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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2002 Sara Craven

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Trégua Matrimonial, n.º 735 - Agosto 2014

Título original: The Marriage Truce

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2004

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5403-1

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Volta

Capítulo 1

 

– Queres dizer que o Ross está cá? Que veio e não me avisaste? – Jenna Lang estava pálida e os seus olhos deitavam faíscas. – Tia Grace... como pudeste...?

– Porque não tínhamos a certeza até há dois dias atrás – o amável rosto da senhora Penloe mostrava rugas de preocupação. – Eu pensei... esperei... que só fosse um rumor da povoação e que Bette Fox tivesse entendido tudo mal. Não teria sido a primeira vez... – abanou a cabeça. – Nunca me teria ocorrido pensar que Thirza pudesse ser tão insensível.

– A madrasta de Ross está cega. A ela, ele não pode fazer nenhum mal – a voz de Jenna destilava amargura. – Ela culpou-me pela ruptura do nosso casamento. Não posso acreditar.

– Suponho que lhe deve lealdade – justificou a senhora Penloe numa tentativa de ser imparcial. – Ao fim e ao cabo, Ross tinha sete anos quando ela se casou com o seu pai, outro com a mania das grandezas... – acrescentou severamente. – Certamente isso cria laços. Ainda que não seja desculpa para o que fez.

– Em qualquer caso, o que é que Thirza faz em Polcarrow? Eu pensava que ia passar o ano todo na Austrália.

– Faz muito calor lá e há muitos insectos – respondeu a sua tia, pouco convencida. – Impedem-na de respirar. Voltou há umas três semanas.

– No momento adequado – Jenna deixou escapar um riso forçado. – Sabe escolher sempre o melhor momento.

– Ela diz que não teve alternativa – a senhora Penloe duvidou. – Parece que Ross esteve bastante doente; apanhou um vírus perigoso na última viagem. Quando lhe deram alta no hospital, necessitava de um sítio onde pudesse descansar – suspirou. – Conhecendo a Thirza, não creio que desse grande importância ao casamento de Christie nem ao teu papel nele.

– Não – replicou Jenna. – Sou eu quem tem que reconsiderá-lo seriamente.

– Jenna, querida... não te vais embora... não vais voltar a Londres.... A Christie morreria, e tudo por minha culpa. Sei que devia ter-te dito alguma coisa. Suponho que esperava que tudo... desaparecesse sem mais nem menos.

– Ou que eu não soubesse – disse ironicamente Jenna. – O que é muito improvável, porque é quase certo que ele vá ao casamento.

– Oh, Jenna... nem sequer a Thirza...

Jenna encolheu os ombros.

– Por que não? É capaz de qualquer coisa e suponho que está convidada...

– Bom, sim, mas nunca pensámos que viria. – A senhora passou os dedos pelos caracóis, que começavam a mostrar cabelos brancos. – Que confusão! Porque é que a Christie não se casou em Junho? Nessa altura o Ross estaria longe e teria sido melhor – acrescentou, momentaneamente distraída pelas nuvens ameaçadoras que se viam através das janelas da sala. – Claro que isso não tem importância, comparado com a atitude tão absolutamente irritante de Thirza. Certamente poderia ter encontrado um sítio onde pudessem cuidar dele, e não acredito que Ross não tivesse possibilidades, porque ganha muito bem e deve ter o melhor seguro médico que há no mercado.

– Se calhar é tarde demais – disse Jenna lentamente. – Achas que o tio Henry poderia falar com ela e convencê-la?

– Querida, isso foi a primeira coisa que pensei. Disse que Thirza era sua prima, mas que nunca o tinha respeitado – disse. – Também disse que já tinha o suficiente com a factura do casamento, que o Ross e tu já estão separados há dois anos e que já deveriam ter superado tudo – deteve-se um instante e olhou outra vez para a sua sobrinha. – Acho que tem uma certa razão.

– Estou certa que tem razão, mas, infelizmente não consegui. Não se trata só do divórcio... – calou-se e mordeu o lábio.

– Eu sei, querida, eu sei – a senhora Penloe pegou num lenço e assoou o nariz. – Foi muito triste e ninguém espera que esqueças...

