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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2010 Marie Rydzynski-Ferrarella

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

Amor partilhado, n.º 1473 - Maio 2015

Título original: Fixed Up with Mr. Right?

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-6595-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Capítulo 1

 

Quando o seu telemóvel começara a tocar, Katherine Colleen Manetti, K. Manetti segundo a placa na porta do seu escritório, debateu-se entre atender ou deixar que fosse para o correio de voz. Tinha tanto trabalho que quase não tinha tempo para respirar.

Contudo, quando viu que a chamada era de Nikki Connors, uma das suas duas melhores e mais velhas amigas, decidiu fazer uma pausa, antes de sair para o tribunal. Falar com Nikki ou com Jewel Parnell, a outra melhor amiga, recordava-lhe que havia uma vida fora do prestigioso escritório de advogados da família, onde passava a maior parte do dia.

– Fala depressa – pediu a Nikki. Tirou um espelhinho de uma gaveta da sua secretária para se certificar de que cada madeixa do cabelo preto, comprido e sedoso, estava no sítio. – Tenho de sair a correr dentro de menos de cinco minutos.

– Ainda não temos data, mas quero que sejas a minha dama de honor. Bom, juntamente com Jewel. Espero que não te importes de partilhar esse lugar com ela, porque não conseguiria escolher entre as duas.

– Espera um momento, para que precisas de uma dama de honor?

Sabia qual era a resposta lógica para aquela pergunta, mas aquilo não fazia sentido. As três estavam muito ocupadas a forjar as suas carreiras para ter encontros e muito menos para manter uma relação suficientemente longa e séria para se decidirem a pronunciar os votos sagrados do casamento à frente do altar.

– Porque vou casar-me!

Kate não recordava ter ouvido Nikki tão feliz, nem sequer no dia da sua cerimónia de graduação na Faculdade de Medicina, quando se licenciara entre os primeiros da sua turma.

– Casar? – repetiu, espantada, semicerrando os seus olhos azuis. – Referes-te a «até que a morte nos separe» e tudo isso?

Nikki demorou um segundo a responder e Kate teve a impressão de que a amiga achava difícil falar, por estar tão feliz. Ela estivera prestes a casar-se há alguns anos, mas o noivado acabara quando descobrira que o noivo, o alto, o moreno e atraente advogado criminalista Matthew McBain, lhe era infiel.

Fora então que se apercebera que realmente teria de beijar muitos sapos até encontrar o príncipe encantado. Ela encontrara-se com muitos homens que lhe tinham parecido príncipes encantados e, afinal, eram sapos. E o pior de todos, sem lugar para dúvidas, fora Matthew. Por isso, decidira concentrar-se na sua carreira. Pelo menos, quando se esforçava no seu trabalho, via resultados, ao contrário das relações.

– Claro, a que outra coisa estaria a referir-me? – troçou Nikki, a rir-se.

Então, Kate recordou-o. Da última vez que as três se tinham encontrado, Nikki mencionara que estava a sair com alguém, mas não lhe dera muita atenção.

– Com o tipo que tem uma filha?

– O próprio – confirmou Nikki, e Kate deduziu pelo tom de voz dela que estava a sorrir. – Vou ficar com dois pelo preço de um.

– Estás a brincar, não é? O tipo com quem a tua mãe queria juntar-te? – inquiriu Kate, sem conseguir esconder o seu espanto.

– Bom, tecnicamente, não pode dizer-se que a minha mãe me tenha juntado com ele – indicou Nikki. – Vendeu uma casa a Lucas e ele, como era novo no bairro, perguntou-lhe se conhecia um bom pediatra na zona e, por acaso, eu sou pediatra. A minha mãe só lhe deu o meu nome porque ele perguntou.

Kate não o via assim.

– Por favor, Nik, estás cega. Sabes tão bem quanto eu que o que a tua mãe pretendia era juntar-vos. E sabes o que é o pior? Agora, a minha mãe e a de Jewel não deixarão de nos incomodar e de se intrometer nas nossas vidas até conseguirem o mesmo connosco – queixou-se. – Meu Deus, Nik... Não poderias... Não sei, viver com ele em pecado? Fá-lo por Jewel e por mim, por favor. Senão, estamos condenadas.

– Kate, o casamento não é assim tão mau – indicou Nikki, divertida.

– Essa felicidade que ouço na tua voz causou-te amnésia? Não te lembras do que sofremos durante todo este tempo, a ter de assustar todos esses «namorados» que as nossas mães encontravam para nós? Não me surpreenderia nada se esta noite, quando chegar a casa, encontrasse um tipo com um laço enorme e vermelho à volta do peito.

