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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2017 Tara Pammi

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Crowned for the Drakon Legacy, n.º 100 - abril 2020

Título original: The Secret Life of Lady Gabriella

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1348-285-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

«Uma trabalhadora de um banco de Los Angeles chamada Melissa…

Uma empregada de um clube de campo luxuoso de Manhattan…

Uma empregada de mesa de um bar…»

Mia Rodriguez foi tocando no ecrã do seu telemóvel e a raiva apoderou-se dela. O barulho do desportivo exclusivo e vermelho era como um eco amortecido enquanto se afastava da horda de jornalistas sedentos de sangue. A conferência de imprensa para anunciar que se retirava do futebol transformou-se, de repente, num circo baseado nas infidelidades de Brian. Morrera há um ano e o seu fantasma continuava a persegui-la. Com os dedos trémulos, carregou num triângulo pequeno de um vídeo.

«O Brian era insaciável no que dizia respeito ao sexo…

Deixava-me cansada cada vez que nos víamos…

Certamente, a Mia, a esposa, só tinha tempo para o futebol e, evidentemente, o Brian vinha ter comigo para que lhe desse o que ela não lhe dava…»

– Apaga-o.

Fechou os olhos. O choro teria sido um alívio, mas também teria significado que podia dar saída a tudo o que se amontoava por dentro. Além disso, as lágrimas também significariam que sentia alguma coisa pelo homem com quem se casara.

A voz gravava-se na mente enquanto o videoclipe se repetia.

Mia Rodriguez não era mulher suficiente para o marido…

– Apaga essa maldita coisa.

A travagem repentina fez com que fosse empurrada para a frente e o cinto de segurança cravou-se no peito. O coração subiu-lhe à garganta. Umas mãos grandes e desconhecidas arrebataram-lhe o telemóvel e atiraram-no para o banco de trás. Mia seguiu-o com o olhar e viu o ecrã a deslizar pelo couro fofo.

– Mia… Olha para mim.

Os dedos no queixo e o tom autoritário fizeram com que levantasse o olhar. Uns olhos azuis e penetrantes deixaram-na com falta de ar. O nariz aquilino, a boca larga e indolente… Esse rosto que fazia com que as mulheres de todo o mundo suspirassem com entusiasmo, esse homem tão perto…

E não era um homem qualquer, era um príncipe cativante, de uma virilidade devastadora. Era Nikandros Drakos, o príncipe temerário de Drakon, o segundo na linha de sucessão, apaixonado pelos desportos de risco e muito sensual.

Agarrou-o pelo pulso para o afastar. Sentiu a pele curtida e peluda nas pontas dos dedos, era áspera e hipnótica, completamente diferente da dela… Uma descarga elétrica despertou-lhe os neurónios e as células de um torpor muito profundo.

Olhou para os dedos que agarravam o volante e baixou o olhar pelas veias das mãos até aos pulsos. Viu o brilho do relógio Patek Philippe que tinha no pulso direito. Era o relógio de um desportista. Também lhe tinham oferecido um há quatro anos, quando a sua equipa ganhara o campeonato do mundo, quando Nikandros ainda era o dono da equipa.

Continuou a levantar o olhar até aos ombros, até ao queixo e aos caracóis pretos e um pouco compridos…

– Para de ouvir essas entrevistas atrozes.

Ela pestanejou e olhou para outro lado. Parecia-lhe enorme e viril e estava demasiado perto na estreiteza escura do carro. Fora amigo íntimo de Brian e ela detestara-o porque o irresponsável do marido o venerara como se fosse seu vassalo.

Era um homem que deixara muito claro o que pensava, que não chegava à sola dos sapatos de Brian; um homem viciado na adrenalina que gostava de tentar a morte e que não dominava os impulsos de procurar emoções, que tinha tudo o que ela odiava num homem.

Esse ressentimento fê-la esquecer a tristeza que sentia, mas nada conseguia sufocar a sensação de o ter tão perto e a olhar para ela com esses olhos. O silêncio tornou-se quase evidente, como se revelasse a reação quase incontrolável do seu corpo. Morreria se ele a percebesse. Até essa humilhação à frente do mundo, esse escárnio da imprensa, seria menos dolorosa do que ver o desprezo daqueles olhos azuis e gélidos.

