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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2002 Rochelle Alers

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Demasiado jovem para mim, n.º 518 - fevereiro 2019

Título original: A Younger Man

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-620-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

– Precisas de ajuda?

Verónica Johnson-Hamlin olhou para um homem alto e forte que conduzia uma mota, ao mesmo tempo que ele tirava o capacete negro e brilhante, colocando-o debaixo do braço.

– Não, obrigada. Já telefonei para o serviço de assistência em viagem – levantou a mão e mostrou-lhe o telemóvel.

– Já está há muito tempo à espera?

– Não muito.

– Quanto é que é não muito?

Ela olhou para o relógio.

– Uns vinte minutos.

Ele notou que os seus instintos protectores surgiam sem avisar. Ela estava sozinha numa estrada pouco movimentada com um carro muito caro.

Desceu da mota e empurrou-a até a deixar apoiada numa árvore.

Colocou o capacete no guiador, rodeou o carro até à zona da bagageira do Lexus SUV, olhou para dentro e voltou para junto da janela da condutora.

– Tem um macaco e um pneu sobressalente?

Verónica franziu a sobrancelha.

– Já lhe disse que telefonei para o serviço de assistência em viagem.

Kumi aproximou-se mais e olhou-a directamente nos olhos pela primeira vez. Não se deu conta de que estava a conter a respiração. A mulher que o olhava tinha as feições mais delicadas e femininas que alguma vez tinha visto na sua vida. A face oval e as maçãs da cara altas davam-lhe um aspecto exótico. Os olhos achinesados de uma cor castanho-caramelo com reflexos dourados eram de uma transparência tal que permitia que ele se visse reflectido no mais profundo deles; eram o contraste perfeito para a imaculada pele da cor da terra molhada. O nariz era pequeno e tremia ligeiramente enquanto ela apertava os carnosos lábios. Não conseguiu adivinhar a textura e a cor do cabelo, pois trazia-o escondido por um lenço azul-marinho. Desviou o olhar para a camisa branca de homem que trazia presa por dentro das calças de ganga.

– Traz algum produto que se estrague lá atrás? – perguntou enquanto apontava com o polegar.

Verónica cerrou os olhos. Era evidente que algumas das coisas congeladas tinham começado a descongelar. Esboçou um sorriso.

– Devem aguentar até que mandem alguém.

Kumi apoiou as mãos na porta.

– Menina, só estou a tentar ajudá-la. Não pode sair daqui e está numa viatura muito cara. Não gostaria de ficar a saber pelos jornais que tinha sido assaltada. Teria sorte se se contentassem só com o carro.

Verónica assimilou a advertência enquanto lhe observava o rosto. O cabelo negro era muito curto e supôs que tinha acabado de nascer depois dele ter rapado por completo a cabeça. O homem tinha um rosto firme com maçãs proeminentes, um nariz ousado e uma boca exuberante. Não podia ver os olhos por detrás dos óculos de sol, mas podia sentir o intenso calor que emanavam. Era alto, quase dois metros, e tinha um corpo de atleta profissional. Calculou que teria trinta e poucos anos. Olhou para os seus impressionantes braços. O esquerdo tinha uma pequena tatuagem, mas não conseguiu perceber de que era.

– Que diz, menina? Vai ficar aqui ou quer que lhe mude o pneu?

Verónica voltou a olhar para o relógio. Já tinha passado meia hora desde que tinha telefonado. Tirou as chaves da ignição.

– Tenho um macaco e um pneu sobressalente no porta-bagagens.

Kumi pegou na chave, rodeou a viatura, abriu a porta traseira e viu que ela saíra do carro e estava junto da sua Harley Davidson.

Olhou-a e deleitou-se em silêncio ao comprovar que as calças de ganga lhe assentavam perfeitamente nas ancas e nas pernas. Não era alta, mas também não se podia dizer que fosse baixa. O seu corpo tinha uma exuberância madura que ressaltava a sua feminilidade. Captou o seu perfume e sentiu que a sua boca se tornava tensa. Era uma fragrância muito apropriada para ela. Fazia-o recordar os pêssegos maduros com uma doçura muito espessa.

