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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Jessica Hart

© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Um casal inesperado, n.º 1152 - Junho 2015

Título original: Last-Minute Proposal

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2009

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-6948-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

– Não me largues! – exclamou Tilly, enquanto se agarrava com todas as suas forças ao pescoço de Campbell Sanderson, um homem sólido como uma rocha que cheirava a limpo... e a única coisa que se interpunha entre ela e o fundo de um abismo.

Típico. Há séculos que não se encontrava entre os braços de um homem e estava demasiado aterrorizada para desfrutar.

Campbell tentou afastar as mãos de Tilly do seu pescoço.

– Não tenho intenção de te largar – disse, irritado. – Vou segurar a corda enquanto descer. A única coisa que tens de fazer é apoiar-te e confiar em mim.

– Quantas mulheres ao longo dos séculos ouviram essa frase? – gozou Tilly, que voltou a rodeá-lo com os braços pelo pescoço assim que lhe soltou as mãos. – Para ti é muito fácil falar de confiança porque não foi a ti que te pediram para te balançares sobre um abismo com apenas uma corda fina como protecção!

Os que, sem dúvida, tinham uma morte certa pela frente eram os seus irmãos gémeos, responsáveis por a terem posto naquela confusão. Tencionava matá-los assim que conseguisse.

Olhou para Campbell. Tinha os olhos verdes mais frios e implacáveis que vira na sua vida e uma expressão de impaciência profunda. Possivelmente, fora ela quem a inspirara, mas suspeitava que era algo habitual nele. Parecia do tipo impaciente e havia algo nos traços austeros do seu rosto, no ar inflexível da sua boca, que a fazia pensar que se encontrava face a um exemplo perfeito de «o que vês é o que há».

E o que havia no caso de Campbell Sanderson era um tipo realmente duro.

– Como posso confiar em ti? – perguntou, sem o largar. – Não sei nada sobre ti.

Campbell não escondeu a sua exasperação.

– Eu também não te conheço, portanto, porque ia querer atirar-te por uma ravina? Sobretudo, tendo em conta que estás a filmar-me com uma câmara de televisão. Ou não reparaste que agora estão a filmar?

– Claro que reparei! Porque achas que estou a sussurrar?

Os braços de Tilly começavam a doer devido ao esforço de se segurar a Campbell. Tinha os pés apoiados na beira do precipício, mas sentia a força da gravidade a puxá-la para baixo.

E não tinha outro remédio senão reconhecer que era um peso substancial que se via atraído para o fundo. Porque não fora capaz de seguir nenhuma das suas dietas até ao final?

Aquele era o castigo por não ter sobrevivido à base de folhas de alface durante os passados trinta anos.

Campbell olhou em direcção às câmaras com um ar de incredulidade.

– Mas estão muito longe! Não conseguem ouvir-te, mas conseguem ver-te e têm o zoom directamente focado sobre ti, portanto faz o favor de te controlar! – exclamou, com firmeza. – Estás a fazer uma figura ridícula.

– Prefiro fazer uma figura ridícula a acabar esmagada no fundo deste precipício!

– Para começar, isto não é um precipício – o tom de Campbell denotou que estava a fazer verdadeiros esforços para se conter. – Só há seis metros até ao fundo e, como não paro de repetir, não vais cair. Estás presa a uma corda segura e podes descer lentamente. Mesmo que escorregasses, eu estou a segurar a corda e não permitiria que caísses.

– A corda é muito fina – Tilly não pareceu convencida. – Não acho que aguentasse o meu peso.

– Claro que aguentaria – replicou Campbell, impaciente. – Esta corda conseguiria segurar um hipopótamo.

– Pergunto-me o que te fez pensar num hipopótamo – replicou Tilly, com amargura.

Oxalá Campbell não tivesse mencionado a câmara. Provavelmente, estaria a focar o seu rabo. Sem saber muito bem o que envolvia «um dia nas colinas», mas quase certa de que envolveria passar frio, Tilly vestira as suas velhas calças de esquiar, dois tamanhos mais pequenas do que precisava e compradas num arrebatamento de entusiasmo pouco depois de conhecer Olivier. De certeza que o seu grande rabo vermelho estava a encher o ecrã naquele momento, com as conseguintes gargalhadas dos membros da equipa de televisão.

