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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

© 2012 Helen Conrad

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

O príncipe perdido, n.º 1467 - Abril 2015

Título original: Taming the Lost Prince

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

I.S.B.N.: 978-84-687-6587-7

Editor responsável: Luis Pugni

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

O príncipe Max apoiou-se no corrimão de ferro. Estava uma chuva miudinha, mas não se apercebeu. Estava a uma altura de uns cinco andares e o jardim do palácio parecia muito longínquo. Um impulso estranho levou-o a questionar-se o que aconteceria se saltasse.

Demasiado tarde.

Poderia tê-lo feito há algumas semanas. Sim, há algumas semanas poderia ter posto um ponto final à sua vida inútil e ninguém se teria importado, mas, agora, tinha uma vida nova, assim como responsabilidades. As pessoas esperavam coisas dele. E porque demónios pensariam que poderia dar-lhas?

Pensando bem, talvez saltar fosse uma boa ideia. E se descobrisse que podia voar? Parecia simples. Só tinha de abrir os braços, como se fossem asas. Sabia perfeitamente o que se sentia ao voar porque passara anos a viajar em aviões de guerra. Sabia pilotar aviões, mas voar sem eles era muito diferente.

Não, não ia saltar. Não ia tentar voar sem avião. A autodestruição não era o seu estilo. Tinha uma pena de pavão que encontrara no jardim. Soltou-a.

– Voa e sê livre – murmurou, enquanto a via a cair para o chão. – Vamos, vamos, voa e afasta-te daqui – acrescentou, a rir-se, ao ver os brilhos azuis, verdes e dourados da pena e as voltas que dava no ar.

A pena chegou ao chão e parou. A gargalhada de Max também parou. A pena estava presa. Como ele. Fora um voo curto. Sem destino.

– Eh, não se incline tanto, pode cair – avisou uma mulher.

Max fechou os olhos. Estava disposto a aceitar aquilo? Precisava daquilo?

– Está bem, senhor?

Max virou-se lentamente, no caso de a mulher não se ter apercebido de quem era. Era normal, pois estava vestido para sair para a montanha, não para ir para um baile. Vira-a outras vezes. Reconheceu o que queria pela forma como o observava e sabia que tinha duas opções: cumprimentá-la com a cabeça e seguir o seu caminho ou sorrir de maneira sugestiva e deixar-se levar.

Tinha de escolher.

Sabia que gostava dele. Max sentiu vontade de gemer. Não podia deixar-se levar… Porque não? Era jovem e a vida era para ser vivida. Além disso, quem sabia durante quanto mais tempo continuaria a ser livre e poderia continuar a fazer o que quisesse?

– Estou bem – sorriu.

– Está molhado – observou, de maneira coquete.

Max abanou a cabeça como um cão, fazendo com que saísse uma chuva de gotinhas. Aquilo fez a jovem rir-se.

– Venha a minha casa secar-se – propôs.

– A sua casa? – surpreendeu-se.

– Sim, é neste andar – respondeu ela. – Tem de se secar. Se não, vai constipar-se.

Max olhou para ela de cima a baixo, desde o seu cabelo ruivo e a sua figura de guitarra, passando pelos lábios volumosos. Estava a ser insolente e sabia. E também sabia que aquele tipo de mulheres gostava que as observassem assim.

– Claro. Porque não? – acedeu, finalmente.

Qualquer coisa seria melhor do que encontrar-se com o resto da família real naquele baile estúpido preparado pela rainha. Passar algumas horas com aquela companheira de jogos improvisada ia fazer-lhe muito bem. Talvez, assim, conseguisse esquecer aquela sensação de fatalidade que pesava sobre ele.

– É como um anjo da guarda que procura pessoas para salvar, não é?

Ela sorriu com atrevimento.

– Não, a verdade é que não… não ajudo toda a gente… Só as pessoas de quem gosto.

– E gosta de mim? – quis saber Max, arqueando uma sobrancelha.

– Oh, sim, claro que sim – afirmou, com entusiasmo.

Max insinuou uma reverência.

– Que honra…

A rapariga riu-se e guiou-o.

A rainha Pellea entrou no escritório e olhou para Kayla Mandrake.

– Onde está? – quis saber.

Kayla sentiu que a sensação de desassossego que se apoderara dela desde que descobrira quem era o novo príncipe voltava e com mais força.

