bian1161.jpg

6278.png

 

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Lucy Gordon

© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Outono italiano, n.º 1161 - Julho 2015

Título original: The Italian’s Christmas Miracle

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2009

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7164-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Se gostou deste livro…

Prólogo

 

As luzes de Natal brilhavam na árvore. Alysa pôs a mão sobre a sua barriga e sorriu, pensando que, quando James descobrisse que ia ser pai, quereria seguir em frente com os planos de casamento que tinham começado a fazer. Dir-lhe-ia que estava grávida nessa mesma noite.

Onde estava James? Porque ainda não chegara?

Mais uma vez, comprovou se estava tudo perfeito, incluindo o seu aspecto. Levava o cabelo solto, quando, normalmente, o apanhava num coque. Pensava sempre que devia cortá-lo com intenção de adoptar um estilo mais austero, adequado para o seu trabalho como contabilista. No entanto, adiava sempre a decisão, porque sabia que o seu cabelo era o elemento mais chamativo da sua beleza.

Nunca fora uma mulher bonita. Tinha um rosto atraente, contudo, considerava que os seus traços eram demasiado duros para uma mulher. Considerava-se pouco feminina, demasiado alta, magra, e com pouco peito.

No entanto, o seu cabelo castanho com reflexos dourados, caindo pelos seus ombros até à cintura, fazia com que parecesse uma heroína da mitologia.

James adorava o seu cabelo e, no dia em que se tinham conhecido, ela levava-o solto.

– Não conseguia deixar de olhar para ele – dissera ele mais tarde. – Assim que te vi, desejei levar-te para a cama.

– Quer dizer que não te apaixonaste pela minha personalidade? – perguntara ela.

– O que achas?

Tinham-se rido e a gargalhada acabara num acto apaixonado.

– Recordavas-me Minerva – dissera ele uma vez. – Tenho uma imagem dela com o cabelo solto, mas não é tão bonito como o teu.

– Quem era ela? – perguntara Alysa.

– Era a deusa dos guerreiros, da medicina, da sabedoria e da poesia.

Assim era que lhe chamava na escuridão.

Ele franzia o sobrolho quando a via a vestir-se de fato para ir trabalhar e com o cabelo apanhado.

– É por causa do trabalho. Não posso ser Minerva para os meus clientes. Só para ti.

No dia em que cortara as pontas sem lhe dizer, ele mostrara-se incomodado.

«Até discutimos por isso», recordou ela com um sorriso.

No entanto, nessa noite arranjara-se tal como gostava. Vestira um vestido apertado e levava o cabelo solto para que ele pudesse acariciá-lo com os dedos e afundar o rosto na sua suavidade perfumada. Depois, fariam amor e, mais tarde, enquanto estivessem abraçados, contar-lhe-ia o seu segredo maravilhoso.

Oxalá James chegasse logo!

Capítulo 1

 

O sol frio de Fevereiro brilhava sobre o lugar onde, num instante, tinham falecido quinze pessoas.

Mais abaixo, a multidão olhava para o lugar onde o teleférico balançava sobre a cascata. Era novo e substituía o que caíra de forma repentina, fazendo com que os seus ocupantes caíssem à água e sobre as rochas.

Passara um ano depois da tragédia e as pessoas tinham ido recordar os seres queridos que tinham perdido.

Quando o funeral acabou, algumas pessoas partiram e outras ficaram a tentar imaginar a tragédia.

Alysa ficou mais tempo, porque não sabia o que fazer nem para onde ir. Alguma coisa no seu interior mantinha-a prisioneira.

Um jovem jornalista aproximou-se dela com o microfone e falou-lhe em italiano.

Sono inglese – disse ela. – Non parlo italiano.

Ele olhou para ela, espantado, e ela acrescentou:

– Isso é a única coisa que sei dizer.

O rapaz começou a falar em inglês.

– Posso perguntar-lhe porque está aqui? Perdeu alguém na tragédia?

