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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1997 Anne Mather

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Ilusôes perdidas, n.º 399 - outubro 2018

Título original: Shattered Illusions

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-143-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

A apreensão de Jane crescia a cada instante que passava. Não, ela não deveria ter ido, não deveria ter ousado chegar até ali.

Num esforço extremo para se tentar acalmar, ergueu os ombros, inspirou profundamente e resolveu prestar atenção ao local em que se encontrava, uma sala muito bem decorada, em nada se assemelhando ao escritório que imaginara. Mas, apesar de muito diferente, apesar das cortinas longas e esvoaçantes, da secretária com tampo de mármore, do sofá, das poltronas, das inúmeras pinturas nas paredes, aquele local era, de facto, um escritório. E fora ali que Catriana Redding escrevera os seus romances de êxito.

Jane voltou a inspirar profundamente e, devagar, aproximou-se da mesa, onde se encontrava um maço de folhas de papel em branco e vários lápis, colocados uns ao lado dos outros. O seu olhar deteve-se, então, numa imensa estante, repleta de livros e depois voltou a fixar-se nos lápis. Catriana Redding, a despeito das evoluções tecnológicas, resistia. Resistia e ainda escrevia os seus romances à mão.

Jane sentou-se no sofá e o que lhe chamou a atenção foi um grande clarão num dos cantos do escritório, com certeza o reflexo do sol nas águas tranquilas da baía. E tudo ali era tranquilidade. Uma tranquilidade tão grande que até o som baixo do teclado do computador que Jane imaginara encontrar, serviria para perturbar aquele silêncio profundo.

Se ela conseguisse ser aceite…

Apesar da apreensão, Jane sabia que possuía todas as qualidades para ser admitida no emprego. Embora tivesse sido seleccionada em Londres pela agente literária de Catriana Redding, precisava agora de ser aprovada pela própria escritora. Só assim conseguiria o emprego.

Jane abanou a cabeça negativamente. Sair de Londres para ir trabalhar nas Bermudas fora um passo muito sério e demasiado arriscado. Catriana Redding poderia chegar à conclusão de que ela não era o tipo de pessoa que procurava como secretária.

De quê na verdade estaria à procura tão longe de casa? O que pretendia conseguir com aquele tipo de aventura? Será que, mesmo por pouco tempo, queria trabalhar como secretária de Catriana Redding? Afinal, ela era uma professora, não uma secretária, e há muitos anos que não recebia ordens de ninguém.

Embora se colocasse inúmeras perguntas, Jane sabia muito bem o que a levara a candidatar-se àquele trabalho. Fora a maneira mais fácil, e talvez mais sábia, que encontrara para se aproximar da escritora. Se houvesse outra maneira de aproximação, certamente, tê-la-ia preferido. Mas como não encontrara nenhuma, tivera que se contentar com a que surgira e aproveitá-la, vivendo um dia de cada vez.

Jane lembrou-se ao pormenor da entrevista que fizera com a agente literária e a ansiedade da espera. Uma semana depois da entrevista, recebera um telefonema da agente, a informá-la de que tinha sido aprovada na primeira parte do teste e que teria que ir o mais brevemente possível para as Bermudas, onde, após uma nova entrevista com a própria Catriana Redding, talvez passasse por um período de experiência.

E ali estava ela, vinda directamente do aeroporto, após ter atravessado o Atlântico numa viagem péssima, à espera da famosa escritora. Se tivesse tido tempo de tomar um banho e descansar um pouco, com certeza estaria a sentir-se mais confiante, mais optimista. Mas o voo atrasara-se e Jane não tivera tempo para nada.

Um barulho de alguém a cair na água interrompeu-lhe os pensamentos. Em seguida, o ruído cadenciado de braçadas. Não foi difícil concluir que alguém estava a nadar e, talvez, o clarão na parede não fosse das águas da baía, mas sim, de uma piscina que, de onde ela se encontrava não podia ver.

As braçadas continuavam cadenciadas, vigorosas. E Jane parecia estar a ser embalada por elas. Cerca de cinco minutos mais tarde, o barulho cessou e ela viu uma silhueta passar do lado de fora. Porém as cortinas impediram-na de divisar quem estivera a nadar até há pouco. Mas Jane podia garantir que tinha sido um homem. Um homem muito alto.

A vontade dela era de se levantar e de se aproximar da janela. Talvez assim pudesse ver as feições do homem. Não, tal atitude estava fora de questão. Devia ficar ali sentada e aguardar.

Imersa de novo nos seus pensamentos, Jane não percebeu que a escritora tinha entrado no escritório.

– Menina Harris… – disse Catriana Redding de maneira educada, junto ao sofá.

Jane continuou absorta e só se deu conta da presença da escritora, quando Catriana Redding pronunciou novamente o seu nome. Jane, então, pôs-se de pé.

