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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2001 Harlequin Books S.A.

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Apanhados pelo amor, n.º 625- março 2020

Título original: When the Lights Went Out...

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1348-248-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

Créditos

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Se gostou deste livro…

Prólogo

 

 

 

 

 

Kane Haley recostou-se na cadeira pensando sobre o seu encontro marcado para a hora do almoço. Precisava apenas cuidar daquela pequena tarefa e então estaria…

O toque do telefone interrompeu-lhe os pensamentos.

– Kane Haley, faça favor de dizer.

– Senhor Haley… Estou a telefonar para me desculpar com o senhor – uma voz masculina falou.

– Por que se está a desculpar? Quem fala?

– A… a doação de esperma que o senhor fez foi acidentalmente desviada. – O homem respondeu depressa demais. Tão depressa que Kane levou alguns segundos para entender o que tinha acabado de ouvir.

Kane empurrou a cadeira para trás e levantou-se num pulo quando entendeu o significado. Vagarosamente então, disse:

– Por «desviar» você quer dizer que alguma mulher… Alguma mulher está à espera de um filho meu? – A voz dele aumentou de tom. – Alguma… quem?

– Essa é uma informação que não lhe podemos dar. Só sabemos que isso aconteceu porque a mulher era uma funcionária da sua empresa e foi por isso que a empregada pensou que o seu esperma era o que ela queria. E… Gostaríamos de informá-lo que sentimos muito pelo inconveniente.

– Inconveniente? Que absurdo! Dê-me o nome da mulher.

– Nós não podemos fazer isso, senhor Haley. Seríamos processados.

Kane não se importava se eles fossem processados. Gaita! Ele próprio poderia processá-los. Ele doara o esperma porque o seu melhor amigo Bill Jeffers descobrira que estava com cancro. Ele ia começar a fazer radioterapia e queria guardar o próprio esperma para o futuro.

Kane tinha ido com ele para dar apoio moral e o orientador que eles tinham consultado, sugerira a Kane que também fizesse a doação. Afinal, ninguém podia prever o futuro e no caso de acontecer algum problema com o sémen de Bill, poderiam usar o de Kane.

Ele acabara de saber que a esposa do seu amigo engravidara pelo processo natural, e então decidira que iria ligar para o banco de esperma e pedir que destruíssem o seu donativo.

Tarde demais.

– Quando é que isso aconteceu? Acho que pelo menos isso podem dizer-me.

– Foi… foi recente, mas eu não posso informar nada mais que isso. Até logo.

Então ele passou a ouvir o sinal de ocupado ao telefone e desligou.

«E agora?», pensou.

O que ele faria? Será que deveria pedir a Maggie para… Não. Não lhe queria expor aquele problema. Maggie era a sua eficientíssima secretária e mostrava-se tão rígida com ele quanto com ela mesma. Kane não se via a confessar a Maggie que tinha sido desleixado com o próprio esperma!

Certo, então ele teria de lidar com aquilo sozinho. Ele… Sim, procuraria entre as suas funcionárias qual estava grávida.

E perguntaria quem era o pai?

De repente deu-se conta de que não poderia agir dessa maneira. Não, ele precisava de uma razão.

Depois de uma batida à sua porta, Maggie entrou.

– Vai sair para almoçar?

– Sim, humm, sim, mas eu… – Repentinamente ele teve uma inspiração. – Eu tenho uma pergunta a fazer. Nós temos algumas funcionárias que estejam grávidas?

Ela olhou-o e então assentiu, sem entender.

– Sim.

– Certo. E nós oferecemos-lhe alguns benefícios?

Maggie pestanejou, as faces corando.

– Eu perguntei-me se deveríamos fazer mais em relação a isso. Como por exemplo… criar uma creche. Eu li um artigo sobre os benefícios advindos para as companhias que facilitam a vida dos seus funcionários.

– A sério?

– Sim. E resolvi que amanhã, vou fazer uma pesquisa entre as nossas funcionárias para saber quantas estão grávidas. Por favor, providencie uma lista com o nome de todas as funcionárias da empresa.

– Sim, senhor.

– Pode entregar-me a lista no final do expediente? – perguntou ele.

– Farei o possível, senhor. – Ela depositou alguns papéis sobre a mesa dele e virou-se para sair.

Kane quase não conteve um sorriso. Afinal, no dia seguinte, ele descobriria quem estava à espera de um filho dele.