– Não o vi – indicou, sinceramente. – Pensava que ia passar por aqui…

– Era isso que devia ter feito e sabia perfeitamente, mas, como de costume, não nos fez caso – queixou-se a rainha. – Estão todos à espera no baile.

– Quer que faça um comunicado por altifalante? – ofereceu-se Kayla.

– Oh, Kayla, estiveste todo este tempo em Paris, não sabes o que aconteceu por aqui. Este rapaz está a enlouquecer-me.

Kayla reprimiu um sorriso. Max era assim. Enlouquecia todos.

– Mudará de ideias – indicou à rainha, embora não estivesse convencida. – Assim que entender como as coisas funcionam aqui.

– Quanto mais entende como as coisas funcionam aqui, mais infringe as regras – queixou-se a rainha. – Kayla, vais ter de o procurar.

Pellea emitiu um som de impaciência e abanou a cabeça com frustração. Usava um vestido espetacular de seda azul com alças finas e douradas. Kayla sentiu-se deslocada com a sua saia simples.

– E espero que o mates quando o encontrares – brincou a rainha, com dramatismo.

– Majestade – começou Kayla, tentando improvisar uma desculpa para Max.

– Não – interrompeu a rainha, levantando a mão. – Não quero ouvir justificações nem confissões. A única coisa que quero é ter o príncipe Maximillian à minha frente o quanto antes para poder castigá-lo como merece. Também me serviria que me trouxesses a sua cabeça numa bandeja de prata. Entendeste?

Kayla assentiu, tentando não se rir. Não podia rir-se. A rainha estava furiosa.

O problema era que sabia, porque conhecia Max, que aquilo não acabara de começar. Max enfurecê-la-ia cada vez mais e a rainha não poderia fazer nada para o parar.

– Sim, Majestade, farei tudo o que puder.

– Vai procurá-lo!

A rainha Pellea saiu como um ciclone. Às vezes, comportava-se assim. Kayla respirou fundo e tentou acalmar-se. E agora? Como podia encontrar um príncipe rebelde que, obviamente, não quereria que o encontrassem?

Max fazia sempre o mesmo. As regras eram para os outros, não para ele. Era o homem mais incómodo e mais encantador que alguma vez conhecera. Saber que o veria em breve fê-la sentir um calafrio por todo o corpo. Por outro lado, sentia medo. Como ia lidar com aquela situação?

Começou a fazer algumas chamadas. Havia guardas e agentes de segurança por todo o palácio. Se estivesse no palácio, deviam tê-lo visto ou teria sido apanhado pelas câmaras de segurança.

Foi assim. Conseguiu alguma pista aqui e acolá e, no fim, um dos guardas disse-lhe que o vira a entrar no apartamento de uma rapariga da zona, conhecida por estar sempre em festas.

– Claro, típico dele – murmurou Kayla.

Depois, e apesar de temer o encontro, saiu a correr para o lugar em questão. O que faria ao chegar? Interromper uma sessão de sexo? Kayla tremeu enquanto entrava no elevador.

– Bolas, Max – queixou-se, em voz baixa. – Porque me complicas sempre a vida?

Recordou a última vez que o vira. Tinham passado quase dois anos. Daquela vez, tinha o cabelo despenteado e os olhos chorosos. Ambos tinham sofrido naquela noite, ambos tinham vivido a mesma tragédia. E, de repente, desaparecera.

As portas do elevador abriram-se e Kayla avançou com o coração acelerado. Ao chegar à frente da porta, desejou estar em qualquer outro lugar. Naquele momento, tocou o seu telemóvel.

Era Pellea, claro.

– Sim?

– Encontraste-o?

Kayla suspirou.

– Localizei-o e vou…

– Tem cuidado – avisou. – Se houver uma varanda por perto, saltará.

– Não acha que vai suicidar-se, pois não? – Kayla assustou-se.

– Não, claro que não, mas gosta de desafiar a morte. Deve ser um viciado na adrenalina.

Kayla ficou pensativa.

– Bom, mas…

Mas Pellea não queria saber a sua opinião.

– Na semana passada, encontrámo-nos todos na casa da neve para que os príncipes se conhecessem melhor. Tínhamos acabado de chegar quando Max e as duas filhas do guarda da casa, que são lindas, verdade seja dita, se foram embora em motos de neve como se nada fosse. E ficaram o dia todo fora.

