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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2003 Kathryn Ross

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Casamento à italiana, n.º 766 - Novembro 2014

Título original: The Italian Marriage

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2004

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5923-4

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Volta

Capítulo 1

 

– O papá vai-se casar.

As palavras caíram como uma bomba no calor infernal da tarde estival.

– Como? – Gemma estava a servir um copo de limonada ao seu filho e entornou-a sobre a toalha de piquenique salpicando-lhe o vestido. – O que é que disseste, Liam?

– Entornaste limonada – disse o menino de quatro anos e esticou o braço para tirar um chocolate do cesto de piquenique.

– Eu sei.

Em circunstâncias normais, teria dito ao seu filho que não podia comer chocolates até acabar as sanduíches, mas a sua cabeça estava feita num oito.

– O que é que disseste do teu pai? – perguntou novamente, tentando que o seu nervosismo não se notasse.

– Que se vai casar – Liam mordeu o chocolate e cravou nela os seus olhos escuros, que eram perturbadoramente iguais aos do seu pai. – Isso quer dizer que vou ter duas mamãs, como Annie?

– Bom… imagino que sim.

Não sabia o que dizer, parecia que estava anestesiada. Era estranho como, em poucos segundos, se podia abrir um abismo aos pés de uma pessoa. Na verdade, não sabia porque é que estava tão comovida… nem tão surpreendida. Marcus Rossini tinha trinta e oito anos, era espectacularmente bonito e rico. Em questão de mulheres, tinha podido escolher sempre. Com os quarenta a espreitar ao virar da esquina, talvez quisesse pôr fim às suas aventuras e assentar a cabeça.

«Nesse caso, quem é que seria ela?», perguntou-se Gemma. Apostava que se tratava do seu amor de infância, Sophia Albani. As mulheres tinham entrado e saído da vida de Marcus ao longo dos anos; Sophia, no entanto, tinha permanecido sempre num discreto segundo plano e isso apesar de algumas vezes estarem separados por milhares de quilómetros; apesar também de Marcus ter tido um filho. Sophia tinha levado as coisas com calma e a relação de ambos parecia ter sobrevivido a todas as adversidades. Seria essa a prova de que se tratava de amor verdadeiro? Por alguma razão, a dor daquele pensamento produziu-lhe um endurecimento do seu coração.

– Tens a certeza do que dizes, Liam? – perguntou com suavidade ao seu filho. – Como é que sabes que o papá vai casar? Foi ele quem te disse?

Liam abanou a cabeça e meteu a mão no cesto para tirar uma bolacha.

– Eu tinha que estar na cama, mas levantei-me porque me doía a barriga e ouvi-o a falar ao telefone…

– Ontem à noite?

Liam anuiu. A curiosidade corroía-a.

– Com quem é que estava a falar?

O menino encolheu os ombros.

– Não seria com Sophia? – tentou. – Estava em casa do papá ontem à noite?

– Falava ao telefone.

Liam agarrou num pacote de batatas fritas e Gemma saiu do transe em que estava mergulhada. Interrogar uma criança de quatro anos não era correcto e a vida privada de Marcus não era da sua conta.

– Chega de guloseimas, Liam. Come uma sanduíche, se faz favor.

O menino enrugou o nariz.

– Não gosto. Não gosto dessa coisa verde e escorregadia.

– Não é escorregadia. Chama-se pepino e adoras comê-lo.

Liam abanou a cabeça com rebeldia.

– Detesto pepino.

– Só uma, vá, faz isso pela mamã.

– O papá não me obriga a comer essas coisas horríveis.

Gemma sentiu uma pontada de irritação. Era sempre igual, Liam idolatrava o pai. Ouvia frases semelhantes àquela, milhares de vezes ao dia. «O papá não me obriga a deitar-me tão cedo…», «O papá deixa-me ver este programa na televisão…», «O papá lê-me uma história quando acordo de noite…». Tentou não pensar nisso sem recorrer ao sarcasmo. Às vezes, no entanto, quando se sentia cansada ou esgotada, aqueles protestos tiravam-na do sério e desejava com todas as suas forças fazer um comentário depreciativo, algo que revelasse a Liam que o seu maravilhoso pai não era um homem em quem se pudesse confiar.