Afastou uns sacos e encontrou o macaco e o pneu sobressalente. Comprovou que o mesmo estava em boas condições.

Hábil e rapidamente, trocou o pneu furado. Tinha demorado menos de quinze minutos a fazer a substituição e a guardar as ferramentas.

– Sugiro-lhe que arranje este pneu o quanto antes, porque não é prudente andar sem um sobressalente.

Verónica assentiu com a cabeça, enquanto metia uma mão no bolso das calças. Tirou uma nota de vinte dólares.

– Obrigada pela ajuda.

Kumi olhou para o dinheiro como se se tratasse de um réptil venenoso.

– Não quero.

– É o mínimo que posso fazer – replicou ela.

Kumi voltou-se, dirigiu-se para a mota e montou.

– Não a ajudei para que me pagasse.

Ela ficou ruborizada.

– Se não vai aceitar o dinheiro, como é que lhe posso agradecer?

Ele olhou-a de cima a baixo através dos óculos de sol. Sorriu e mostrou os seus dentes grandes, direitos e reluzentes.

– Parece-lhe bem um bom almoço caseiro?

Verónica ficou boquiaberta e semicerrou os olhos.

– O quê?

O sorriso dele tornou-se mais amplo.

– Passei dez anos no estrangeiro e o que mais anseio é um bom almoço caseiro do sul.

Ela arqueou as escuras sobrancelhas.

– O que é que me diria se eu não soubesse cozinhar?

Desta vez foi ele quem arqueou as sobrancelhas.

– Comprou toda aquela comida e não sabe cozinhar?

Verónica sorriu e os olhos enrugaram-se de forma muito atraente. Não sabia o que era, mas o jovem que estava na Harley tinha algo de encantador. Tinha-se desviado para a ajudar. Se não o tivesse feito, ela continuaria ali à espera.

– O que me diz? – perguntou Kumi com a cabeça erguida.

– De quê? – as suas palavras tinham um certo tom de aborrecimento.

– Vai fazer o almoço?

Verónica queria entrar no carro e ir-se embora e deixá-lo a vê-la a afastar-se.

– O que é que quer comer? – Kumi olhou para a matrícula de Geórgia.

– Surpreenda-me, miss Pêssego da Geórgia.

– Posso levá-lo a um restaurante?

Kumi moveu um dedo de um lado para o outro.

– Não vale. Quero comida caseira.

Verónica sentiu que a ira se apoderava dela repentinamente.

– Se acha que vou convidar um estranho para ir a minha casa, está muito enganado.

Kumi cruzou os imponentes braços sobre o peito e olhou-a indignado.

– O que é que acha que lhe vou fazer? Se a quisesse agredir, já o teria feito.

Verónica sentia a cara a arder.

– Não ponha na minha boca coisas que eu não disse! Não disse que me vai violar.

– Por falar em boca… Continuo a querer uma refeição caseira.

Ela pôs as mãos na cintura e olhou-o com irritação.

– Anda por aí na sua mota à procura de mulheres que precisam de ajuda em troca de comida?

Kumi soltou uma gargalhada que lhe saiu do mais profundo do seu peito.

– Gosto dessa ideia.

– Olhe, senhor…

– Walker – informou-a ele. – Chamo-me Kumi Walker.

– Senhor Walker.

– Diga, menina…

– Johnson – deu-lhe o nome de solteira. – De acordo.

O que é que poderia acontecer se lhe fizesse um almoço? Ele tinha razão em relação à possível agressão. Podia já o ter feito e também ter-lhe roubado a viatura.

Kumi sorriu com ar vitorioso.

– Parece-lhe bem no domingo, às quatro horas?