Durante um instante, ela desejou dizer: «Vim para chorar o homem que amava e que me traiu ao abandonar-me quando estava grávida do seu filho. Um filho que nunca conheceu. Morreu com a sua amante. Ela era casada e tinha uma filha, porém, abandonou-os, tal como ele me abandonou. Não sei porque vim, mas não podia deixar de vir».

No entanto, não podia dizer nada disso. Durante um ano, não deixara que ninguém se intrometesse na sua infelicidade, ocultando-se atrás de um muro de aço para que ninguém suspeitasse e com medo de não conseguir manter o controlo da situação.

– Não, não perdi ninguém – disse ela. – Sentia curiosidade.

– Portanto não pode ajudar-me? Ninguém quer falar e a única pessoa que reconheço é Drago di Luca.

Ela sobressaltou-se ao ouvir o nome.

– Está aqui?

– É o homem que está ali, com o sobrolho franzido.

Ela olhou para o homem. Tinha o cabelo escuro, tal como os seus olhos, e o seu olhar era penetrante. Transmitia escuridão, uma escuridão interna. Na sua mente, no seu coração, até na sua alma. Alysa tremeu.

Tinha um rosto bonito. O nariz fino, a boca e a queixo firmes, o olhar feroz, mesmo ao longe. O seu aspecto era altivo, como se desafiasse qualquer pessoa que se atrevesse a falar com ele.

– Não gostaria de se encontrar com ele, pois não? – perguntou o jovem. – Tem muito por que chorar. A sua mulher morreu aqui e diz-se que ela o tinha deixado por outro homem.

Alysa demorou um instante a responder.

– Diz-se? Ninguém tem a certeza?

– Ela era advogada e a história oficial é que estava de viagem para ver uns clientes. Se alguém se atrevesse a sugerir outra coisa, Luca cairia sobre ele. É construtor e encarrega-se de grandes projectos, como restaurar edifícios antigos e esse tipo de coisas.

Ela olhou para ele outra vez. Di Luca era um homem alto, de costas largas e mãos grandes.

– Entendo que possa assustar as pessoas – disse ela.

– É um homem importante em Florença. Alguém sugeriu que se candidatasse à Câmara Municipal e ele riu-se. Tem toda a influência de que precisa sobre a Junta de Freguesia sem ter de perder tempo com reuniões. Dizem que tem influência sobre todas as pessoas importantes da cidade e que só tem de lhes telefonar quando precisa de alguma coisa. Tentei falar com ele e pensei que ia matar-me.

Ela olhou para ele pela última vez e ficou desconcertada ao ver que ele olhava para ela.

– Tenho de ir – disse ao jornalista.

Afastou-se, tentando não perder Drago di Luca de vista. Procurara a sua fotografia milhares de vezes na Internet. James dissera que o nome da sua nova amante era Carlotta. Depois disso, não voltara a falar com ele.

Três semanas depois, a tragédia de Pinosa Falls, um lugar próximo de Florença, Itália, aparecera nos jornais. Dessa forma, Alysa descobrira que ele morrera. Revendo a lista de nomes, descobrira Carlotta di Luca, uma jovem e prometedora advogada. Procurando na Internet, Alysa encontrara vários artigos sobre ela e algumas fotografias.

Numa das fotografias, aparecia com o seu marido e a sua filha de quatro anos. O homem devia ter quase quarenta anos e tinha uma expressão séria.

Na Internet também encontrara fotografias da tragédia que nenhum jornal se atrevera a publicar. Numa delas, apareciam Carlotta e James deitados no chão. James tinha o rosto coberto de sangue, contudo, Alysa conseguira reconhecer o seu casaco.

Ambos estavam junto do teleférico e não havia dúvida de que tinham viajado juntos. Era como se, no último momento, se tivessem abraçado antes de morrer.

«Acabou», disse para si Alysa. «Esquece».

Numa noite, enquanto olhava para o ecrã do computador, sentira uma dor forte. Correra para a casa de banho e assim que chegara lá, desmaiara. Quando recuperara os sentidos, perdera o filho de James.

Depois alegrara-se de não ter contado nada a ninguém. Assim poderia chorar em privado. Porém, não derramara uma única lágrima. Noite após noite permanecera deitada na escuridão, olhando para o tecto, enquanto o seu coração se tornava de pedra.

