que a sua chegada ao mundo devia ter sido um daqueles acidentes causados por uma falha no método anticoncecional.

Embora eles nunca tivessem dito nada.

Não conseguia imaginar o que teriam feito com um filho como Russell, que se recusava a passar despercebido. Por muito que se parecessem, Russell teria chamado muito mais a atenção do que ela.

Em qualquer caso, pareciam ser parentes. Ele tinha sardas e ela não, os olhos dele eram verdes em vez de azuis, mas ambos eram ruivos, como a sua mãe, com o queixo quadrado como o seu pai e a pele tão pálida como as areias brancas do Novo México.

Com um metro e setenta e oito, Russell tinha uma estatura normal para um homem e ela media um metro e sessenta.

Ambos tendiam a vestir-se como os típicos marrões de ciências que eram, ainda que, naquela noite, Iris tivesse escolhido um vestido azul-turquesa e uma pashmina preta. Em vez da típica trança, prendera o cabelo num coque elegante e até pusera rímel e batom, embora quase nunca se maquilhasse. Mas ia jantar com um xeque e a família dele, afinal de contas.

«Dois xeques», recordou a si mesma.

Russell tinha a sua própria versão do que era um traje formal: Calças caqui e camisa, em vez da típica t-shirt e calças de ganga.

Mesmo assim, nenhum deles podia ser descrito como uma beldade e Iris sorriu perante a arrogância dele.

– Nenhuma pessoa sensata se incomodaria em sequestrar-te.

Russell riu-se, sem se mostrar ofendido. Mas também não conseguiu esconder uma certa apreensão que talvez o tivesse contagiado.

«Mas não vai acontecer nada», pensou. Já não era uma estudante universitária ingénua, era uma geóloga profissional que trabalhava numa empresa importante de prospeções geológicas.

– Então, porquê essa cara? – perguntou Russell, subindo outro degrau. – Sei que tentaste evitar este trabalho.

Era verdade, mas apercebera-se de que seria uma tolice. Não poderia cimentar a sua carreira, como era o seu desejo, rejeitando ofertas interessantes no Médio Oriente, só porque em tempos amara um homem que provinha dessa parte do mundo. Além disso, o chefe deixara bem claro que daquela vez não havia escapatória.

– Estou bem, só um pouco cansada da viagem – respondeu Iris, obrigando os seus pés a mexerem-se.

Não ia pensar que o xeque Asad era o seu Asad. Não. Que possibilidades havia de ser o homem que lhe partira o coração há seis anos? O mesmo homem que esperara não voltar a ver?

Mínimas, ridículas.

O seu Asad fazia parte de uma tribo beduína e, como descobrira à última da hora, estava destinado a ser xeque um dia.

Não poderia ser o mesmo homem. Iris rezava para que não fosse o mesmo homem.

Se fosse o seu Asad ou, simplesmente, Asad, porque nunca fora dela e tinha de deixar de pensar nele desse modo, não sabia qual seria a sua reação.

Além disso, queria assegurar o seu lugar como geóloga na Coal, Carrington & Boughton e não podia rejeitar um trabalho baseando-se em questões pessoais. E muito menos quando já estava no país.

Não ia cometer um suicido profissional. Asad já lhe roubara mais do que o suficiente: A sua fé no amor, a sua confiança num futuro feliz e maravilhoso que tanto desejara.

Não iria roubar-lhe também a sua carreira.

– O que diz o diamante ao cobre?

A piada de Russell interrompeu os seus pensamentos sombrios.

Iris revirou os olhos.

– Essa piada é mais velha do que a pedra. E a resposta é nada, porque os minerais não falam.

Era uma piada muito má, mas quando Russell se riu, Iris riu-se também.

– Alegra-me ver que continuas a ter sentido de humor – a voz masculina, ao fundo das escadas, não parecia nada divertida.

De facto, parecia irritado, mas Iris não teve forças para se preocupar com isso, quando aquele rico tom aveludado tinha o poder de acelerar o seu coração e causar calafrios por todo o corpo. Quando ouviu a voz do homem que pensara que nunca voltaria a ver.

Iris parou a meio das escadas. Asad estava a olhar para ela e os seus olhos cor de chocolate eram tão intensos que sentiu que ficava sem ar.

Mudara. Continuava a ser muito bonito e o cabelo continuava a ser castanho-escuro, quase preto, mas em vez de o usar curto como na universidade, chegava-lhe quase até aos ombros. Esse estilo deveria ter-lhe dado um aspeto mais informal, menos formidável, mas não dava.

Apesar do fato italiano, parecia ser um guerreiro do deserto. Forte, capaz, totalmente seguro de si mesmo e perigoso.