– Por favor, sente-se – pediu a escritora.

Um pouco atrapalhada, com o coração disparado dentro do peito, Jane voltou a sentar-se, sem conseguir proferir uma palavra sequer.

– Fez boa viagem? – perguntou a escritora, depois de se ter sentado numa poltrona, em frente ao sofá.

Em poucos segundos, Jane apercebeu-se de que estava bastante mais nervosa do que imaginara e que aquele primeiro encontro com a escritora a fizera perder toda a sua espontaneidade. E isso não lhe poderia estar a acontecer. Não, com uma pessoa que nos últimos cinco anos dera aulas numa universidade, para alunos com aparência bastante mais ameaçadora do que aquela mulher de olhos azuis, cabelos loiros, rosto de tez bronzeada, que, de maneira alguma, aparentava a idade que tinha.

– Algum problema, menina Harris?

Jane percebeu que tinha de dizer algo. Caso contrário, Catriana Redding iria pensar que se encontrava diante de uma pessoa totalmente imbecil e… adeus, emprego.

– Algum problema, menina Harris? – insistiu a escritora.

– Não, de maneira alguma – Jane conseguiu finalmente falar. – Estou emocionada. É só isso. Li todos os seus livros e estava ansiosa por este momento. Sou uma grande admiradora do seu trabalho.

Jane tinha mesmo lido todos os livros de Catriana Redding, mas, na realidade, sabia que não fora de todo honesta ao dizer que era admiradora do seu trabalho.

– Que bom… – pela sua maneira de falar, Catriana Redding parecia ter aceite o elogio de Jane. – Quer dizer que leu todos os meus livros.

– Li, sim, todos – respondeu Jane, engolindo em seco.

– Sinto-me lisonjeada – um sorriso distante desenhou-se nos lábios da escritora. – E qual é o seu preferido?

– O meu preferido? – Jane voltou a engolir em seco.

– Sim, qual dos meus livros apreciou mais? Gosto sempre de saber que assunto em particular toca a alma de uma pessoa.

Jane, apavorada, não sabia o que responder. De repente, o seu cérebro tinha-se transformado numa tela em branco e não era capaz de se lembrar do nome de nenhum dos vinte livros que a autora já publicara, livros estes que lera em menos de um mês.

Jane, ainda sem se conseguir lembrar de nenhum dos títulos, fingia estar a pensar. De repente, disse, ansiosa:

Sem Coração. É isso, Sem Coração foi o livro de que mais gostei – Jane respirou, aliviada. E esperava que o único título de que se lembrara fosse também um dos preferidos da escritora.

Catriana Redding, porém, não deixou transparecer nenhum tipo de emoção e disse apenas:

– Interessante, muito interessante… Mas diga-me, menina Harris, mora em Londres?

– Moro. E nos últimos anos estive a leccionar numa universidade.

– Nos últimos anos, leccionou numa universidade…

– Exactamente.

– Estou impressionada. É uma jovem com muitas qualificações para querer trabalhar como minha secretária, não acha? Será que me pode explicar o motivo que a levou a apresentar-se para este emprego?

Jane permaneceu alguns segundos em silêncio, concentrando-se na resposta que preparara para a pergunta que ela sabia que, mais cedo ou mais tarde, lhe seria feita.

– Estava a precisar de mudar de ares, descansar um pouco. Nos últimos tempos tenho tido uma vida muito cansativa – não era de todo mentira e Jane continuou: – Antes de me licenciar, trabalhei durante nove meses como secretária de uma pequena editora. Portanto, sinto-me apta para o serviço que a senhora está a oferecer. Foi nessa editora que tomei contacto com a sua obra. Uma das minhas colegas emprestou-me o seu primeiro livro publicado, Lua de Gelo. Desde essa altura, tornei-me sua fã.

– Está a dizer que os meus livros a fizeram desistir de uma carreira promissora? – inquiriu a escritora, com certo cepticismo, e Jane jamais a condenaria por tal atitude.

– Foi mais ou menos isso – repôs Jane, com muito cuidado. – Mas, acredite, estava muito cansada e insatisfeita com o trabalho que estava a realizar. Ensinar e pesquisar línguas mortas pode tornar-se bastante aborrecido. E, quando soube deste trabalho, andava à procura de algo novo, o que me pareceu uma grande coincidência.

– Hum… – Catriana Redding fitava-a agora com imensa desconfiança e Jane fazia de tudo para conter a apreensão que se apoderara dela. – Fale-me mais a seu respeito.

– Não tenho muito coisa para dizer a meu respeito.

– Todos temos muito a dizer sobre nós mesmos.

– O quê, em particular, a senhora quer ouvir?

– Nada, nada em particular – disse Catriana Redding, com um certo desdém. – Mas fale-me acerca da sua família.

– Não tenho família. O meu pai morreu há alguns meses e era a única pessoa que eu tinha mais próxima.