Decidira que era melhor assim. Se não chorasse daquela vez, nunca mais voltaria a chorar.

Portanto concentrara-se na tarefa de transformar a sua vida e concentrara-se na sua carreira profissional. Os seus chefes tinham ficado impressionados e falara-se na possibilidade de que a fizessem sócia da empresa. Um ano depois da morte de James, deveria estar completamente recuperada. No entanto…

Aproximou-se da água devagar e olhou novamente para o lugar onde James e Carlotta tinham falecido.

– Porque estou aqui? – perguntou. – Porque não consegui esquecer-te?

Porque era um fantasma que ainda a perseguia e ela pensava livrar-se dele naquele lugar.

– Deixa-me em paz – sussurrou, desesperada, com os olhos fechados. – Por favor, deixa-me sozinha.

Silêncio. Ele não estava ali, contudo, mesmo na sua ausência tinha a capacidade de gozar com ela.

Atrás de uma árvore enorme, tinham posto uma laje gravada com os nomes dos falecidos. O nome de James aparecia no final. Ela ajoelhou-se e acariciou o seu nome. Sabia que aquilo era o mais perto que voltaria a estar dele.

Sapevi che lui?

Ao ouvir uma voz, virou-se e encontrou Drago di Luca a olhar para ela.

Sono inglese – disse ela.

– Perguntava se conhecia o homem cujo nome está a acariciar.

– Sim – disse ela. – Conhecia-o.

– Bem?

– Sim, bem. Muito bem. Porquê?

– Tudo o que está relacionado com esse homem diz-me respeito.

Ela levantou-se para olhar para ele.

– Porque fugiu com a sua esposa?

– Se sabe tal coisa… – disse ele devagar, depois de respirar fundo.

– James Franklin era o meu namorado. Deixou-me por uma mulher chamada Carlotta.

– O que mais lhe contou dela?

– Nada. Apenas me disse o nome e depois não quis contar-me mais nada. Mas, quando aconteceu a tragédia… – encolheu os ombros.

– Sim – disse ele. – Então, todos os detalhes se tornaram públicos.

Então ele agarrou-a pelo braço para que o acompanhasse.

– Continua apaixonada por ele? – perguntou.

Curiosamente, a sua pergunta não a ofendeu.

– Não sei – disse ela. – Como posso estar? A esta altura já devia ter superado o que aconteceu e, no entanto…

Ele assentiu, como se soubesse muito bem a que se referia.

– Foi por isso que veio? – perguntou ela.

– Em parte. Também vim pelo bem da minha filha.

Assinalou a menina que estava um pouco afastada, com uma mulher idosa.

Enquanto Alysa olhava para elas, dirigiram-se para onde tinham deixado as flores para que a menina pudesse deixar o seu ramo. Ao levantar o olhar, a pequena viu o seu pai. Sorriu e correu para ele, chorando.

Pappa!

Ele pegou na menina ao colo.

Alysa ficou surpreendida ao ver como a expressão do rosto de Drago se suavizava ao ver a sua filha.

A mulher falava em italiano. Alysa ouviu a palavra «introdurre» e pensou que significava «apresentação».

– Sou Alysa Dennis – disse ela.

A mulher idosa assentiu e começou a falar em inglês.

– Eu sou a signora Fantoni e esta é a minha neta, Tina.

Tina olhava para Alysa por cima do ombro do seu pai. Drago deixou-a no chão e a menina aproximou-se dela.

– Como está, signorina?

– Como estás? – respondeu Alysa.

– Viemos pela minha mãe – disse a menina. – Conhecia alguém dos que morreram?

– Sim – respondeu Alysa.

A menina deu-lhe a mão para a consolar.

– Era alguém que amava muito? – perguntou Tina.

– Sim, mas… Desculpa-me se não te conto mais nada. Não posso.

Sem olhar para Drago, Alysa percebeu que ele relaxava. Reparara que tinha medo do que ela pudesse dizer diante da sua filha.

