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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Lucy Ellis. Todos os direitos reservados.

ORGULHO E TERNURA, N.º 1490 - Setembro 2013

Título original: Pride After Her Fall

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2013

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®,Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-3403-3

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

Em geral, Nash não aceitava de bom grado a publicidade, por isso, reunir-se com uma publicitária ia contra as suas regras. No entanto, aquela reunião era para um evento de beneficência e, portanto, ele não podia recusar-se.

– Reunir-me-ei com ela no Bar Americano do Hotel de Paris – verificou o seu relógio enquanto se aproximava do seu Bugatti Veyron. – Estarei com Demarche até à uma. Posso dedicar-lhe alguns minutos no bar. Tentarei chegar a tempo, mas certamente terá de esperar.

Era uma das poucas vantagens da fama. As pessoas estavam dispostas a esperar. Parou antes de entrar no carro e olhou para as águas tranquilas do Mediterrâneo.

Cullinan estava a falar-lhe sobre uma mesa.

– Não, não reserves nenhuma mesa. Será uma questão de cinco minutos. Não haverá necessidade de nos sentarmos.

A equipa de Blue era dirigida por John Cullinan, um irlandês eficiente que Nash tinha empregado no princípio da sua corrida como piloto, quando adquirira fama mundial. John tinha-o protegido dos meios de comunicação durante mais de uma década e Nash confiava plenamente nele.

Necessitá-lo-ia nas próximas semanas. Já havia demasiadas especulações sobre o seu futuro. Não se soubera nada durante o Grande Prémio que se celebrara ali no Mónaco no mês de maio, mas, de algum modo, a sua presença junto da pista com Antonio Abruzzi, a estrela da Eagle, tinha provocado uma grande agitação nos meios de comunicação. Na realidade, não fazia muita falta. Um pouco de carne na água e as piranhas não demoravam a sair à superfície. Essa era a razão pela qual a sua reunião com a equipa Eagle teria lugar na privacidade de um quarto de hotel, rodeado de grandes medidas de segurança de ambas as partes.

Nash deu por terminada a chamada e meteu-se no seu carro. Estava desejoso de sair da cidade.

Arrancou com um movimento rápido do pulso sobre a maneta das mudanças. Os seus olhos azul-acinzentados profundos, cor que uma comentadora desportiva tinha denominado de «azul letal», observaram o trânsito. Nash afastou-se imediatamente do exterior dos escritórios da empresa que fora tudo para ele durante cinco anos.

Acabava de fechar um negócio com Avedon, um fabricante de carros, para produzir o Blue 22, cujo design andava a amadurecer desde os seus dias como piloto de corridas.

Felizmente, era um homem bastante reservado. O facto de ter sido criado por um bêbado que resolvia qualquer birra infantil com uma bofetada tinha-lhe incutido o hábito do silêncio. Para o público, era um homem impenetrável. Segundo uma ex-amante desencantada, um canalha frio.

Naquele momento, o mundo inteiro levava-o muito a sério. Com trinta e quatro anos, tinha sobrevivido como profissional de um dos desportos mais perigosos do mundo durante quase uma década, antes de se retirar no auge da carreira. Ao contrário de muitos outros profissionais de desporto, tinha concentrado a sua experiência e o seu amor pelo design numa segunda carreira.

Uma segunda carreira muito bem-sucedida, que deixara na sombra a fama que tivera como piloto, tal como fora sua intenção desde o princípio. Podia exigir qualquer preço pelo seu trabalho e naquele momento reclamavam-no em toda a parte. Estava no topo da elite de especialistas.

No entanto, sentia-se inquieto. Não podia negá-lo. Em várias ocasiões no ano anterior surpreendera-se a perguntar-se o que ia fazer a seguir.

Sabia a resposta à pergunta. Fora por essa razão que o peixe graúdo da Eagle tinha ido à cidade na noite anterior.