Capítulo 1

 

 

 

 

 

Sharon Davies aproximou-se dos elevadores, fingindo que a sua vida estava perfeitamente bem, calma e feliz. Afinal, possuía um bom emprego na Companhia Kane Haley, em Chicago, uma empresa em plena ascensão. Amava o seu trabalho, tinha uma família maravilhosa, o dia estava ensolarado e… e, nessa manhã, tinha feito um teste de gravidez, daqueles que se compram nas farmácias.

A porta do elevador abriu-se e como ela não fez nenhuma menção de entrar, alguém a empurrou de modo um tanto brusco.

– Vamos, madame… Tenho entregas urgentes a fazer.

– Oh, desculpe – murmurou, afastando-se para o lado. – Pode ir. Vou no próximo.

O mensageiro entrou no elevador acompanhado de um pequeno grupo de pessoas. Vendo que Sharon continuava parada, convidou:

– Vamos, ainda tem espaço suficiente.

– Não! Não, eu… Eu não posso – involuntariamente, retrocedeu.

O homem olhou-a como se ela fosse louca. E talvez fosse. Não havia muita gente que pudesse dizer que engravidara num elevador. Naquele elevador.

O elevador fechou-se, e Sharon observou a sua imagem reflectida nas portas espelhadas. Não parecia uma mulher vulgar. Usava um casaco cinzento, conservador, por cima de uma blusa de seda abotoada até ao pescoço. A saia era justa, mas abaixo dos joelhos. Os sapatos eram de salto baixo. Não pretendia chamar a atenção dos homens.

Assim como também não o pretendera fazer, há dois meses atrás.

Estava atrasada para o trabalho. Também, pudera, depois de uma manhã onde tudo tinha acontecido da pior maneira possível, tinha a certeza de que nada mais poderia surpreendê-la. Odiava elevadores, mas seria incapaz de subir as escadas até ao décimo sexto andar. Apesar de gostar de fazer exercício físico, não era louca.

As portas do outro elevador abriram-se. Respirou fundo e entrou, cruzando os braços sobre o peito para que ninguém notasse o tremor das suas mãos. Encostou-se à parede e fechou os olhos. O rosto de Jack veio-lhe à memória, ainda que, nesse momento, a sua imagem não tivesse tido o efeito de um calmante, como era habitual.

Os seus olhos encheram-se de lágrimas. Então, abriu-os e pestanejou diversas vezes, tentando dissipá-las. Não queria começar a chorar.

Quando a porta se abriu no seu andar, Sharon saiu rapidamente do elevador. Esboçando um sorriso, cumprimentou os colegas e apressou-se a sentar-se à sua secretária. Sentia-se mais segura atrás desta. Era como se ninguém pudesse ver que estava grávida… ainda. De qualquer forma, a primeira coisa que tinha a fazer era marcar uma consulta médica.

Após acomodar-se à secretária, pegou no telefone, telefonou para o consultório médico e marcou a consulta para o dia seguinte, às nove horas da manhã. Era menos uma coisa que teria de fazer, nesse dia.

De seguida, entrou no escritório do seu chefe. Andrew Huffman era a pessoa que mais se aproximava da figura paterna que Sharon não tivera, desde que o seu pai abandonara a sua mãe com cinco filhos. Ela era a mais velha.

Com o trabalho duro da mãe e a sua própria contribuição, iniciada aos catorze anos, altura em que arranjou um emprego a meio tempo, todos os seus irmãos conseguiram estudar. Por tudo o que viveu, ela procurava lembrar-se todos os dias de que os homens, ou pelo menos a maioria deles, não eram confiáveis.

Quando ela começou a trabalhar na Kane Haley, depois de terminar o liceu, aos dezoito anos, ingressou directamente no departamento de Andrew Huffman. Ele encorajou-a a aprender e a crescer, aproveitando a formação financiada pela empresa e instigando-a a inscrever-se num curso nocturno, a fim de poder assumir cada vez mais responsabilidades.

Sharon licenciou-se em Agosto último, e Andy ficou tão feliz quanto ela. Agora, batia à porta do seu gabinete. Andy estava a atingir a idade da reforma e trabalhava numa cadeira de rodas. No entanto, possuía a energia de um homem com metade da sua idade.

– Entre.

– Andy, tenho uma consulta amanhã de manhã, pelo que só poderei chegar por volta das dez horas. Há algum problema?

– Claro que não. Está tudo bem?

– Sim. É só uma consulta de rotina – não tencionava contar nada a ninguém, enquanto a gravidez não fosse confirmada pelo médico. Não sabia até que ponto poderia confiar nos testes de gravidez vendidos nas farmácias. Ou talvez preferisse acreditar que não eram cem por cento seguros.

– Não há qualquer problema. Para a semana, devo ter boas notícias para ti. A respeito daquele teu projecto! – exclamou com um sorriso radiante.