– Quem teve a ideia de filmar este programa? – a humilhação fez com que a sua voz tremesse. – De certeza que estavam sentados em algum bar e algum disse: façamos um programa para fazer com que alguns gordos façam uma figura triste!

– Nesse caso, todos os participantes seriam gordos e nenhum de nós é – disse Campbell.

– Eu sou.

– Não se nota – respondeu Campbell, embora, agora que Tilly o mencionara, devesse reconhecer que tinha uma figura decididamente voluptuosa.

Estivera demasiado concentrado no que estava a fazer para reparar. Noutras circunstâncias, provavelmente teria desfrutado do facto de uma mulher com aquele corpo querer aproximar-se ele. Infelizmente, por muitos pontos que Matilda Jenkins tivesse a seu favor no físico, estava a perder muitos mais com a confusão que estava a armar com uma simples descida.

– De facto, a tua teoria é absurda – replicou. – Nenhum dos outros participantes é gordo.

Tilly pensou no encontro daquela manhã, quando conheceram os três casais rivais que também tinham superado a primeira ronda. Por muito que lhe custasse, devia admitir que Campbell tinha razão.

Leanne, a bonita cabeleireira loira em quem detectara uma possível alma gémea, tinha uma figura óptima, algo que invejara quase tanto como o seu parceiro, um desportista amistoso e tranquilizador chamado Roger que tinha o último grito em equipamento. Quer dizer, o contrário de Campbell.

As outras duas raparigas também não eram gordas. Uma delas fora com um professor de História Medieval magricela que estava a juntar dinheiro para restaurar as vidraças de uma catedral.

– Talvez pensassem que seria divertido que todos fizéssemos uma figura ridícula – concedeu Tilly contrariada, renitente a deixar completamente de lado a sua teoria.

– É mais do que provável – concedeu Campbell, tenso, – mas, já que aceitámos participar, não estamos em condições de nos queixar.

Um pouco mais longe, os seus três adversários preparavam-se com os seus parceiros para a descida. Havia outras três principiantes como Tilly, escolhidas pela sua completa falta de experiência em tudo o que era relacionado com actividades desportivas ao ar livre, mas que pareciam estar a assimilar o que deviam fazer com muito menos dramatismo do que Matilda Jenkins.

Campbell respirou fundo. Tinha uma mulher histérica entre os seus braços. Não se importava que fosse voluptuosa ou que o seu perfume fosse sedutor. Preferia voltar a estar atrás das linhas inimigas a enfrentar a cena que, evidentemente, Matilda Jenkins era capaz de fazer.

Porque permitira que Keith o convencesse a fazer aquilo? Boa publicidade, sem dúvida! Mas como diabos ia ser boa publicidade que vissem o director da Manning estrangulado por uma mulher assustada na beira de uma ravina tão pouco profunda e pronunciada que quase conseguia alcançar o caminho a pé?

E receava que aquilo fosse só o princípio. Depois de a ajudar a descer tinha de subir a colina com ela, descer novamente e atravessar o rio antes dos outros. Caso contrário, não chegariam à próxima ronda e não poderiam ganhar a competição.

E Campbell Sanderson não estava habituado a perder.

Por muito tentadora que fosse a opção de empurrar Jenkins para chegar a rebolar até lá abaixo, decidiu descartar a opção. De certeza que o grito que daria se ouviria a vários quilómetros.

Não ia ter outro remédio senão convencê-la a falar.

– Vamos, Jenkins, estás a perder o controlo – replicou, com mais suavidade. – Tens duas opções. Podes admitir a derrota, mas estás disposta a abandonar a obra de beneficência pela qual estás a fazer isto? Contam contigo para obter uma boa soma de dinheiro. A que obra de beneficência vais entregar o teu dinheiro? – acrescentou, num tom desenvolto.

– Ao centro local de doentes terminais – murmurou Tilly, enquanto lamentava que Campbell tivesse puxado aquele assunto. É claro que devia estar a pensar no centro e em tudo o que tinham feito lá pela sua mãe e por Jack.