Mas nunca, nunca cairia tão baixo. A verdade era que, por muito que Marcus Rossini a tivesse ferido no passado e por muito que ela desejasse esquecer a sua existência, era um pai magnífico. E isso era o que contava.

– Faz o favor de não discutir, Liam. Come a sanduíche. Se não, terei de dizer ao papá que te portaste mal quando te vier buscar esta tarde.

Viu que o menino hesitava e depois fazia obedientemente o que lhe tinha pedido. Funcionava sempre, pensou Gemma enquanto esfregava a dobra do vestido com um lenço de papel para secar a limonada. O irónico era que as suas conversas com o pai de Liam não podiam ser mais breves. Nunca falava com ele doutra coisa que não fosse concordarem no dia em que ele ia buscar o filho. Na verdade, há meses que não via Marcus. Assim que o carro dele parava à frente da sua casa, ela mandava Liam sair com o saco já pronto, desse modo, eliminava a necessidade de Marcus se aproximar. Quando regressavam, tinha a sua mãe para que lhes abrisse a porta. Parecia-lhe mais simples assim. Não era fácil falar com Marcus sem abrir velhas feridas.

Felizmente, por agora Liam era demasiado pequeno para perceber isso, mas imaginava que chegaria o dia em que a ameaça de o acusar diante do pai deixaria de funcionar.

«Iria Marcus casar realmente?», perguntou-se enquanto olhava para Liam. Sentiu que algo se retorcia dolorosamente no seu interior. Aquilo não a afectava num plano pessoal, pensou com firmeza; há muito tempo que se tinha resignado à evidência de que Marcus não era o homem indicado para ela. Apenas a preocupava a maneira como Liam poderia entender tudo aquilo.

– Já posso ir para os baloiços? – perguntou o menino assim que acabou a sanduíche.

– Sim.

Viu como o seu filho percorreu a pequena distância que os separava da área de jogos. As suas perninhas, cobertas por umas calças de ganga, mexiam-se com a velocidade de um raio. A meio do caminho, virou-se e regressou a correr até ela, abraçou-a e beijou-a na face.

– Amo-te, mamã – disse.

– Eu também, meu amor – respondeu ela.

– Vais ver-me a chegar o mais alto possível no baloiço? – os seus olhos escuros resplandeciam de emoção.

– Claro que sim, querido – observou o seu filho enquanto este regressava a correr para a zona infantil. O seu coração transbordava de orgulho e amor.

Apesar de ser sábado à tarde e de estar sol, não havia muita gente no parque. Se não tivesse sido pelo longínquo barulho do trânsito londrino, teria pensado que estava em pleno campo. Perguntou-se o que é que Marcus estaria a fazer; normalmente, aos sábados vinha buscar Liam de manhã e passava com ele o fim-de-semana, mas desta vez tinha havido uma alteração de última hora. O menino tinha ficado a dormir com ele na noite anterior e este tinha-o levado no sábado de manhã cedo porque, segundo ele, tinha coisas para fazer. Iria buscá-lo novamente às quatro e meia.

Talvez aquela mudança de planos tivesse a ver com Sophia… Teriam ido juntos comprar o anel de noivado? Guardou a embalagem das sanduíches no cesto do piquenique e acomodou-se novamente sobre a toalha para ver Liam. No que a ela dizia respeito, Marcus podia rodear-se de um harém, pensou energicamente. Não era um problema seu.

O zumbido das abelhas que sobrevoavam as flores de um vaso perto enchia o ar. Durante um segundo, o calor e a tranquilidade invocaram na sua mente a recordação de outra tarde: Marcus e ela na margem de um rio, com os braços dele entrelaçados à volta da sua cintura. As mãos de Marcus percorriam o seu corpo possessivamente, desabotoavam-lhe os botões da blusa e deslizavam sob o tecido em busca do calor da sua pele. «Quero fazer amor contigo, Gemma. Aqui e agora…»

A paixão e o instantâneo da recordação excitaram-na e invadiu-a uma onda de desejo. Odiou-se por isso. Tinham passado anos desde a época em que dormia com Marcus e esses sentimentos estavam mortos, pensou com frieza. Mortos e enterrados. Tinha-se afligido e estava magoada. Aquilo tinha ficado para trás.