Sharon tentou parecer animada.

– A sério?! Alguns detalhes?

– Ainda não te posso contar. Porém, aconselho-te a manteres o teu bom desempenho profissional.

Sharon regressou à sua secretária. Discutira com Andy sobre a possibilidade de fazer o seu primeiro projecto. Ele prometera dar-lhe uma oportunidade, assim que ela concluísse o curso.

Se tivesse recebido a notícia no dia anterior, teria ficado felicíssima. Porém, naquele momento, não sabia como lidar com a situação.

A tentação de telefonar a Jen para lhe dar a novidade era quase irresistível, contudo, a sua amiga, Jennifer Martin, gerente do departamento de Recursos Humanos, não sabia do incidente do elevador. Aliás, ninguém sabia… excepto ela e Jack.

Apesar disso, foi a amiga quem a aconselhou a comprar o teste de gravidez, numa farmácia. Quando Sharon se queixou, durante o almoço, do seu inexplicável cansaço e de náuseas ocasionais, Jen comentou que esses eram os sintomas típicos de uma grávida.

 

 

– Sim, o teste estava correcto, menina Davies; está com aproximadamente oito semanas de gravidez. O seu bebé está a desenvolver-se muito bem. Não antevejo nenhuma dificuldade. Vou prescrever-lhe algumas vitaminas e quero vê-la de seis em seis semanas, até completar o sexto mês de gravidez. Nessa altura, as consultas passarão a ser de quinze em quinze dias até ao último mês de gestação.

A enfermeira sorriu, satisfeita, enquanto anotava os dados na nova ficha.

– Qual é o nome do pai da criança?

Sharon encarou-a. A doutora Norman era sua médica desde que começara a trabalhar na Companhia Kane Haley, há oito anos atrás. A médica pertencia ao plano de saúde da empresa, e estava convenientemente instalada no mesmo edifício.

– Não me parece necessário que o nome do pai conste da minha ficha médica – declarou calmamente, cruzando as mãos sobre o colo.

– A menina não sabe quem é o pai? – perguntou a Dra. Norman, assustada.

– Eu sei quem é, mas não quero o nome dele registado. Esse bebé é meu e será sustentado por mim.

– Ah! Trata-se de um homem casado – concluiu a médica.

Será que era? Sharon não acreditava que o fosse, embora não o pudesse afirmar com segurança. Quando a prendera nos seus braços e a acariciara enquanto conversavam, compartilhando as partes mais íntimas das suas vidas, ele contara-lhe que a esposa falecera num acidente de viação. No entanto, o acidente ocorrera há oito anos.

Talvez não lhe tivesse contado mais pormenores da sua vida pessoal, porque… porque se estavam a tocar de um modo demasiado íntimo.

– Sharon? Sente-se bem? – inquiriu a médica.

– Sim… Só estava a pensar em tudo o que terei de enfrentar.

– Compreendo. É natural que, em termos económicos, esteja numa boa situação, uma vez que trabalha e decidiu criar um bebé sozinha. Contudo, ter um filho é algo que mexe bastante com a afectividade. A sua família irá ajudá-la?

– Sim, a minha família irá apoiar-me, incondicionalmente.

– Não posso fazer nada, excepto recomendar que informe o pai, mesmo que vocês já não estejam juntos. Ele tem o direito de saber da iminente paternidade.

Sharon olhou para a frente. Mesmo que quisesse contar a Jack a consequência da estranha aventura que tinham vivido naquele elevador, o nome Jack era tudo o que ela sabia a respeito daquele homem. Sem sobrenome. Nem sequer tinha a certeza de que seria capaz de o reconhecer. Ela só olhou para ele, quando o elevador encravou e ficaram totalmente às escuras.

Porém, conhecia o seu cheiro. Uma essência maravilhosamente viril, que a fez esquecer-se de tudo, durante alguns momentos. Conhecia a sua voz, aquele som sensual que a confortou, a excitou e fez com que perdesse a noção do tempo e do espaço.

Só desconhecia o seu nome completo.

– Gostaria que participasse do curso pré-natal. No entanto, necessitaria de um companheiro para isso.

Ao ver que Sharon não respondia acrescentou:

– Pode frequentá-lo sem um companheiro, mas vai sentir-se mais à-vontade se puder convidar um amigo, já que só vai encontrar casais.

– Está bem. Quando é que devo começar?

– Não antes de entrar no quinto mês. Aqui estão alguns panfletos informativos para ler até lá. Se tiver alguma dúvida, telefone à enfermeira, está bem?

A médica levantou-se e entregou-lhe uma receita, juntamente com os panfletos.

