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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2016 Julia James

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Melodia do coração, n.º 1778 - fevereiro 2019

Título original: A Tycoon to Be Reckoned With

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-652-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Epílogo

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

– Se queres saber, só te culpo a ti. – A tia de Bastiaan tentou rir-se quando falou, mas ele percebeu era um riso hesitante. – Foste tu que sugeriste que o Philip ficasse na tua casa de campo em Cap Pierre!

Bastiaan aceitou a crítica.

– Achei que poderia ser bom para ele… Retirá-lo da zona de perigo para que pudesse terminar os trabalhos da faculdade em paz e sossego.

A tia suspirou.

– Infelizmente, acho que o resultado foi ele saltar da frigideira para o fogo. Pode ter escapado à Elena Constantis, mas esta mulher na França parece infinitamente pior.

Os olhos escuros de Bastiaan assumiram uma expressão mordaz.

– Infelizmente, em qualquer lugar do mundo em que estiver, o Philip será sempre um alvo.

– Se ele ao menos não tivesse um coração tão doce. Se ele tivesse a tua… tenacidade – retorquiu a tia de Bastiaan, olhando para o sobrinho.

– Vou tomar isso como um elogio – respondeu Bastiaan secamente. – Mas o Philip vai endurecer, não te preocupes. – Ele vai ter de endurecer, pensou, causticamente. Tal como ele tivera de fazer.

– Ele é tão impressionável! – vociferou a tia. – E tão bonito. Não admira que essas raparigas malucas façam fila atrás dele.

E, claro, tão rico, acrescentou Bastiaan, cinicamente, mas sem verbalizá-lo. Não fazia sentido preocupar ainda mais a sua já nervosa tia. Era a riqueza de Philip, a riqueza que ele ia herdar do seu falecido pai, assim que completasse 21 anos, dentro de alguns meses, que iria atrair mulheres muito mais perigosas do que princesinhas mimadas, irritantes e enfadonhas como a Elena Constantis. O perigo real viria de um tipo muito diferente de mulher.

Havia muitos nomes para esse tipo de mulheres – e Bastiaan tinha vários, um tanto inadequados para os ouvidos da tia –, mas o mais notório era: interesseiras. Mulheres que olhavam para o seu primo jovem, bonito, impressionável e futuramente muito rico, e lambiam logo os lábios em expectativa.

Esse era o problema agora. Uma mulher que parecia estar a lamber os lábios à frente de Philip. E o perigo, Bastiaan sabia-o, era muito real. Pois Philip, conforme lhe informara Paulette, a sua governanta em Cap Pierre, estava longe de concentrar-se diligentemente nos seus trabalhos escolares e andava a visitar a cidade vizinha, Pierre-les-Pins, com idas a um local algo indesejável para um jovem de 21 anos. Aparentemente, atraído por uma mulher ainda mais indesejável e que trabalhava nesse local.

– Uma cantora de cabaré! – lamentava a sua tia agora. – Não posso acreditar que o Philip se apaixone por uma mulher assim!

– Realmente, é um belo clichê… – comentou Bastiaan.

– Um cliché? Bastiaan, isso é tudo o que tens a dizer sobre o assunto?

Ele abanou a cabeça.

– Não. Eu poderia dizer muito mais… mas para quê? – Bastiaan levantou-se. Ele era dotado de uma altura imponente, no seu 1,82m, e possuía uma estrutura poderosa. – Não te preocupes… – Agora, a sua voz era reconfortante – … eu vou solucionar isto. O Philip não vai ser sacrificado por causa das ambições de uma mulher gananciosa.

A tia levantou-se, agarrando-o pela manga.

Obrigada – disse ela. – Eu sabia que podia contar contigo. – Os olhos dela ficaram ligeiramente sombrios. – Cuida do meu querido filho, Bastiaan. Ele já não tem um pai para cuidar dele.

Bastiaan apertou a mão da tia com compaixão. O seu tio materno tinha sucumbido a uma doença cardíaca quando Philip começara a universidade e ele sabia o quanto a morte do marido abalara a tia. Sabia também como a perda de um pai quando se é novo – já que ele também perdera o seu numa idade pouco superior à de Philip – deixava um vazio.

– Vou manter o Philip em segurança, prometo – assegurava ele à tia enquanto ela se preparava para sair.