– Olá, Gemma.

A voz de Marcus sobrepôs-se de forma inesperada, a frio, acotovelando as recordações. Ficou rígida e virou-se. Era quase como se tivesse conjurado a sua presença, como se ele tivesse dado um passo em frente para sair das suas fantasias e entrar na realidade.

– O que é que fazes aqui? – perguntou, pasmada.

– Vim ver-te – sentou-se ao seu lado com aquele ar relaxado e seguro de si mesmo tão característico dele, como se fosse algo habitual que aos sábados de tarde se encontrassem no parque. – Liam disse-me que hoje vinham aqui fazer um piquenique.

– Liam…?

Era difícil concentrar-se. Só conseguia pensar que ele estava muito atraente. Marcus era meio italiano e tinha uma beleza sensual muito mediterrânica: pele morena e cabelo preto, com reflexos quase azuis quando o sol lhe dava em cheio. Era alto e de ombros largos. Tinha umas calças azuis e uma camisa da mesma cor que lhe ficava na perfeição.

Sempre que o via ficava deslumbrada pela sua aparência atraente e inevitavelmente relembrava que ele a tinha enfeitiçado uma vez. Havia algo muito sedutor em Marcus Rossini e não era só o seu corpo, atlético e musculoso. Tudo nele era intenso: a fisionomia do queixo, os traços fortes e pincelados do seu perfil, o brilho aveludado dos seus olhos escuros. Enquanto os seus olhos a observavam ela sentiu um tremor de apreensão.

– Tens bom aspecto – disse ele cortesmente.

– Obrigado.

– Tenho a impressão de que há séculos que não nos vemos.

Gemma notou que os olhos de Marcus conseguiam observar rapidamente enquanto passeavam pelo seu cabelo loiro e o seu corpo magro; sentia-os com a mesma força como se a estivesse a tocar e sentiu-se excitada novamente. De repente, apercebeu-se porque é que tinha tanto empenho em evitar qualquer contacto com aquele homem: tinha alguma coisa capaz de desatar os seus sentidos apenas com um olhar.

– Bom… e o que é que queres, Marcus? – a sua voz soou mais cortante do que pretendia, mas ele não pareceu perceber.

– Há algo de que temos que falar – respondeu com tranquilidade.

Ela permaneceu calada, sabia o que vinha a seguir: iria dizer-lhe que se ia casar. Surpreendia-a que se tivesse incomodado em dizer-lhe pessoalmente. Pensou que era muita delicadeza da sua parte, que era um modo de proceder civilizado. Ao fim e ao cabo, em consideração ao seu filho, tinham a obrigação de tratar do assunto como adultos. O pior era que, de repente, ela não se sentia de modo algum, uma mulher civilizada. Respirou fundo e tentou preparar-se para reagir apropriadamente: desejar-lhe-ia o melhor e tentaria que soasse como se fosse verdade.

Quando os olhos de ambos se encontraram, Gemma sentiu que o coração começava a bater-lhe violentamente no peito. De repente, sem razão aparente, lembrou-se da noite em que lhe tinha contado que estava grávida e como é que se tinha sentido quando, mais tarde, ele lhe tinha proposto que se casassem. Também nessa altura tinha notado que uma intensa emoção lhe oprimia o peito; tinha tido vontade de gritar, de clamar contra a injustiça de que esse homem não a amasse e nunca a amaria. Não tinha tido outra opção a não ser rejeitar a sua oferta: um casamento sem amor não era um casamento.

E nesse instante ele estava quase a dizer-lhe que se ia casar com outra. Notou um sabor amargo na garganta. Afastou os olhos de Marcus e desviou o olhar para Liam, que balançava cada vez mais alto. Estava muito concentrado e ainda não tinha percebido que o pai tinha chegado.

Ao seu lado, Marcus falou pausadamente.

– Vou-me embora de Londres, Gemma. Volto para Itália, vou viver para lá e quero que Liam venha comigo.

Ela olhou-o com os olhos desmesuradamente abertos e um gesto inexpressivo. Aquilo não era o que esperava.