Tina assentiu para lhe mostrar que a compreendia e apertou a mão de Alysa com mais força.

– Está na hora de ir para casa – disse Drago.

– Sim, eu também me vou embora – disse Alysa.

– Não! – exclamou Drago. – Quero dizer… Eu gostaria que jantasse connosco esta noite.

A sua sogra franziu o sobrolho.

– É uma ocasião familiar…

– Todos pertencemos à mesma família – disse Drago. – Signorina, jantará connosco e não aceitarei um «não» como resposta.

Alysa conseguiu ver que estava a falar a sério.

Drago acariciou o cabelo da sua filha.

– Vai para o carro com a tua avó.

A signora Fantoni olhou para ele em silêncio, mostrando-lhe o seu desagrado. Ele ignorou-a e ela não teve outro remédio senão afastar-se com Tina.

Pappa – disse Tina. – Vens connosco, não vens?

– Prometo – disse ele.

Aliviada, a pequena afastou-se com a sua avó.

– Desde que a sua mãe morreu, às vezes também tem medo que eu desapareça – disse ele.

– Coitadinha. Como consegue suportá-lo?

– Com muita dor. Adorava a sua mãe. Agradeço-lhe de coração que tenha contido as suas palavras. Devia tê-la avisado, mas não tive tempo de o fazer.

– É claro que tive cuidado. Imaginei que não lhe teria contado muito sobre o que aconteceu.

– Não lhe disse nada. Não faz ideia de que Carlotta nos tinha abandonado. Pensa que a sua mãe estava numa viagem para visitar uns clientes e que estava a regressar a casa quando se afastou para ver a catarata. Se não tivesse morrido, teria chegado a casa no dia seguinte. Isso é o que Tina pensa e o que quero que pense, pelo menos até ser mais velha.

– Muitas mães teriam levado os seus filhos com elas – murmurou Alysa.

– Sim, mas ela abandonou-a e não quero que Tina saiba isso. Nem sequer a minha sogra sabe. Também pensa que Carlotta estava numa viagem por motivos de trabalho e que pensava regressar. Porque havia de as fazer sofrer, contando a verdade?

– Não há motivo, portanto é melhor que não jante convosco.

– Nada disso. Confio em si. Já me demonstrou que posso fazê-lo. Compreendeu tudo. Vamos?

De repente, Alysa reparou que ficava nervosa. Aquele homem era perigoso para a sua tranquilidade. Como se atrevia a pensar que ia aceitar o seu convite? Devia ir-se embora e apanhar o primeiro voo para Inglaterra.

– Olhe, lamento muito – disse ela. – Mas não disse que sim. Tenho de ir para casa.

– Primeiro temos de falar.

Alysa começou a ficar irritada.

– Não tente dar-me ordens – disse. – Acabámos de nos conhecer e acha que pode mandar em mim? Mas não, não pode. Vou-me embora.

Tentou virar-se, porém, ele agarrou-a pelo braço.

– Como se atreve? – perguntou ela. – Solte-me.

Ele não lhe obedeceu.

– Acabámos de nos conhecer – disse ele. – Mas você sabe que há mais alguma coisa.

Ela sabia e foi como uma punhalada no coração.

– Assim que me viu, soube quem era, não foi?

– Sim.

– Como?

– Procurei informação sobre a sua esposa na Internet e você aparecia no que encontrei. Tinha de encontrar informação a respeito da mulher pela qual James me deixou.

– Sim, tinha de encontrar informação. Eu senti o mesmo, mas não tinha forma de o fazer. Não sabia nada sobre o homem com quem tinha fugido, excepto o seu nome. Você conseguiu responder a algumas das suas perguntas, mas pode imaginar o que, para mim, significa não ter podido responder a nenhuma das minhas? Aqui – tocou na testa – tenho um buraco negro com o qual vivi durante um ano. Foi como viver às portas do inferno, mas sem ver o que há lá dentro.

– Pensa que eu não sei como se sente?