Bastiaan acompanhou-a até ao carro, ficando depois a ver o veículo a descer a estrada da sua propriedade, localizada nos arredores abonados de Atenas. Depois, voltou para casa, cerrando os lábios.

Os temores da tia não eram infundados. Até Philip completar 21 anos, Bastiaan era o administrador da herança, gerindo-lhe as finanças e os investimentos, enquanto Philip usufruía de uma mesada muito generosa para cobrir os seus gastos pessoais. Normalmente, Bastiaan limitava-se a dar uma olhadela ocasional aos extratos da conta bancária e do cartão de crédito do primo. Mas verificara que uma quantia anormalmente avultada – vinte mil euros – tinha sido usada num pagamento único há uma semana. O cheque fora depositado numa conta pessoal desconhecida de um banco francês em Nice. Não havia nenhuma razão – nenhuma boa razão – para Bastiaan tirar conclusões sobre tal transferência. Havia, no entanto, uma razão muito má – e, em relação a esta, ele conseguia tirar conclusões.

A interesseira já tinha começado a extrair o ouro da mina…

O rosto de Bastiaan ficou sério. Quanto mais cedo ele se livrasse da cantora de cabaré que estava de olho no primo – e na fortuna deste –, melhor. Dirigiu-se para o seu escritório na casa. Se ia viajar para França na manhã seguinte, tinha trabalho a fazer esta noite. Empresas com grandes portefólios, como a Karavalas, não se administravam sozinhas. A fortuna do primo podia ser predominantemente baseada em ações de grandes empresas, mas Bastiaan preferia diversificar através de uma ampla gama de investimentos, da indústria a imobiliário ou start ups empreendedoras. Mas, apesar da sua variedade, todos os investimentos tinham um traço em comum: geravam dinheiro. Muito dinheiro.

O sorriso cínico estava de volta aos lábios de Bastiaan quando ele se sentou à secretária e ligou o computador. Tinha dito à tia que o filho dela iria endurecer com o tempo, e sabia por experiência própria que isso era verdade. As recordações cintilaram nos seus olhos sombrios.

Quando o seu pai morreu, Bastiaan aliviou o luto em noitadas loucas e extravagantes, sem qualquer guardião paternal para moderar os seus excessos. A farra acabou por terminar abruptamente. Ele estava num casino, a distribuir champanhe e a exibir o seu dinheiro sem pudores, o que prontamente atraíra uma mulher – Leana – que o seduzira. Com apenas 23 anos, Bastiaan ficou muito feliz por desfrutar de tudo o que ela lhe oferecia; e isto incluía o seu delicioso corpo na cama. Tanto que, quando ela lhe contou uma história sobre como se endividara estupidamente no casino e como isso a estava a matar de tanta preocupação, ele lhe entregou prontamente um cheque avultado, sentindo-se magnânimo e generoso para com a mulher linda e sexy que parecia tão interessada nele…

Leana desapareceu no dia em que o cheque foi descontado – partindo, soube Bastiaan, num iate que pertencia a um milionário mexicano de 70 anos, para nunca mais ser vista. Bastiaan tinha sido brilhantemente extorquido, caindo que nem um patinho. Doeu, claro, mas ele aprendeu a lição – uma lição bem cara. E não era uma lição que ele gostaria que Philip aprendesse seguindo o mesmo caminho. Além de levar uma bela fatia do seu dinheiro, Leana também causara danos à sua autoestima – uma experiência desconfortavelmente dececionante para seu eu mais jovem. Embora isso lhe tivesse proporcionado uma sabedoria definitiva.

Mas, ao contrário de Bastiaan, Philip possuía um caráter romântico e uma interesseira sedutora poderia magoá-lo muito profundamente, mais do que apenas na carteira ou na autoestima. Bastiaan não permitiria que tal acontecesse. Depois da sua experiência com Leana, tornara-se sábio perante as artimanhas das mulheres e cético em relação à aparente devoção delas. Agora, na casa dos trinta, ele sabia que elas o consideravam um osso duro de roer – até mesmo implacável…

Os seus olhos endureceram sob as suas sobrancelhas escuras. Isso era algo que a tal cantora ambiciosa iria descobrir por si mesma em breve.

 

 

Sarah estava imóvel no palco baixo, os holofotes recaíam sobre ela enquanto quase todo o público, sentado às mesas à sua frente, continuava a conversar enquanto comia e bebia.