– Acabaste?

Kate suspirou.

– Está bem, está bem, talvez tenha abusado um pouco.

– E a respeito do motivo por que te liguei... Posso contar contigo?

Resignada, Kate respondeu:

– Claro que sim, mas espero que o casamento seja depressa, pois terei de sair da cidade por uma temporada. Será impossível viver com a minha mãe depois disto.

– Mas não vives com a tua mãe – indicou Nikki. – De facto, mal a vês.

– E há uma boa razão.

Não era que não amasse a mãe. Era óbvio que a amava, muitíssimo. Porém, para poder continuar a amá-la precisava de manter a distância entre ambas.

– A minha mãe foi criada à antiga. É das que pensam que se uma mulher não tiver um homem ao seu lado, a sua vida não está completa – explicou a Nikki. Nesse momento, bateram à porta e o irmão espreitou. – E que a vida de um homem não está completa sem uma mulher ao seu lado.

– Muito certo – confirmou o irmão, entrando no escritório. – E quantas mais mulheres, mais completa será a sua vida – acrescentou, com um sorriso travesso. Ao contrário de Kate, tinha uma vida social muito ativa. Aos olhos da mãe, provavelmente, seria demasiado ativa. Não queria compromissos. – Vá lá, Kate, está a fazer-se tarde. Temos de ir.

Nikki, que estava a ouvi-lo do outro lado da linha, disse a Kate:

– Eu também tenho de desligar. Cumprimenta-o da minha parte.

– Está bem. Falamos depois, Nik.

Depois de desligar, Kate levantou-se e guardou o telemóvel no bolso.

– Nikki vai casar-se – anunciou ao irmão.

Olhou para ela, boquiaberto.

– Estás a brincar...

– Foi a mesma reação que tive quando mo disse. E não, é verdade – declarou, enquanto dava a volta à secretária.

Segurou-lhe a porta enquanto saía. Ambos tinham de ir a tribunal e, como voltava a ter o carro na oficina, pedira-lhe para o levar.

Quando chegaram ao elevador, carregou no botão para o chamar.

– Bom e quem é o sortudo? – perguntou à irmã.

Meu Deus, aquilo ia ser um pesadelo, pensou Kate. Agora que a mãe estava a começar a deixar de se intrometer na sua vida...

– Um tipo que a mãe dela encontrou.

Olhou para ela, surpreendido.

– Pensava que Nikki não gostava desse tipo de coisas.

– E não gosta. Mas a mãe foi muito ardilosa – explicou Kate, franzindo o sobrolho. – Sabes o que isto significa, não sabes?

Os olhos dele brilharam, divertidos.

– Que teremos de começar a ver quem é antes de atender o telefone?

– Não tem graça. Agora que, finalmente, a mamã estava a começar a deixar-me em paz... Agora, voltará à carga – queixou-se Kate, enquanto entravam no elevador.

Riu-se e carregou no botão do primeiro andar.

– Fazes com que pareça uma guerra.

Kate, que estava a apanhar o cabelo com um gancho, respondeu:

– Porque é exatamente o que é.

E ambos sabiam.

 

 

– É verdade, Maizie, admito-o – admitiu Theresa Manetti, com admiração, à mãe de Nikki, sentada à frente dela: – Quando me disseste que, com a desculpa do trabalho, poderíamos encontrar um marido para as nossas filhas, tinha as minhas dúvidas.

Maizie, Cecilia, a mãe de Jewel, e ela encontravam-se todas as semanas para um jogo de póquer, mas não estavam a prestar atenção ao jogo. Maizie acabara de anunciar que Nikki ia casar-se.

– Mas conseguiste – acrescentou. – Juntaste Nikki com o tipo de homem que querias para ela e ainda se falam. É uma proeza. Não consegues encontrar-me outro como esse? – quando as amigas ficaram a olhar para ela, surpreendidas, esclareceu: – Para Kate, quero dizer. Desde que esse horrível Matthew lhe partiu o coração, não deixa de dizer que não tem a menor intenção de se casar, que a carreira lhe chega e sobra – explicou, com um suspiro.

Mazie assentiu com compaixão.

– O que precisa é de um bom homem e, certamente, entre as três, conseguiremos encontrá-lo.

– Entre as três? – repetiu Cecilia. Havia um matiz de ceticismo no seu tom.

– Claro – confirmou Maizie. – Eu vendo casas, tu tens um serviço de limpeza que algumas das melhores famílias do condado de Orange contratam e Theresa tem uma empresa de cateringue. Temos muitos mais contactos do que a maioria das pessoas. Como não haveríamos de encontrar dois homens decentes entre as três?