– Oh…

– E não penses que pediu desculpa ou deu explicações no dia seguinte. Pensa que pode resolver tudo com um sorriso.

– Sim… – respondeu Kayla, pois não tinha mais nada para dizer.

– Ontem à noite, tínhamos um jantar com o embaixador italiano. Estamos prestes a assinar um tratado importante com o seu país. Max nem apareceu. Pelos vistos, parou num bar, convidaram-no para fazer de jurado num concurso de caraoque e perdeu a noção do tempo.

– Ai, Max… – lamentou-se Kayla.

– Portanto, tem cuidado com as varandas. É capaz de atar uma corda e saltar como o Tarzan.

– Vou tê-lo em conta.

Pellea suspirou. Kayla não devia ter parecido suficientemente segura de si própria.

– Diz-me onde estás para mandar dois guardas para te ajudarem.

– Para me ajudarem a fazer o quê? – Kayla surpreendeu-se, enquanto lhe dava a sua localização.

– A apanhá-lo – esclareceu a rainha. – Se for preciso, podem prendê-lo.

– A sério?

Aquilo estava a começar a ser um pesadelo. Kayla ficou a olhar para a porta do apartamento em que tinha de entrar. Supostamente, Max estava lá dentro. Tinham-lhe dito que entrara com uma mulher.

– Vê se o apanhas de surpresa – aconselhou Pellea.

– Está a pedir-me para entrar sem bater? – perguntou Kayla, imaginando o que poderia ver se o fizesse.

– Se for necessário, sim. Faz o que for necessário para não voltar a desaparecer. E liga-me quando tudo isso acabar.

– É óbvio, Majestade – despediu-se.

Enquanto desligava, dois guardas saíram do elevador e dirigiram-se para ela.

– Sargento Marander, senhora, ao seu serviço – apresentou-se um deles. – Aqui tem a chave mestra. Viemos para a ajudar, portanto, entraremos atrás de si.

Kayla mordeu o lábio inferior.

– Não batemos à porta primeiro?

– Receio que não. A rainha teme que fuja novamente. Pelos vistos, pode…

– Saltar pela janela, sim, também me disse isso.

– São ordens da rainha – insistiu o guarda.

– Sim, claro, claro – cedeu Kayla. – Muito bem, vamos lá.

Kayla fechou os olhos, pôs a chave na fechadura e abriu a porta.

– Max, estás aqui? – gritou.

Silêncio.

– Kayla! O que fazes aqui? – gritou alguém, de repente.

Kayla obrigou-se a abrir os olhos e, para seu alívio, encontrou-o completamente vestido.

– Oh, Max – e riu-se nervosamente. – Não consigo acreditar – acrescentou, quando ele a abraçou com carinho.

Max abraçou-a e beijou-a nas faces e nos lábios.

– Meu Deus, linda, há quase dois anos que não nos vemos, pois não?

Kayla assentiu. Sentia-se enjoada. Continuava a ser o homem mais bonito do mundo com aquele cabelo acobreado, aqueles olhos azuis rodeados de pestanas espessas e aquela boca que era tão sensual… Oh, devia ser proibido ter uma boca assim. Continuava a ter o mesmo ar atrevido de sempre.

Sim, estava tal como o recordava.

Sentira muitas saudades dele!

– O que fazes aqui? – repetiu, num tom divertido.

– Vim prender-te, mais ou menos – esclareceu Kayla, fazendo uma careta de desgosto.

– Prender-me? – Max estranhou. – O que fiz agora? – acrescentou, reparando nos guardas.

– Oh, Max, porque não podes ser bom? – Kayla suspirou.

– Kayla, querida, tu, melhor do que ninguém, sabes que não faz parte da minha natureza – ele sorriu.

Estava realmente contente por voltar a vê-la. Foi como beber um gole de bom uísque. Só de olhar para ela, viu-se transportado no tempo, há dois anos, para aquelas cafetarias de sombrinhas vermelhas da costa mediterrânea, para a brisa marinha, para as palmeiras e o sol, para as canções sugestivas daqueles músicos das ruas que bebiam a bebida local, que fazia pensar num Mai Tai e era realmente forte. Recordou o que tinham feito, o que acontecera, as decisões que tinham tomado, os arrependimentos… Ainda se lembrava de tudo, não conseguira esquecer nada…

Não se arrependia de ter conhecido Kayla. Sempre fora um motivo de felicidade para ele e, sim, alegrava-se realmente por voltar a vê-la.