– Já sei que, dito assim, é uma bomba, mas quando te acalmares e analisares as coisas racionalmente, vais perceber que é um passo sensato. É o melhor para ele. Liam tem sangue italiano e há todo um modo de vida e tradições que deve conhecer. Além disso, gozará do apoio de uma família grande: primos, tios, tias… para não falar do seu avô, que o adora.

Gemma não sabia porque é que lhe permitia que continuasse a falar. Aquilo era uma completa loucura, mas estava tão admirada, que não conseguia dizer uma só palavra.

– Liam deve voltar para o seu lar, para Itália.

– O lar de Liam é aqui, comigo – quando finalmente conseguiu falar, a sua voz estava tão dominada pela ira que nem sequer parecia a sua.

– Já sei que vai ser difícil para ti, Gemma.

Ela sentiu um pânico feroz ao perceber que Marcus falava como se se tratasse de factos consumados.

– Sei muito bem como gostas de Liam – prosseguiu ele, – e por isso mesmo, acho que devíamos falar tranquilamente e chegar a um acordo que nos satisfaça a todos.

– Não me vai ser doloroso porque Liam não vai a lado nenhum – afirmou ela com firme determinação, e começou a guardar a garrafa de limonada e os copos. Precisava fugir dali o mais depressa possível.

Marcus contemplava os seus movimentos bruscos e irados com fria indiferença.

– Olha, sugiro-te que deixemos de lado os nossos próprios sentimentos e nos concentremos no que é melhor para Liam.

A tremenda arrogância daquelas palavras fez com que ela o olhasse com mordacidade.

– Eu penso sempre no que é melhor para Liam – disse. Estava furiosa, os seus olhos azuis faiscavam de indignação. – Como é que te atreves a sugerir o contrário?

– Gemma, a única coisa que digo…

– Já ouvi o que dizes e são apenas parvoíces. Tu apareces por aqui aos fins-de-semana e nas férias, não fazes ideia do que é que significa ser pai todos os dias da semana, a todas as horas. Esse plano não é mais do que uma fantasia passageira… como todas as outras coisas na tua vida – e não pôde resistir a lançar-lhe uma punhalada. – Não durarias nem dois minutos se tivesses que tratar de Liam todos os dias.

– Aí é que te enganas. Seria muito capaz de o fazer.

Gemma notou que a voz de Marcus tinha perdido o tom frio e pragmático e deixava entrever o seu nojo. Pensou irada como é que se atrevia a chegar ali tranquilamente e a dizer-lhe que tinha a intenção de lhe arrebatar o seu filho?

– Nenhum juiz do mundo separaria um bebé da sua mãe sem ter uma boa razão – acrescentou, – por isso, vai-te embora, Marcus. Regressa ao teu mundo de fantasias e não me voltes a incomodar.

– Não é um bebé. Vai começar a escola em Setembro.

Gemma não respondeu, apenas continuou a arrumar as coisas que estavam em cima da toalha. Quando se dispunha a fechar o cesto, Marcus esticou um braço e agarrou-lhe no pulso. Ela sentiu uma sacudidela, como se tivesse recebido uma descarga eléctrica.

– Temos que resolver isto entre os dois. Se vamos a tribunal, vais lamentar-te, Gemma.

Embora o seu tom fosse suave, era evidente o que aquelas palavras significavam. Ninguém que tivesse desafiado o poder da família Rossini tinha saído vencedor. Ela teve que se esforçar muito para que o pânico não se notasse nos seus olhos quando olhou para ele.

– Agora não estás em Itália, Marcus – lembrou-lhe. – Estamos no meu terreno e nenhum tribunal permitirá que me tires Liam.

– Não quero discutir contigo, Gemma – disse sem se mexer, – mas se insistes, usarei todos os meios ao meu alcance para garantir a vitória. Quem brinca com o fogo, queima-se.

– Pai! – a voz cheia de emoção de Liam aliviou a tensão. Marcus largou-lhe o braço e virou-se para a criança, que atravessava a relva a correr, para o receber de braços abertos. Gemma observou como Liam abraçava o pai e se aninhava contra ele.