Não era que Theresa não o achasse um bom plano, mas conhecia os seus pontos fracos tão bem como os seus pontos fortes e, entre os seus pontos fracos, encontrava-se o problema com as relações sociais.

– Vocês têm mais jeito para estas coisas do que eu – indicou às amigas.

– Não te preocupes, Theresa – tranquilizou Maizie. – Só temos de manter os olhos bem abertos e estar alerta. Esses dois príncipes encantados que procuramos para Kate e Jewel podem não estar muito longe. E quem sabe? – acrescentou, piscando-lhe um olho, – talvez, no ano que vem, estejamos todas a comprar roupinha de bebé.

– Deus te ouça... – murmurou Theresa.

– Claro que me ouvirá – declarou Maizie, divertida.

 

 

Theresa ainda ouvia o eco das palavras de Maizie na sua mente quando, no dia seguinte, entrou na sede central do Republic National Bank para se encontrar com Jackson Wainwright, um cliente potencial. A sua secretária levou-a até ao escritório e, ao vê-lo, ficou com falta de ar por um instante ao aperceber-se da sua beleza.

Se lhe tivessem pedido para desenhar um retrato do tipo de homem capaz de chamar a atenção da filha, teria desenhado aquele.

Alto, moreno, de ombros largos, feições esculpidas e olhos azuis magnéticos, fazia-a pensar nos galãs de Hollywood.

Naquele momento, estava a falar ao telefone e não parecia muito contente. Cumprimentou-a com um assentimento de cabeça e indicou-lhe com um gesto que se sentasse na cadeira à frente da sua mesa.

– Não tenho tempo para discutir contigo, Jonah – estava a dizer à pessoa do outro lado da linha. – E a resposta é não, não vou emprestar-te mais dinheiro. Se precisas de dinheiro, vem ver-me e verei se consigo dar-te trabalho.

Desligou o telefone e cerrou os dentes, antes de esboçar um sorriso que iluminou a divisão.

– Desculpe.

– Não tem de se desculpar, senhor Wainwright – replicou ela. Sabia que não devia aprofundar no assunto, mas não pôde evitar perguntar: – Problemas com algum familiar?

Jackson ficou estupefacto, não só porque lhe fizera a pergunta, mas também porque acertara.

– Como sabe?

Theresa apontou para a mão direita, que ainda agarrava o telefone na base.

– Ficou com os nódulos brancos – explicou, com um sorriso atento. – Às vezes, os familiares têm uma habilidade especial para nos tirar do sério. Eu amo os meus dois filhos com loucura, mas há momentos em que os estrangularia.

Embora Jackson não fosse dos que despiam a sua alma com o primeiro estranho que encontravam, aquela mulher irradiava uma aura calorosa e atenta e ele estava prestes a rebentar, em boa parte por culpa de Jonah.

De facto, se aceitara aquela mudança fora porque, em São Francisco, a seiscentos quilómetros dali, era-lhe virtualmente impossível controlar o irmão Jonah, que parecia empenhado em deixar-se cair naquele caminho de autodestruição. Estava ali há menos de uma semana e as coisas com o irmão tinham chegado a um ponto em que tinha a sensação de que ou falava disso ou explodiria.

– Entendo-a – replicou. – O meu irmão Jonah é como um menino grande.

– É mais novo do que o senhor? – aventurou ela.

– Não, é o meu irmão mais velho – esclareceu Jackson, abanando a cabeça. – Isso é o mais engraçado, porque, supostamente, pela diferença de idade, ele devia ser o mais judicioso.

– Bom, isso nem sempre é assim – declarou Theresa, com amabilidade. – O sentido de responsabilidade não está necessariamente ligado à idade.

Jackson ia acrescentar alguma coisa, mas conteve-se.

– Peço-lhe desculpas outra vez. Não lhe pedi para vir para ouvir as minhas mágoas.

Sorriu.

– Não faz mal. Bom, Theresa Manetti ao seu serviço – apresentou-se, inclinando-se para a frente e estendendo-lhe a mão.

– Um prazer – afirmou, apertando-a.

Theresa gostou da firmeza daquele aperto de mãos. Isso dizia muito dele: que era um homem de convicções firmes que não tinha medo de tomar as rédeas.

– Passou muito tempo a ser o guardião do seu irmão? – quis saber, com um interesse sincero.

A pergunta fez Jackson rir-se. Nunca pensara naquilo assim, mas aquela mulher tímida e amável voltara a acertar em cheio.

– Desde que os nossos pais morreram – respondeu. Parecia que passara uma eternidade.