– Obrigada, senhora doutora.

Sharon saiu e guardou apressadamente os papéis na carteira, antes que se deparasse com alguém do seu departamento. Não queria que a notícia se espalhasse, enquanto não se tornasse evidente. Enquanto o seu corpo não mudasse, e ela não o pudesse esconder por mais tempo.

O consultório ficava no vigésimo andar. Ela desceu pela escada e encaminhou-se para o bar, situado no décimo quinto. Queria beber qualquer coisa antes de ir para o trabalho. Diversas colegas cumprimentaram-na.

– Olá, Sharon! Junta-te a nós – convidou-a Maggie, a secretária particular do senhor Haley, o dono da empresa. Apesar do cargo que ocupava, era uma pessoa simples.

– Vou buscar um sumo de laranja, antes de me sentar – declarou Sharon.

Quando se sentou à mesa, Lauren Conner perguntou:

– O que é que aconteceu ao teu habitual refrigerante diet?

– Como estou com uma gripe terrível, o médico sugeriu menos refrigerante e mais sumos naturais.

– É uma excelente sugestão – comentou Maggie. – Agora que estou a envelhecer, descobri que tudo o que comemos nos afecta.

Sharon e Maggie riram-se. Elas estavam na casa dos vinte, mas Maggie tinha trinta e três anos.

– Acho que ainda tens alguns anos pela frente – brincou Sharon.

– Espero bem que sim. Seja como for, preciso de toda a minha energia para me manter na Kane Haley.

Jennifer Martin entrou no bar e juntou-se a elas.

– Olá! Peço desculpa pelo atraso. O chefe quis fazer-me algumas perguntas – e olhou para Maggie. – Sabias disto?

Tranquilamente, Maggie continuou a comer o seu cacho de uvas.

– Referes-te à possibilidade de construirmos uma creche?

– Sim – respondeu Jen.

Sem se aperceber, Sharon acomodou-se mais erecta na cadeira.

– Aqui? Uma creche aqui? – indagou.

Jen e Maggie assentiram.

Lauren juntou as mãos.

– Jen, que notícia maravilhosa para ti! Isso vai ajudar-te bastante, não vai?

– Será perfeito – confirmou Jen. – Quando ele me pediu a minha opinião a esse respeito, pensei que estava a sonhar – Jen estava grávida de sete meses, e conseguira esconder a gravidez até há pouco tempo atrás. – Obviamente, uma creche não se constrói de um dia para o outro, caso ele decida avançar com o projecto… De qualquer forma, será óptimo em termos de planos futuros.

– O chefe só considerou essa possibilidade ontem, depois de ter lido um artigo – confidenciou Maggie. – Esta manhã, entreguei-lhe uma lista das funcionárias grávidas, apesar de não ter incluído ninguém que ainda não tivesse anunciado a gravidez publicamente.

– Não deixei transparecer a minha emoção, porém, confesso que quase morri de surpresa – afirmou Jen, sorridente. – Ele decidiu formar uma espécie de comissão para discutir e estudar a ideia. O Matt Holder e eu fazemos parte da equipa. Uma mulher que vai ser mãe dentro de menos de dois meses e um bacharel! Sejam quem forem os outros membros da comissão, só espero que tenham alguma experiência com bebés!

– Bem, rezo para que o Kane não faça parte desse grupo. Afinal, ele é divorciado e não tem filhos, o que significa que também não tem nenhuma experiência nesse assunto – comentou Maggie.

– É incrível que ele tenha tido essa ideia, não é? – elogiou Sharon. – Não haja dúvida de que é um óptimo empresário.

– Realmente, é – concordou Maggie.

Todas desconfiavam de que Maggie era apaixonada pelo chefe, embora ela nunca o tivesse admitido, provavelmente nem perante si própria. Contudo, ninguém ousava perguntar-lhe.

Sharon tinha um sem número de providências a tomar. Por isso, assim que terminou o sumo, levantou-se.

– É melhor ir trabalhar. Ainda não entrei no escritório desde que saí da consulta desta manhã.

– Estás melhor? – perguntou Jen.

– Estou. Bebi sumo em vez de refrigerantes! O médico disse-me que preciso de vitamina C. Até logo!

E saiu apressadamente, com medo de deixar escapar coisas que queria manter só para si. Porém, em vinte e quatro horas, a sua vida mudara tanto que era difícil lidar com tudo aquilo sozinha.

– Está tudo bem? – indagou Andy, assim que ela entrou.

– Sim, tudo óptimo. Esqueci-me de fazer alguma coisa agendada para esta manhã?