– Nem que o perdoe – o tom era implacável. Levantou-se e foi vestir o casaco. – Vou dar um passeio, tia Grace. Tenho que pensar e vai fazer-me bem um pouco de ar fresco.

– Ar fresco? Está um temporal!

Jenna saiu da sala e, ao fim de uns segundos, a senhora Penloe ouviu a porta da rua fechar-se.

Aconchegou-se nas almofadas do sofá e permitiu-se dormir uma leve sesta. Compreendia perfeitamente Jenna, mas a sua querida filha ia casar-se dentro de três dias e podia encontrar-se com a situação de ter que percorrer o corredor da igreja sem que a sua única prima lá estivesse.

Grace Penloe não era uma mulher violenta, mas sentia que, se tivesse podido esganar Thirza Grantham, certamente a teria estrangulado.

 

 

Entretanto, Jenna passeava pelo jardim com o rosto sério e pálido e o olhar perdido no infinito.

Aquele ano, a Primavera tinha chegado suavemente à Cornualha para, mais tarde, de improviso e perversamente, voltar o Inverno com chuva, granizo e vendavais que faziam o mar bater com toda a sua fúria contra a costa.

Os Penloe, que construíram Trevarne House num precipício que entrava no Atlântico, tinham levantado uns grandes muros para proteger o seu terreno dos ventos dominantes, mas Jenna tinha preferido não procurar o seu refúgio.

Pelo contrário, depois de uma luta com o portão de ferro velho que havia no fundo do jardim, encaminhou-se para o precipício.

Ao voltar-se para fechar o portão, o vento despenteou-lhe o cabelo castanho.

Estava só. As nuvens e o vento tinham dissuadido as pessoas, mas para Jenna essa dissuasão era um reflexo do seu estado de ânimo.

Muito antes de chegar ao pequeno miradouro, já sentia no rosto as gotas de água geladas que chegavam do mar. Deteve-se para tomar fôlego.

Decidiu não se aproximar muito da borda. Não estava preparada para enfrentar as imprevisíveis rajadas de vento, que podiam arrastá-la contra as rochas, e o mar embravecido, que rebentava lá em baixo.

Podia estar transtornada e, sem dúvida, estava aborrecida, mas também estava completamente certa de que não era uma suicida.

Agarrou-se ao encosto do banco do miradouro e olhou para o impressionante espectáculo que tinha à sua frente.

O mar, de uma cor verde erva com pinceladas de anil, precipitava-se sobre o precipício de granito com uma fúria animal. Podia ouvir os seus rugidos enquanto entrava pelo braço de mar que separava Trevarne dos penhascos de Polcarrow e como se retirava imponente.

Levantou a cabeça para ver as aves marinhas que planavam e se atiravam às ondas.

Levadas pelo destino, disse ironicamente para si mesma.

Não o tinha previsto, mas também não podia dizer que não a tinham avisado.

– Estás certa de que é o que queres? – tinha-lhe perguntado Natasha, a sua sócia, com o sobrolho franzido pela preocupação. – Não te parece que é uma provocação?

Ela tinha encolhido os ombros.

– Há anos, a Christie e eu prometemos que seríamos damas de honor nos nossos respectivos casamentos. Ela cumpriu a sua parte da promessa. Agora é a minha vez e não posso deixá-la desamparada – deteve-se um instante. – Nem sequer quero fazê-lo.

Natasha olhou-a de lado.

– Nem sequer quando é na mesma igreja em que te casaste? Vai trazer-te muitas recordações...

Ela mordeu o lábio.

– É uma igreja muito antiga – respondeu tranquilamente. – Já deve ter celebrado muitos casamentos felizes, por isso terá também boas vibrações.

– De acordo, é uma decisão tua, mas lembra-te que te ajudei a recompor os pedaços do teu coração destroçado e não quero que voltes ao ponto de partida, por causa de um casamento familiar.

– Faz tudo parte do passado, prometo-te. Agora só me preocupa o presente e o futuro.

Palavras muito valentes, disse-se com o olhar perdido no horizonte cinzento. Poderia tê-las cumprido, se Ross não tivesse voltado.

Todavia, não podia saber a dor que a tinha ameaçado, que a tinha desgarrado, quando soube do seu regresso, nem como tinha sido fácil o desmoronamento da carapaça de domínio que tinha construído com tanto cuidado.