E para o caso de os problemas com Jonah serem poucos, o advogado da família, Morton Bloom, falecera na segunda-feira da semana anterior. Apesar do seu aspeto saudável e robusto, fora para a cama na noite de domingo e, na manhã do dia seguinte, não acordara. O pior era que não tinha nenhum sócio, ninguém que pudesse ocupar o seu lugar.

O bom Mort tivera de morrer exatamente quando se decidira a pedir-lhe para mudar as condições para que Jonah pudesse ter acesso ao seu fundo fiduciário.

Sentindo uma estranha ligação com aquela mulher com quem parecia tão fácil falar, perguntou-lhe, a brincar:

– Por acaso não conhece algum bom advogado?

Não esperara uma resposta, mas houve.

– Conheço vários. Que tipo de advogado procura?

– Um que tenha paciência, muita paciência – declarou, com um sorriso. Theresa tinha a certeza de que Kate se derreteria se visse aquele sorriso. Sentira o mesmo se tivesse vinte e nove anos, como a filha, – porque parte do seu trabalho seria lidar com o meu irmão. Enfim, o que preciso é de um advogado de família, mas não falava a sério, claro está – Jackson suspirou e acrescentou: – Em relação à festa para a qual quero contratar o seu serviço de cateringue...

Normalmente, Theresa nunca interrompia um cliente, mas aquela poderia ser a oportunidade perfeita para Jackson e a sua filha se conhecerem.

– A verdade é que penso que conheço a pessoa indicada – insistiu.

Jackson pestanejou, surpreendido, e ficou calado, mas deu por si a encolher os ombros mentalmente. Porque não? O que podia perder?

– Bom, se quiser, pode dar-me o seu nome depois.

Theresa teve uma ideia melhor.

– E porque não agora e deixamos o assunto resolvido? – sugeriu. – Assim, poderemos concentrar-nos nos detalhes da festa.

– Está bem – acedeu, amavelmente. – Escreva o nome e os dados de contacto – pediu, dando-lhe uma caneta e um papel.

Theresa escreveu a morada do escritório e, depois, o nome da filha, acedendo, só por aquela vez e porque lhe convinha, à insistência de Kate de usar apenas a inicial do seu nome. A filha dizia sempre que seria mais fácil afiançar-se naquele mundo dominado pelos homens se escondesse o seu sexo e, daquela vez, seria o seu álibi perfeito.

Quando o senhor Wainwright fosse ao escritório, perguntaria por K. Manetti e havia cinquenta por cento de probabilidades de o levarem ao escritório de Kate. É óbvio que também havia cinquenta por cento de probabilidades de o levarem a outro escritório, mas Theresa sentia-se menos culpada se deixasse àquilo ao destino e poderia defender-se se a filha a acusasse de tentar fazer de casamenteira.

Jackson pegou no papel e pestanejou ao ler o nome: K. Manetti.

– Manetti? Algum parente seu? – inquiriu, divertido.

Theresa sorriu.

– Um desses dois filhos que, às vezes, tenho vontade de estrangular – esclareceu, fazendo-o rir-se. – Ambos são uns advogados fantásticos – acrescentou, orgulhosa. – E ambos seguiram o mesmo caminho que o pai, que descanse em paz, que também era.

– Vou ligar-lhes – declarou Jackson, dobrando o papel para o guardar no bolso.

Theresa inspirou e fez figas mentalmente. Fizera tudo o que estava ao seu alcance, pelo menos, naquele momento.

– Fantástico. Bom e porque não me conta o que tinha em mente?

Jackson pestanejou.

– Perdão?

– Sobre a festa – recordou-lhe Theresa.

– Ah, é verdade. Desculpe, é que hoje tenho imensas coisas na cabeça.

– Se for um mau momento... – começou ela.

Não tinha problema em adiar aquela reunião. No que lhe dizia respeito, conseguira muito mais do que esperava. Quanto mais depressa se fosse embora, mais depressa poderia acender algumas velas para Santa Ana. Era sempre bom ter apoio.

– Aqui entre nós, senhora Manetti... Receio que, se tivermos de esperar um bom momento, tenhamos de esperar bastante – declarou Jackson, em confiança. Recostou-se na cadeira. – Muito bem, vou contar-lhe o que tinha em mente...

 

 

Kate ouviu alguém a bater à porta do seu escritório, antes de esta se abrir e de ver a cabeça do irmão.

– Kate, preciso que me faças um favor.

Irritada porque estava a fazer algo que tentava acabar, Kate lançou-lhe um olhar breve.

– Não tenciono ligar a outra das tuas aventuras de uma noite para lhe dizer que saíste da cidade. Se não queres voltar a vê-la, seja quem for, liga-lhe tu. Já és crescidinho.