– Não, não sabe – disse ele, – porque a tortura surge da ignorância e você conseguiu enfrentá-la. Mas eu vivo com ela há um ano e estou a enlouquecer – tremeu e esforçou-se para manter o controlo. – É a única pessoa que pode libertar-me desta tortura e, se pensa que vou permitir que parta sem… – afrouxou um pouco a pressão no seu braço. – Por favor. Por favor! Temos de falar. Sabe, não sabe? Sabe que devemos falar.

– Sim – disse ela devagar. – Devemos falar.

Porque havia de fugir? Sabia que não estaria a salvo em lado nenhum e sabia que fora até ali para isso. Para conhecer aquele homem e para que lhe contasse as coisas que realmente não queria saber.

– Então, vamos.

– Só se me soltar. Disse-lhe que iria consigo e cumprirei a minha palavra, mas se continuar a agarrar-me, vou-me embora.

Ele soltou-a e olhou para ela por um instante. A sua limusina estava à espera. Tina e a sua avó estavam na rua, de pé, esperando que ele se reunisse com elas.

– Sugiro que se sente à frente – disse Drago à senhora.

Ela obedeceu e ele abriu a porta traseira para que Alysa e Tina entrassem.

– O trajecto durará mais ou menos uma hora – disse Drago. – Vivemos nos subúrbios de Florença. Onde está alojada?

Ela mencionou um hotel no centro da cidade e ele assentiu.

– Conheço-o. Esta noite posso levá-la até lá.

Alysa passou a maior parte da viagem a olhar pela janela. Uma vez olhou para Drago, no entanto, ele não a viu. Toda a sua atenção estava concentrada na pequena que se aninhava contra ele. A menina olhou para o seu pai e sorriu. Ele respondeu-lhe com um sorriso e Alysa olhou para o outro lado. Não tinha o direito de ver aquele olhar. Drago dedicava-o à sua filha.

No entanto, a imagem da menina permaneceu na sua cabeça e fez com que ela levasse a mão à barriga, pensando no que podia ter sido.

Ao fim de um momento, chegaram a uma casa de três andares rodeada de um jardim enorme.

Drago guiou-a até ao escritório. A imagem de Carlotta estava em todo o lado. Numa mesa havia uma fotografia em que aparecia sozinha. Ao seu lado, outra em que apareciam os três. Também havia várias lembranças pessoais.

– A minha mamã recebeu aquela medalha por ganhar uma corrida na escola – disse Tina.

– A minha esposa era uma grande atleta – explicou Drago. – Costumávamos dizer que, se não tivesse estudado Direito, teria sido atleta.

– Corria mais rápido do que ninguém, não era, pappa?

Alysa reparou na expressão de Drago e apercebeu-se de que aquele comentário podia interpretar-se de duas formas. No entanto, ele sorriu à sua filha e disse:

– É verdade. A mamã era a melhor em tudo – disse ele. – Agora vamos atender a nossa convidada.

Tina mostrou-se encantada. Quando serviram o jantar, levou Alysa para a mesa e falou em inglês em sua honra.

– Porque falas tão bem a minha língua? – perguntou Alysa.

– A mamã ensinou-me. Ela era bi… bi…

– Bilíngue – Drago acabou a frase por ela. – Alguns dos seus clientes eram ingleses, tal como alguns dos meus. Nesta família, todos somos bilíngues. Tina aprendeu as duas línguas ao mesmo tempo.

– Falas italiano? – perguntou Tina.

– Não – disse Alysa, concentrando-se na comida para não ter de se concentrar no olhar inocente da pequena. – Aprendi um pouco enquanto procurava informação sobre uma pessoa na Internet.

– Alguém italiano?

– Eh… Sim.

– E estava lá hoje?

– Não.

– Vais ver essa pessoa amanhã?

– Não, não vou.

– E…?

– Tina, não sejas curiosa – interveio Drago. – É falta de educação.

– Lamento – disse Tina com um ar dócil que não enganou Alysa.

Alysa percebeu curiosidade no olhar da pequena e compreendeu porque Drago estava disposto a protegê-la a qualquer custo.

Seria assim que me sentiria se tivesse um filho…, pensou. Bloqueou o resto da ideia e concentrou-se em beber o café.