Endireitou-se só de pensar nisso

Essa reação devia-se à impressão, à necessidade, muito humana, de contacto face à adversidade. Tinham passado meses, três anos para ser exata, desde que um homem tocara nela. Depois de aceitar esse dado, sentiu mais coragem, olhou pelo para-brisas e, pela primeira vez, percebeu onde estava. Tinham saído de Miami e tinham chegado a uma zona muito luxuosa e residencial. O edifício de apartamentos que conseguia ver do carro fazia com que a situação fosse ainda mais irreal. Observou-o fugazmente e, depois, fingiu que se interessava pelo que a rodeava.

– Lamento muito, Alteza, deveria ter-lhe dado a morada. Terá de dar umas voltas, mas agradeceria se me deixasse na minha casa.

Ficou satisfeita porque parecera firme e cortês ao mesmo tempo.

– Se não me engano, a tua mãe e a tua irmã vivem em Houston, não é?

Pasmada, assentiu com a cabeça. Era como se sentisse uma descarga cada vez que se entreolhavam. Não achara que a antipatia entre duas pessoas pudesse ser tão tangível.

– Posso dizer ao piloto para encher o depósito do avião e te levar.

Brian e ela tinham sido famosos entre os fãs do futebol, mas aquele homem era da realeza. Tinha aviões privados, equipas de futebol e clubes de aventura extrema e isso quando a imprensa sensacionalista não falava da fortuna que herdara como filho da casa real poderosa de Drakos, o príncipe que delapidara o seu legado…

– Não é preciso – conseguiu responder ela.

Cada vez que ele falava naquele tom grave, despertava cantos dentro dela que esquecera que existiam.

– Já fez o suficiente – acrescentou Mia.

– Dizes isso como se eu fosse uns desses chacais da conferência de imprensa, como se eu também fosse teu inimigo.

A voz dele transmitia impaciência e algo mais, como se, entre eles, houvesse mais do que aversão.

Era um príncipe, um privilegiado em todos os sentidos possíveis, bonito, temerário, cativante e sem a mínima… substância.

Trabalhara como uma mula para conseguir tudo o que tinha, já não se lembrava de quando fora a última vez que fizera alguma coisa que pudesse chamar-se divertida e a profissão da sua vida acabara aos vinte e seis anos.

Não se pareciam nada e a conversa era demasiado pessoal para ela.

– Não o conheço o suficiente para sentir algo tão forte como o ódio.

– A Mia Rodriguez Morgan não mostra os sentimentos, pois não? Tinha-me esquecido da tua fama.

– Não sabe nada sobre mim, só conhece a personagem que a imprensa criou, Alteza. A sua amizade com o Brian não lhe diz nada sobre mim.

– Agradeceria se olhasses para mim quando estou a falar contigo, Mia. Conhecemo-nos há dez anos.

– E não gostámos um do outro durante esses malditos dez anos, não vamos fingir o contrário agora.

Fez-se um silêncio tenso no carro. Ele tinha razão, conhecera-o antes de conhecer Brian. Tinha dezassete anos e jogava na equipa júnior quando conhecera o príncipe jovem de Drakon. Ela, como todos, apaixonara-se pelo príncipe europeu cativante. Ouvira histórias sobre as suas discussões com a família, sobre as suas aventuras com mulheres de todo o mundo, sobre as suas corridas temerárias de carros e os desportos de risco que praticava. Sempre fora tímida com os homens e precavida e introvertida com os conquistadores consumados como ele.

Embora isso não quisesse dizer que não o adorasse à distância. A sua energia indómita e a sua virilidade descarada faziam com que Nikandros fosse irresistível. Ele, rodeado de atrizes e de modelos, não reparara nela e isso dera-lhe uma certa liberdade para se permitir algumas fantasias com ele. Quando Brian, o firme e confiável Brian, a convidara para sair, não voltara a pensar no príncipe inalcançável.