Eu sou apenas um entretenimento displicente, pensou ela com acidez. Música de fundo. Ela acenou a Max, que estava ao piano, sentindo as cordas vocais preparadas, e ele começou a tocar a introdução para o número dela. Era tranquilo, num tom mais baixo, sem grandes exigências para o seu registo vocal superior. Era melhor assim: a última coisa que ela queria fazer era arriscar a voz cantando naquele ambiente cheio de fumo.

Quando cantou os primeiros compassos, os seus seios subiram, e ela apercebeu-se da altura do corpete do seu vestido de cetim, que tinha um tom champanhe. O longo cabelo caía-lhe sobre um ombro nu. Era, ela sabia-o, o estereótipo da mulher sedutora – a cantora sensual de clube noturno com o seu vestido colado ao corpo, tom de voz grave, olhos supermaquilhados e longo cabelo louro.

Instintivamente, ela ficou tensa. Bom, era essa a ideia, não? Substituir a chanteuse titular do local, Sabine Sablon, que deixara abruptamente a função e sem qualquer aviso ao fugir com um cliente rico.

Não fora ideia de Sarah substituir Sabine, mas Max fora direto ao assunto: se ela não aceitasse cantar, Raymond, o dono do clube que precisava de uma chanteuse, não permitiria que Max continuasse a usar o local durante o dia. E sem o local eles não poderiam ensaiar… e sem ensaios eles não poderiam apresentar-se no festival de música Provence en Voix.

E se eles não fossem ao festival, Sarah perderia a sua última oportunidade.

A minha última oportunidade – a minha última oportunidade de realizar o meu sonho!

O seu sonho de deixar de ser apenas mais uma entre dezenas e dezenas de sopranos aspirantes e esperançosas que enchiam o mundo da ópera, todas desesperadas por deixarem a sua marca. Se ela não conseguisse ter sucesso agora, teria de abandonar o sonho que dominara a sua adolescência, e que a acompanhara durante o conservatório e pelo mundo duro e ultracompetitivo que conheceu logo a seguir, enquanto lutava por fazer-se ouvir por aqueles que poderiam destacá-la da multidão e lançarem a sua carreira.

Sarah esforçara-se tanto, por tanto tempo, e estava com 25 anos, rumo aos trinta, com o tempo contra ela e com cantoras mais jovens no seu encalço. Tudo dependia desta última tentativa – e se falhasse… Bom, nesse caso teria de aceitar a derrota. E resignar-se a dar aulas. Era assim que, atualmente, ela ganhava a vida, dando aulas a tempo parcial numa escola em Yorkshire, na Inglaterra, a sua cidade natal, embora achasse tudo aquilo muito insatisfatório e ansiasse pela excitação e euforia de apresentar-se ao vivo.

Assim sendo, no clube noturno Sundays, ela transformava-se todas as noites em Sabine Sablon, ronronando ao microfone, atraindo todos os olhares masculinos. Não era uma sensação confortável – e estava a milhões de quilómetros de distância do seu verdadeiro eu. Max podia dizer o que quisesse, que aquilo iria render-lhe um discernimento valioso para papéis como a cortesã Violetta de La Traviata, ou a coquete Manon da ópera homónima de Puccini, mas num palco de ópera todos saberiam que ela estava apenas a interpretar um papel. Aqui, todos achavam que ela era realmente Sabine Sablon.

Um calafrio silencioso percorreu-lhe o corpo. Santo Deus, se alguém no mundo da ópera descobrisse que ela estava a cantar neste local, desta maneira, a sua credibilidade ficaria destroçada. Ninguém iria levá-la a sério nem por um segundo.

E nem Violetta nem Manon se pareciam em nenhum aspeto com o seu papel na ópera de Anton, Noiva da Guerra. A sua personagem era uma rapariga romântica apaixonada por um soldado impetuoso. Um namoro rápido, um regresso à frente – e depois a temida notícia sobre o destino do seu marido. O desgosto da perda e do luto. E, então, uma criança nascida para tomar o lugar do seu pai, em mais uma guerra…

O conto simples e brutal era relatado como uma fábula intemporal sobre os sacrifícios e futilidades da guerra, repetidas ao longo dos séculos, com uma partitura perturbante e pungente. A história cativara Sarah assim que ela ouvira Max a tocá-la.