– Uma grande causa – declarou Campbell. – Haverá muita gente à espera que o faças bem.

– Vejo que és perito na chantagem emocional – replicou Tilly, com amargura.

– Só estou a dizer a verdade. A outra opção é soltares-me, segurares-te à corda e desceres lentamente para trás pela parede de rocha. Tudo acabará dentro de segundos e sentir-te-ás muito bem quando acabares.

Tilly suspeitava que dentro de segundos não estaria em condições de voltar a sentir nada.

– Não há outra opção?

– Suponho que podíamos passar o resto da nossa vida aqui, abraçados, mas imagino que essa opção não te parecerá interessante.

– Oh, não sei... – murmurou Tilly, desesperada para ganhar um pouco de tempo.

Era preocupante que aquela opção não lhe parecesse assim tão má. Mal conhecia Campbell, que parecia irritado, mas, sem dúvida, havia destinos piores do que passar o resto da vida agarrada a um corpo como aquele... sobretudo se não estivesse tão empenhado em incliná-la sobre o vazio.

– Vamos, Jenkins, desce – a impaciência voltou a tingir o tom de Campbell enquanto olhava para os outros adversários, que quase tinham chegado ao fundo.

Tilly suspirou. Aparentemente, o seu companheiro não estava a pensar na opção de passar a eternidade abraçado a ela.

– Não te preocupes – dissera a assistente de produção depois de lhe comunicar que o seu parceiro original desistira. – Ouvi dizer que Campbell Sanderson pertenceu às Forças Especiais. Não poderia deixar-te em melhores mãos.

Olhou para as mãos de Campbell na corda. Eram umas mãos fortes, quadradas, muito capazes. Noutras circunstâncias, teria sido tentador deixar-se seduzir por elas.

– Está bem – replicou, com um suspiro.

Não havia outro remédio senão fazê-lo. Pela sua mãe e por todos os que precisavam dos cuidados que ela obtivera.

«Confia em mim», dissera Campbell.

Tilly arriscou-se a olhar para o seu rosto e viu-o com extraordinário detalhe: sereno, competente, sério. Imaginou-o com um gorro, a atirar-se de pára-quedas atrás das linhas inimigas para fazer voar alguns tanques antes da hora do chá. Ao contrário de outros homens que conhecia, Campbell Sanderson não fingiria que ia deixá-la cair para depois se rir dos seus gritos de terror. Não, faria exactamente o que dissera que faria.

E tudo o que ela tinha de fazer era soltar-se e caminhar para baixo pelo precipício.

E confiar nele.

Respirou fundo. Ia ter de fazer alguma coisa.

Começou a soltar cautelosamente o pescoço de Campbell.

– Se o fizer, deixarás de me chamar pelo meu apelido?

– Como quiseres – Campbell olhou de esguelha para os seus adversários, que já iam continuar. – Mas fá-lo.

– Está bem – replicou Tilly, corajosamente. – Vamos lá.

Precisou de algumas tentativas antes de soltar definitivamente o pescoço de Campbell e segurar na corda com as mãos.

– Está bem – replicou ele, encorajando-a. – Em frente.

– Não me deixarás cair, pois não?

Campbell olhou para ela nos olhos.

– Confia em mim.

– Está bem – Tilly voltou a respirar fundo e inclinou-se para trás.

Teria sido exagerado se dissesse que desfrutara da descida, porém, depois de superar o primeiro momento de ficar suspensa sobre o vazio, a experiência não fora tão aterradora como imaginara. Campbell soltou a pouco e pouco a corda até Tilly sentir que os seus pés tocavam no fundo.

Campbell desceu rapidamente atrás dela e começou a apanhar o equipamento imediatamente.

– Vamos – replicou. – Temos de atravessar o rio antes dos outros ou talvez não passemos à próxima ronda.

Depois, começou a andar e Tilly foi atrás dele.

– Tens a certeza de que vamos na direcção correcta? – perguntou, com falta de ar. – Todos vão por ali – disse, ao mesmo tempo que apontava na direcção contrária.

– É por isso que nós vamos por aqui – replicou Campbell, sem parar. – É um caminho mais difícil, mas mais rápido.

– Como sabes?