Sempre soube que algum dia voltaria a encontrar-se com o seu ex-marido, mas tinha esperado, com toda a sua alma, que o encontro se produzisse muito mais tarde, quando já tivesse conseguido assimilar a traição.

No entanto, pelo que parecia, ia ocorrer ali e naquele momento, naquela remota península da Cornualha que ela sempre tinha considerado o seu refúgio pessoal.

Tinha chegado a Trevarne House quando era uma menina de dez anos assustada pela morte da sua mãe. Os tios tinham-se ocupado dela e tinham permitido que o seu pai, para mitigar a sua dor, abandonasse o trabalho de escritório que odiava e regressasse ao mundo como negociador da empresa petroleira para a qual trabalhava.

Ali, na terra da sua mãe, tinha criado raízes na encantadora e tranquila casa dos Penloe, e Christie e ela, então crianças, tinham encontrado uma na outra a irmã que sempre quiseram.

Quando um par de anos mais tarde o seu pai morreu num acidente de carro, a família adoptou-a sem distinções, como se de uma filha se tratasse.

Apesar de tudo e apesar da promessa de infância, meditou muito antes de aceitar o convite para o casamento de Christie. Afinal, a ideia de que Thirza Grantham estivesse do outro lado do mundo fê-la decidir-se.

O paradeiro de Ross era motivo de conjecturas para todos, mas ela tinha conseguido manter-se à margem de todas as informações que se filtravam. Naturalmente, tinha compreendido que era impossível arrancá-lo completamente da sua existência e esquecer que tinha existido. Além disso, estava presente em todo o lado. As fotos que mandava para a sua agência de qualquer ponto de conflito no mundo continuavam a proporcionar-lhe prémios com uma regularidade implacável.

– Não pode ser uma guerra verdadeira – tinha comentado alguém. – Ross Grantham não está lá.

Não, a sua figura era pública demais para que ela pudesse levar a cabo uma amnésia selectiva, e tinha que resignar-se a viver com isso.

Era estranho, pensou, que não o tivesse encontrado em Londres. Uma dezena de vezes, tinha tido a sensação de que o tinha vislumbrado entre o reboliço de uma rua ou um restaurante, e o pânico tinha tomado conta das suas entranhas até que se dava conta, tarde demais, de que estava aterrorizada por um completo desconhecido.

Mas por acaso não era isso que Ross sempre tinha sido?, perguntou-se com certa ironia amarga. Um desconhecido encantador que lhe sussurrava palavras de amor, que se deitava com ela, que durante um par de semanas gloriosas lhe tinha oferecido a esperança de ser mãe para depois ter uma aventura passageira, enquanto ela se recuperava do trauma da perda.

Fechou os dentes no lábio inferior até notar o sabor de sangue. Naquele momento, aquilo era um terreno vedado para ela e não entraria lá.

Tinha-se convencido de que Polcarrow seria um lugar suficientemente seguro se Thirza estivesse longe e se Ross não aparecesse enquanto a sua madrasta não estivesse ali, e não o tinha feito desde o divórcio.

Porém, Thirza tinha voltado, de improviso, como sempre... e a sua vida voltaria a ser um turbilhão de confusão e medo.

Mesmo que não houvesse motivo nenhum para que temesse algum encontro, disse-se em tom de desafio. Ao fim e ao cabo, ela não tinha sido a culpada da ruptura do seu breve e desventurado casamento. Ross tinha sido o culpado, o traidor.

Ele, disse-se com uma firmeza repentina, era quem devia temer enfrentar-se com ela.

E, se calhar, temia. Quem sabe também estivesse alterado por saber que ela estava próxima. Estaria igualmente reticente sobre o possível encontro. Um encontro que se produziria mais cedo ou mais tarde, porque Polcarrow era um lugar muito pequeno para evitar um encontro.

A tia Grace tinha dito que ele estava doente. Se calhar estava muito doente para sair da casa de Thirza.