– Papá, vais empurrar-me no baloiço? Chego muito alto, quase até ao céu e…

– Eh, calma, sócio. Deixa-me respirar um pouco.

– Temos que ir, Liam – interveio Gemma com ansiedade. Queria ir-se embora dali, os seus nervos não suportariam muito mais a presença de Marcus.

– Mas mamã…! – queixou-se Liam. – O papá acaba de chegar! Pode empurrar-me no baloiço, não é? Por favor…

– Vais estar com ele mais tarde – Gemma levantou-se e fingiu concentrar-se em alisar as rugas do vestido. – Esta noite vais dormir em casa do papá, podes montar o baloiço que tem no jardim.

Marcus contemplou o modo como o cabelo de Gemma, longo e sedoso, lhe caía sobre os ombros; à luz do sol tinha reflexos dourados como o mel. Reparou no pronunciado decote do vestido de Verão, que oferecia uma visão tentadora das suas curvas.

– Posso ficar aqui com o papá?

Ao ouvir aquelas palavras, ela sentiu uma dor aguda no seu interior.

– Não – levantou o olhar e encontrou os olhos de Marcus. Pareceu-lhe perceber um brilho de triunfo, um olhar que dizia: «Vês? Quer estar comigo, não contigo». – Sai da toalha, vou dobrá-la – ordenou com frieza ao seu filho.

Liam parecia disposto a continuar a discutir um pouco mais, mas surpreendentemente, Marcus deteve-o.

– Faz o que a mamã te diz, Liam – e levantou o menino para que ela pudesse dobrar a toalha.

– Obrigada – agradeceu Gemma num tom irónico.

– Temos que continuar a falar disto – disse Marcus com calma enquanto observava como colocava a toalha bem dobrada em cima do cesto.

– Não há nada para falar. Já te dei uma resposta.

– Não me serve.

– Porquê? Porque não é a que tu querias? – respondeu Gemma encolhendo os ombros. – Bom, azar. Estás habituado a levar sempre a tua avante, mas desta vez não.

Os olhos de Marcus brilharam de ira.

– Isso é o que vamos ver.

A tranquilidade com a qual pronunciou aquelas palavras fez com que quebrasse a couraça atrás da qual se protegia.

– A ideia não se mantém de pé, Marcus, por isso o melhor é esqueceres – elevou o tom de voz e Liam olhou para ela.

– Estão a discutir?

– Não, querido, só estamos a conversar – Gemma ofereceu a mão ao filho. – Vá, temos que ir para casa. O tio Richard disse que talvez nos telefonasse.

Marcus ficou irritado com o comentário. «O tio Richard» ia ultimamente demasiadas vezes àquela casa para o seu gosto.

– Falaremos de novo durante a semana – insistiu enquanto deixava Liam no chão.

– Já te disse, não há nada para falar.

– Pelo contrário, há muitas coisas das quais falar – disse ele friamente. – Que tal vires jantar comigo na sexta-feira à noite? A tua mãe pode ficar com Liam?

– Jantar? – Gemma olhou-o como se tivesse ficado louco. – Não, não pode ficar com ele.

– Está bem. Então eu passo pela tua casa.

– Marcus, não me parece oportuno.

– Telefono durante a semana para confirmar – a sua voz era de aço.

Gemma estava quase a dizer-lhe que era tempo mal gasto, mas Liam estava a observá-los e a ouvi-los atentamente, por isso limitou-se a agarrar a mão do seu filho.

– Adeus, Marcus – e imprimiu à sua voz tanta frieza e determinação quanto lhe foi possível.

Ele contemplou-a enquanto se afastava caminhando pela erva. A brisa fazia com que a sua cabeleira lisa balançasse suavemente de um lado para o outro nas suas costas, rijas como um pau. Liam ia aos saltos ao seu lado e virava-se de vez em quando para lhe dizer adeus com a mão, mas Gemma não se virou nem uma só vez. No entanto, conseguiria que fizesse o que ele queria, prometeu-se Marcus solenemente. Quando tivesse as coisas no lugar, ela suplicar-lhe-ia que chegassem a um acordo e, dessa maneira, conseguiria o que queria: recuperá-la.