– Vi um mapa esta manhã.

– Vejo que estás a levar isto muito a sério – indicou Tilly. O seu pai era a única pessoa que conhecera até então com aquele afã para ganhar a todo o custo.

– Se tu não o levas a sério, porque estás aqui? – perguntou Campbell, como teria feito o pai de Tilly.

– Enganaram-me – os olhos azuis de Tilly brilharam de indignação. – Os meus irmãos gémeos decidiram que tinham de me fazer sair da minha rotina e inscreveram-me na competição. Descobri quando as pessoas que trabalham no centro começaram a dizer-me que estavam contentes por eu participar e por a quantidade de coisas que podiam fazer com o dinheiro se ganhasse.

Campbell olhou para ela. O seu rosto ovalado estava rosado devido ao esforço e tentava em vão evitar que a brisa agitasse os seus caracóis castanhos. Parecia agitada e vibrante com o seu fato de esquiar vermelho. Era estranho que tivesse escolhido aquela roupa para passar um fim-de-semana a caminhar pelo monte, mas pelo menos não existia o perigo de se perder. Via-a a vários quilómetros de distância.

– Se não querias fazê-lo, podias ter-te limitado a dizer que não.

– Teria sido muito egoísta da minha parte. O centro é um lugar muito especial. Foi terrível quando soubemos que a minha mãe estava a morrer. Os meus irmãos eram muito pequenos, o meu padrasto estava consternado... Eu tentava manter a situação sob controlo, mas não sabia o que fazer – o olhar de Tilly entristeceu-se enquanto recordava aquela época terrível. – Tinha tanto medo de que a minha mãe morresse... Não sei como teríamos conseguido seguir em frente sem o centro. Foram maravilhosos connosco. Quando a minha mãe morreu, ajudaram-nos a compreender o que estava a acontecer e a aceitá-lo. Aconteceu o mesmo quando o meu padrasto morreu – acrescentou. – Foi terrível, mas pelo menos não estávamos tão assustados. Devo tanto ao centro que não podia desistir. Se ganhar, o dinheiro do prémio significará muito para eles. Estão a ampliar o edifício para que outras famílias possam receber a ajuda que nós recebemos. Como podia desistir?

– Suponho que há outras formas de os ajudar.

– Trabalho como voluntária na loja do centro, mas suponho que isso não é um grande sacrifício.

– É mais do que a maioria das pessoas faz.

– É possível, mas a maioria das pessoas não tem a oportunidade de ganhar uma doação importante para a obra de caridade que escolher. Sentir-me-ia mal se a tivesse rejeitado... como Harry e Seb sabiam que aconteceria.

– Harry e Seb?

– Os meus irmãos – respondeu Tilly, sem nenhum entusiasmo. – Foi tudo ideia deles. Inscreveram-me no concurso. Enviaram uma fotografia e um pequeno texto em que explicavam porque desejava participar no programa e, depois, certificaram-se de que todos sabiam que me tinha inscrito. A partir de então todos se dedicaram a dizer-me como a minha mãe se teria sentido orgulhosa se soubesse o que ia fazer pelo centro – ela suspirou, antes de acrescentar: – Não podia decepcioná-los e dizer-lhes que era um erro, pois não? Teria sido como abandonar a minha mãe...

Campbell continuou a caminhar pela colina a um ritmo inflexível. Havia uma espécie de elegância perigosa na sua forma de se mexer, o que fez com que Tilly se sentisse mais próxima de uma morsa hesitante do que costumava sentir-se.

– Porque é que os teus irmãos se empenharam tanto em que fosses tu a participar no programa? – perguntou Campbell. – Algum deles podia tê-lo feito.

– Acham que tenho uma vida demasiado rotineira – respondeu Tilly, enquanto se esforçava para manter o passo. – Fiz trinta anos e, tal como me tratam, qualquer um diria que estou prestes a reformar-me.

– Tens uma vida rotineira?

– Se for assim, é muito confortável – respondeu Tilly com desafio no tom de voz. – Sou feliz a fazer o que faço e não tenho tempo para me preocupar com a rotina. Os rapazes só pensam isso porque estiveram fora, na universidade, e pensam que Allerby é muito aborrecido... embora não se importem de voltar quando ficam sem dinheiro e precisam de se alimentar bem.