– E marido?

– Não sou casada.

– Mas na sua ficha diz que tem vinte e nove anos. Não está a pensar em casar?

– Não, não está nos meus planos, por enquanto – apesar de responder com convicção, Jane não gostara da pergunta. Afinal, a sua vida particular só a ela lhe dizia respeito, a mais ninguém.

– Mas pretende casar-se, um dia.

– Talvez… – concedeu Jane, reticente. Catriana Redding não tinha o direito de lhe ficar a fazer perguntas tão pessoais. Será que tanta curiosidade se devia ao facto de ela ser uma escritora de histórias tórridas e apaixonadas?

– Espero que não esteja com altas expectativas, menina Harris. Trabalhar comigo não é nada fácil. A maior parte do tempo, trabalho horas a fio e sou muito exigente.

– Sei o que é trabalhar arduamente, senhora Redding. Se me der uma oportunidade, tenho a certeza de que não se vai arrepender. Isso asseguro-lhe.

– Será que veio mesmo para tão longe à procura de trabalho? – perguntou a escritora, de maneira incisiva.

– Mas é claro que sim – apressou-se Jane a responder. – O que mais me traria até cá?

– Talvez esteja à procura de um grande amor – ironizou Catriana Redding. – As mulheres são sempre muitas românticas. A minha última secretária, Kristin, apesar de todas as recomendações, era uma rapariga muito namoradeira e só se preocupava com a própria aparência. No fim, a irresponsabilidade dela era tanta que tive que a despedir.

– Quanto a isso a senhora não precisa de se preocupar: não vim cá à procura de marido.

– Tem a certeza?

– Tenho a certeza absoluta.

– Bem – disse a escritora, após hesitar por alguns segundos, – a minha agente deve ter-lhe dito que vai passar por um período de experiência.

– Disse, sim.

– Nestas duas semanas de experiência, poderemos ver se nos vamos dar bem – a escritora levantou-se e aproximou-se da secretária. Depois de ter premido o botão do intercomunicador, disse à pessoa que se encontrava do outro lado da linha: – Sophie, a menina Harris vai ficar cá em casa por algum tempo. Venha até ao escritório para a encaminhar até às acomodações que lhe foram destinadas.

Catriana Redding desligou o intercomunicador, olhou para Jane e acrescentou:

– Esteja aqui no meu escritório amanhã, às oito horas.

 

 

Ao entrar no anexo, situado ao lado da casa principal, Jane ficou muito satisfeita com o que viu: um quarto amplo, todo alcatifado, com uma cama de casal, um armário, duas mesinhas-de-cabeceira, duas poltronas, uma mesinha e uma cadeira de vime.

– A casa de banho fica ali – Sophie apontou para uma porta e disse num tom de superioridade: – Espero que lhe agrade. Na verdade, ninguém tem razões de reclamações. Kristin Spencer não reclamou. Afinal, ela foi muito feliz nestas dependências.

– Foi? – perguntou Jane, enquanto se encaminhava para uma das janelas, que se abria para uma sacada. Ao ver a beleza da paisagem que se descortinava à sua frente, ela não esperou que a empregada lhe respondesse à pergunta: – Mas isto aqui é fantástico! Nunca vi tantas flores juntas.

– A senhora Redding tem um jardineiro muito bom que cuida do jardim.

– Ele deve ser mesmo muito bom.

– Bem, vou deixá-la – Sophie estava a fazer questão de manter distância. – Mais tarde, Samuel trar-lhe-á o jantar. E o pequeno-almoço é servido às sete e meia. Durma bem, menina Harris.

Sem dizer mais nada, a empregada foi-se embora e Jane respirou, aliviada. Há horas que não tinha oportunidade de ficar sozinha. Lentamente, encaminhou-se para as suas malas que alguém deixara ali no quarto e, depois de as abrir, começou a guardar a roupa no armário. Depois, pegou numas calças de ganga, numa t-shirt de algodão amarela e foi para a casa de banho. Ao sair de lá, com uma toalha enrolada na cabeça, voltou a respirar aliviada e dirigiu-se para a sacada, onde, sentada num banco de madeira, ficou a contemplar o entardecer.

Uma leve pancada na porta interrompeu-lhe o sossego. Era Samuel quem lhe trazia o jantar. Muito educado, o empregado colocou a bandeja sobre a mesinha e saiu. Jane, sem vontade de comer, voltou para a varanda e sentou-se novamente no banco. Até ali tudo tinha corrido como planeara, apesar da desconfiança de Catriana Redding.

Jane olhava para o jardim, mas naquele momento não via a beleza da paisagem. Todos os seus sentidos estavam tomados pelas lembranças do pai. Com os olhos marejados, disse em voz baixa:

– Perdoa-me, papá, mas eu tinha que cá vir para ver como é que ela era pessoalmente…