Sim. Queria voltar ao jogo, mas fá-lo-ia sob as suas próprias condições. Quando tinha vinte anos, correra contra os melhores do mundo e contra os seus próprios demónios, mas soubera muito bem quando tinha chegado o momento de parar. Sabia também que naquela ocasião tudo seria diferente. Os seus sentimentos sobre o mundo das corridas tinham sofrido uma mudança. Já não era um rapaz. Já não tinha nada a provar.

A estrada estava vazia. Reduziu a mudança e começou a subir a colina.

Naquela manhã tinha um encontro no Point com um carro verdadeiramente glamoroso. Nem sequer o facto de pensar em todas as reuniões que tinha naquela tarde conseguia estragar a sensação de que tinha encontrado algo verdadeiramente especial. Dizia a si mesmo que aquele veículo era uma preciosidade. Por fim, ia ver com os seus próprios olhos do que toda a gente tanto falava.

Tinha aterrado no Mónaco naquela manhã, depois de passar vinte e quatro horas num avião, para ouvir a notícia de que o dono o tinha emprestado, mas que estaria disponível naquela tarde. Como tinha toda a manhã livre, Nash tinha decidido subir a colina e, possivelmente, resgatar aquela joia de qualquer indignidade que pudesse ter-lhe acontecido ao longo da noite anterior.

A casa dava para a baía. Bonita e exclusiva. No entanto, que domicílio não o era naquela cidade? A casa tinha fama de ser o refúgio de uma atriz famosa dos anos vinte e Nash tinha curiosidade de a ver. Já tinha passado diante dela em muitas ocasiões, mas aquela era a primeira vez que atravessaria o portão de entrada. Para sua surpresa, encontrou o portão completamente aberto. Estranho... A segurança era normalmente muito estrita naquela zona.

Enquanto fazia o desportivo passar pelo portão e o fazia avançar pelo caminho de cascalho, apercebeu-se de que estava tudo muito abandonado. As buganvílias em flor não eram capazes de disfarçar que aquele lugar necessitava de uma boa remodelação.

Então, viu-o.

Parou o carro e saiu rapidamente para avançar para o objeto do seu desejo. Escondido entre alguns canteiros de flores.

Um Bugatti T51 de 1931 no meio de um canteiro de flores. Para maior ignomínia, tinha uma das portas aberta.

Todos os músculos do seu corpo ficaram tensos. Não estava zangado, mas triste.

Como sabia conter os seus sentimentos, refreou a sua fúria. Sabia que tinha de a dirigir para onde poderia fazer algum bem.

Viu que se dirigia para ele um homem corpulento vestido de jardineiro. Agitava os braços como se estivesse a suplicar intervenção divina.

Monsieur! Un accident avec la voiture!

Sim. Aquilo era um modo de o explicar.

Foi então que começaram os gritos.

Capítulo 2

 

Lorelei St James acordou. Esticou-se languidamente, deslizando os braços nus sobre os lençóis de seda e gozando da sensualidade daquele luxo. Virou-se e afundou o rosto na almofada. Se fosse possível, passaria todo o dia a dormir. Infelizmente, uma voz masculina lançou um grito zangado no terraço que dava para o seu quarto.

«Ignora-o», disse a si mesma, enquanto se aninhava mais um pouco.

A voz continuou a gritar.

Ela aninhou-se mais um pouco.

Mais gritos.

Ela franziu o nariz.

Um golpe.

O que estava a acontecer?

Com um suspiro, levantou a máscara de cetim que utilizava para dormir e pestanejou para tentar habituar os olhos à luz brilhante do sol do Mediterrâneo. O quarto andou à roda, sem dúvida como consequência do excesso de champanhe, de poucas horas de sono e de problemas económicos suficientes para afundar aquela casa à sua volta.

Afastou aqueles pensamentos da sua cabeça. O coração pulsava-lhe a toda a velocidade. Às apalpadelas, tentou procurar um copo de água que aliviasse a sede que lhe abrasava a garganta naquela manhã, mas a única coisa que conseguiu foi atirar ao chão o seu relógio, o seu telemóvel e uma série de joias.