O homem confiável e trabalhador por quem se apaixonara desapareceu quase no mesmo instante em que a sua carreira como futebolista descolou. O Brian com quem se casou desapareceu com cada contrato novo e com a amizade com personagens da alta sociedade como Nikandros.

No entanto, Nikandros sempre estivera presente, como um espetro nos bastidores, sempre com uma mulher diferente e sempre com um projeto de investimento novo.

A amizade de Brian com Nikandros fora lendária, mas ela não conseguira entrar no seu círculo exclusivo. Quanto mais Nikandros se arriscava, mais Brian queria parecer-se com ele, sem conseguir.

Sempre soubera que nenhum homem conseguiria parecer-se com Nikandros Drakos, fosse por que motivo que fosse, algo que Brian não conseguia suportar cada vez que ela lho recordava.

Ao longo dos anos, essa antipatia que Nikandros e ela tinham sentido um pelo outro aumentara.

– Tenho de dizer, em minha defesa, que tive um dia muito complicado – declarou ela.

Observou-a pensativamente e com cautela. A imprensa enfurecera-se com ela, mas parecia que fora ele que recebera a notícia mais humilhante da sua vida. A traição de Brian surpreendia-o assim tanto?

– Não devias ficar sozinha nos próximos dias. O Brian teria querido…

– Aparentemente, o Brian queria muitas coisas que eu não podia dar-lhe, Alteza.

– Não me chames assim.

– No entanto, é a forma correta de me dirigir ao filho da família real de Drakon, não é? Agora, entendo o ataque do seu assistente quando entrei no carro. A única coisa que lhe faltava era que o arrastasse para este circo mediático.

– Alguém devia tomar conta de ti…

– Há muito tempo que o faço sozinha.

– A tua família não quer acolher-te por todas essas… histórias asquerosas que os meios de comunicação social inventaram?

– Histórias? Se conseguisse enganar-me assim, dormiria esta noite.

– Podias conceder ao Brian… À sua memória… O benefício da dúvida, merece. Pelo menos, agora.

– Pelo menos, agora… – repetiu ela, inexpressivamente. – Quer dizer agora e não como quando estava vivo? Explique-se, Alteza.

– Não é nem o momento nem o lugar.

– Como não tenciono encontrar um momento e um lugar em que me apeteça voltar a vê-lo para ter esta conversa, por favor, dê-me a honra de ouvir as suas conclusões sobre o nosso casamento. Estão todos a dar o seu veredicto e podia fazer o mesmo, sobretudo, porque o seu amigo não está aqui para se defender.

Não lhe pareceu o príncipe cativante que tinha relações mais duradouras com os carros do que com as namoradas, o homem que não se importava com a família, a deterioração do pai ou as obrigações com o seu país, o homem que só desfrutava da perversão do prazer e do desporto. Agarrava o volante com força e mostrava os mesmos sentimentos turbulentos do que ela.

– Estás magoada e zangada e eu nunca quis ter esta conversa.

Vira, durante três anos, como o seu casamento murchava devagar, desde uns meses depois de o celebrarem. Durante um ano, aguentara o remorso devido à morte de Brian e, nesse momento, quando começara a recompor os pedaços da sua vida, devastara-se outra vez.

– Não devia ter dado a entender que queria.

Virou-se para ela, que sentiu o impacto do seu olhar. A camisa branca contrastava com o tom escuro da pele, parecia um deus pagão na penumbra do carro.

– Não vou desculpar-me pelo que o Brian fez se for verdade.

– Lealdade incondicional pelo amigo e deixar que a culpa recaia sobre a mulher, que vulgar, Alteza, por muito sangue azul que tenha.

– Só sei que ele… Ele estava louco por ti, que enlouqueceu para resolver o vosso casamento e que o afastaste. Não era ele que queria desfazer o casamento. Isso não conta?

Então, sabia que fora ela que pedira o divórcio. Odiava ter de adotar uma atitude defensiva, mas, mesmo assim, não conseguiu evitar dizê-lo.