– Apresento-te Kayla – apresentou-a à ruiva que estava atrás dele, com um ar aterrorizado. – O marido dela era o meu melhor amigo quando nos dedicávamos a pilotar na Trialta.

– Ah… – murmurou a rapariga, sem conseguir evitar tiritar ao ver a guarda real no seu apartamento. – É um prazer conhecê-la, digo eu…

– Igualmente – afirmou Kayla, tentando sorrir.

Max apercebeu-se da confusão que havia nos olhos dela e pensou que devia pensar que o apanharia in fraganti numa cena de sexo. Nada estava mais longe da realidade. Embora aquela fosse a intenção da ruiva ao princípio, Max não se interessara o suficiente, portanto, comportara-se educadamente, tinham conversado, aceitara um copo e observara como a rapariga tentava por todos os meios criar uma cena sedutora, mas dera por si a ouvir os acordes da música interpretada pela banda que estava a tocar no baile da rainha e a olhar para as estrelas. A busca de satisfação sexual desaparecera.

Antes de ter tempo para se explicar, os dois guardas avançaram para ele e algemaram-no.

– Mas o que é isto? – quis saber.

– Senhor, está sob custódia da segurança do palácio – explicou o sargento Marander, num tom pomposo e muito inoportuno.

Max pestanejou. Não podia aceitá-lo. Queriam prendê-lo? Não acreditava… Pensou em duas ou três maneiras de sair da situação. Conseguia vencer os dois guardas facilmente e…

Mas, então, olhou para Kayla. Estava preocupada. Os olhos, o rosto e o cabelo formavam, em carne e osso, a imagem que o perseguira durante dois anos. Não, não ia fugir dela. Agora que a encontrara, não estava disposto a voltar a perdê-la de vista até terem tido oportunidade de falar. Se conseguisse extrair as suas lembranças e juntá-las com as dele, talvez conseguisse acabar com os demónios que não o deixavam dormir de noite.

Talvez.

– Por favor, Max – estava a dizer, pondo-lhe a mão no braço. – É muito importante para a rainha Pellea que vás ao baile.

Max sorriu.

– É o que mais me apetece no mundo – mentiu. – Agora que estás aqui, poderei dançar com alguém.

Kayla retirou a mão apressadamente.

– Oh, não, não podes dançar comigo. Tens de dançar com mulheres da tua classe social e eu não faço parte desse círculo.

Max olhou para ela fixamente.

– Trabalhas para a família real? – quis saber.

Kayla assentiu.

– Sim, conheço a rainha desde que éramos crianças e o meu cunhado é da guarda real. Quando Pellea me ofereceu trabalho, aceitei-o com prazer – explicou, encolhendo os ombros. – E adoro.

Max franziu o sobrolho. Em Trialta, pensara que era uma vagabunda, como ele. Agora, descobria que tinha laços com a família real…

Mas em que estava a pensar? O príncipe era ele. Mesmo assim, não gostava de se sentir encurralado. Iria ao baile se fosse com as suas condições, pois aquilo era demasiado. Embora tivesse encontrado Kayla novamente, tinha de fugir dali. Sim, mas, ao ter hesitado, tinham-no apanhado.

– Está bem, irei com vocês, mas podem tirar-me as algemas? – perguntou.

Kayla olhou para ele, dúbia.

Max sorriu.

Kayla suspirou.

– Claro – respondeu, questionando-se se não estaria a arriscar-se muito. – Soltem-no! – ordenou aos guardas.

– Mas, menina…

– Sob a minha responsabilidade – assegurou Kayla. – Se escapar, responderei diante da rainha, direi que foi culpa minha.

O guarda encolheu os ombros e tirou-lhe as algemas, contrariado.

Max sorriu e mexeu os dedos e os pulsos enquanto olhava à volta, em direção à varanda. Bastariam duas pernadas e poderia saltar, mas não se mexeu. Porque não se mexia se sabia que os resultados de não o fazer não seriam do seu agrado?