De certeza que Campbell também pensava que uma pequena população de North Yorkshire era um lugar aborrecido. Não parecia um tipo provinciano. Em Allerby, destacar-se-ia como um tigre entre um grupo de animais domésticos gordos e mimados.

Por outro lado, também não parecia o típico homem da cidade. Tilly não conseguia imaginá-lo a ir ao teatro ou a beber um cappuccino num café central. O seu passado militar podia explicar o ar ligeiramente perigoso que emanava dele, porém, nesse caso, o que estava a fazer ali?

Havia uma forma fácil de o descobrir.

– E o que fazes aqui? Não pareces o tipo de pessoa que faz coisas que não quer fazer.

– Sou o director-executivo da Manning Securities – replicou Campbell.

– Os patrocinadores do programa?

– Exactamente. Keith, o meu director de relações públicas, convenceu-me de que o programa seria bom para a nossa imagem. Eu sugeri limitarmo-nos a entregar o dinheiro a alguma obra de beneficência, mas Keith insistiu que isto teria mais impacto. Como pensei que não me veria pessoalmente comprometido nisso, cedi.

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– A verdade é que não estou precisamente contente por ter de fazer isto – confessou Campbell. – Dentro de algumas semanas vou ser transferido para os Estados Unidos para um novo trabalho, portanto tenho coisas melhores para fazer do que participar em concursos televisivos. Mas Keith está muito envolvido no projecto e, como sabe que pertenci às Forças Especiais, pressionou-me para que aceitasse.

– Se não querias fazê-lo, porque não te limitaste a dizê-lo? – perguntou Tilly, contente por poder citar as palavras de Campbell.

– Keith foi muito convincente. Disse-me que o programa não funcionaria se não tivessem o número necessário de participantes e que seria uma pena que as minhas últimas semanas na Manning se recordassem como um fracasso.

– Aparentemente, sabe que botões carregar – replicou Tilly, cheia de admiração pelo tal Keith. Ela conhecera Campbell há menos de uma hora, mas já sabia que o que o obrigava a agir era a sua necessidade de ser o melhor. Qualquer sugestão de que estava associado ao fracasso seria como abanar um lenço vermelho à frente de um touro.

– Disse que seria apenas passar um fim-de-semana com uma amadora nas Highlands – continuou Campbell. – Devo reconhecer que não sabia até que ponto serias uma amadora.

– Vê do ponto de vista dos produtores. Que diversão teria o programa se ambos fôssemos peritos? Querem cenas como a do precipício.

– Que precipício?

– O que acabámos de descer!

– Aquela pequena queda? Mas praticamente podia descer-se a pé!

Tilly olhou para Campbell sem esconder o seu desagrado.

– E qual é a tua obra de caridade? Suponho que terás algum incentivo para ganhar.

Campbell encolheu os ombros.

– Basta-me ganhar – replicou. – Mas acabei de decidir que, se ganharmos, o meu dinheiro será para o teu centro.

– A sério?

– Só se isso for um incentivo para te despachares – acrescentou Campbell, num tom mordaz.

– Já estou a apressar-me – replicou Tilly, ofendida. – Não costumo fazer tanto exercício. Suponho que foi por isso que me escolheram. Pensaram que seria a pessoa ideal para te atrasar.

– Nesse caso, espero que possas provar-lhes que estavam errados – replicou Campbell, enquanto parava numa protuberância do terreno para espreitar para o rio que circulava por baixo.

Percorreu o vale com o olhar. Uma equipa de televisão esperava do outro lado do rio, mas ainda não havia sinais dos outros participantes. Isso significava que tinham acertado no caminho.

Tilly parou atrás dele, ofegante.

– E agora?

Campbell apontou para o rio.

– Teremos de descer.

– Mas... como? – Tilly sentiu um aperto no coração quando olhou pela beira.

– Isto parece-se mais com um precipício – reconheceu Campbell.

– Oh, não... – Tilly recuou ao compreender o que Campbell estava a sugerir. – Não! Nem pensar! Não tenciono voltar a pendurar-me na corda. Nem penses!