Jenna sacudiu a cabeça com um gesto quase brincalhão. Não, disse-se. Isso não aconteceria. Era impossível imaginar Ross doente. Era impossível imaginar que aquele corpo forte e ágil fosse vulnerável e que, repentinamente, tomasse consciência do seu carácter humano. Era impossível que ele tivesse que reconhecer a sua debilidade quando nem sequer conhecia o significado dessa palavra, quando desprezava as pessoas que se deixavam levar pelas emoções, fosse qual fosse o motivo.

Tão-pouco era concebível que fingisse estar doente para se esquivar a um encontro.

Ross, pensou com uma careta, tinha pecado sempre por uma franqueza brutal, como ela tinha podido comprovar. Nada de mentiras piedosas nem cortantes. A verdade sem tabus, fosse ao preço que fosse.

Ela deveria ter percebido, disse-se. Deveria ter-se dado conta de que uma vez que tivesse desaparecido a capa de encanto, inteligência e carisma sexual, se encontraria com um coração de gelo.

Suspeitou disso quando o conheceu. Como era possível que tivesse sido mais preceptiva quando criança do que quando mulher?

A verdade era que sabia a resposta. Quando era criança, não estava ofuscada pelas artimanhas do amor e pelo feitiço do desejo sexual. Mesmo assim...

Ela tinha treze anos quando Thirza enviuvou e voltou para viver na aldeia. Uns meses mais tarde, o seu enteado Ross visitou-a pela primeira vez. Ele tinha vinte e um anos e já tinha embarcado na sua brilhante carreira como jornalista.

Era um jovem alto, reservado, bronzeado, com cabelo negro e uns olhos escuros como uma noite sem lua e igualmente impenetráveis. Não era de uma beleza convencional. O nariz era recto, mas um pouco largo, e as pálpebras, muito pesadas, sem dúvida. As maçãs do rosto altas e firmes e a boca carnuda estavam maravilhosamente delineadas e, quando lhe sorriu, ela sentiu o coração bater mais depressa.

– Parece um anjo caído do céu – comentou a tia Grace entre dentes. – Um problema dos pés à cabeça.

Sem dúvida, Christie e ela não o tinham considerado um problema em absoluto. Desde o primeiro momento, ficaram boquiabertas por vê-lo, tinham-se rendido à aura de confiança e sofisticação que o rodeava. Ficaram embasbacadas diante daquela resposta a todos os seus sonhos de adolescentes que, além disso, era uma espécie de primo afastado. Não podiam acreditar que durante todo esse tempo só tinham sabido que existia, mas até a própria Thirza era pouco mais do que um nome para elas.

Sem dúvida, ele não mostrou o mesmo interesse. Cumprimentou-as com uma educação que se aproximava da indiferença e, durante o resto da sua estadia, pareceu esquecer-se de que elas existiam.

Apesar de já ter passado algum tempo e das coisas que tinham acontecido, ela ainda sentia uma pontada de dor ao recordar como tinha ido tão longe para tentar captar a sua atenção.

Christie, que tinha estado a ler Emma, de Jane Austen, lamentava-se por os seus sapatos não terem cordões e não poderem propiciar um encontro com ele ao atá-los diante da casa de Thirza.

Ela tinha chegado a pensar em adoptar um dos cavalos mansos do estábulo para que caísse um dia quando se cruzasse com Ross, para que ele não tivesse outro remédio senão socorrê-la.

Porém, Ross foi-se embora antes que pudesse pôr em prática esse plano tão temerário. Tinha ido a Trevarne House despedir-se, mas elas andavam às compras e não puderam falar com ele. Ele tão-pouco lhes deixou uma mensagem.

– Imbecil – tinha dito Christie, congestionada pela indignação. – Perfeito, que se vá com o vento fresco!

Ela não tinha dito nada, só se tinha dado conta de que notava uma estranha mescla de sensações no estômago. A decepção quase desesperante pelo seu repentino afastamento tinha-se debatido com uma estranha sensação de alívio pelo desaparecimento daquela presença perturbadora, que lhe permitiria recuperar o prazer simples da sua vida.

Sem dúvida, visto à distância, dava-se conta de que aquilo nunca tinha acontecido. Ross tinha permanecido como uma sombra numa esquina da sua mente e nunca o tinha desenterrado, ainda que tivessem passado sete anos até voltar a vê-lo em Londres.