A barba bem aparada aumentava a sua beleza... Como se precisasse de ajuda nesse departamento. Mudara desde a universidade e o seu porte era o de um homem poderoso. Com um metro e noventa, sempre tivera uma presença formidável mas, naquele momento, era um autêntico xeque do deserto.

Iris obrigou-se a inclinar a cabeça a modo de cumprimento.

– Xeque Asad...

– Ele é o teu contacto? – murmurou Russell, recordando-lhe que continuava ali.

Embora não ajudasse em nada. O jovem estudante, bolseiro, não fazia concorrência a Asad, nem refreava os sentimentos que guardara num canto da sua alma, onde os enterrara quando ele a abandonara.

Asad ofereceu-lhe o braço, sem se incomodar em olhar para Russell.

– Eu acompanho-te.

Iris teve de fazer um esforço sobre-humano para mexer as pernas e, finalmente, conseguiu descer os degraus que faltavam. Mas como não se atrevia a tocar nele, em vez de aceitar o braço passou ao lado dele para se dirigir para o salão onde vira antes o xeque Hakim, a sua mulher e os seus filhos adoráveis.

Se tivesse sorte, a sala de jantar seria na mesma zona do palácio.

– Sabes para onde vamos? – perguntou Russell, perturbado.

– Parece que Iris nunca permitiu que a falta de provas irrefutáveis a impedisse de seguir em frente.

Virou-se para olhar para ele, com a fúria e a dor contidas durante tantos anos a vir inesperadamente à superfície.

– Até os melhores cientistas podem interpretar mal uma prova – indicou, tentando recuperar a compostura. – Mas talvez não te importes de nos indicar o caminho.

Novamente, ofereceu-lhe o braço e Iris rejeitou-o mais uma vez, sabendo que estava a cometer um erro de protocolo imperdoável.

– Teimosa como sempre...

Gostaria de lhe dar uma bofetada, o que era surpreendente porque nunca fora uma pessoa violenta. Nunca, nem sequer no passado, quando Asad a magoara tanto.

– Esta é a nossa Iris, inamovível como um monólito – brincou Russell.

Asad fulminou-o com o olhar mas, como se não tivesse percebido, o jovem estudante sorriu, estendendo-lhe a mão.

– Russell Green, ajudante intrépido de geólogo. Embora um dia também venha a ser um geólogo com o meu próprio laboratório.

Asad apertou-lhe a mão, inclinando ligeiramente a cabeça.

– Sou o xeque Asad bin Hanif al-Najid. Serei o guia da vossa equipa e o vosso protetor enquanto estiverem em Kadar.

– Pessoalmente? – perguntou Iris, incapaz de esconder a angústia na sua voz. – Não é possível.

– Porquê?

– Tu és um xeque...

– É um favor que faço ao meu primo. Não me ocorreria encarregar outra pessoa dessa tarefa.

– Mas é desnecessário – insistiu Iris. Não sobreviveria às próximas semanas se tivesse de as passar na companhia dele.

Tinham passado seis anos desde a última vez que vira aquele homem, mas a dor que lhe causara continuava tão fresca como se tivesse acontecido no dia anterior. O tempo devia sarar as feridas, mas as dela continuavam a sangrar depois de tantos anos.

Continuava a sonhar com Asad, embora ela chamasse pesadelos às imagens que via naqueles sonhos. Amara-o e confiara nele, pensando que, finalmente, teria a oportunidade de constituir uma família, que teria uma pausa na solidão da sua vida.

Mas Asad traíra as suas esperanças completamente.

– Receio que isso não esteja aberto a discussão – disse Asad.

Iris abanou cabeça.

– Eu não...

– Estás bem? – perguntou Russell.

Tinha de estar bem. Aquele era o seu trabalho, a sua carreira, a única coisa que tinha na vida, a única que importava e em que podia confiar.

A única coisa que a traição de Asad lhe deixara.

– Estou bem. E temos de nos encontrar com o xeque Hakim.

Algo brilhou nos olhos cor de chocolate de Asad, algo que parecia ser preocupação. Mas Iris não podia acreditar, de maneira nenhuma.

Há seis anos, Asad não sentira a menor preocupação ao acabar tudo com ela e era absurdo pensar que ia preocupar-se quando eram apenas dois estranhos com um breve passado.

Sem dizer nada, ele virou-se e começou a andar na direção que ela seguira antes de a interromper.

Assim sendo, acertara naquela ocasião. Às vezes, a sua intuição acertava no alvo, pelo menos quando não se tratava de julgar as pessoas.

 

 

– Asad disse-nos que estiveram na mesma universidade – o sorriso de Catherine não continha malícia alguma, antes pelo contrário, pois olhava para ela com um brilho de interesse genuíno nos seus olhos azuis.