– Domingo, às quatro – repetiu ela, enquanto estendia a mão. – Preciso da chave.

Ele tirou a chave do bolso detrás das calças e colocou-a diante dela.

– Onde vive? – Verónica tentou agarrar a chave, mas ele afastou-a. – A sua morada, menina Johnson…

Verónica contou até três, enquanto se continha para não discutir com ele.

– Conhece Trace Road? – Kumi assentiu com a cabeça. – Vivo no cimo da colina – estendeu a mão com a palma para cima. – Dê-me a maldita chave.

Kumi deixou cair a chave e depois ficou a apreciar a visão das ondulantes ancas a dirigirem-se para o carro. Ela entrou e fechou a porta com força. Kumi olhou para o relógio antes de ligar o motor e sair a toda a velocidade. Tinha de se apressar para conseguir chegar à sua casa de campo, tomar um banho e trocar de roupa.

Ao fim de vinte minutos, estava debaixo de água a recordar o encontro que tivera com a menina Johnson. Não sabia por que é que se tinha sentido tão atraído por ela, mas estava a tentar compreender o motivo.

Até essa noite, quando estava deitado, não se lembrou da hipótese de poder haver um senhor Johnson, embora ela não usasse aliança. Kumi sabia instintivamente que ela não lhe teria dito nada.

Fechou os olhos e tentou recordar aquele corpo e o rosto maravilhoso, mas, para sua decepção, não conseguiu.

 

 

Verónica levantou-se da cama e atravessou, o quarto, descalça até chegar a umas portas de vidro. O amanhecer tinha começado a dar uns tons rosa, azul, violeta e malva ao céu da noite. Os raios do sol nascente abriam passo através do azul-marinho do céu e a luz começava a dar um tom verde ao vale. Verónica, com os olhos bem abertos, presenciava o maravilhoso espectáculo.

Abriu as portas, saiu para o terraço do segundo piso e apoiou-se no corrimão de madeira. Fechou os olhos e sentiu um leve arrepio quando o ar fresco da manhã lhe acariciou a pele. A insinuante camisa de noite era mais apropriada para as noites sufocantes de Atlanta do que para as montanhas do oeste da Carolina do Norte. Apesar da leve brisa lhe aproximar a delicada seda do corpo, sentia os balsâmicos dedos invisíveis que lhe relaxavam a tensão, desenlaçavam o nó que sentia no coração e lhe massajavam os músculos dos ombros e pescoço.

Respirou fundo e observou como se elevava o sol sobre os profundos desfiladeiros. A paisagem era mais relaxante e curativa do que qualquer tranquilizante.

Por que é que tinha demorado tanto a regressar ao seu refúgio nas montanhas? Por que é que não tinha voltado depois de enterrar o seu marido, o doutor Bramell Hamlin? Por que é que tinha ficado em Atlanta durante um ano, depois de defender os seus direitos e reclamar os bens do seu esposo?

Sabia a resposta antes mesmo de formular as perguntas na sua cabeça. Não tinha querido abandonar Atlanta; abandonar uma forma de vida que se tinha convertido em algo tão importante para ela como respirar. Tinha nascido e crescido ali, e montado uma galeria de arte muito prestigiada. Fora em Atlanta que se casara e ficara viúva.

Não lhe tinha importado o facto do marido ter idade para ser seu pai. Na realidade, era um pouco mais velho que o seu pai, mas tinha-se apaixonado por ele… Não como figura paterna, mas sim como homem. Tinha-se casado aos trinta e quatro anos e enviuvara aos quarenta. Neste momento, aos quarenta e dois anos, tinha de decidir se queria abandonar a sofisticação de Atlanta para ficar no retiro das montanhas da Carolina do Norte.