Sentou-se na cama e afastou os caracóis loiros dos olhos. Então, franziu o nariz e teve de se agarrar ao colchão. O quarto voltava a andar à roda.

«Nunca mais volto a beber», jurou. «Bom, se o fizer, serão só coquetéis de champanhe e gim tónicos», corrigiu-se.

Naquele preciso momento, quando se sentia mais vulnerável, o telefone começou a tocar. O coração disparou-lhe. Normalmente, quando o telefone tocava, havia uma pessoa furiosa do outro lado da linha telefónica.

Antes que pudesse sair da cama, o telefone deixou de tocar, mas as vozes masculinas que ecoavam no exterior começaram a tornar-se mais fortes. Fora aquilo que a tinha acordado. Homens a gritar. Estava a haver algum tipo de discussão.

Ela não tinha de lidar com algo parecido. Não naquele dia...

No entanto, sem os empregados da noite anterior, contratados pela empresa de cateringue, só estavam ali Giorgio e a sua esposa, Terese. Era injusto deixar que eles se ocupassem de quem ia lá a casa. Tinham sido muitos nas últimas semanas, todos eles credores, perseguindo-a dado que Raymond, o seu pai, estava na prisão.

Como se lhe restasse algum cêntimo depois de dois anos a pagar os honorários dos advogados!

Não era que estivesse exatamente a ignorar os seus problemas. Preferia pensar que delegava a sua responsabilidade. Enfrentaria a chamada mais tarde, tal como os e-mails e os advogados que pretendiam a sua assinatura numa montanha de documentos. Naquele dia, não. Talvez no seguinte. Estava um dia tão bonito... O sol brilhava. Não podia estragá-lo. Mais um dia no paraíso. Depois, logo veria.

Só mais um dia...

Então, recordou tudo. Não só tinha um cliente ao meio-dia, como tinha uma reunião naquela tarde no Hotel de Paris. Tinha a ver com a Fundação Aviary, a organização de beneficência da sua avó. Todos os anos celebravam um evento para angariar dinheiro para a investigação do cancro.

Naquele ano, o evento principal seria um rali de carros antigos. Um famoso piloto de corridas ia dar às crianças doentes de cancro o prazer de entrar num carro de alta cilindrada para dar uma volta pela pista. O publicitário habitual estava doente, por isso, o presidente da fundação tinha-lhe pedido a ela que desse as boas-vindas ao piloto escolhido.

Apertou as têmporas. Nem sequer tinha investigado um pouco sobre ele...

Estendeu a mão para agarrar no vestido de noite que tinha aos pés da cama e enfiou-o pela cabeça. Estava encantada por receber o convidado. De facto, faria qualquer coisa pela fundação da sua avó, mas não precisamente naquele dia.

Lançou um grito quando algo pequeno e peludo se sentou no colo dela e lhe cravou as unhas.

– Fifi! – recriminou o animal. – Comporta-te, ma chère... – levantou a gatinha branca que adorava e afundou o rosto no pelo suave. – Agora, porta-te bem e fica aqui. A maman tem assuntos para tratar.

Fifi sentou-se, expetante, sobre os lençóis de seda branca e observou com curiosidade como a sua dona abria as portas que davam para o jardim e saía para o exterior. Ia ser um daqueles dias perfeitos de princípios de setembro. Inspirou avidamente a brisa suave, perfumada delicadamente com o aroma da lavanda e do alecrim. Decididamente, não tinha nenhuma vontade de se ocupar daquele assunto, mas desceu as escadas de pedra e, enquanto colocava os óculos de sol, disse a si mesma que, fosse quem fosse, o pior que podia fazer era gritar também com ela. Não gostava que lhe gritassem e menos do que nunca naquela manhã, mas Giorgio também não o merecia.

Em primeiro lugar, viu o Bugatti e ficou pasmada. Como raios tinha acabado no jardim? Na realidade, se pensasse bem, podia imaginá-lo perfeitamente...