– As palavras de amor e as promessas são levadas pelo vento, os atos é que importam. Mudou assim que a carreira dele descolou e perdi-o assim que entrou no seu círculo, assim que decidiu imitá-lo e correr os seus riscos…

A voz refletiu a confusão que sentia. Durante três anos, enquanto treinava sem que a contratassem e era pobre, Brian perseguira-a com promessas de amor eterno e palavras carinhosas, que desapareceram assim que alcançou o sucesso.

– Decidiu distanciar-se – continuou Mia –, preferiu sentar-se ao volante desse carro maldito e conduzir, embora estivesse bêbado.

– Mia, eu…

– E o senhor… Nunca teve uma namorada, Alteza. As modelos e as atrizes passam pelos seus braços como se fossem um acessório. Como se atreve a julgar-me por ter querido acabar com uma relação tóxica? Estou farta de si e das suas opiniões ridículas.

– Mia…

Ela tentou encontrar o puxador, mas as emoções apropriaram-se dela. Maldito homem e maldito carro! Sentiu o calor da sua pele, antes de perceber que se inclinara por cima dela para alcançar o puxador.

Fechou os olhos. O sussurro da respiração alterada ecoava-lhe nos ouvidos. Sentiu-se a derreter e rezou para se acalmar. Sentia tanta impotência e remorso por causa desse desejo tão intenso que perdia a força nas pernas.

Finalmente, ouviu o barulho da porta a abrir-se e quase caiu para a rua.

Uma parte de si própria dizia que estava a ser irracional, que não podia afastar-se dele a meio da noite, que a sua opinião importava muito, mesmo que tivesse dito o contrário, mas não conseguia dominar-se.

Brian contara tudo a Nikandros? Contara-lhe que ela deixara de querer estar perto dele e que lhe custara deixar que lhe tocasse depois de descobrir o seu primeiro… deslize? As pernas trémulas quase não a seguravam quando ouviu que ele se aproximava dela na rua escura.

– Estás a ser absurda, Mia.

Faria o que fosse preciso para que o seu cheiro não a embargasse, para sufocar a vontade incontrolável de se precipitar para os seus braços.

– Afaste-se.

– Não devia ter falado do Brian esta noite, quando estás a aguentar…

Mia bateu-lhe no peito com um dedo e vibrando devido à intensidade da fúria.

– Não tem o direito de falar da nossa relação, nem agora nem nunca. Além disso, se foi uma desculpa, foi ridícula.

Nikandros agarrou-a pelos pulsos e aproximou-a dele. Sentiu um aperto no coração quando lhe levantou o queixo com um dedo para que olhasse para ele nos olhos.

– Nunca me desculpei com uma mulher, exceto com a minha maman.

Disse «maman» com sotaque francês e pareceu-lhe como um toque de caramelo em chocolate preto.

– Então, Alteza, surpreende-me a quantidade de mulheres que estão dispostas a aguentá-lo.

– Entra no carro outra vez. Podes passar toda a noite a dizer-me como sou horrível.

– De repente, está a ser amável comigo?

– Costumo ser amável… Fiquei depois do desastre da conferência de imprensa porque pensei que podias…. precisar de um amigo, mas, como noutras vezes, desviei-me das minhas intenções. Fica nas minhas águas-furtadas até se acalmar esta fúria pelo Brian.

– Não. Obrigada pela oferta, mas preciso de paz e tranquilidade, não do dom Sentenciador a olhar para mim por cima do ombro quando não sabe nada sobre relações…

– Tu sabes muito sobre as minhas relações… Ou sobre a minha falta delas.

– Não se distingue precisamente por se afastar da imprensa. Não é de estranhar que parecesse que o seu pobre assistente tinha o pior trabalho do mundo. Só quero ir para casa.

– Estará rodeada pela imprensa. O meu apartamento tem serviço de segurança vinte e quatro horas e é uma fortaleza contra os meios de comunicação social. Lá, estarás segura.

Mia recostou-se contra o metal frio ao pensar nas câmaras a apontar para a sua cara e nos detalhes obscenos sobre as aventuras de Brian… Parecia que esconder-se na guarida do príncipe temerário era a sua salvação.