No entanto, as lembranças que evocaram as suas palavras não eram felizes para Iris, que teve de fazer um esforço para sorrir.

– Sim, é verdade.

– É curioso que se conheçam.

Na altura, Iris pensara que era o destino. Estava a estudar árabe como segunda língua, uma prática comum entre os estudantes de arqueologia e geologia, mas parecera-lhe ser algo mais.

Estudar a língua nativa de Asad fora como um laço entre os dois, como se o destino tivesse querido uni-los.

Vira-o como uma bênção, depois de dezanove anos a sentir-se como se não houvesse um lugar para ela, como se não fosse importante para ninguém. Pensara que Asad se importava, estivera convencida de que tinham sido feitos um para o outro. E enganara-se de uma maneira espetacular.

Asad não a queria para sempre, apenas para passar alguns meses.

Não era dela, em nenhum sentido.

– Foi uma casualidade...

Asad aproximara-se dela numa reunião de estudantes e, quando a convidara para sair, Iris quase dera pulos de alegria.

– No país de Iris, não há distinção de classes – disse Asad, quando percebeu que ela não ia dizer mais nada.

– Nem distinção de idade ou condição social – assentiu Russell. – Eu conheci a filha de um multimilionário na minha faculdade.

Iris conhecera um xeque árabe, embora na altura não soubesse. Ele era simplesmente Asad Hanif, um estudante estrangeiro entre muitos que havia na universidade.

– Era uma rapariga muito simpática – continuou Russell, – mas não sabia qual era a diferença entre um sedimento e uma rocha ígnea.

– De modo que não era uma amizade que pudesse prosperar – brincou o xeque Hakim.

– A nossa amizade prosperou – Asad olhou para Iris, esperando que lhe desse a razão, mesmo depois de essa «amizade» ter acabado. – Embora eu não soubesse nada de geologia e Iris não tivesse o menor interesse em gestão de empresas.

– A amizade não durou e isso indica que as nossas divergências eram mais profundas do que pensámos ao princípio – replicou ela, tentando fazer com que o comentário não parecesse amargurado ou acusador.

Iris nunca se considerara uma boa atriz, mas naquela noite estava a desafiar Kate Winslet com a sua interpretação. Enquanto bebiam uns aperitivos antes do jantar e durante o primeiro prato tentara fazer com que nem o seu anfitrião, o xeque de Kadar, nem a mulher, que imediatamente dissera «Chamem-me Catherine, por favor», percebessem a angústia que sentia.

Asad pousou o garfo no seu prato de salada.

– Normalmente, os jovens são insensatos.

– Tinhas mais cinco anos do que eu – recordou-lhe Iris. E muito mais experiência.

Ele encolheu os ombros, um gesto que ela conhecia tão bem. Essa era a resposta dele quando algo não lhe interessava muito ou quando não tinha uma resposta concreta.

– Espero que as minhas palavras não te tenham feito acreditar que estou interessada em retomar essa amizade – e sentiu um calafrio de angústia ao imaginá-lo. – Não é o que pretendo. Estou aqui para trabalhar – acrescentou, encolhendo os ombros como ele fizera, embora não fosse fácil mostrar-se tão despreocupada.

Nunca conseguia mostrar-se indiferente quando se tratava de Asad, mas tentou. Estava em Kadar para trabalhar e depois voltaria à sua vida nos Estados Unidos.

E não tencionava voltar a Kadar. Nunca mais.

Por muito lucrativo que fosse o contrato que lhe oferecessem e mesmo que disso dependesse uma promoção.

– Seria uma pena teres vindo até aqui e não desfrutares da nossa cultura.

Os olhos de Asad fixaram-nos nos dela. Iris recordava bem aquele olhar e sentiu um aperto no coração. Depois de tudo o que acontecera entre eles e na vida de Asad desde que tinham acabado...

– Certamente, viver com a tua tribo será a oportunidade perfeita para conhecer a nossa cultura – disse Catherine, sorrindo para ambos. – Eu adoro viver com os beduínos na cidade. É um estilo de vida tão diferente... Tão romântico – acrescentou, piscando o olho ao marido. O xeque Hakim respondeu com um olhar de adoração.

Eram um casal que se amava tanto como os pais dela se tinham amado, mas que amava os seus filhos com igual, embora diferente, intensidade. A própria Catherine dissera-o...

Mas Iris apercebeu-se de uma coisa.

– Vamos alojar-nos com a tribo do xeque Asad? – perguntou, surpreendida. – Eu pensei que a nossa base de operações seria aqui...

No lindo palácio árabe, que continuava a parecer um lar, apesar do seu tamanho e ostentação.

– O nosso acampamento está mais perto da região montanhosa que vão explorar – disse Asad, com um inexplicável tom de satisfação.