Então, viu o homem que a tinha acordado. Era...

Lorelei apercebeu-se de que ficara boquiaberta. Imediatamente, recordou que não se penteara, que não se maquilhara e que não usava roupa interior...

Demasiado tarde. Ele já a vira.

Não podia fazer nada sobre o vestido amarrotado, mas compôs o cabelo e alegrou-se por ter os óculos, que naquela manhã podiam ocultar facilmente os seus pecados. Tentou recordar que, embora não apresentasse a sua melhor imagem, não tinha perdido o seu encanto.

Ele dirigiu-se para ela. Media mais de um metro e oitenta, de ombros largos, peito amplo, cintura esbelta, ancas estreitas e pernas compridas e poderosas. Além disso, contava com um daqueles rostos de beleza clássica que poderia ter pertencido a uma estrela de cinema de antigamente.

Lorelei sabia muito bem que devia tomar a iniciativa. Dirigiu-se para o Bugatti, deixando que o seu convidado contemplasse a sua imagem posterior, imagem que sabia ser muito atraente graças à equitação e ao exercício diário.

– Meu Deus... – disse. – Há um carro nas minhas roseiras.

– É a responsável por isto? – perguntou-lhe o desconhecido, enquanto se aproximava dela.

Lorelei compreendeu três coisas. Era australiano, tinha uma voz profunda e masculina, e, quando se virou, verificou que ele não parecia estar com humor para que o divertissem ou o deslumbrassem. Não podia culpá-lo. O carro tinha muito mau aspeto.

– Sim ou não? – insistiu. Então, tirou os óculos de estilo aviador e deixou a descoberto uns olhos espetaculares. Azul-acinzentados e rodeados de pestanas escuras e espessas.

Eram uns olhos maravilhosos. Lorelei não pôde fazer outra coisa senão observá-los. Infelizmente, aqueles olhos pareciam imobilizá-la como se fossem um bisturi sobre uma mesa de operações. Voltou novamente à realidade.

Ele meteu os óculos no bolso traseiro das calças e cruzou os braços.

– Pode responder-me?

Ela levantou uma mão trémula e alisou o cabelo.

– Está bem, menina?

Lorelei estava tão ocupada a manter as aparências que não tinha ouvido nenhuma das suas perguntas.

Pardon?

Giorgio começou a murmurar algo em italiano e o desconhecido respondeu-lhe na mesma língua. Os homens pareciam estar a entender-se graças à sua raiva pelo estado do carro. Lorelei franziu o sobrolho.

Aquilo não era o que costumava acontecer quando um homem conhecia Lorelei. O seu italiano era mínimo e, além disso, não gostava que a mantivessem à margem pelo facto de não compreender o que se dizia. E incomodava-a que a ignorassem.

– Bom, acha que pode tirá-lo antes que arruíne mais as minhas flores?

Viu que o recém-chegado endireitava os ombros e que se virava. A sua fanfarronada dissipou-se imediatamente. Ele comportava-se como se tudo aquilo fosse dele. Olhou fixamente para ela e nesse instante Lorelei soube que ele não estava interessado nela e que não ficaria.

– No que se refere a mim, menina – disse-lhe, – está acabada.

A reação dela foi imediata. Odiava aquela sensação. Andava a enfrentá-la há muito tempo. Parecia que, ultimamente, a única coisa que fazia era carregar com as culpas. Efetivamente, naquela ocasião era culpa dela, mas, por alguma razão, a raiva dele pareceu-lhe desproporcionada e injusta.

A quem importava um maldito carro quando a sua vida estava a desmoronar-se?

Portanto, fez o que fazia sempre que um homem a desafiava. Tirou a artilharia, tal como tinha aprendido com o seu querido e irresponsável pai.

Engenho e atrativo sexual.

Baixou os óculos e dedicou-lhe um olhar de alta voltagem.

– Estou desejosa... – ronronou.