– Reconhece que te tenta. É uma situação que não queremos, mas estava claro que não podia abandonar-te lá.

– Porque estavas na conferência de imprensa?

Depois de quase um ano, o agente convencera-a de que os seus admiradores precisavam de um ponto final, que devia anunciar em público a sua retirada do futebol. Quebrara todos os vínculos contratuais com a equipa de Nik há meses quando descobriu que a terceira lesão que fizera lhe danificaria irreversivelmente o joelho se continuasse a jogar.

Pelo menos, não lhe afetara a vida quotidiana.

Com esse golpe devastador e o acidente de Brian, a sua vida transformara-se num redemoinho descendente. O comunicado na conferência de imprensa devia ter sido como começar do zero… mas a imprensa armara-lhe uma cilada com as infidelidades do Brian e Nikandros estivera lá. Sentiu que a sensação nauseabunda retornava.

– Sabia a notícia sobre as infidelidades do Brian? Porque não me avisou? Decidiu que merecia essa humilhação por causa dos meus supostos pecados contra o Brian?

Agarrou-a pelos braços e o calor do seu corpo despertou-a em mais de um sentido.

– Não sabia o que ia acontecer, Mia, não sabia… Não sabia o que ele estava a fazer com todas aquelas mulheres. No mínimo, teria dito que tinha um problema.

– Não sei porquê, mas duvido muito que os votos de casamento signifiquem alguma coisa para um mulherengo empedernido como o senhor.

– Quem está a tirar conclusões agora?

Tinha os olhos implacáveis e agarrava-a com força. Estava tenso, até começar a respirar fundo.

Magoara-o?

Era a ideia mais desatinada na noite mais estranha. No entanto, o homem que achara que era não lhe teria oferecido ajuda naquela noite, nem sequer teria olhado para ela, sobretudo, quando, aparentemente, decidira que ela ignorara Brian.

Além disso, Nikandros nunca fingira ser seu amigo, nem sequer seu conhecido. Ele, de entre todos os amigos de Brian, sempre mantivera uma distância cortês e cautelosa com ela, como se aproximar-se demasiado fosse poluir o seu sangue azul.

– Então, porque estavas lá? Sei que vendeste a equipa feminina e disseste que ias sair da Florida e até, se calhar, dos Estados Unidos. Deixaste a tua última namorada. Tinhas de saber… Não me mintas mais, Nikandros. Por favor, não quero mais mentiras – pediu, tratando-o por tu.

Mia fechou os olhos e teve de enfrentar a única coisa que tentara negar-se, que algo ganhara vida na noite anterior no carro por causa do príncipe temerário. A sensação de o ter perto multiplicou-se por mil.

Por isso, quando ele falou, quando a sua respiração lhe acariciou a pele, quando deslizou as mãos para os seus ombros e a apertou contra o corpo, deixou-se arrastar pelas sensações. Sentiu que o corpo poderoso tremia e embargou-a a necessidade de se aproximar dele.

– Fui porque precisava de me despedir.

– Não acredito. Nunca me consideraste uma amiga. Não conseguias digerir a ideia de o Brian se casar comigo. Tu…

Nikandros afastou-a com uma violência contida.

– Não conseguia digerir a ideia de estar contigo porque… te queria para mim. Queria-te para mim há anos, desde que apareceste naquele campo como um raio de luz, com a tua alegria, com o teu amor pelo jogo…

– O quê? – perguntou Mia, recuando um passo.

O desastre do seu casamento, a verdade terrível das aventuras de Brian, tudo desapareceu enquanto ele falava num tom desafiante.

– Quando se casou contigo, pensei que o que sentia por ti desapareceria, odiei-te durante todos aqueles anos por o teres marginalizado e pensava que era sortudo, mas não serviu de nada. Fui esta noite porque… não consigo parar, nem sequer agora, depois de ter morrido. Não consigo parar de pensar em ti, de te desejar.

Agarrou-a pelos braços e aproximou-a.

– Fui porque tinha de me despedir de uma obsessão de dez anos, dessa loucura. Fui suficientemente sincero, Mia?