Como será amar tão rapidamente e acabar tão magoada? – perguntara-se ela logo que começara a explorar o seu papel. Ela não sabia – nunca tinha experimentado o turbilhão inebriante do amor, nem a desolação de um coração partido. A sua única relação séria tinha terminado no ano anterior, quando Andrew, um violoncelista que ela conhecia desde a faculdade, entrara para uma orquestra de prestígio na Alemanha. Foi um grande momento para ele, com Sarah a ficar realmente feliz por ela, tanto que o incentivara a ir sem sequer pensar em segurá-lo ao seu lado.

Ela chegou ao fim da música e houve alguns aplausos. Baixando a cabeça em agradecimento, ela redistribuiu o peso do corpo nos pés. Quando se endireitou novamente, lançando um olhar para a área cheia de comensais, sentiu uma pontada súbita de consciência. Ela ouviu Max a começar a música seguinte, mas ignorou-a, com os sentidos repentinamente em alerta. Ouviu então quando ele repetiu a frase musical e viu-o a olhar para ela com um ar carrancudo, mas a atenção de Sarah já não estava voltada para ele – e nem para a música que ela deveria ter começado quatro compassos antes. A sua atenção estava no público em frente.

Alguém estava a olhar para ela. Alguém que estava de pé no fundo do salão.

Ele não estava lá um instante antes e provavelmente acabara de chegar. Ela abanou a cabeça, tentando ignorar aquela sensação involuntária de consciencialização, de exposição súbita. Queria vê-lo com mais clareza, mas a iluminação era fraca e ele estava demasiado longe para permitir que fosse possível discernir algo mais do que a figura alta e de smoking lá no fundo.

Pela terceira vez, Sarah ouviu Max repetir a introdução – de maneira insistente desta vez. E soube que tinha de começar a cantar. Não só por causa da impaciência do seu pianista, mas porque, de repente, urgentemente, ela precisava de fazer algo além de simplesmente ficar ali, sob a luz que enfatizava todas as curvas esbeltas do seu corpo dentro da roupa apertada. Expondo-a àquele escrutínio invisível, porém quase tangível, cujo impacto era palpável.

Quando ela começou a cantar, a voz saiu-lhe mais rouca do que nunca. Sarah obrigou-se a continuar a cantar para tentar suprimir o arrepio de consciência perturbada que corria tenso dentro dela – a sensação de ser alvo de uma atenção que era como um holofote apontado a ela.

De alguma forma, ela conseguiu cantar até ao final, recompondo-se para começar a música seguinte no tempo certo, sem errar. Parecia mais fácil agora e, em algum momento, ela percebeu que aquela sensação de estar sob escrutínio tinha desaparecido, dissipando-se. Como se uma espécie de pressão tivesse sido removida. Ela acabou a última canção, terminando a sua apresentação com uma sensação de alívio. Então, saiu do palco, ouvindo música gravada a tocar enquanto Max fechava o piano.

Um dos empregados intercetou-a.

– Está ali um tipo que te quer pagar uma bebida – declarou ele.

Sarah fez uma careta. Não era incomum que isto acontecesse, mas ela nunca aceitava.

O empregado ergueu uma nota de cem euros.

– Parece que ele está interessado – informou ele, arqueando as sobrancelhas.

– Bom, o interesse não é recíproco – afirmou ela. – É melhor devolveres isso – acrescentou. – Eu não quero que ele pense que sou do tipo de ficar com o dinheiro e depois não aparecer.

A recusa obteve aprovação de Max.

– Sem tempo para homens – comentou ele, de um modo leviano mas intencional.

– Como se eu fosse querer algo assim… – Ela revirou os olhos.

Tudo o que Sarah queria fazer agora era tirar aquela roupa e ir para a cama. Max começava os ensaios da ópera pontualmente todas as manhãs e ela precisava de dormir.

Ela tinha acabado de chegar ao camarim, tirado os saltos altos e flexionado os pés, aliviada, quando bateram à porta. Só teve tempo para perguntar «Quem é?», antes da porta ser aberta.

Sarah olhou para cima, presumindo que seria Max, querendo dizer-lhe algo que não podia esperar. Mas, em vez disso, era um homem que ela nunca tinha visto.

E ele fê-la sentir-se sem ar.