Voltou para o quarto e fechou as portas. Era domingo e tinha de decidir o que é que ia fazer para o almoço. Era a primeira vez em dois anos que ia cozinhar para um homem. Cozinhar para Kumi Walker seria uma experiência muito especial. Depois do arrogante jovem ter comido a sua comida caseira, iria colocá-lo na rua. Seria uma tarefa muito fácil de levar a cabo. Depois de se ter convertido numa viúva rica, acostumara-se a rejeitar homens.

Soltou o cinto do robe e deixou que caísse no chão. Agachou-se para o apanhar, voltou a erguer-se e dirigiu-se para a casa de banho.

 

 

O sol tinha-se escondido por detrás da casa e a cozinha estava mais fresca. A iluminação do tecto dava um tom cálido aos armários brancos e aos electrodomésticos de cor negra. Verónica tinha ligado o ar condicionado para contrariar o calor do forno. Demorara quatro horas a preparar o frango no forno, o repolho com peru fumado, as batatas caramelizadas, o arroz para acompanhamento e a saborosa salada de moelas. A sobremesa era uma tarde caseira de framboesas.

Olhou para o relógio do microondas. Kumi chegaria dentro de quarenta e cinco minutos. Só lhe faltava pôr a mesa, tomar um banho e escolher uma roupa apropriada.

 

 

Kumi colocou o casaco no gancho que tinha por trás do assento e pousou um ramo de flores e uma garrafa de champanhe no assento do passageiro. Sentou-se diante do volante do carro do cunhado, pô-lo em andamento e dirigiu-se para Trace Road.

O calor do ar que entrava pelas janelas abertas acariciava-lhe a cara acabada de barbear. Queria desfrutar do aroma do seu estado natal. Não se tinha dado conta do quanto sentia a falta de Ashville, Carolina do Norte, até ter percorrido com a sua mota as povoações e as cidades que lhe lembravam a sua infância. As recordações, boas e más, tinham-no invadido.

Partiu dos Estados Unidos quando tinha vinte anos e tinha voltado dez anos mais tarde.

Já estava ali há oito dias e ainda não tinha visto os irmãos mais velhos nem os pais. A sua irmã Deborah tinha-lhe contado que os pais estavam de férias no estrangeiro e que não voltariam senão no último fim-de-semana de Maio. Isso significava que tardaria dez dias a encontrar-se cara a cara com o pai, o doutor Walker, um homem tão tirano quanto inesquecível. Um homem que lhe desligava o telefone cada vez que telefonava. Um homem que tinha enterrado simbolicamente o mais novo dos seus filhos, Kumi, porque não tinha seguido as suas expectativas. Ao fim de algum tempo, Kumi deixara de telefonar.

Concentrou-se na estrada e entrou no caminho que levava a Trace Road. Foi até ao alto da colina, reduziu a velocidade e procurou a casa da menina Johnson. Viu uma casa atrás de outra.

Rogou uma maldição. Não lhe tinha perguntado qual o número da casa. Enfurecia-se cada vez mais à medida que avançava lentamente e olhava para as construções que se elevavam ao longo do sinuoso caminho. Havia seis casas nos oitocentos metros de Trace Road. Avançou um bom bocado antes de entrar numa zona de bosque para dar a volta. Quando voltou para ver as casas, viu o Lexus dela.

Kumi estacionou atrás do carro, vestiu o casaco e pegou nas flores e no champanhe.

Ela estava à porta, de pé, vestida de um branco resplandecente. Ficou inebriado pelo contorno daquele corpo coberto por uma camisa de organdi e umas calças de linho. Através do delicado tecido da camisa adivinhava-se uma fina blusa, salpicada de diminutas pérolas. Calçava uns mocassins cobertos por um tecido claro que imitava o linho.

Kumi fez um esforço para caminhar em linha recta até ela, embora não conseguisse fechar a boca. Tinha o cabelo forte, alisado artificialmente e que se curvava delicadamente por baixo do queixo. O que lhe chamou a atenção não foi o penteado, mas sim a cor. Era completamente cinzento. De um prateado reluzente que se misturava com a perfeição do rosto castanho-dourado.