– Em primeiro lugar, não é uma aventura de uma noite. Passei duas semanas a sair com Allison.

– Por favor, que alguém chame a imprensa – murmurou ela, sem olhar para ele, enquanto continuava a escrever.

Fingiu que não a ouvira.

– E, em segundo lugar, não tem nada a ver com isso. O que se passa é que tenho de estar em Tustin dentro de meia hora e, por erro, Sheila marcou um cliente novo para o meio-dia e meia. Não podias ocupar-te dele?

Kate parou de escrever e recostou-se para olhar para o irmão. Porque havia algo que não fazia sentido?

– Assim tão simples? Não há nenhuma armadilha, pois não?

Levantou as mãos e lançou-lhe um olhar inocente.

– Claro que não. Jackson Wainwright é um novo cliente. O advogado dele morreu quando queria resolver um assunto de um fundo fiduciário, conforme tenho entendido – inclinou a cabeça. – Tu consegues lidar com isso, não é? – desafiou-a. Sabia que não havia melhor forma de convencer a irmã do que desafiá-la. – Além disso, perguntou por K. Manetti e, como temos o mesmo apelido, nem se aperceberá da mudança.

– Teria de estar cego para não se aperceber – indicou.

– Tens razão. Sou muito mais bonito do que tu – brincou. Quando a irmã lhe atirou uma bola de papel, baixou-se entre gargalhadas para a esquivar, mas o tiro de Kate falhou por quase meio metro. – Atiras como uma rapariga – troçou.

– Porque sou uma rapariga, idiota – Kate deu uma olhadela ao calendário na sua mesa. – Está bem, posso dedicar meia hora a esse Wainwright, mas nem mais um minuto, porque tenho de ir ao tribunal para registar a mudança de nome da senhora Greenfield.

Olhou para o seu relógio.

– Fantástico, obrigado. Vou andando.

– Deves-me uma! – gritou Kate, enquanto saía.

– Eu sei, eu sei... – acedeu, com um sorriso nos lábios, afastando-se pelo corredor.

 

 

Kate estava tão concentrada no que estava a fazer que, quando bateram à porta novamente, nem ouviu. Voltaram a bater, com mais força, e ouviu. Kate soprou, exasperada. «E agora?»

Olhou para o seu relógio. Era meio-dia e vinte. Ainda faltavam dez minutos para o novo cliente aparecer.

– Entra, Sheila – indicou, sem se incomodar em desviar o olhar do ecrã do computador. Estava muito ocupada a escrever. – Atendo-te dentro de um segundo. Quero acabar isto antes de aparecer o fardo que o meu irmão me deixou – murmurou, enquanto ouvia a porta fechar-se. – Pronta! – exclamou, triunfante, escrevendo a última palavra do documento.

Ao levantar o olhar, deu um salto. Sentado à frente da mesa havia um homem muito bonito, vestido com o que parecia um fato feito à medida. Um homem que estava a sorrir.

– Olá! – cumprimentou-o, hesitante.

– Olá!

Ao ver que ele não dizia mais nada, perguntou:

– E o senhor é...?

O sorriso nos lábios dele tornou-se mais amplo.

– O fardo que o seu irmão lhe deixou. Acho.

Meu Deus, porque não levantara o olhar quando entrara? E porque é que Sheila o deixara entrar sem a avisar?

– Jackson Wainwright? – inquiriu.

O homem assentiu.

– O próprio.

Kate pigarreou. Tinha de remediar o seu erro.

– Falava de um fardo no bom sentido, é óbvio – murmurou, confusa.

Os olhos azuis dele brilharam, divertidos.

– Não sabia que «um fardo» podia ter conotações positivas.

– Lamento, eu... – balbuciou Kate, sentindo que as faces se tingiam de rubor. Levantou-se. – Desculpe-me – desculpou-se, enquanto passava ao seu lado em direção à porta.

Jackson Wainwright levantou-se, visivelmente contrariado, e virou-se, seguindo-a com o olhar.

Kate saiu e, quando voltou a entrar, avançou para ele com passo seguro e estendeu-lhe a mão.

– Sou Kate Manetti – apresentou-se, esboçando um sorriso, – e isto chama-se «primeira impressão, segunda tentativa».

Por um instante, temeu que pensasse que estava a rir-se dele, mas Jackson Wainwright começou a rir-se de boa vontade e soube que conseguira uma segunda oportunidade. Kate respirou fundo, aliviada, ainda que, até àquele momento, não se tivesse apercebido de que estivera a suster a respiração.