– Não. Apenas o trabalho. De qualquer forma, nós economizámos algum para quando voltasses do médico – acrescentou, rindo-se.

Sharon retribuiu o sorriso e regressou à sua secretária, cumprimentando alguns colegas. Tinha muita sorte de trabalhar no departamento de Projectos Especiais. Todos eram amigos e solidários.

Sharon sabia que aquele ambiente se devia a Andy. Ele tinha sempre um sorriso no rosto. Por outro lado, quem é que teria coragem de reclamar das contas ou de uma gripe, quando o chefe estava numa cadeira de rodas?

E fora nisso que Sharon se apoiara, na noite anterior. Então, estava grávida. Sempre quisera filhos, mas o casamento nunca a entusiasmara. Agora, não precisava de se preocupar com isso. Felizmente, vivia numa época em que as mulheres já não tinham de casar forçadas, só porque tinham tido o azar de… Não, o azar não. Não ia pensar desse modo. Havia muitas mulheres no mundo que não podiam engravidar. Ela era uma das afortunadas.

A médica recomendara-lhe que contasse ao pai do bebé, no entanto, não o podia fazer. Ele fora-se embora do hospital sem falar com ela. Eles tinham sido levados em ambulâncias separadas para o hospital mais próximo, após terem sido socorridos do acidente com o elevador. Depois de ter sido examinada, Sharon perguntara por ele. A enfermeira informara-a de que o homem que dera entrada, juntamente com ela, já tinha deixado o hospital.

Obviamente, ele sentira que não lhe devia nada e esquecera-se dela. Isso ficara muito claro.

Determinada a afastar aqueles pensamentos da cabeça, mergulhou no trabalho. Tinha sete meses para se adaptar à ideia de ser mãe solteira. Não necessitava de dedicar aquele dia a reflectir sobre todas essas coisas.

Após o almoço, Sharon estava totalmente concentrada no seu trabalho, quando o telefone tocou.

Andy saudou-a, e pediu-lhe que fosse ao seu gabinete.

Era um pedido que lhe fazia várias vezes, sempre que queria discutir certos itens, chamando-a de «seu braço direito». Portanto, ela não pensou em nada e foi.

No entanto, quando abriu a porta, descobriu o dono da empresa, Kane Haley, em pessoa, encostado à janela. Tanto ele quanto Andy estavam sorridentes, o que a levou a deduzir que não se tratava de nada grave.

– Boa tarde, senhor Haley, Andy. Precisam de algo?

– Senta-te, Sharon – disse Andy, apontando para uma das cadeiras em frente da sua secretária.

Ela sentou-se, e esperou. Andy olhou para Kane, que assentiu com um movimento de cabeça.

– Sharon, trabalha aqui há quase oito anos. O Andy elogia imenso o seu trabalho, chamando-a de «seu braço direito», e algumas vezes até do seu «homem de confiança». Acho que chegou o momento de tornarmos isto oficial.

Ela encarou-o, sem compreender o que estava a tentar dizer-lhe.

– Refiro-me à parte da confiança e não à parte «homem» – Kane apressou-se a explicar, dando uma gargalhada. – Posso assegurar-lhe que nenhum de nós duvida da sua feminilidade.

Ela virou-se para Andy, ainda sem saber o significado das palavras de Kane.

– Ele está a tentar dizer-te, minha querida, que a partir de hoje serás oficialmente promovida a Assistente do Director de Projectos Especiais, com um aumento de salário compatível com o cargo, evidentemente.

Sharon ficou boquiaberta. Aquele cargo fora banido da empresa há vários anos.

– Eu? Fui promovida? Um aumento? – de repente, lembrou-se de todas as despesas inerentes à chegada de um filho. Seria perfeito! Mesmo desconhecendo a quantia, estava radiante.

– Oh! Muito obrigada, Andy! E, senhor Haley, muito obrigada mesmo. Prometo que me esforçarei ao máximo para não o decepcionar.

– Ora, minha querida – retorquiu Andy com um enorme sorriso. – Não precisas de fazer mais do que aquilo que já fazes, caso contrário, irei pensar que ambicionas o meu cargo.

Quando ela começou a protestar, Andy calou-a com algumas palavras e uma gargalhada.

– Bem, foi um prazer ter podido comunicar-lho pessoalmente – declarou Kane. – É sempre positivo ter funcionários satisfeitos – entretanto, afastou-se da janela e estendeu-lhe a mão.

Sharon levantou-se e apertou-lha com delicadeza.

No momento em que se preparava para sair, virou-se subitamente:

– Oh, a propósito, Andy! Tens alguma funcionária grávida no teu departamento?