Naturalmente, durante todo aquele tempo, ele tinha ido à Cornualha. Tinha visitado regularmente Thirza. Nunca o tinha feito só e rara era a vez em que levava a mesma mulher, o que provocou todo o tipo de rumores na povoação. Sem dúvida, aquelas visitas davam-se sempre quando Christie e ela estavam fora, primeiro no colégio e mais tarde na universidade.

Ela tinha suspeitado que o tinha feito deliberadamente, pela figura ridícula que elas tinham feito a primeira vez, mas Ross tinha insistido sempre que tinha sido uma mera coincidência.

Ela tinha acreditado e, igualmente, tinha-se convencido de que alguém que gostava de galantear todas as mulheres podia ser fiel e dedicar-se apenas a uma.

Ross tinha conseguido fazê-la crer que durante todo aquele tempo tinha estado à espera que a mulher adequada aparecesse na sua vida e que ela era essa mulher.

Também tinha chegado a crer que Ross pudesse dominar a sua paixão pelas viagens, a sua necessidade de estar onde houvesse acção, que poderia adaptar-se a um trabalho num escritório para dirigir a agência, ainda que ela contasse com o exemplo do seu pai para saber o pouco provável que isso era. Quem sabe, se o seu pai estivesse vivo naquela altura, a tivesse advertido do quão difícil é fazer com que um homem que amava o tipo de liberdade que Ross amava, assentasse.

Os seus tios tinham-se preocupado por outras questões quando lhes deu a notícia.

– Estás certa de que é o homem indicado para ti, querida? – A senhora Penloe franziu a cara. – Não será um prolongamento daquela tonta paixão que tiveste?

– Não me recordes... – ela sentiu um calafrio e corou levemente. – É algo completamente distinto. Soube... quando o voltei a ver. Era o mesmo Ross, como se estivéssemos à espera um do outro.

A sua tia tinha franzido os lábios pensativamente enquanto trocava um olhar com o seu marido. Eles desfrutavam de um casamento feliz e tranquilo sobre a base do afecto, o respeito e os interesses comuns e Grace Penloe acreditava firmemente que aquele era o fundamento para uma relação sólida.

– Bom, parece-me muito romântico – disse por fim a sua tia, – mas tenho que dizer-te, Jenna, querida, que o casamento de Thirza com Gerald Grantham foi instável, para falar suavemente.

Ela tinha assentido com a cabeça.

– O Ross contou-me. Por isso esperou até assentar. Não queria que se passasse o mesmo com ele. Tinha que estar certo – começou a falar mais depressa. – Agora encontrámo-nos e estamos...

A sua tia parecia ter querido dizer algo mais, mas o brilho de felicidade que se reflectia nos olhos cor de avelã da sua sobrinha impediu-a, por isso suspirou ruidosamente e não disse nada.

Uma boa lição, pensou Jenna, enquanto mordia o lábio inferior ao recordar a conversa. Não devia pensar que sabia tudo e faria melhor em escutar o que as pessoas que gostavam dela lhe diziam, como o tio Henry, a tia Grace e Christie. E Natasha, naturalmente, que tinha tido as suas reservas desde o princípio. Quem sabe devesse ouvir Natasha, porque lhe devia muito.

Conheceram-se no trabalho. Ao terminar os estudos de arte, Jenna encontrou trabalho numa galeria de arte de Londres onde trabalhava Natasha. Era mais velha que Jenna, alta e chamativa e com o cabelo negro escrupulosamente afastado da cara. Ao princípio, tinha-lhe parecido francamente gélida e não lhe agradou, mas com o tempo o gelo quebrou-se e fizeram-se grandes amigas. Até ao ponto que, descontentes com os seus apartamentos, decidiram viver juntas.

Era uma galeria famosa. O proprietário, Raemond Haville, tinha muito bom olho para descobrir talentos e um bom sentido comercial, mas estava próximo da reforma e preferia que os seus ajudantes se ocupassem dos assuntos quotidianos. Em muitos aspectos, tinha sido um baptismo de fogo para Jenna, mas de seguida ganhou confiança e desfrutou da tarefa.

– Formamos uma boa equipa – disse-lhe exultantemente uma vez Natasha, que moveu pensativamente a cabeça.